CIÊNCIA E TECNOLOGIA

O que é na realidade a "Imagem Meramente Ilustrativa" e a Guerra do Photoshop - Parte 2

photoshop parte 2Quais os limites do Photoshop publicitário? 22/02/2012 - Por Kate Ferry e Leonardo Pereira - Tramitam na Câmara dos Deputados dois projetos de lei que visam tornar os anúncios publicitários mais próximos da realidade, o PL 6853/2010 e o PL 3187/2012. O primeiro quer obrigar os anunciantes a incluir avisos nas peças quando vierem com fotos retocadas - algo como "esta modelo não é bem assim"; o segundo vai além, barrando as imagens "meramente ilustrativas" por completo. O consumidor, então, não poderia se sentir enganado, fosse na hora de comprar um creme anti-rugas ou um hambúrguer.

Recentemente, alguns anúncios que teriam exagerado no uso do Photoshop foram retirados do ar no Reino Unido e nos EUA. As campanhas usavam como garotas-propagandas mulheres famosas como as atrizes Rachel Weisz e Julia Roberts e a cantora Taylor Swift, no entanto, as imagens sofreram tantas alterações e retoques que receberam críticas e foram consideradas “enganosas”. Enganosas porque Julia Roberts parecia a Julia Roberts de 30 anos atrás e Rachel Weisz em algum momento durante o processo de criação praticamente deixou de ser a Rachel Weisz.

Por mais que cause esse tipo de polêmica, o uso de programas que fazem correção é visto como essencial por quem trabalha com propaganda. “Todas as imagens precisam de um tratamento, embora tenhamos sempre um limite para que não fique exagerado”, afirma Gustavo Victorino, diretor de Criação da DM9DDB, que tem como clientes Johnson&Johnson e Sadia, dois candidatos a se enquadrar nos projetos.

Os retoques são vistos de outra maneira pelo deputado Wladimir Costa (PMDB-PA), que sugeriu os avisos. "Há uma enganação latente em todo o processo de criação e veiculação de peças publicitárias, e essa enganação se faz, na maior parte das vezes, por meio da imagem e da sua manipulação", diz ele na justificativa do PL.

"Se nas artes o objetivo ao se retratar o corpo humano de forma idealizada era a exaltação do belo, na publicidade busca-se a sedução do público, a criação de uma falsa ideia de perfeição que pode ser adquirida por meio do consumo", afirma. De acordo com a proposta, caso a peça não venha com a mensagem "Atenção: imagem retocada para alterar a aparência física da pessoa retratada", o infrator sofre advertência; é obrigado a publicar uma retificação ou esclarecimento; ou paga multa, que vai de R$ 1 mil a R$ 50 mil e pode ser dobrada, triplicada etc., conforme reincidência.

Marcos Medeiros, diretor de Arte e de Criação da AlmapBBDO, diz que o problema dessa ideia é quantificar a alteração. Quem faria esse julgamento? Ele, cuja agência atende O Boticário, garante presar pela honestidade quando recorre ao tratamento, e lamenta: "Como sempre, pagamos pelos que cometem excessos." Victorino, da DM9, acredita que a proposta surgiu por uma deficiência do mercado, que está exagerando. "Mas como não concordo com o exagero, não concordo com o aviso", explica.

Quanto à ideia de acabar com as imagens meramente ilustrativas, ela surgiu porque o deputado Francisco Araújo (PSD-RR) as considera "prática nefasta". "Trata-se de um verdadeiro estelionato comercial, já que muitos fornecedores divulgam em seus anúncios características de seus produtos e serviços que não condizem com a realidade", justifica. "Isso é, sem dúvida, uma afronta aos princípios básicos da legislação brasileira de defesa do consumidor, afronta essa que precisa ser urgentemente debelada."

Neste caso, a punição seria o enquadramento do recurso como publicidade enganosa, que já é proibida pelo Código de Defesa do Consumidor - ao qual seriam acrescentados dois parágrafos.

Para Victorino, a propaganda deve ser aspiracional e trazer sensações de desejo, portanto, o negócio é combater exageros e continuar investindo em sentimentos que possam culminar na compra do que está sendo mostrado.

Curiosamente, os dois diretores usaram a mesma analogia para defender as alterações tão usadas - e criticadas - pelo meio publicitário. "Quando uma mulher vai a uma festa, ela também se arruma, se embeleza", exemplifica o da DM9. "Se exagerar na maquiagem todo mundo comenta. Se acerta, todo mundo elogia."

"A maquiagem é uma forma primitiva de Photoshop", brinca o da Almap. "As mulheres nos enganam faz tempo."


Alguns exemplos do uso do photoshop

 

Ane e Adam

Adam Levine e Anne Vyalistsyna (também conhecida como Anne V), um dos casais mais badalados da atualidade, fizeram um ensaio bastante sexy para a revista "Vogue" russa de novembro. O vocalista da banda Maroon 5 e a modelo, que é parte do casting da Victoria's Secret, exibem seus corpos perfeitos e quase não se nota um erro de edição em uma das fotos que sumiu com a metade do tronco de Adam

carol castro

A tatuagem de Carol Castro sumiu na revista "Boa Forma" de junho de 2010. A atriz também ficou com a barriga chapada e a pele lisinha e bronzeada. A foto do "antes" teria sido divulgada por engano.

susana vieira

O fotógrafo Fernando Torquato, amigo de Susana Vieira, deu à atriz de 66 anos um corpo de 20; as fotos para a "Quem" renderam polêmica (2010).

franca

A fim de deixar a primeira-dama da França melhor na imagem, o editor acabou ignorando o fato de que a mão de alguém segurava o braço dela.

modelo vitoria

A modelo da Victoria's Secret Marisa Miller, 32, teve o braço "amputado" pelo editor de imagens Photoshop. O fato foi comentado no diário britânico "Daily Mail"(7/2/11).


Lei do Photoshop


Eu trabalho há muito tempo com photoshop. E qual fotógrafo que hoje em dia não o utiliza? O photoshop é uma ferramenta maravilhosa em termos de tecnologia de tratamento, edição e modificação de imagens. É tão bom que ainda por cima é fácil de usar. Se fosse muito, mas muito complicado apagar uma celulite da perna de uma famosa qualquer, isso seria um serviço caro, e portanto nem todas as agências ou publicações, e até mesmo freelas, teriam como oferecer esse serviço. Além disso, existiriam poucos profissionais no mundo capazes de realizar tal trabalho.

Mas esse ponto de vista culpa o Photoshop pelo uso indevido. Isso é o mesmo que culpar uma arma por um crime! O uso dessa ferramenta só evidencia a questão humana por trás disso tudo. A vaidade. A pressão da sociedade. Hoje em dia tem gente que trata suas fotos antes de colocar no Facebook.

madona

Além disso, por mais que o PS seja ótimo, ele não substitui o olhar, a experiência. E cria um hábito horrível, o “isso aí depois eu apago no photoshop”. Porque?! Faça a melhor foto que você puder agora! “A luz depois eu ajeito no lightroom…”. Preguiçoso!!! De um certo modo, as máquinas digitais contribuem para esse problema. Você ajusta ela para fazer 3 opções de fotometragem, para cada foto, e depois escolhe a melhor. Será que essa é a melhor maneira de conseguir um bom resultado? Talvez para o amador. Mas e quando profissionais começam a fazer isso?

Agora vou ser advogado do diabo. Será que é justo um cara com anos de experiência, ficar horas e horas sentado diante de um computador resolvendo aquela celulite, aquela gordurinha, aquela depilação mal feita que a pouco profissional modelo deixou de lado (afinal, cuidar dessas coisas é parte do trabalho dela), para não ter crédito nenhum depois? E pior que isso, a maior parte das modelos acham que elas realmente são assim, lindas e maravilhosas, ou pelo menos gostam de se enganar e no processo enganar o público. Por isso, nem pense em falar para ela que você fez isso ou aquilo na foto dela! Não me levem a mal, não tenho nada contra essa profissão, que imagino não ser nada fácil. Sou contra a falta de profissionalismo, em qualquer área.

nitro

Então vejamos quem recebe crédito em um ensaio fotográfico: tem o cara da iluminação, a produtora de moda, o figurinista, o maquiador, o cabeleireiro, o assistente, a mulher dos acessórios, o dono do lugar, o cara que nem era da equipe mas que foi comprar um sanduíche na esquina… e é claro, as estrelas: o fotógrafo e a modelo.

Depois que todo mundo acabou, começa o trabalho do nosso amigo: acertar a luz que o iluminador errou, apagar a tatuagem que o maquiador não viu, ajeitar o fundo que a produtora deixou passar, reduzir as gordurinhas da modelo que não estava na forma devida… E o fotógrafo? O que ele tem a ver com isso tudo? Ele deixou tudo isso passar na avaliação dele!!! Nós não somos apenas apertadores de botão!

Os tratadores de imagem não são monges budistas, sem apego ou ego. Eles querem, e com todo direito, crédito. O “problema” é que o crédito deles fere a imagem da indústria da beleza. Talvez porque ela tenha desviado do caminho. Afinal, o que é a beleza? Como diz o antigo ditado, “a beleza está nos olhos de quem vê”.

Abaixo, a notícia do projeto de lei que me levou a escrever esse post, com foto inserida por mim.

Congresso brasileiro quer criar a Lei do Photoshop

Projeto de lei deste ano em tramitação no Congresso torna obrigatório o aviso da manipulação de imagens

Imagine a capa e os ensaios da Playboy, fotos de gente famosa ou anúncios de produtos cosméticos com a modelo Gisele Bündchen seguidos do alerta: “Atenção: imagem retocada para alterar a aparência física da pessoa retratada”. É o que propõe um projeto de lei deste ano em tramitação no Congresso que torna obrigatório o aviso da manipulação de imagens. Em dois tempos, foi apelidado de Lei do Photoshop e acendeu uma polêmica sobre o controle regulatório do mercado publicitário.

Britney Spers 2

Entre os erros de manipulação divulgados em site como Photoshop Disasters, uma modelo nua aparece sem o umbigo numa revista de nudez e uma das pessoas sentadas à mesa aparece sem pernas. Várias vezes capa das revistas Playboy e Sexy — em tantas delas “photoshopada” —, a rainha de bateria Viviane Araújo diz ter exigido que suas tatuagens fossem apagadas no último ensaio em que posou nua. “O Photoshop não muda muito o resultado. Num movimento é natural aparecer uma dobra, uma gordurinha. Quando não é berrante, acho legal retocar. Não tenho grilo”, diz.

Nesta semana, a cantora Britney Spears divulgou uma foto bruta diferente daquela que havia sido publicada em que teve as coxas, manchas na pele, celulite, tatuagens e o quadril retocados. Disse que queria diminuir a pressão que exerce para que as mulheres pareçam perfeitas.

britney1

Autor da lei, o deputado Wladimir Costa (PMDB-PA) atribui a anorexia e a bulimia à manipulação de imagens. “Temos grande responsabilidade no combate a esse mal. Há uma enganação latente em todo o processo de criação e veiculação de peças publicitárias.” Como tramita em caráter conclusivo, a proposta não precisa ir a plenário na Câmara, basta ser aprovada nas comissões para seguir ao Senado. A multa prevista é de R$ 50 mil.

Para o Conar, o Conselho de Autorregulamentação Publicitária, a lei é subjetiva e o Código de Defesa do Consumidor já prevê sanções, com prisão e multa, para a veiculação de propaganda enganosa ou abusiva. “A lei do Photoshop não faz falta, não vai mudar nada. O legislador tem uma mão muito pesada e alcança liberdades públicas. Não existe código de ética para a propaganda política, mas para a propaganda comercial tem”, diz Gilberto Leifert, presidente do Conar.

Fonte: http://nonsensecafe.wordpress.com
http://exame.abril.com.br
http://www.bafonique.com
http://okayletsgo.wordpress.com
http://pipocamoderna.com.br
http://bit.ly/Ssht0D
http://propagandaearte.blogs.sapo.pt
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http://fotos.noticias.bol.uol.com.br/
Agência Estado, SP
http://www.pedrostabile.com/