CIÊNCIA E TECNOLOGIA

"Experiência Kentler". Piscólogo alemão colocou crianças a morar com pais adotivos pedófilos durante 30 anos

experiken118/06/2020 - Durante quase 30 anos, um professor de psicologia, na antiga Berlim Ocidental, levou a cabo um estudo em que colocou crianças abandonadas com pais adotivos com historial de pedofilia, pretendendo mostrar que este seria um relacionamento inofensivo. Aquela que ficou conhecida como a "Experiência Kentler" teve a conivência das instituições na altura e só foi descoberta quando os crimes já tinham prescrito.

Na década de 70, Helmut Kentler, professor de psicologia e membro da direção do Centro de Pesquisa Educacional de Berlim, decidiu começar um estudo que pretendia demonstrar que o contacto entre crianças e pedófilos era inofensivo. Para o provar, Kentler, colocou, propositadamente, durante cerca de 30 anos, crianças abandonadas, órfãs e sem-abrigo, com pais adotivos com historial de pedofilia. Tudo foi feito com o conhecimento das autoridades alemãs que, inclusivamente, chegaram a financiar o estudo com subsídios atribuídos a estas famílias.

A "experiência" só viria a público quando duas das vítimas decidiram revelar a sua história e o que deu também início à investigação levada a cabo pela Universidade de Hildesheim que, através da análise de documentos e entrevistas, conseguiu perceber que o estudo contava com uma grande rede de instituições de educação da antiga Berlim Ocidental, mas não só. A investigação universitária afirma que o Senado alemão também estava envolvido. Segundo o que é revelado esta quinta-feira pelo Deutsche Welle, os pais adotivos eram académicos de alto estatuto, membros do Instituto Max Planck, da Universidade Livre de Berlim e da Escola Odenwald, em Hesse, que há cinco anos esteve no epicentro de um escândalo de pedofilia.

Esta não é a primeira vez que o caso é investigado. Em 2016, a Universidade de Göttingen publicou um relatório sobre a "experiência", mas as autoridades alemãs não lhe deram seguimento tendo o Senado, inclusive, sido acusado de ter falta de interesse em descobrir a verdade. Helmut Kentler morreu em 2008. Da sua intervenção no estudo, sabe-se que mantinha o contacto regular com as crianças e pais adotivos e que dizia que estes eram especialmente carinhosos. Nunca foi acusado, sendo que quando as vítimas denunciaram o caso este já tinha prescrito.

 

Projeto Kentler: o programa experimental que entregou crianças órfãs a pedófilos durante 30 anos

 

28/07/2021, por André Manuel Correia - O projeto, liderado pelo psicólogo e sexólogo alemão Helmut Kentler, aprovado e apoiado pelo governo de Berlim Ocidental, colocava crianças órfãs e sem abrigo ao cuidado de pedófilos, que passavam a ser os seus pais adotivos. O professor Kentler defendia que o contacto entre adultos e crianças era inofensivo. O programa esteve ativo desde a década de 1970 até ao início deste milénio Foi em 2017 que Marco se deparou, num artigo publicado num jornal alemão, com a fotografia de um homem que lhe era familiar desde a infância. O primeiro traço que identificou foram os lábios do professor Helmut Kentler, um reputado psicólogo germânico, autor de vários livros sobre educação sexual e parentalidade.

Marco estranhou que o artigo retratasse aquele homem como um dos sexólogos mais influentes da antiga Alemanha Ocidental, enquanto ele sentia apenas repulsa ao olhar novamente para aquele rosto. Durante décadas, Marco esteve à guarda de um pedófilo, integrando uma experiência científica.

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A história é agora recuperada por uma investigação da revista New Yorker. Iniciado na década de 1970, o “Projeto Kentler”, como ficou conhecido o programa experimental, colocava crianças órfãs e sem abrigo em lares administrados por pedófilos em Berlim Ocidental. O líder do projeto, aprovado e apoiado pelo governo, era Helmut Kentler, um sexólogo que defendia que contactos sexuais entre crianças e adultos eram inofensivos.

O programa foi financiado pelo governo de Berlim e, em 1988, Kentler apresentou um relatório ao Senado onde descrevia o projeto como “um sucesso total”. Marco cresceu num orfanato até ter sido entregue, tal como outras crianças, a um homem que o manteve como prisioneiro, abusando dele durante anos, mas que legalmente era o seu pai adotivo. Todos os meses aquele homem pegava nas crianças sob a sua tutela e fazia mais de 300 quilómetros, até Hannover, para ir a casa de Kentler. O professor queria observar as crianças, “ouvi-las falar sobre os seus passados, os seus sonhos e medos, desejos e esperanças, para ver como elas se estavam a desenvolver”.

Durante a infância, Marco acreditava que a forma como era tratado era “normal”, assim como as práticas que faziam parte do programa experimental. “Depois de todos aqueles anos, perdemos o hábito de pensar”, conta, citado pela New Yorker. Atualmente, com 39 anos e já com uma filha, conta que fez parte do programa até 2003, quando tinha 21 anos. Os pedófilos a quem aquelas crianças eram entregues e que passavam a ser legalmente os seus pais adotivos recebiam, inclusivamente, um abono estatal. O objetivo do “Projeto Kentler” visava proporcionar às crianças órfãs um apoio social, sustentado por uma figura paternal, ao mesmo tempo que pretendia reabilitar pedófilos para que se pudessem transformar em pais cuidadosos.

Entre os alegados pedófilos estavam altas figuras da sociedade alemã, como membros do Instituto Max Planck, professores da Universidade Livre de Berlim e do famoso colégio Odenwald. O caso começou a ser investigado em 2016, quando várias vítimas começaram a contar as suas histórias. Desde então, a Universidade de Hildesheim tem analisado arquivos e conduzido entrevistas com os jovens que integraram o programa experimental. Entre as conclusões, foi identificada uma rede entre instituições de educação, estruturas de assistência social e o próprio governo de Berlim. De acordo com os investigadores, a pedofilia era “aceite, apoiada e defendida” de forma estatal. Helmut Kentler, de forma a monitorizar os resultados da sua experiência social, contactava regularmente com as crianças e os pais adotivos. O sexólogo alemão, falecido em 2008, nunca foi processado, uma vez que quando os primeiros relatos foram tornados públicos os eventuais crimes já tinham prescrito.

Fonte: https://24.sapo.pt/
           https://expresso.pt/