QUALIDADE DE VIDA

A Multimistura

multimistura_1As vantagens da boa alimentação – complementação alimentar - Antigamente, o solo era rico e por isso os alimentos eram mais completos. Naquele tempo não se usavam produtos químicos. A poluição industrial, o uso de adubos químicos, hormônios em animais e pesticidas colaboram para que tenhamos menos saúde e contaminam o meio ambiente, o produtor e o consumidor. O uso de concentrados de minerais e vitaminas (farelos, pó de folhas, pó de sementes, pó de casca de ovo) em doses mínimas, mas constantemente acrescidos à nossa alimentação tradicional, fornece nutrientes que são indispensáveis para: - promover o crescimento (dentro e fora do útero), - aumentar a resistência às infecções,- prevenir e curar a anemia nutricional,- diminuir diarréias,- diminuir doenças respiratórias e - manter a saúde.

 

O Brasil é um país muito rico em alimentos. Cada região precisa valorizar essa riqueza para que todos possam comer melhor. Vejamos:

1. No Norte: jambu, jambo, castanha-do-pará, macaxeira, caruru, abóbora, manga, coentro, vinagreira, maniçoba, tucupi, pupunha, buriti, peixes, piracuí, tacacá, milho, dendê, gergelim etc.

2. No Nordeste: caju, jaca, coco, macaxeira, inhame, camarão, mariscos, peixes, abóbora, coentro, bredo, vinagreira, manga, quiabento, quiabo, cuxá, castanha, óleo e mesocarpo de babaçu, vatapá, caruru, milho etc.

3. No Centro-Oeste/Sudeste: Pequi, buriti, guariroba, jaca, abóbora, mandioca, serralha, caruru, beldroega, coentro, galinhada, maria-isabel, baião-de-dois, ora-pro-nóbis, milho, pamonha, angu, feijoada etc.

4. No Sul: abóbora, mandioca, peixes, camarão, serralha, beldroega, almeirão, escarola, rúcula, arroz-carreteiro, feijão tropeiro, milho, polenta, cevada, aveia, centeio, trigo, açúcar mascavo, linhaça.

Hoje estão sendo muito valorizados os alimentos funcionais (nutracêuticos). São alimentos que previnem, retardam e até curam doenças. São alimentos que promovem e mantém a saúde.

A mandioca é um exemplo. Sua folha é riquíssima em minerais e vitaminas e é quase toda desperdiçada. Tem mais ferro que a carne, mais vitamina A que o leite. E a composição e proporção entre seus nutrientes é tão perfeita que pequenas quantidades do seu pó acrescentadas todos os dias em nossa comida, pode, por exemplo, controlar a anemia, aumentar a imunidade e reduzir a gravidade das infecções como a dengue, malária, pneumonia, diarréia, aids, tuberculose, hanseníase, gripe. E também a cegueira noturna e a coceira dos olhos por deficiência de vitamina A.

A raiz, quando moída e prensada, libera o tucupi (manipuera) que serve como inseticida, mata saúva, dá um molho fantástico com ou sem pimenta, pode ser usado no tacacá, pato, carne etc. Vai bem na sopa e no arroz. Com jambu fica ainda melhor e mais completa em nutrientes. Logo teremos no comércio o tucupi em pó. Dele se extraem nutrientes muito caros e raros.

Também a fibra que sobra da extração do amido é mais cara que ele, devido a sua importância para prevenir câncer de intestino, reduzir tóxicos, normalizar colesterol etc., mas não está disponível comercialmente, ainda.

Lembre-se: a mandioca é orgânica, preserva o meio ambiente, o produtor e o consumidor. Nasce em todo o país. É brasileira.

O camapu, fisalis ou tomate de capote é um mato cujas folhas amargas protegem o fígado. Seus frutos ricos em vitaminas A, C e E, se usados desde criança, previnem a catarata e aumenta a resposta imunológica.

A chave de uma boa alimentação está ao alcance de todos.

Existem vários alimentos nutritivos, mas pouco valorizados. Entre eles, 4 pós se destacam pela facilidade de uso e disponibilidade em todas regiões do país:


FARELOS DE ARROZ E/OU DE TRIGO

O farelo é obtido quando os grãos integrais do arroz e do trigo são polidos e transformados em arroz branco e farinha branca.

Assim o arroz e o trigo polidos ficam mais pobres e os "bichos" atacam menos. Em compensação, esses alimentos, quando usados pelo homem, desequilibram o seu organismo, porque perdem em cada 100g:


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Com o polimento se perde o "olho", chamado gérmen e a cutícula que reveste o grão.

Os farelos de arroz e de trigo são concentrados de minerais (Ferro, Cálcio, Zinco, Magnésio) e de vitaminas (B1, B2, Niacina etc.). Possui também proteínas, hidratos de carbono, gorduras e fibras. Transformam qualquer "comida pobre" em "comida rica".

Os farelos são chamados de subprodutos e, por isso, vendidos para ração animal. Muita gente acha que é comida de porco. Mas nós comemos a mandioca, o milho, a abóbora que o porco come, e também a carne do porco.
Não é só questão de preconceito? Repare que a porca e a vaca sempre têm leite suficiente para os filhotes. Eles dificilmente nascem desnutridos ou se tornam depois, porque a mãe está bem alimentada.

O arroz e o trigo nunca foram alimentos para animais ao longo da história. Portanto, é o porco que come alimentos do homem e não o contrário.

Em países ricos como Japão, Estados Unidos e os da Europa, o farelo é muito consumido pela população, que conhece suas qualidades e é vendido em qualquer supermercado, além de enriquecer alimentos como biscoitos, balas, tira-gostos e cereais para o café da manhã.

Não existe uma comida boa para ricos e outra para pobres.

O meu corpo não sabe se eu sou rico ou pobre nem quanto eu ganho. Portanto, ou o alimento é bom para qualquer pessoa ou não serve para ninguém.


Modo de Preparo dos farelos

O uso deve ser diário, como o sal: pouco e sempre.

Usar 1 a 2 colheres de sopa (rasas) para cada pessoa, por dia.


Farelo de arroz

O farelo de arroz é comprado em usina de arroz e deve ser imediatamente preparado e torrado. Deve ser sempre novo, sem cheiro de ranço ou de mofo.

O farelo de arroz deve ser peneirado aos poucos, em peneira fina, para separar a casca e o arroz quebradinho. Pode-se passar mais uma vez na peneira, se tiver ainda muita palha.

Torrar em panela grande, com colher de pau, mexendo sempre, por no mínimo, 25 minutos em fogo baixo (depois que a panela e o farelo estiverem quentes).

Não colocar mais de um terço (1/3) da capacidade da panela, para se conseguir um farelo torrado homogeneamente.

Esfriar e guardar em vasilhas fechadas ou no freezer.

O Óleo de farelo de arroz pode ser frito várias vezes e não se decompõe. Tem álcool triterperno, que acelera a formação e a fixação da memória e outras propriedades mais. Os farelos neutralizam o componente nutricional da TPM, cólica menstrual, do alcoolismo e contribuem para uma qualidade de vida melhor. Normaliza o crescimento dentro e fora do útero, reduz a anemia, regulariza a função intestinal, melhora a dor nas pernas, o calcanhar rachado, a cicatrização, a assadura etc.


Farelo de trigo (contém glúten)

Passar em peneira não muito fina. Convém torrar para ser usado em preparações que não vão ao forno ou fogo.

Para crianças pequenas, tem que ser passado em peneira fina.

Misturar em sopas, mingaus, leite, arroz, feijão, bolo, cuscuz, beiju, pão, molho de macarrão...

Dividir em todas as refeições usadas durante o dia.

Dentro do princípio da MULTIMISTURA, se você tiver os 2 farelos, pode misturá-los e usar na mesma quantidade acima mencionada.

Hoje, conhecemos os efeitos maléficos dos metais pesados como o mercúrio, chumbo, cádmio, alumínio, níquel, porém, nutrientes contidos nos farelos e nos pós de folhas verde-escuras comestíveis podem neutralizar sua ação total ou parcialmente, dependendo da sua concentração, assim como outros alimentos, como as frutas, verduras, cereais integrais, que também têm componentes funcionais ou inteligentes.


PÓ DE FOLHAS VERDE-ESCURAS

São ricas fontes de vitamina A, vitaminas do complexo B, vitamina C etc., além de ferro e cálcio.

O Brasil, por ser um país imenso, tem plantas próprias em cada região. Se você conversar com as pessoas mais velhas da comunidade, vai aprender muito do que era usado antigamente e assim poderá enriquecer, ainda mais, o que come no dia-a-dia. Exemplos: abóbora, alfavaca, batata-doce, beldroega, bredo, chaguinha, cansação, capeba, cariru, caruru, coentro, dente-de-leão, folhas de chuchu, hortelã, jambu, língua-de-vaca, manjericão, marianica, ora-pro-nóbis, picão-branco, pimentão, quiabento, quioiô, serralha, taioba, uva, vinagreira etc.

Para facilitar o uso, principalmente por crianças pequenas, pode-se transformar as folhas em pó. A folha da mandioca, além de ser a mais rica, é a mais fácil de ser preparada.

Vamos comparar a quantidade de vitamina A e ferro das folhas verde-escuras ( folha de mandioca, folha de batata-doce), com a das folhas verde-claras (alface e repolho).

Essas folhas escuras, chamadas de mato, têm a vantagem de crescer naturalmente, sem precisar de muitos cuidados no cultivo, sendo mais nutritivas que as folhas claras como alface e repolho

 

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Que diferença, não é mesmo?

A folha da mandioca é uma rica fonte de minerais e vitaminas.

Acrescente (1) pitada do pó de folhas no prato, já pronto, em todas as refeições.


Preparo:

As folhas, depois de lavadas, ficam em 1 litro de água + 1 colher (sopa) de água sanitária por 20 minutos.

Secar as folhas em lugar ventilado, à sombra, ao sol ou em forno entreaberto até se tornarem crocantes. Amassar bem e passar no pilão, no liquidificador, no moedor de cereal ou peneira fina.

Com esse processo, elimina-se o ácido cianídrico.


PÓ DE SEMENTES

Sementes são alimentos de grande valor que a natureza colocou à nossa disposição. Concentram muitos sais minerais, vitaminas, óleos essenciais e proteínas muito importantes para o funcionamento do organismo.

Exemplo: sementes de abóbora, melancia, melão, girassol, linhaça, gergelim, castanha de caju, castanha-do-pará, babaçu, amendoim, pecã, jaca, sapucaia etc.

Use no preparo de paçocas, farofa, granola, mingau, bolo, cuscuz.


PÓ DE CASCA DE OVO

Os nossos bisavós já usavam o pó da casca do ovo porque é uma grande fonte de cálcio, importantíssimo para:

- o crescimento;
- a gravidez;
- a amamentação;
- a recuperação da saúde;
- a conservação dos dentes e
- a prevenção da osteoporose (não esquecer de tomar sol).

Preparo:

Lavar bem as cascas dos ovos e depois amassá-las. Fervê-las por 20 minutos e lavar bem para retirar a espuma branca. Deixar de molho por 30 minutos em 1 litro de água para uma colher de (sopa) de hipoclorito ou água sanitária. Secar ao sol ou ao forno. Liquidificar ou pilar. É bom passar em pano fino para ficar como talco.

Nota: usar máscara para impedir a contaminação e a aspiração do pó.

Colocar 1 colher (chá), por pessoa, de suco de limão. Esperar ferver ( como sonrisal) e tomar. Antes de usar, pode deixar também em vinagre, por algumas horas, para ser melhor aproveitado pelo organismo.

Usar em sopas, mingaus, farofa, paçoca, bolo.


MULTIMISTURA

É um princípio básico de nutrição:

A Qualidade é dada pela Variedade e não apenas pela carne, ovo, peixe, frango.

Não há alimentos fortes ou fracos, mas complementares.

Exemplo: A combinação de arroz, feijão e carne fica mais completa com salada de alface, salsa, coentro, hortelã, cebola, couve, grãos de gergelim temperados com sal iodado, limão e óleo.

Pode-se enriquecer a alimentação do dia-a-dia com uma farinha composta de:

70% de farelo (arroz e ou trigo) tostado,
15% de pó de folhas (mandioca, batata-doce, etc.),
15% de pó de sementes (gergelim, abóbora, linhaça, girassol).

Se tiver pó de cascas de ovo, a mistura fica assim:

70% de farelo tostado,
10% de pó de folhas verde-escuras,
10% de pó de sementes,
10% de pó de casca de ovo.

Usar uma colher de sopa por pessoa, por dia, dividida nas três refeições. Serve para todas as idades. É um alimento, não um medicamento. É a multimistura básica. Contém um concentrado de minerais e vitaminas. Funciona como o sal: um pouco todos os dias. Repõe nutrientes fundamentais como o zinco, magnésio, ferro, vitamina A, vitaminas do complexo B e outras. Também reduz a absorção de metais nocivos como o mercúrio, chumbo, alumínio. Milagre? Não. Estamos repondo o que a natureza fez e o que foi retirado pela industrialização. "Bicho não come o que não presta". Ou seja, um arroz branquinho, mas fraco, não é atacado por insetos e roedores, como é atacado o arroz integral, e se conserva por muito mais tempo. O comerciante vende mais e ganha mais.

PS: O farelo de trigo contém glúten.

Como muitas pessoas perguntam onde encontrar a Multimistura já pronta, informamos que pode ser procurada:

- na Pastoral da Criança de sua cidade;
- em Mercados Públicos (no de Porto Alegre tem em várias bancas);
- em lojas ou entrepostos de produtos naturais ou orgânicos;
- em mercados;
- em ONGs que trabalham com Alimentação Alternativa;
- em associações comunitárias, tais como, por exemplo, no DF, a Cooperunião em São Sebastião e no Centro Comunitário da Criança da Ceilândia.

É importante que estejam discriminados os ingredientes e que contenha:
- 70% de farelos;
- 15% de pó de sementes; e
- 15% de pó de folhas verde-escuras, sendo a principal a da mandioca.


Uma entrevista com Clara Brandão

clara_bandaoA nutróloga Clara Brandão, Coordenadora de Orientação Alimentar da Secretaria de Políticas de Saúde do Ministério da Saúde, trabalha há 30 anos na busca de uma infância brasileira menos desnutrida e subnutrida. Inventora da multimistura – uma farinha composta por farelo de arroz, pó de folhas verdes, de sementes e casca de ovo –, Clara é responsável pela recuperação de inúmeras crianças de todas as regiões do país. Esse poderoso concentrado de minerais e vitaminas é hoje utilizado nas mais de 20 mil comunidades atendidas pela Pastoral da Criança, que ensina famílias a enriquecerem a alimentação diária por meio da adição da farinha de multimistura. Em entrevista concedida ao RESPONSABILIDADESOCIAL.COM, Clara comenta os erros nas estratégias que hoje são usadas para combater a fome, propõem novos pontos de vista e mostra como o empresariado brasileiro pode contribuir para melhorar a situação nutricional do país e, ainda, aumentar seus lucros. Confira:


1) Responsabilidade Social – A senhora pode falar sobre como surgiu a idéia da Multimistura e um pouco da história de como foi implementada no país?

Clara Brandão – Em 1974, fui morar no Pará e no primeiro dia no ambulatório levei um susto: todas as crianças estavam desnutridas. “É sempre assim”, justificou uma enfermeira que trabalhava no lugar. Parti para um levantamento do número de crianças desnutridas naquele município, com 100 mil habitantes, e constatei que na área urbana 77,7% das crianças com menos de 5 anos sofriam de desnutrição. Os casos de desnutrição grave e moderada chegavam a 33% e, na época, não existia nenhum programa de suplementação alimentar. A partir desses números, com o apoio do voluntariado da LBA, montamos 13 creches, com um total de 390 crianças desnutridas, numa tentativa de reverter esta situação. Ainda assim, a verba para alimentação era muito pequena e as crianças continuavam a sofrer com a doença, cujo principal sintoma era a diarréia. Fiquei muito preocupada, pensei em fechar o local, pois vi que estava ajudando pouco e expondo as crianças a um risco maior de contaminação, dada a quantidade de diarréia na creche. A situação era desesperadora quando fui visitar uma plantação de pimenta-do-reino e vi um pozinho no pé da pimenteira e perguntei o que era aquilo. “Isso aqui é farelo de arroz que ninguém usa. É bom para a planta crescer e se fortalecer”, disseram. Fui pesquisar na tabela de composição de alimentos e vi que era uma grande fonte de minerais e vitaminas. Como se tratava de um produto inofensivo, mas muito rico nutricionalmente, testei o farelo num almoço com minha família e todos aprovaram o sabor. Comecei a usar nas refeições da creche e, em três dias, acabaram os casos de diarréia. Depois de um mês, as crianças estavam tão diferentes... Pareciam flores desabrochando. Tudo começou assim.

2) RS – Quais as principais vantagens da multimistura?

CB – Hoje a multimistura é composta dos seguintes alimentos: farelo de arroz e/ou trigo, pó de folhas verdes (principalmente da mandioca, batata-doce ou abóbora, etc.), pó de sementes (gergelim, linhaça, semente de abóbora, melancia, melão ou girassol, etc.) e pó de casca de ovo. É um poderoso concentrado de minerais e vitaminas. Toda a metabolização de carboidratos, proteínas e gorduras depende de minerais e vitaminas para serem aproveitados pelo organismo. Com a multimistura, portanto, é possível maximizar o alimento disponível para a nutrição do corpo. A mudança acontece em questão de dias. Quanto mais grave a desnutrição e menor a faixa etária das crianças, melhor é a resposta ao tratamento com a multimistura. Posso dizer que numa média de três a quatro meses, a criança sai, totalmente, do estado de desnutrição. O melhor é que todos os componentes da multimistura estão disponíveis em qualquer lugar no mundo. A população sempre utiliza o que tem no local, basta aprender a técnica de sua preparação. Além disso, não custa caro implementar o programa. Só é preciso que algum técnico vá até o local pra formar multiplicadores e leve, com ele, o mínimo de material instrucional.

3) RS – Como a idéia se disseminou?

CB – Comecei a apresentar os resultados em congressos, simpósios. A Unicef levou muita gente para conhecer o projeto, inclusive o próprio representante da entidade no Brasil. Em 1983, enviamos duas pessoas do nosso projeto para oferecer treinamento à Pastoral da Criança, que estava começando a surgir. A Pastoral incorporou a idéia e, ao longo dos anos, conforme foi se expandindo por todo o país, a idéia foi indo junto. Praticamente todas as 20 mil comunidades atendidas pela Pastoral atualmente têm a multimistura. Várias outras Organizações Não-Governamentais, diversos municípios e estados adotaram a técnica, que também está presente em 12 países, como Estados Unidos, Angola, Moçambique, Timor Leste. Hoje é domínio público: aonde você vai tem gente usando farelo, as sementes, as folhas verdes e a casquinha de ovo. Belo Horizonte, por exemplo, está há nove anos usando a multimistura, consumindo uma média de mais de 340 toneladas.

4) RS – Na sua opinião, quais providências de maior emergência devem ser tomadas para solucionar a questão da fome, da subnutrição e desnutrição no país?

CB – Nutrição precisa ser trabalhada de duas principais maneiras. A primeira deve considerar a importância de prevenir o que chamamos de ‘origem fetal das doenças crônico-degenerativas’. A criança que nasce desnutrida, além de sofrer com todos os problemas comuns à desnutrição, tem maiores chances de ser diabética, hipertensa e ter doenças do coração na vida adulta. É preciso criar hábitos saudáveis, e não apenas encher a barriga do povo. É preciso fazer com que o povo aprenda a comer melhor dentro daquilo que pode e tem disponível – os elementos da multimistura, por exemplo, estão presentes em todos os cantos do país e são extremamente baratos. A segunda maneira deve considerar a existência dos ‘alimentos nutracêuticos funcionais’ ou alimentos inteligentes. São aqueles que podem não apenas manter a sua saúde, mas também previnem, retardam e curam doenças. Um exemplo: o ácido fólico pode evitar a ocorrência de fissura palatina. Imagine se esse elemento passasse a enriquecer a merenda escolar que é servida nas escolas – o Exército doa 300 mil refeições e o governo paga outras 40 milhões. Seria uma mudança significativa. Se nesse contingente fosse trabalhada a questão de se alimentar bem, a transformação seria incrível. Achocolatado, pão, açúcar – além de não serem saudáveis, custam caro. O leite líquido em crianças pequenas provoca microhemorragia intestinal e, por conseqüência, anemia.

Se esses alimentos fossem substituídos por outros mais saudáveis e com base nos produtos que temos disponíveis, as crianças seriam mais saudáveis e o governo poderia aumentar a abrangência do programa, dada a economia que faria. Outro exemplo, um levantamento feito em outubro de 2002, mostrava que no café da manhã daquele mês gastava-se 35% do salário mínimo para alimentar seis pessoas com um pão com margarina e uma xícara de café-com-leite. Se fizesse um café da manhã com cuscuz ou polenta e apenas uma xícara de café, gastaria-se apenas 10% do salário mínimo. Hoje, se 10% da farinha de trigo consumida no país fosse trocada por polvilho de mandioca, seria feita uma economia de R$ 20 milhões em importação de trigo. Além disso, seriam gerados quase 80 mil empregos no campo em um ano. Eu pergunto: por que as pessoas comem tudo à base de trigo e leite quando há tanta alergia a essas substâncias? O governo deveria estimular as pessoas a usarem o que o país produz. Por que comer bolo de trigo sempre e não bolo de mandioca? Ou mandioca frita ao invés de batata frita? Com tais informações, os brasileiros fariam isso e economizariam muito, além de estarem se alimentando muito melhor.

5) RS – O que a senhora entende por Responsabilidade Social?

CB – Creio que, individualmente, todos têm que fazer sua parte – isso é responsabilidade social. O governo tem que dar instrumentos aos voluntários para executar o voluntariado. Se cada um de nós não tomar uma atitude, pode estar fazer mal para o mundo inteiro. As atitudes boas também ecoam da mesma maneira, só que beneficamente. Por isso a importância de estar bem informado, para tomar a atitude certa.

6) RS – Como a senhora avalia a atuação do governo FHC na busca de soluções para a questão nutricional brasileira?

CB – Fizeram coisas boas, mas perderam muitas oportunidades. Exemplo: o governo fez 700 mil cirurgias de catarata, mas não explicou como se previne a doença. Por outro lado, avançou muito na ampliação da merenda escolar, na questão da amamentação (passando o aleitamento exclusivo de quatro para seis meses) e na questão da imunização das crianças.

7) RS – Na sua opinião, de que forma o empresariado brasileiro pode contribuir para melhorar os problemas nutricionais brasileiros?

CB – O Sindicato da Construção Civil do Rio de Janeiro está usando há 12 anos ou mais multimistura nos canteiros de obras, com resultados incríveis: ela diminuiu a ocorrência de acidentes de trabalho, alcoolismo, doenças cardiovasculares, colesterol, diabetes e, é claro, as faltas por motivo de doença. Basta trabalhar as idéias de uma forma profissional, que o retorno será mais do que satisfatório para os empresários.

 
Alimentação Enriquecida (Receitas da multimistura)

Uma boa alimentação é essencial para obter qualidade de vida. Disso todo mundo já sabe, mas todos os dias, toneladas de alimentos de alto valor nutritivo são desprezados. Imagine quantas pessoas poderiam ser beneficiadas se esses alimentos fossem aproveitados de forma correta? Aprenda como fazer uma alimentação alternativa e tire bom proveito destas informações.

Alimentos Alternativos

Existem vários alimentos alternativos. Entre eles, quatro tipos de pós se destacam pela facilidade de uso e disponibilidade em todas as regiões do país.

Farelos de arroz e/ou de trigo

O farelo é obtido quando os grãos integrais do arroz e do trigo são polidos e transformados em arroz branco e farinha branca. Assim, o arroz e o trigo polidos ficam mais pobres e os “bichos” atacam menos. Com o polimento se perde o “olho”, chamado gérmen e a cutícula que reveste o grão. O farelo é um concentrado de minerais (ferro, cálcio, zinco e magnésio) e de vitaminas (B1, B2 e Niacina). Possui também proteínas, hidratos de carbono, gorduras e fibras. No Brasil os farelos são chamados de subprodutos e por isso vendidos para ração animal. Em países como Japão, Estados Unidos, e os da Europa, o farelo é muito consumido pela população, que conhece suas qualidades e vendidos em qualquer supermercado, além de enriquecer alimentos como biscoitos, balas, tira-gostos e cereais para café da manhã. Não existe uma comida boa para ricos e outra para pobre. O corpo não sabe se é rico ou pobre e nem quanto ganha. Portanto, ou o alimento é bom para qualquer pessoa, ou não serve para ninguém.

Modo de Preparo dos Alimentos

FARELO DE ARROZ

O farelo de arroz deve ser peneirado aos poucos em peneira fina, para separar a casca e o arroz quebradinho. Passe mais de uma vez na peneira, se tiver muita palha. Torre em panela grande, mexendo sempre com colher de pau, por 30 minutos em fogo baixo (depois que a panela e o farelo estiverem quentes). Coloque no máximo 1/3 da capacidade da panela. Esfrie e guarde em vasilhas fechadas.
FARELO DE TRIGO
Passe em peneira, torre e coloque para cozinhar com as comidas a serem usadas. Use 1 a 2 colheres de sopa (rasas) para cada pessoa por dia. Misture em sopas, mingaus, leite, arroz, feijão, bolo, cuscuz, beiju, pão e molho de macarrão.

PÓ DE FOLHAS VERDES ESCURAS

As folhas verde-escuras são ricas em vitamina A, vitaminas do complexo B, vitamina C, além de ferro e cálcio. Vejamos alguns exemplos: bredo, jambo, taioba, ora-pro-nóbis, bertalha, beldroega, folhas de chuchu, abóbora, batata-doce, folha de macaxeira, beterraba, entre outras. A folha da macaxeira, além de ser a mais rica, é a mais fácil de ser preparada. As folhas escuras são mais nutritivas do que as folhas claras como alface e repolho. A folha de macaxeira é uma rica fonte de minerais e vitaminas.
Modo de Preparo
Após a colheita e lavagem, as folhas devem ser primeiro picadas e levadas para secagem em lugar ventilado, à sombra, até se tornarem crocantes. Pise no pilão ou passe no liquidificador, no moedor de cereais e peneire.
Modo de Usar
Acrescente 1 pitada do pó de folhas nos pratos antes de serem cozidos.

PÓ DE CASCA DE OVO

A casca de ovo é uma rica fonte de cálcio que o corpo humano tem absorvido muito bem. O cálcio é importantíssimo para o crescimento, a recuperação da saúde e a conservação dos dentes.
Modo de Preparo
Lave bem os ovos antes de serem quebrados. As cascas devem ser limpas e desinfectadas para evitar a salmonela. Deixe as cascas de molho por 30 minutos, com água sanitária ou hipoclorito de sódio (uma colher de sopa para cada litro d'água) e depois ferva. Guarde na geladeira até o dia da preparação do pó. Quando for utilizar, seque as cascas na sombra, pise, moa ou triture.
Modo de Usar
Use apenas uma pitada de pó de casca de ovo (colher de chá por pessoa) nas sopas, mingaus, farofa, paçoca e bolo.


Receita

PÃO FÁCIL E ECONÔMICO

Liquidifique ou misture: 2 ½ colheres (sopa) de fermento, ½ litro de água morna, 1 colher (sopa) de sal, 1 colher (sopa) de açúcar. Misture com: 1 kg de farinha de trigo comum, 2 xícaras de farelo de trigo umedecido com água quente e ½ xícara de óleo.
Modo de Fazer
Descanse 20 minutos. Divida em três assadeiras de pão de fôrma. Descanse 30 minutos e asse. Enriqueça com: orégano, gergelim, milho verde, banana, abóbora cozida ou macaxeira, use suco de verduras ao invés de água, a própria água do cozimento da abóbora. Pode utilizar o trigo integral.

SOPA DE FARINHA DE MANDIOCA

1 litro de água fervendo, ½ copo de farinha de mandioca dissolvida em água suficiente para engrossar, cebola picada e cheiro verde, pimenta do reino e alho, 1 colher (sopa) de óleo e 2 colheres (sopa) de farelo. Leve ao fogo para cozinhar. Pode ser enriquecida com ovo.

MINGAU DE CANJIQUINHA

Coloque uma porção de canjiquinha, já cozida, acrescentando leite ou água, até ficar cremosa. Para enriquecer, misture amendoim torrado com a casca vermelha, gergelim ou pó de sementes, coco ralado, fresco ou queimado.

CANJICA VITAMINADA

Coloque numa panela 2 copos de canjica cozida, leite, açúcar (a gosto), 1 colher de farelo, 1 colher ou mais de amendoim torrado, canela, 1 pitada de sal. Deixe ferver. Pode substituir o leite de vaca por leite de coco.

MINGAU DE BANANA VERDE

Descasce as bananas bem verdes. Passe no liquidificador com água. Rale ou raspe com colher. Use 2 a 3 copos de água. Deixe ferver bem. Acrescente leite, açúcar, 1 colher de farelo e 1 pitada de sal. Se tiver, use coco.

CALDO VERDE COM CARNE DE CHARQUE

½ kg de carne de charque, 1 ½ litro de água, temperos e sal a gosto, 1 prato fundo de folhas picadas (taioba, beldroega, couve, casca de banana madura e folha de abóbora), 1 pitada de casca de ovo, 1 colher (sopa) de óleo e 2 colheres (sopa) de farelo. Cozinhe e passe no liquidificador.

BOLO DE FARELO DE TRIGO

2 xícaras de farelo de trigo, 3 xícaras de água ou leite, 1 ½ xícaras de açúcar, 4 ovos, 6 colheres (sopa) de óleo, 1 colher (sopa) de fermento, 5 colheres (sopa) rasas de farinha de trigo comum e 1 pitada de sal. Bata no liquidificador e asse em fôrma rasa.

ARROZ ENRIQUECIDO

2 colheres (sopa) rasas de farelo, 1 copo de arroz, óleo suficiente, talos de couve (ou casca de abóbora) refogados e 1 pitada de pó de folhas. Refogue o arroz junto com o farelo, coloque o tempero. Acrescente água e ferva o suficiente para cozinhar o arroz. Refogue, à parte, os talos de couve picadinhos e misture ao arroz já cozido.

 

 

Fonte: http://www.multimistura.org.br/multimistura.htm
http://www.responsabilidadesocial.com/article/article_view.php?id=116
http://www.ideario.org.br/cidadania/multimistura/multi.htm