VERDADES INCONVENIENTES

Por que no Brasil tudo custa mais caro - Parte 2

bracar3Por que tudo é absurdamente caro no Brasil? - Por Rubens Menin, 31/10/2013 - Essa é uma pergunta fácil de ser respondida. O difícil é corrigir essa dirtorção. As coisas são caras aqui, em decorrência de dois fatores principais: a nossa produtividde é muito baixa em quase todos os setores e somos afetados pelo chamado "Custo Brasil", que onera a produção nacional e, até mesmo,a importação de ítens com origens externas. A nossa produtividade é baixa por muitas causas, mas as principais são a burocracia, a regulamentação antiga e imprópria e a falta de infraestrutura e das demais facilidades que garantiriam maior eficiência.

O "Custo Brasil" é um valor adicional que é o gasto por todos os que se dispôem a produzir em nosso país e que resulta, entre outros fatores, da nossa opção política em favor de sustentar um Estado enorme e acima de tudo, muito caro. A elevadíssima carga tributária necessária para sustentar esse modelo é apenas a consequência inevitáve das nossas escolhas.

Havia e ainda há uma enorme expectativa para o lançamento, entre nós, de dois produtos eletrônicos que, no mundo todo, converteram-se em objeto de desejo: o Playstion 4 e novo Ipad 5. No entanto, o preço desses produtos no Brasil é quatro vezes maior do que nos respectivos países de origem. Essa distorção não acontece apenas com esses dois campeões de popularidade. A mesma diferença ocorre também com quase todos os produtos importados, desde automóveis até peças de vestuário, passando por ítens de maquiagem e cosméticos, por aparelhos eletroeletrônicos e por toda uma variada linha de bens produzidos em outros países. Essa siuação estende-se, também ao setor de serviços e à indústria do turismo. Convertemo-nos em um pais onde fica mais barato viajar para o exterior do que curtir as nossas belezas nacionais. Ou, ainda, em um páis cujos habitantes preferem usar as suas férias anuais em viagens de compras no exterior, livres de impostos, mas com volumes de gastos e sangria financeira batendo sucessivos recordes.

Incompreensivelmente, muitas pessoas parecem não se dar conta dessa situação. Por isso, utilizei esses exemplos mais visíveis. Poderia acrescentar outros para mostrar como essa distorção afeta as possibilidades de escolha do cidadão brasileiro e a competitividade da nossa indústria. Atualmente, não temos mais condições de competição até mesmo com outras nações emergentes ou que apresentem economias menos avançadas do que a nossa. Muitas vezes, produtos nacionais exportados para outras nações tem preço de venda muito menor no país importador do que no Brasil. Um exmplo dessa situação é o carro Siena 1.4, fabricado em Betim, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, que é vendido internamente por um preço da ordem de R$ 45 mil e que pode ser encontrado nas concessionárias do Chile por cerca de R$ 25 mil. Quantos brasileiros deixaram de comprar esse carro por causa desse abusrdo acréscimo de 80% nos preços internos?

Só conseguiremos sair desse impasse e fugir da espada que pende sobre as nossas cabeças com uma corajosa e ampla mudança de modelo. Temos que buscar a eficiência e a competitividade. Temos que eliminar, ou pelo menos diminuir significativamente, a burocracia infernal que se instalou entre nós. Temos que reformar, aperfeiçoar e reduzir a ciclópica máquina pública, cada vez mais voraz na arrecadação dos impostos e taxas necessários para sustentá-la. Mais do que nunca, o nosso foco deverá se concentrar na sábia recomendação: temos que fazer mais com menos e, se possível, fazer melhor. Se melhorarmos a nossa produtividade geral e se simplificarmos o burocrático ambiente econômico nacional, os preços dos produtos fabricados aqui se aproximarão, inevitavelmente, daqueles praticados no exterior. Além de sobrevivermos como país viável, certamente observaremos um nível maior de prosperidade, conforto e segurança para os brasileiros.


Porque o Brasil tem carro mais caro do mundo?

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27/03/2013 - O Brasil tem o carro mais caro do mundo. Por quê? Os principais argumentos das montadoras para justificar o alto preço do automóvel vendido no Brasil são a alta carga tributária e a baixa escala de produção. Outro vilão seria o “alto valor da mão de obra”, mas os fabricantes não revelam quanto os salários – e os benefícios sociais – representam no preço final do carro. Muito menos os custos de produção, um segredo protegido por lei.

A explicação dos fabricantes para vender no Brasil o carro mais caro do mundo é o chamado Custo Brasil, isto é, a alta carga tributária somada ao custo do capital, que onera a produção. Mas as histórias que você verá a seguir vão mostrar que o grande vilão dos preços é, sim, o Lucro Brasil. Em nenhum país do mundo onde a indústria automobilística tem um peso importante no PIB, o carro custa tão caro para o consumidor. A indústria culpa também o que chama de Terceira Folha pelo aumento do custo de produção: gastos com funcionários, que deveriam ser papel do estado, mas que as empresas acabam tendo que assumir, comocondução, assistência médica e outros benefícios trabalhistas.

Com um mercado interno de um milhão de unidades em 1978, as fábricas argumentavam que seria impossível produzir um carro barato. Era preciso aumentar a escala de produção para, assim, baratear os custos dos fornecedores e chegar a um preço final no nível dos demais países produtores. Pois bem: o Brasil fechou 2010 como o quinto maior produtor de veículos do mundo e como o quarto maior mercado consumidor, com 3,5 milhões de unidades vendidas no mercado interno e uma produção de 3,638 milhões de unidades. Três milhões e meio de carros não seria um volume suficiente para baratear o produto? Quanto será preciso produzir para que o consumidor brasileiro possa comprar um carro com preço equivalente ao dos demais países?

Segundo Cledorvino Belini, presidente da Anfavea, “é verdade que a produção aumentou, mas agora ela está distribuída em mais de 20 empresas, de modo que a escala continua baixa”. Ele elegeu um novo patamar para que o volume possa propiciar uma redução do preço final: cinco milhões de carros. A carga tributária caiu e o preço do carro subiu. O imposto, o eterno vilão, caiu nos últimos anos. Em 1997, o carro 1.0 pagava 26,2% de impostos, o carro com motor até 100cv recolhia 34,8% (gasolina) e 32,5% (álcool). Para motores mais potentes o imposto era de 36,9% para gasolina e 34,8% a álcool.

Hoje – com os critérios alterados – o carro 1.0 recolhe 27,1%, a faixa de 1.0 a 2.0 paga 30,4% para motor a gasolina e 29,2% para motor a álcool. E na faixa superior, acima de 2.0, o imposto é de 36,4% para carro a gasolina e 33,8% a álcool. Quer dizer: o carro popular teve um acréscimo de 0,9 ponto percentual na carga tributária, enquanto nas demais categorias o imposto diminuiu: o carro médio a gasolina paga 4,4 pontos percentuais a menos. O imposto da versão álcool/flex caiu de 32,5% para 29,2%. No segmento de luxo, o imposto também caiu: 0,5 ponto no carro e gasolina (de 36.9% para 36,4%) e 1 ponto percentual no álcool/flex.

Enquanto a carga tributária total do País, conforme o Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário, cresceu de 30,03% no ano 2000 para 35,04% em 2010, o imposto sobre veículo não acompanhou esse aumento. Isso sem contar as ações do governo, que baixaram o IPI (retirou, no caso dos carros 1.0) durante a crise econômica. A política de incentivos durou de dezembro de 2008 a abril de 2010, reduzindo o preço do carro em mais de 5% sem que esse benefício fosse totalmente repassado para o consumidor. As montadoras têm uma margem de lucro muito maior no Brasil do que em outros países. Uma pesquisa feita pelo banco de investimento Morgan Stanley, da Inglaterra, mostrou que algumas montadoras instaladas no Brasil são responsáveis por boa parte do lucro mundial das suas matrizes e que grande parte desse lucro vem da venda dos carros com aparência fora-de-estrada. Derivados de carros de passeio comuns, esses carros ganham uma maquiagem e um estilo aventureiro. Alguns têm suspensão elevada, pneus de uso misto, estribos laterais. Outros têm faróis de milha e, alguns, o estepe na traseira, o que confere uma aparência mais esportiva.

A margem de lucro é três vezes maior que em outros países

O Banco Morgan concluiu que esses carros são altamente lucrativos, têm uma margem muito maior do que a dos carros dos quais são derivados. Os técnicos da instituição calcularam que o custo de produção desses carros, como o CrossFox, da Volks, e o Palio Adventure, da Fiat, é 5 a 7% acima do custo de produção dos modelos dos quais derivam: Fox e Palio Weekend. Mas são vendidos por 10% a 15% a mais. O Palio Adventure (que tem motor 1.8 e sistema locker), custa R$ 52,5 mil e a versão normal R$ 40,9 mil (motor 1.4), uma diferença de 28,5%. No caso do Doblò (que tem a mesma configuração), a versão Adventure custa 9,3% a mais. O analista Adam Jonas, responsável pela pesquisa, concluiu que, no geral, a margem de lucro das montadoras no Brasil chega a ser três vezes maior que a de outros países.

O Honda City é um bom exemplo do que ocorre com o preço do carro no Brasil. Fabricado em Sumaré, no interior de São Paulo, ele é vendido no México por R$ 25,8 mil (versão LX). Neste preço está incluído o frete, de R$ 3,5 mil, e a margem de lucro da revenda, em torno de R$ 2 mil. Restam, portanto R$ 20,3 mil. Adicionando os custos de impostos e distribuição aos R$ 20,3 mil, teremos R$ 16.413,32 de carga tributária (de 29,2%) e R$ 3.979,66 de margem de lucro das concessionárias (10%). A soma dá R$ 40.692,00. Considerando que nos R$ 20,3 mil faturados para o México a montadora já tem a sua margem de lucro, o “Lucro Brasil” (adicional) é de R$ 15.518,00: R$ 56.210,00 (preço vendido no Brasil) menos R$ 40.692,00.

Isso sem considerar que o carro que vai para o México tem mais equipamentos de série: freios a disco nas quatro rodas com ABS e EBD, airbag duplo, ar-condicionado, vidros, travas e retrovisores elétricos. O motor é o mesmo: 1.5 de 116cv. Será possível que a montadora tenha um lucro adicional de R$ 15,5 mil num carro desses? O que a Honda fala sobre isso? Nada. Consultada, a montadora apenas diz que a empresa “não fala sobre o assunto”. Na Argentina, a versão básica, a LX com câmbio manual, airbag duplo e rodas de liga leve de 15 polegadas, custa a partir de US$ 20.100 (R$ 35.600), segundo o Auto Blog. Já o Hyundai ix35 é vendido na Argentina com o nome de Novo Tucson 2011 por R$ 56 mil, 37% a menos do que o consumidor brasileiro paga por ele: R$ 88 mil.


Por que é tudo tão caro? Uma análise


Por Marcos Oliveira, 19/10/2013 - Consumismo e desigualdade social não são a mesma coisa, a não ser que o autor tenha escrito uma tese de mestrado sobre o tema, e conseguido correlacionar essas duas variáveis de alguma forma. De fato, o Japão é um exemplo concreto de que as duas coisas nem sempre andam juntas.

Na verdade, a discussão que precisa ser feita é: por que tudo é tão caro no Brasil? E como mudar este cenário? Existe uma série de fatores que pode explicar essa discrepância nos preços, em maior ou menor grau:

1. O sistema tributário brasileiro voltado a taxar o consumo ao invés da renda

2. Os altos impostos de importação em alguns setores, de modo a "proteger' a indústria nacional

3. O elevado consumismo do brasileiro - e aqui não cabe demonizar a classe média alta como se adora fazer neste blog, porque não me parece ser um problema exclusivo dela - a "nova classe média" é tão consumista quanto, e já cansei de ouvir histórias de mulheres de baixa renda pagando fortunas em cremes da "Victoria's Secret", sem saber que custam uma ninharia no exterior. Resumindo, trata-se de uma situação generalizada.

4. As altas taxas de juros, que oneram o consumo em dobro: por um lado, ao aumentar o custo do crédito (o que afeta toda a cadeia, do produtor ao consumidor), o que é piorado, na ponta do varejo, pela tendência de muitas lojas de não oferecer desconto à vista, obrigando tudo mundo a pagar juros, independentemente da necessidade; e o elevado custo de oportunidade, que faz com que os empresários demandem taxas de retorno maiores nos seus empreendimentos, porque senão é mais confortável e seguro continuar como "rentista".

5. O "famigerado" custo-Brasil, particularmente no que diz respeito à logística e à complexidade do sistema tributário.

Eu não elenquei as elevadas margens de lucro das empresas (que são um fato, ao menos em alguns setores) porque elas são consequência dos itens 3 e 4 (e ocasionalmente do item 2). É interessante agora avaliar como o governo atual (particularmente o governo Dilma) tem lidado com estes fatores, e o que ainda pode ser feito:

1. o governo tem curiosamente caminhado nesse sentido, embora duvido que seja um movimento concertado: basta observar todas as desonerações que foram feitas sob o consumo, enquanto a tabela do imposto de renda não é reajustada há anos. No entanto, parece muito mais uma reação casuística a balanços da economia que um movimento coordenado. Ademais, grande parte da oneração no consumo fica por conta do ICMS, que é um imposto estadual, cobrado a alíquotas "escandinavas" no Brasil - e com um regramento muito mais complexo que o imposto de valor agregado de outros países.

2. é evidente que o governo atual tem um viés protecionista em vários setores. Será que isto faz sentido realmente? Vale a pena insistir para que os iPads sejam fabricados no Brasil, dando lucro para a Apple do mesmo jeito e empregando algumas centenas de pessoas, enquanto os aparelhos a preços menores poderiam viabilizar um mercado de software nacional muito mais dinâmico do que é hoje, com capital brasileiro e gerando empregos de alto valor agregado? Faz sentido taxar, digamos, câmeras fotográficas digitais (cuja produção nacional é ínfima, se existe), e com isso gerar empregos no varejo de Orlando e Ciudad del Este, e alimentar um setor informal que paga zero de imposto? Aqui penso que há um imenso espaço para a revisão da política industrial.

3. Será que um governo consegue mudar isso? Será que deveria? O fato é que os governos Lula e Dilma se caracterizaram pelo contrário - um incentivo ao consumo. Não acho errado, afinal as classes mais desfavorecidas passaram muito tempo sem ter acesso a produtos básicos de conveniência, mas não é possível ignorar o efeito que isso pode ter sobre os preços, ainda mais em uma economia fechada e com altas taxas de juros.

4. Grande "bola dentro" do governo Dilma, que infelizmente está sendo revertida agora. No entanto, é difícil dizer se a queda já surtiu efeito no sentido de estimular a competição e reduzir os preços. Na verdade, ao menos no setor imobiliário, a queda nos juros causou uma imensa alta nos preços - mas isso é outra (longa) história.

5. Em relação à logística, o governo tem trabalhado bastante, nem sempre da melhor forma possível, mas ninguém pode dizer que a infraestrutura está esquecida no momento. Em relação à tributação, há iniciativas importantes ocasionalmente, mas falta a vontade política (e ousadia, porque ninguém pode ignorar os riscos de um movimento desta magnitude) para se fazer uma verdadeira reforma que simplifique o cipoal tributário do nosso país.

O que importa é perceber que o problema é multifacetado: enquanto os blogs de esquerda podem criticar a superficialidade do brasileiro de classe média e a ganância dos empresários, os blogs de direita vão falar da ineficiência e sanha arrecadatória do governo, e a verdade, para variar, vai ficar perdida no meio do fogo cruzado ...


O custo Brasil e a culpa do consumidor


Que atire a primeira pedra quem nunca contribuiu para o custo Brasil – aquela ideia de que tudo é mais caro aqui do que lá fora. Na busca por culpados, muito se fala da carga de impostos, da incompetência governamental, do lucro inflado dos empresários, dos juros bancários e da falta de infraestrutura. Tudo isso é verdade. Poucos percebem que o comportamento do consumidor também tem alto impacto em nossos preços.

Para começar, nosso consumo é de má qualidade. A mania de ostentação nos leva a comprar casas que não podemos decorar, carros que não levamos para viagens, smartphones poderosos que não ganham aplicativos úteis. Isso porque o dinheiro não dá para tudo. Pagamos caro pelo hardware e ignoramos que precisamos de verba para o software. Quando esse software é mesmo necessário, sua compra leva as contas ao vermelho.

O custo Brasil surge, nesse caso, da inadimplência dos maus compradores e da escassez de dinheiro resultante do pagamento excessivo de juros sobre crédito de má qualidade. É muita gente cobrindo contas no vermelho, recorrendo a empréstimos pessoais e consumindo crédito que deveria ser usado para criar novos negócios e gerar renda.

As pessoas compram menos, a cadeia produtiva vende menos. O crédito que deveria fomentar novos negócios acaba usado para cobrir falhas de planejamento, por isso sai mais caro. Como as vendas são menores, lojistas, produtores e distribuidores precisam trabalhar com margens maiores sobre suas magras vendas, se quiserem cobrir o investimento e o risco de seus negócios.

Outro problema de consumo é a concentração no fim de ano. Em razão do excesso de compras parceladas, os orçamentos das famílias são menos flexíveis e sujeitos a fugir do controle diante de qualquer imprevisto. O cidadão chega em novembro com dívidas acumuladas e ávido pelo 13º, que deveria ser usado para pagar impostos e grandes compromissos de janeiro, mas acaba servindo para quitar dívidas e tirar o atraso no consumo. Como não sabemos esperar, o dinheiro chega no fim de ano e consumimos na mesma época, na onda dos preços inflados – aqueles que garantirão o fechamento do ano do lojista no azul.

Sem verba para o janeiro caro, o brasileiro, então, parcela tudo e passa o ano sem consumir, acumulando dívidas, pagando juros e torcendo pela chegada do próximo 13o para se sentir aliviado. O custo Brasil surge aí, na estrutura produtiva e de comércio, preparada para o pico de demanda de dezembro e ociosa no resto do ano. Loja vazia, funcionário parado e poucas vendas são custo. O custo Brasil seria bem menor se a sazonalidade de consumo fosse menos extremada e menos endividada. Para fazer isso, a receita começa com menos compras a prazo.

Gustavo Cerbasi é consultor financeiro e autor de Casais Inteligentes Enriquecem Juntos (Ed. Gente), Como Organizar sua Vida Financeira (Elsevier Campus) e Os Segredos dos Casais Inteligentes (Ed. Sextante). Acesse os perfis no Twitter e Facebook. Publicado originalmente na Revista Época em 22/11/2013.

PARTE 3