HISTÓRIA E CULTURA

O cavalo do Comissário

ZZW134Série Mala de Garupa, por Luiz Carlos Félix de Oliveira - No recôndito do Rio Grande do Sul, situava-se Timbaúva pequena localidade, onde as novidades afloravam, principalmente “a vida alheia”. A barbearia do Eufrásio era o ponto de encontro, sempre com aqueles papos de campanha, do tempo (chove, não chove). Assim os amigos passavam diariamente, para saber as novas. O velho Mendonça, numa terça-feira chuvosa, com uma capa Renner, modelo baeta e chapéu de feltro, chega contanto que na Pensão do Venâncio, estava hospedado um vendedor de carneiros e touros. Pelo tempo chuvoso, a barbearia estava com muitos fregueses, que cortavam o cabelo e se afeitavam.

Não arredavam o pé, pois o mate corria de mão em mão, assim era o cotidiano daquele local. Os curiosos atentos, queriam saber tudo a respeito do forasteiro. Chamava-se “Comissário Fiuza”. Comissário? Exclamaram todos. Sim, mas, não tem nada com polícia, é um apelido familiar. Seu cavalo mestiço a árabe é uma pintura, com encilha e aperos com passadores e argolas de prata, coisas de gente grande. É moreno, altode feições indiáticas, melena pelo pescoço, é simpático, bem-falante e com largas gargalhadas, quando mostra a dentadura com vários dentes de ouro. Que seja amigo de todos, disse Eufrásio.

Passados uns dias o Comissário Fiuza iniciou seu trabalho, visitando estancieiros e oferecendo seus préstimos. Tinha cinco touros Hereford aspados, comprados em Taquarembó no Uruguai, para pronta entrega. Levou alguns interessados para olharem os animais, num campo perto da Picada do Padre. O mais entendido era o Coronel Tinoco que examinou um a um, verificou marcas e osvários números feitos a ferro quente nas aspas, dizendo são de origem. Vendeu todos.

Assim sucessivamente, trazia touros e carneiros Merinos Australianos e comerciava.

Conquistou a confiança de todos e recebia encomendas especiais. Começou a oferecer rebanhos de ovelhas, por alto valor, pedia pagamento adiantado. O primeiro rebanho foi para o Coronel Tinoco, todos ficaram encantados com a qualidade dos animais. Recebeu outros pedidos, vendeu mais caro, pois teria que contratar muitos tropeiros.

Partiu de trem da vizinha cidade de Catimbau. Passados alguns dias, mandou um telegrama para o dono da Pensão. “ - Fui assaltado, venda meu cavalo para diminuir seu prejuízo”. A partir daí não tinha outro assunto, em Timbaúva, quando o Eufrásio, lembrou do famoso golpe do “Boi do Gordo”, que deixou muita gente ver navios... Quando ficaram sem os bois e sem o dinheiro.

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Assim, só sobrou o cavalo do Comissário.