CIÊNCIA E TECNOLOGIA

Redes sociais móveis: muita exposição!

redes_sociais_moveis_3Por Elis Monteiro 05/04/2011 - Um amigo fez check in no Fousquare assim que chegou à MacStore do Shopping Downtown, zona oeste do Rio; em alguns minutos, disse no Twitter que estava saindo de lá feliz da vida porque tinha comprado um monte de produtos Apple. Sacola cheia, deu check in na praça de alimentação do mesmo shopping, pegou o carro e foi para casa, onde deu check in de novo. Acompanhei de perto todo esse movimento porque 1)estava no mesmo shopping, em pleno sábado; 2)também entrei na onda de dar  check in aonde quer que eu chegue.

A diferença entre ele e eu é que sou medrosa: evito loja/colégio do filhote; nunca digo para onde especificamente estou indo e, se vou fazer alguma compra, nem pensar em colar esse cartaz no meu peito e sair por aí dizendo que sou uma felizarda porque saí de uma loja cheia de produtos caros. Para esse meu amigo, no entanto, a humanidade é uma grande reunião de pessoas bem intencionadas que se importam em saber por onde ele anda e, melhor, se regozija com as compras que ele faz.

Coitado! Meu amigo está errado. E, assim como ele, milhares têm feito a mesma coisa – oferecem de bandeja seus destinos, informações sobre compras, alimentando os mal intencionados (sim, eles existem!) de informações preciosas sobre colégio dos filhos/hábitos familiares/preferências de produtos/quantidade de grana que podem despender e que tipo de equipamento costumam comprar e levar para casa. E já que a residência também vale como local de check in, o que custa oferecer mais esta informação? Só para vocês terem ideia do problema, conheço pessoas que preenchem a parte de endereço do Facebook. Sério.

O problema não se dá somente no Foursquare, é claro. No Twitter, sobram informações sobre hábitos cotidianos, compras, fotos de filhos jogando futebol com a logomarca do colégio estampada na camisa. Fora os “estou comendo com a família no shopping X”, “daqui a pouco vamos ao cinema, fazer compras e depois ir pra casa”. E ainda acionam a integração do Foursquare com o Twitter e cada check in é comunicado para os inúmeros seguidores, todos pessoas de verdade, que conhecemos bem e que, mas é óbvio, nunca pensariam em se aproveitar de tantas informações preciosas.

Inocência ou necessidade de aparecer perante os pares? O que anda acontecendo com as pessoas que, de uma hora para a outra, começaram a agir como seres falastrões que sentem prazer em indicar passos de suas vidas, oferecendo rotas, caminhos, trilhas, mapas de suas localizações, o tempo todo?

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Sempre considerei o Foursquare uma super ferramenta para receber dicas de lugares. Certa vez, estava eu em Recife, louca para comer num restaurante japonês, mas não tinha ideia de onde poderia encontrar um (bem recomendado). Fui ao Foursquare atrás dos reviews (tips, dicas mesmo) e recebi informações ótimas sobre todos os restaurantes da área. Fui na certa: adorei a dica e recomendei depois.

Mas as pessoas acabam vendo o Foursquare como uma grande corrida não só atrás das prefeituras (que eu também quero, já que é um jogo, certo?) mas principalmente do status que dá perante os outros por frequentarem restaurantes caros e lojas chiques. Dizem por aí que ninguém dá check in na carrocinha de cachorro-quente da esquina (o que também seria perigoso, convenhamos).

Nunca na história da internet (parafraseando nosso ex-presidente Lula) assisti a uma corrida tão maluca rumo à invasão de privacidade, que começa pelo próprio dono desta. “É isso aí, amigos, estou aqui, sou fodão e vocês tolos não o são porque não estão aqui”. Mas imaginem se dentre esses tolos estão bandidos, ladrões, espertalhões? Claro que sim! Afinal, onde há gente há problema.

Não estou sendo catastrofista, mas fui repórter de jornal durante muito tempo, já escrevi bastante sobre privacidade na internet e sei dos riscos inerentes a esse universo a princípio tão bonzinho. Está todo mundo sempre de olho! Querem um exemplo simples? Dia desses uma conhecida saiu à noite e encheu a cara – deu check in no bar quando chegou e deu check in em casa quando a balada terminou.

Seu Foursquare era linkado ao Twitter, que avisou que ela estava em tal bar. Ok. Não satisfeita, lá pelas tantas publicou no Twitter que estava muito bêbada e que teria uma ressaca brava no dia seguinte. Batata! Não conseguiu acordar, o despertador não funcionou (pelo menos ela não se lembra disso) e a moçoila só conseguiu chegar no trabalho depois do meio dia. “Passei muito mal de manhã”, disse ela para o chefe. Este, esperto, imediatamente sacou o celular do bolso, entrou em sua timeline e disse: “sim, eu sei, você chegou em casa às 4h, bêbada, e a ressaca deve mesmo estar brava”.

Não foi demitida, mas poderia ter sido. Afinal, por que dizer no Twitter que estava bêbada, que estava saindo tarde da noite do bar X e ainda por cima ter dado check-in quando chega em casa? Alguém acompanhou todo esse movimento e bem poderia ter interceptado nossa amiga em algum momento. Ou esperado por ela na portaria do prédio. Por que não? Afinal, dos mais de 500 seguidores dela, pelo menos um pode ser um maluquete qualquer, certo?

Sempre digo aos meus alunos que não se deve sair por aí com uma placa dizendo aonde vai, com quem vai e quando volta. Afinal, pra que facilitar o trabalho do bandido, certo? Ele pode ser seu seguidor e, como todos, interagir com você faz parte do metiê…

Fonte: http://www.techtudo.com.br/