RELIGIÃO, CULTOS E OUTROS

Cientologia - Parte 7

cientologia5Do outro lado da rua, um homem de máscara verde diz que seu nome é “David.” Ele viajou “muitas horas” para estar aqui e está hospedado em um hotel. Ele diz: “Se eu estou aqui pelo ‘lulz’? Sim, caralho. Sem o /b/, você não tem espetáculo, e sem espetáculo, ninguém liga. Esses pobres sujeitos, Arnie (Lerma) e Mark Bunker e os demais, eles estiveram fazendo isto por anos, mas sem espetáculo, ninguém prestou atenção. Você não tinha diversão. É isso que o /b/ trouxe — ele trouxe alguns jovens, ele trouxe alguma energia.” A única informação pessoal que “David” fornece é que ele é um “goon” — um membro do fórum do site de humor SomethingAwful.com. Foi lá que ele viu pela primeira vez a informação sobre a raid, ...

e decidiu envolver-se. “A internet tem problemas com a Scientology desde o ARS,” diz David, referindo-se ao alt.religion.scientology, um boletim da Usenet que tornou-se centro do primeiro embate entre a Scientology e os internautas, nos anos 90. “É meio que a natureza da besta. É isso que a internet é — é informação gratuita para quem quiser. Os dois (a Scientology e a internet) são diametricamente opostas.”

Ele acena com seu braço para o grupo de protestantes na esquina: “não há nenhuma dúvida que isto irá acontecer.”

Quando David fala “desde a época do ARS,” uma das pessoas das quais ele se refere é Arnie Lerma, um ex-scientologist que criou e administra o site lermanet.com de sua casa em Arlington, Virginia. Em 1995, Lerma postou documentos da igreja para o newsgroup alt.religion.scientology. Naquele tempo os documentos estavam disponíveis em uma corte na Califórnia, mas esses documentos foram selados posteriormente. A revista Wired, então com poucos anos de vida, chamou o processo por infração aos direitos autorais de “uma guerra violenta com munição de verdade,” pois o “Religious Technology Center” (Centro de Tecnologia Religiosa) da igreja havia processado Lerma e o jornal Washington Post (para quem ele havia disponibilizado os documentos) em uma corte da Virginia.

O LÍDER GALÁTICO XENU

Os documentos, que contém ensinamentos religiosos da igreja, incluem a agora extensamente publicada história de Xenu, um imperador galático que reuniu outros aliens, enviou-os para a Terra e matou-os, forçando-os a habitar os corpos da raça humana. A história de Xenu foi a base para um controverso episódio da série South Park, que tirou sarro da igreja e das celebridades scientologists Tom Cruise e John Travolta. Scientologists dizem que a história foi tirada de seu contexto pelos críticos da religião, e que ela informa apenas uma pequena fração dos textos de L. Ron Hubbard, o fundador da Scientology.

O processo contra o The Washington Post foi arquivado — o juiz sentenciou que o uso dos documentos enquadravam-se no “fair use”, ou seja, uma exceção prevista na lei de Direitos Autorais. Lerma recebeu uma fiança de U$ 2.500,00 e recebeu a ordem para não distribuir os documentos novamente. Mas a crítica a Scientology de Lerma, um engenheiro de áudio autônomo, tornou-se uma espécie de crusada. O Religious Freedom Watch, um grupo da Scientology, descreve Lerma em seu site assim:

Arnaldo (Arnie) Lerma ataca religiões minoritárias na internet, assedia e intimida paroquianos com correspondências de ódio, e planeja e participa de demonstrações que sabidamente tornam-se violentas. Ele também administra um canal clandestino na internet onde extremistas anti-religiões encontram-se para disseminar hostilidade e planejar atos de agressão contra a Igreja da Scientology e seus paroquianos.

Lerma mantém seu senso de humor sobre tudo isso, e às vezes é até difícil saber quando ele está brincando. Quando ele retorna uma ligação do repórter, ele se desculpa por não tê-lo feito antes porque ele teve que participar de uma manifestação neo-nazista. Ele está brincando sobre isso, mas ele leva a Scientology muito a sério. “Eles falam algumas coisas ruins sobre mim,” diz ele.

Lerma foi um scientologist entre 1967, quando era um hippie de 17 anos de idade atraído pelas armadilhas científicas da religião, e 1976, quando, segundo ele, foi forçado a sair. Sua batalha com a igreja começou no início de 1994, quando a lista de websites na internet era pequena o suficiente para caber em um livreto, bem quando Lerma deparou-se com um newsgroup chamado alt.religion.scientology.

“Eu fiz o login no newsgroup,”, lembra-se Lerma, “e postei uma mensagem — ‘Oi, eu sou Arnie Lerma. Alguém se lembra de mim?” Ele recebeu uma resposta de uma pessoa que ele não via a 25 anos, que apresentou-o para um grupo renegado de scientologists. O newsgroup consistia em 12 pessoas. “Nós estávamos apenas compartilhando histórias,” ele se recorda.

Ele começou a postar no newsgroup, que tornou-se um centro de documentos que a igreja não queria que se tornassem públicos. A igreja contactou os provedores de serviços de internet para que o newsgroup fosse removido de seus servidores. Quanto mais a igreja lutava para controlar rigorosamente as informações, mais os ativistas online acreditavam que as informações deveriam ser disseminadas.

Lerma planejou aposentar-se de seu ativismo no final do ano passado. Problemas nas costas e um telefone que não parava de tocar estavam cansando-o. Ele sempre acreditou que a Scientology iria acabar de repente, “como o muro de Berlim”. Quando os Anonymous surgiram em cena, ele mudou de idéia sobre sua aposentadoria. Isto, pensou ele, poderia ser o que estava esperando: “Todos nós da velha guarda estávamos em transe. Nós estávamos nos segurando apenas pelas pontas dos dedos.”

10 DE FEVEREIRO E LISA MCPHERSON


Três semanas após o pedido de Mark Bunker ao Anonymous, o primeiro protesto na vida real foi realizado em frente a igrejas da Scientology pelo mundo todo. O dia 10 de fevereiro foi escolhido por ser o aniversário de Lisa McPherson, uma scientologist cuja morte em 1995 foi objeto de processo na Florida; sua família e uma fundação criada com o seu nome disseram que a igreja era responsável pela sua morte por negar a ela cuidados médicos apropriados. As acusações criminais feitas contra a igreja foram arquivadas em 2000, de acordo com o jornal St. Peterburgh Times, e o processo cível chegou a um acordo em 2004 por um valor não revelado.

De acordo com um dos anons na reunião da cafeteria em Washington, “a Scientology é vista no momento, de acordo com a internet, como a infecção mais horrenda, o que impede que suas operações realizem-se com a sutileza necessária, de assim de uma forma nós voltamos nossa atenção a ela. Mas o que começou a acontecer é que você começa a ver o efeito real que ela tem em pessoas reais, bem além do ângulo da liberdade de expressão. E é isso que atraiu mais pessoas e as fizeram aparecer fisicamente no protesto no dia do aniversário de uma mulher que morreu por causa dessa seita, ou organização, ou o que quer que você queira chama-la.”

RICKROLL


Um protesto do Anonymous é uma coisa surpreendentemente organizada. Na manhã do dia 15 de março, ele iniciou-se no Dupont Circle, e seguiu-se em marcha para o local de protesto do outro lado da rua da igreja (ao som de Rickroll tocado por caixas de som de aparelhos portáteis). O boato dos investigadores particulares vindos da Flórida nunca se materializou — a única prova que havia alguém dentro da igreja era um homem sério na sacada do segundo andar do prédio filmando o que acontecia do lado de fora, e alguns scientologists que ocasionalmente saíam do prédio e andavam em círculos dentro da multidão, segudando câmeras e tirando fotos dos protestantes.

Um protestante usando um saco na cabeça para complementar um terno e gravata se identifica como “O Cara de Interrogação” e repetia vários outros anons ao dizer que seu “objetivo final é o desmantelamento da encarnação atual da Igreja da Scientology, e obter a revogação do status de isenção tributária da igreja. Os scientologists podem continuar a praticar sua religião de qualquer maneira ou forma que quiserem, desde que eles não desrespeitem as leis quando o fizerem.”

As organizações da Scientology recebeu isenção tributária em 1993, em um incomum acordo selado que foi posteriormente publicado pelo The Wall Street Journal. O acordo foi o resultado de uma batalha entre a igreja e o IRS (Receita Federal norte-americana) que durou por cerca de 30 anos e, de acordo com o The Wall Street, a igreja concordou em pagar U$ 12.500.000,00, retirar milhares de processos de assédio contra o IRS, e criar um “comitê da igreja para adequar-se a tributação.” O IRS cancelou taxas aplicadas sobre os líderes da igreja e suas organizações e concedeu status de isenção tributária para todas as entidades da Scientology nos Estados Unidos.

THE NEW YORK TIMES


O New York Times (clique aqui para ler a outra grande matéria da Time Magazine) relatou naquela época que investigadores particulares foram contratados pela igreja para se aprofundarem nas vidas dos oficiais do IRS, críticos do IRS foram financiados e empresas de fachada e falsas organizações de notícias foram criadas para reunir informações sobre críticos da igreja. Como parte da “Operação Snow White”, onde a igreja aplicou o mesmo procedimento contra o governo federal, documentos governamentais a respeito da Scientology foram encontrados e destruídos ao redor do mundo. Após o FBI realizar buscas em escritórios da igreja em 1977, onze pessoas foram mandadas para a prisão pela sua participação na Operação Snow White, incluindo Mary Sue Hubbard, esposa do fundador da igreja L. Ron Hubbard, que foi também um co-conspirador não indiciado. A igreja declarou seus inimigos “fair game”, um termo usado por Hubbard em uma carta de política em 1965. A política é citada pelos críticos, apesar dos scientologistas dizerem que ela foi cancelada a muito tempo.

Um dos cameraman da Scientology nos protestos, um homem com cabelos brancos encaracolados e um sorriso pensativo, recusou-se a fazer alguma declaração para este artigo, fazendo uma longa pausa suficiente para dizer, “a pessoa com quem você quer falar é Sue Taylor, que está lá dentro.”

Sue Taylor, a presidente da Igreja da Scientology de Washington, está ocupada porém mais tarde concorda em fazer uma reunião. Ela sugere uma visita a uma casa de L. Ron Hubbard próxima, a primeira Igreja da Scientology.

A RESPOSTA DA SCIENTOLOGY

Um tour pela casa de L. Ron Hubbard, na rua 19th próximo à estação de metrô Dupont Circle, inicia-se na sala de entrada, onde uma coleção de impressos contam a história inicial do fundador da Scientology. De acordo com os materiais, ele nasceu em Tilden, Nebraska, antes de completar seis anos de idade foi eleito “irmão de sangue” por uma tribo de índios Blackfoot das proximidades, e tornou-se o mais jovem escoteiro “Eagle” na história do país aos 13 anos de idade, antes de ter sido enviado para viajar pelo planeta. De acordo com o livro “O que é Scientology”, suas viagens o levaram de Guam para a China antes de retornar aos Estados Unidos para terminar o segundo grau. Durante os três anos seguintes, de acordo com sua biografia oficial, ele estudou física na George Washington University, conduziu sua “primeira experiência a respeito da estrutura e função da mente,” ingressou na Marinha, tornou-se “um dos melhores pilotos do país,” organizou uma viagem de 5 mil milhas a bordo de uma escuna de quatro mastros e atuou e escreveu para uma estação de rádio local. Ele também encontrou tempo para publicar o jornal do colégio, escrever sua primeira ficção publicada, conseguir recordes de vôo e apresentar relatórios sobre condições perigosas de aeroportos. Quase todos os aspectos da biografia oficial de Hubbard é desafiada pelos críticos da Scientology.

Em 1934, ele começou a escrever ficções populares, em sua grande maioria, pelos 15 anos seguintes, com algumas pausas para conduzir experiências. De acordo com o livro “O que é Scientology?”, “lidando com o sistema endócrino. Ele descobre que, ao contrário do que se acreditava a muito tempo, a função monitora a estrutura. Com esse avanço revolucionário, ele começou a aplicar suas teorias no campo da mente e assim melhorou as condições dos outros.” Após estudar criminosos como “Oficial Especial de Polícia no departamento de Polícia de Los Angeles,” e pacientes de hospitais e prisões-hospício em Savannah, Ga., Hubbard acomodou-se para escrever o livro Dianética, expondo suas teorias em saúde mental. A crítica do New York Times disse à época que a Dianética é um “conjunto de teorias fantasiosas sem provas,” mas apesar disto, o livro tornou-se um best seller. Em 1955, Hubbard fundou uma igreja baseada em suas crenças em Washington, que hoje tem filiais pelo mundo todo.

Mais tarde, de volta à mansão restaurada que agora serve como quartel-general de Washington, Taylor e Sylvia Stanard, diretora regional da igreja para assuntos externos, sentaram-se para uma entrevista. Taylor pede para que a conversa não seja gravada. Ela diz que teme fazer citações erradas de Hubbard, e diz preferir que tais informações venham diretamente de seus textos e declarações oficiais da igreja. Eis o que a igreja tem a dizer sobre o Anonymous:

“Não há dúvidas de que, considerado como um todo, as ações das últimas semanas constituem crimes e discursos de ódio. Igrejas da Scientology têm sido objeto de ameaças de bomba por telefone; ameaças de bomba foram feitas em salas de bate-papo na internet; 22 igrejas da Scientology foram objeto de correspondência com falso anthrax; emails enviados para os servidores da igreja continham mensagens de ódio, ameaças de bomba, ameaças de morte, ameaças de incêndio da igreja e ameaças vagas de destruir a igreja; ameaças de morte, outras ameaças e comunicações denegrindo a religião e seus seguidores também foram recebida do Anonymous por fax. Em um fax, o Anonymous faz uma nota que ele pretende “profanar artefatos religiosos” da Scientology porque “beneficia a eles”.

A declaração vem acompanhada de um vídeo — o mesmo postado pela igreja no YouTube. Ela foca-se em uma ameaça em particular — postada no dia 13 de fevereiro — ameaçando explodir “igrejas da Scientology por todos os Estados Unidos e territórios sob o poder do governo da Comunidade das Nações (Commonwealth, associação de territórios dependentes do Governo Britânico).” Membros do Anonymous negam qualquer envolvimento com a ameaça e solicitou ao YouTube que retirasse o vídeo sempre que fosse postado. Quer tenha sido ou não uma ação oficial do Anonymous, ela ilustrou os problemas de um grupo sem estrutura pré-estabelecida ou liderança — poderia ter sido qualquer um.

Stanard vem pesquisando sobre o grupo, verificando o 4chan. Seu veredito: “anti-semita, racista, simplesmente esquisito.”

Ambas as mulheres disseram que a igreja de Washington recebeu ligações telefônicas que vão do ameaçador ao simplesmente esquisito. Stanard diz ter recebido um telefonema no dia anterior de alguém que dizia “ter um puma esperando por mim.” Ela não sabe o que pensar sobre aquilo.

“Quando eu estava crescendo aquilo era um trote,” diz Taylor. “As coisas mudaram. Após 11 de setembro, essas coisas não são mais trotes.”

“Deve ter alguém que decidiu ficar furioso e escrever este manifesto,” diz Stanard. Mas os protestos são “na maioria crianças, seguindo cegamente.” Eles obtém suas informações de dois ou três antigos como Arnie Lerma,” mas “os demais só estão ali pela brincadeira — eles estão entediados.”

“Veja o primeiro manifesto,” diz Stanard. “Eles dizem que irão nos expulsar da internet. Como você justifica aquilo baseado apenas em retirar um vídeo? Quem quer que esteja fazendo isso está incitando o ódio. Eles podem não estar cometendo atos de terroristmo eles mesmos, mas estão incitando os demais.”

“Noventa e nove porcento desse pessoal está apenas procurando diversão,” interrompe Taylor. “Mas e quanto aquele cara que atualmente faz alguma coisa”?

“Aquilo é realmente importante,” concorda Stanard. “É tudo engraçado e divertido, mas como eles irão se sentir se alguém realmente fizer alguma coisa? Eu acho que eles estão todos enganados, e tudo é apenas diversão.”

Ambas Taylor e Stanard dizem ter conhecido John Boucher, cuja filha Jeanne Maria discursou no protesto.

“Eu entendo a dor dela,” diz Stanard. “Ela perdeu seu pai. Mas é mais complicado que isso… muitas coisas estavam acontecendo com ele. Eu não quero entrar em pontos específicos porque é coisa de aconselhamento. Nós tentamos ajudar ele, e ele não conseguiu. Não é apenas uma coisa — isto ou aquilo aconteceu. Ele foi informado que não poderia obter aconselhamento porque ele estava fisicamente doente. Eu entendo completamente — ela está de coração partido. Ela nos elegeu como alvo.

“Nós somos o alvo errado,”, completa Taylor.

Taylor frequentemente refere-se ao livro “O que é Scientology?” e fornece uma cópia. O livro caracteriza as controvérsias na história da Scientology como uma batalha entre “duas forças opostas diametricamente” — os scientologists em um lado, e do outro um “pequeno grupo exclusivo de médicos e psiquiatras, que não sabiam nada sobre a mente humana, e nem ao menos leram Dianética.” A psiquiatria está atrás de outros ataques a igreja, de acordo com o livro, bem como a Food and Drug Administration, o IRS e a mídia.

Na página 542, que Taylor havia marcado com um post-it azul, o livro diz:

“Scientology e Dianética são tecnologias que funcionam se aplicadas exatamente. Se elas forem alteradas, os resultados não serão uniformes. Por esta razão, os textos da igreja são protegidos por direitos autorais e as palavras e símbolos que representam a tecnologia são marcas registradas… Algumas pessoas inescrupulosas tentaram, através de conduta desonesta, lucrar com as tecnologias da Dianética e Scientology… por ser proprietária das marcas registradas e direitos autorais da religião e fiscalizando seu uso apropriado, a igreja pode assegurar que tais atos mal-intencionados nunca ocorram.

Em outras palavras, nada de vídeos não autorizados de Tom Cruise.

Taylor diz que a igreja mudou desde os dias da Operação Snow White. As antigas práticas foram abandonadas, e ela diz que mudança em política da igreja é algo que Lerma nunca aceitou. Stanard concorda: “Ele não está na igreja a 35 anos. Quando ele está falando sobre a igreja, não é a igreja de hoje.”

Assim como a história de Xenu, que não é mencionada no “O que é Scientology?”, “Aquilo saiu direto do South Park,” diz Taylor. “Não é parte de nossa crença. Você só vai ver isso com pessoas como Arnie Lerma.”

 

FESTA DE ANIVERSÁRIO DE HUBBARD


A convenção do Anonymous em 20 de março não saiu bem como foi planejado. Originalmente agendado para ocorrer no mesmo hotel em Washington onde scientologists estavam celebrando o nascimento de L. Ron Hubbard, o Anonymous foi banido e seu depósito devolvido após o hotel ter sido informado de seus planos. Exilado para um edifício cavernoso em Crystal City — uma cidade de prédios comerciais vazios nos fins de semana do outro lado do rio, em Arlington — mais de 100 anons, a maioria mascarada, compareceu após uma parada para protestar do lado de fora do evento da Scientology. As placas de nomes na mesa de recepção do lado de fora da conferência diziam “Olá, meu nome é David.”

Um pedido por sugestões para o próximo protesto, agendado para o dia 12 de abril, atraiu algumas sugestões — a mais popular era “ball pit” (piscina de bolinhas). Alguns anons corajosos pegaram o microfone para matar o tempo, alguns eventualmente gritaram para os espectadores colocar seus sapatos sobre as cabeças. Eles prepararam o piso superior do hotel com bolo, ouviram silenciosamente quando um Freezoner — um membro de um grupo que pratica a Scientology fora da igreja oficial — falou sobre suas crenças e respondeu algumas perguntas, e um feed de internet ao vivo atraiu cerca de 80 pessoas, que postaram comentários que eram visualizados em uma enorme tela na frente ao salão.

Um anon no canto do salão de conferências começou a tocar músicas, começando com Rick Astley depois para a música “Party Hard” de Andrew W.K. Mais anons tomaram a pista de dança sob o olhar atento da câmera de vídeo (um comentário no telão: “P.Q.P! Ela tá tendo um ataque!!”). A próxima música é a Enturbulator 009, da banda Igreja dos Subgênios que em 2002 gravou um álbum com músicas hip-hop anti-Scientology. Ela começa assim:

” Scientology is trying to make me silent,
By telling other people that I’m violent,
They say that I’m a terrorist,
I’m really just a satirist,
A lyricist enjoying this particular mess.”

“A Scientology está tentando me silenciar,
dizendo aos outros que eu sou violento,
Eles dizem que sou um terrorista,
Na verdade sou só um sarrista,
Um letrisca que está se divertindo com essa bagunça em particular.”

Quando a música chega ao refrão, o Anonymous está cantando junto: “Fodam-se eles se eles não aguentam uma brincadeira/ e você não aguenta a brincadeira então foda-se.”

COMO A SEITA SE DEFENDE NOS BASTIDORES


Alguns dias após a convenção, um dos anons entrevistado para esta história enviou-no um email para dizer que ele e outros receberam uma carta, e nos forneceram uma cópia.

Ela é similar a outras cartas que segundo relatos foram recebidas por todo o país, entregues nas casas de anons, e vem de um escritório de advogados de Los Angeles contratado pela Igreja da Scientology Internacional. “Nós estamos enviando a você esta cara,” diz ela, “porque a igreja tem razões para acreditar que você pode estar dirigindo ou liderando alguma ou todas as ações do ‘Anonymou,’ e tem ajudado em sua campanha de violência ou incitação à violência contra a igreja ou seus membros, nós estamos preparados para tomar toda e qualquer medida necessária para proteger nosso cliente, incluindo denunciar qualquer indivíduo, incluindo você, para autoridades locais, estaduais e federais.”

O destinatário da carta, um calouro de faculdade, diz que não irá mudar seus planos, mas ele já contratou um advogado, “apenas por precaução.” Ele diz que está levando a carta a sério mas não cometeu nenhum ato ilegal.

“Eu não estou preocupado,” diz ele, “e definitivamente não vou parar.”

 

A real ciência por trás da cientologia

 

2011 - Por Michael Shermer - O fundador Hubbard teria inventado tudo, apenas para criar algo que fosse mais lucrativo do que escrever ficção? Nos anos 1990, tive a oportunidade de jantar com o músico Isaac Hayes, cuja carreira tinha acabado de dar um salto incrível – e ele atribuía isso à cientologia. Foi um testemunho entusiasmado de um seguidor sincero daquela Igreja. Mas, seria uma evidência de que a cientologia funciona? Dois livros recentemente publicados argumentam que não há ciência na cientologia, apenas doutrinas sagradas embrulhadas num besteirol de Nova Era simulando ciência. The church of scientology (A igreja da cientologia), de Hugh B. Urban, professor de estudos religiosos da Universidade Estadual de Ohio, traz o tratamento mais crítico da organização até o momento; Inside scientology (Por dentro da cientologia), da jornalista investigativa Janet Reitman, é uma leitura eletrizante que inclui histórias impressionantes e bem documentadas de contratos de bilhões de anos, programas agressivos de recrutamento e abuso de empregados.

O problema dos testemunhos é que eles não constituem evidência na ciência. "Toda terapia produz testemunhos animados por causa do efeito 'justificativa do esforço'", me disse a psicóloga social Carol Tavris. Qualquer pessoa que invista tempo, dinheiro e esforço em uma terapia dirá que ela ajudou. A cientologia pode ter ajudado Isaac Hayes, assim como psicanálise e bungee jumping podem ter ajudado outros, mas isso não significa que a intervenção foi a razão. Para saber se há algo de especial sobre a cientologia, é preciso fazer estudos controlados – mandar um grupo de pessoas escolhido ao acaso e um de controle, que apresentem o mesmo problema, para a cientologia ou para uma terapia diferente. Até onde eu sei, nenhum estudo deste tipo foi feito. A ciência real por trás da cientologia parece ser um entendimento da necessidade humana de ser parte de um grupo de suporte e do desejo das pessoas de pagarem generosamente por isso.

Se a cientologia não é ciência, será que é pelo menos religião? Bem, ela tem seu próprio mito de criação: cerca de 75 milhões de anos atrás, Xenu, o comandante de uma Confederação Galática de 76 planetas, transportou bilhões de seres em aeronaves parecidas com jatos DC-8 para um planeta chamado Teegeeack (Terra) e os colocou perto de vulcões, onde bombas de hidrogênio explodiam. Tudo que restou dessa tragédia foram os “thetans” (almas), que passaram a habitar os corpos dos humanos e a trazer diversos problemas espirituais e infelicidade às pessoas. A única maneira de remediar esses males seria por meio de técnicas especiais envolvendo um eletropsicômetro (E-meter), em um processo chamado auditoria.

Graças à Internet essa história, que antes era revelada apenas a quem investisse milhares de dólares em cursos para atingir o Nível Operacional Thetan III (OT III) da cientologia, é agora tão conhecida – tanto que foi retratada, em 2005, em um episódio da série de TV South Park. De acordo com textos virtuais, documentos jurídicos, livros e artigos de seguidores que chegaram ao OT III e de ex-membros que ouviram a história diretamente, esse é o Gêneses da cientologia. Então, como diz a lenda, o fundador e escritor L. Ron Hubbard teria inventado tudo, apenas para criar uma religião que era mais lucrativa do que produzir ficção científica?

Em vez de dar a história como verdadeira, eu recentemente entrevistei o autor de ficção científica Harlan Ellison, que afirmou estar presente no nascimento da cientologia. No Hydra Club, um encontro de escritores de ficção, em Nova York, Hubbard estava questionando a L. Sprague de Camp e outros presentes sobre ganhar dez centavos por palavra. Lester del Rey então falou, em tom de brincadeira: “Você devia criar uma religião, porque assim não pagaria imposto”. Em seguida todos na sala começaram a dar ideias para a nova doutrina. Então Ron pegou algumas sugestões, acrescentou detalhes, escreveu Dianética: Uma nova ciência da mente e vendeu o texto para John W. Campbell Jr, que o publicou na revista de ficção científica Astounding Science Fiction, em 1950.

Para ser justo, a história de Xenu não é mais cientificamente insustentável que outros mitos que têm a fé como origem. Se não há maneiras de determinar por meio de testes qual hipótese de criação é correta, talvez todas elas sejam ficções impressionantes.

 

Igreja da Cientologia multada por fraude em França


03/02/2012 - Religião é considerada uma “seita perigosa” pelo Parlamento Francês. A Igreja da Cientologia foi multada no valor de 600 mil euros por um tribunal francês, por prática de fraude. Para além da multa, quatro dos líderes do ramo francês da religião foram condenados a penas suspensas até dois anos. A Igreja foi acusada por cinco pessoas de as ter levado a gastar dezenas de milhares de euros em tratamentos de vitaminas, sessões de sauna, “pacotes de pureza” e testes de personalidade que o tribunal concordou serem fraudulentos.

A decisão do tribunal é um duro revés simbólico para uma organização que reclama o estatuto de religião naquele país. Embora seja reconhecida como tal nos Estados Unidos, onde nasceu, e noutros países, incluindo Portugal, em França é classificada como uma “seita perigosa”, de acordo com uma investigação parlamentar de 1995. “Esta é uma decisão excelente para os que lutam contra as seitas e uma derrota importante para a Igreja da Cientologia”, considerou o advogado da acusação, Olivier Morice. A Igreja da Cientologia não corre o risco de ser banida, por enquanto, mas vê reduzidas as possibilidades de ser reconhecida como religião em França.

A religião foi fundada nos Estados Unidos em 1954 pelo escritor de ficção científica L. Ron Hubbard. Desde então tem estado sempre envolvida em polémica em vários países do mundo. A fé é conhecida ainda por “recrutar” pessoas mediáticas, tendo nas suas fileiras uma quantidade assinalável de actores de Hollywood, como Tom Cruise e John Travolta, por exemplo.

 


Fonte: http://pt.wikipedia.org
       http://www.oapocalipse.com
       http://cientonetica.wordpress.com
       http://www2.uol.com.br
       http://rr.sapo.pt