CIÊNCIA E TECNOLOGIA

Cientistas desenvolvem embrião de rato em útero artificial

ratoutero118/03/2021 - Pesquisa manteve o filhote em fase embrionária vivo e se desenvolvendo por 12 dias, metade da gestação de ratos. Um grupo de cientistas do Instituto Weizmann de Ciência, em Israel, conseguiram desenvolver o embrião de um rato completo, com cabeça, coração e membros crescesse por uma semana em um útero artificial. O resultado do estudo foi publicado na revista científica Nature na última quarta-feira (17).

Os especialistas mantiveram o embrião vivo e crescendo por um período de 11 a 12 dias durante os estudos em laboratório, o que corresponde à metade do período gestacional de ratos. O experimento é um recorde no desenvolvimento de mamíferos fora de um útero. Apesar dos debates éticos que cercam desse tipo de experimento, acredita-se que o sucesso do estudo com ratos poderá contribuir para pesquisas com fetos humanos.

“Eu espero que isso permita que cientistas desenvolvam embriões humanos até cinco semanas [fora do útero da mãe]”, disse o cientista Jacob Hanna, que conduziu a equipe no Instituto de Ciência Weizmann.

Hanna explica que a tecnologia usada precisa de melhoras, já que não é possível fazer com que o embrião se desenvolva sem passar um tempo antes em um útero de verdade. Para o experimento, ele usou embriões de 5 dias colhidos de uma fêmea grávida e os passou para o útero artificial, onde eles sobreviveram por mais uma semana. Apesar do sucesso do primeiro experimento, a tecnologia usada é “complexa e cara”, o que limitaria seu uso e o acesso.

Como o estudo foi feito

Para conseguir desenvolver o embrião de rato por tanto tempo fora do útero, a equipe liderada por Hanna trabalhou por seis anos na criação de um sistema complexo, que inclui garrafas rotativas e cheias de nutrientes. Como os embriões de rato só crescem corretamente após um tempo fixados no útero real, os pesquisadores não puderam fazer todo o processo de gestação no laboratório. Em vez disso, eles coletaram embriões de uma fêmea grávida até o quinto dia e os colocaram em placas de cultura, onde ficaram até o sétimo dia. Só então, eles seguiram para o sistema de garrafas rotativas.

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Segundo o estudo, além de conter os nutrientes necessários para o crescimento das células, as garrafas de vidro giratórias ajudavam a fornecer o oxigênio e a pressão atmosférica ideais, o que segundo Hanna era um dos fatores mais críticos do experimento.Os embriões só morreram no 12º dia, porque se tornaram grandes demais para o oxigênio se difundir por eles, uma vez que não contavam com o suprimento de sangue natural da placenta.

Barreiras às pesquisas com embriões humanos

Trabalhar com embriões humanos de maneira semelhante é um interesse de Hanna. No entanto, ele reconhece que a pesquisa entraria em conflito direto com a discussão sobre aborto, pois caso conseguisse desenvolver o equivalente humano dos ratos de 12 dias, seria possível ver um corpo parcialmente definido, com cabeça e alguns membros já reconhecíveis. Atualmente, experimentos que envolvem o desenvolvimento de embriões humanos vivos em laboratório são limitados pela chamada "regra dos 14 dias". Segundo essa diretriz, os embriões obtidos por fertilização in vitro só podem ser cultivados por até duas semanas.

Porém, uma importante organização de pesquisa sobre células-tronco, a International Society for Stem Cell Research (ISSCR), tem planos de recomendar a rescisão da proibição. Segundo Hanna, isso permitiria a ele cultivar embriões humanos em sua incubadora. Bastaria que os conselhos de ética de Israel aprovassem —o que ele acha bastante possível. "O benefício de cultivar embriões humanos até a semana três, semana quatro, semana cinco é inestimável. Acho que esses experimentos deveriam pelo menos ser considerados. Se pudermos chegar a um embrião humano avançado, podemos aprender muito", disse Hanna.Ele afirma que é possível tornar essas pesquisas mais aceitáveis, limitando, por exemplo, o potencial de desenvolvimento completo. Segundo ele, uma possibilidade é instalar mutações genéticas para evitar que o coração sequer chegue a bater.

Fonte: https://noticias.r7.com/
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