LUGARES EXTRAORDINÁRIOS

Ilha dos Mortos - O Arrepiante Campo Sepulcral de Sheppey Isle

homemmorto112/2022 - Histórias de terror transmitidas de geração em geração geralmente giram em torno de locais enigmáticos, amaldiçoados e arrepiantes, nos quais parece que uma sensação indescritível de medo emana do próprio solo. Muitas vezes, essas narrativas não passam de lendas exageradas que crescem como uma bola de neve, acumulando boatos e rumores com o tempo. A maioria dessas histórias também não pode ser confirmada ou verificada e, na melhor das hipóteses, se baseia unicamente em relatos. No entanto, existem alguns lugares que confirmam as lendas que os cercam e provam ser mais reais do que podemos imaginar ou desejar conceber. São locais melancólicos e desolados onde aparições acinzentadas parecem ter deixado vestígios de sua essência. Mesmo nos dias de hoje, essa aura desoladora ainda pode ser sentida.

Um desses lugares está situado na Inglaterra, mais especificamente na foz do Rio Swale, na Costa do Condado de Kent. Essa pequena faixa de terra, com um pouco mais de 1,2 quilômetros de extensão, é conhecida como a Ilha de Sheppey, mas atende a um nome mais sinistro e apropriado: a Ilha dos Homens Mortos. A história desse local abandonado, repleta de memórias amargas e um passado aterrorizante, começa em meados do século XVIII.

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Naquela época, a população das principais cidades da Inglaterra estava experimentando um crescimento descontrolado. Os principais centros urbanos, como Londres, Birmingham, Bristol e York, estavam constantemente transbordando com um número crescente de habitantes atraídos pelas oportunidades de emprego proporcionadas pela Revolução Industrial. Infelizmente, uma considerável parcela desses indivíduos não conseguia encontrar o emprego tão desejado, resultando em muitos deles vivendo nas ruas ou em moradias insalubres. Alguns acabavam mergulhando no submundo e recorrendo a pequenos delitos para garantir sua sobrevivência.

Na Inglaterra do século XVIII, as leis eram notoriamente rigorosas em relação aos cidadãos. Mesmo delitos considerados menores, como furto, ociosidade ou embriaguez, podiam resultar em penas severas. Os legisladores britânicos acreditavam que a maneira mais eficaz de conter a criminalidade era aplicar punições cada vez mais severas aos infratores. Essa situação chegou a um ponto em que, por exemplo, o roubo de um simples pão poderia resultar em uma sentença de até quinze anos de prisão.

Consequentemente, surgiu um grande dilema: onde abrigar todos os condenados e como gerenciar uma população carcerária em constante crescimento? Inicialmente, o governo britânico investiu pesadamente na construção de extensos complexos prisionais para acomodar os condenados, mas chegou um momento em que simplesmente não havia espaço suficiente para todos. Na verdade, havia tantos detentos que não havia espaço físico para acomodar essa grande quantidade de pessoas, quanto mais prover abrigo, assistência e supervisão adequados. Além disso, as Guerras Napoleônicas e a Revolução Americana contribuíram para o aumento da demanda por instalações para abrigar prisioneiros capturados durante conflitos armados.

Foi nesse instante que alguém teve a "genial" concepção de transformar embarcações em prisões. Os chamados "Navios Prisionais" eram, em essência, grandes navios avariados ou com problemas estruturais que deveriam ser aposentados. No entanto, alguém teve a ideia de convertê-los em prisões flutuantes, como uma solução para o grave problema de superlotação nas penitenciárias. Assim, os Navios Prisionais passaram por reformas que incluíram a instalação de grades, correntes e, posteriormente, foram rebocados para áreas isoladas ao longo da costa. Teoricamente, essa iniciativa parecia uma solução viável, uma vez que os detentos estariam confinados e não teriam meios de escapar. Um dos objetivos era reunir os prisioneiros nesses navios, uma vez que havia planos de transportá-los para colônias distantes dentro do Império.

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Não demorou muito para que as coisas começassem a dar errado, e isso se revelou uma situação muito problemática.

O grande desafio estava, mais uma vez, relacionado a um sério problema: superlotação e acomodações. Se as condições nas prisões já não eram adequadas, imagine manter dezenas, às vezes centenas de homens em compartimentos apertados de navios em péssimas condições. Naturalmente, a Coroa Inglesa não estava disposta a gastar mais do que o estritamente necessário para abrigar prisioneiros, resultando em condições extremamente austeras a bordo dos Navios Prisionais - para não dizer precárias. Os guardas relatavam que os prisioneiros tentavam se acomodar nesses espaços exíguos, mas devido à extrema falta de espaço, os homens não conseguiam encontrar o mínimo de conforto. Eles eram forçados a dormir em cima uns dos outros, compartilhando o mesmo espaço para alimentação e necessidades fisiológicas. Não havia espaço para se exercitar ou apanhar sol. A luz solar só penetrava através de grades nas janelas, proporcionando pouca circulação de ar. Em resumo, reinava a violência, o desespero e a sujeira a bordo dessas Prisões Flutuantes.

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No entanto, a situação se agravava significativamente quando as costas britânicas eram assoladas por violentas tempestades e ventanias, o que resultava na movimentação caótica dos Navios Prisionais. Mesmo quando ancorados com pesadas âncoras, essas embarcações eram incapazes de resistir ao movimento causado pelas condições climáticas adversas, resultando em enjoo, desorientação e caos entre os prisioneiros. Dizia-se que bastava alguns dias a bordo dessas embarcações para enlouquecer um homem completamente. Charles Dickens, em seus escritos, chegou a mencionar os horrores das prisões inglesas, insinuando que, embora fossem horrendas, as condições a bordo dos Navios Prisionais eram ainda mais terríveis.

Agora, você pode estar se perguntando como tudo isso se relaciona com a Ilha dos Homens Mortos. Bem, a região ocidental da Inglaterra, mais especificamente a costa lamacenta de Kent, foi escolhida como local para acomodar diversos Navios Prisionais. A Ilha de Sheppey foi selecionada como ancoradouro para essas prisões flutuantes, que foram rebocadas até lá e organizadas lado a lado, unidas por pesadas correntes, formando espécies de cidades flutuantes. Durante quase uma década, um número indeterminado de prisioneiros foi transferido para esse local desolado. Estima-se que entre 10 e 30 mil indivíduos tenham se tornado residentes desse verdadeiro inferno sobre as águas.

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É evidente que os detentos não resistiam por muito tempo às deploráveis condições dessas instituições prisionais. Embora houvesse um sistema de seleção para evitar que qualquer homem permanecesse nesse local por mais de um ano, muitos não chegavam a completar esse período e faleciam antes disso.

Diante desse cenário, os responsáveis pela administração da prisão começaram a transferir os corpos dos falecidos para a enseada da Ilha Sheppey, um lugar inicialmente pitoresco que ganhou o sombrio apelido de Baía dos Caixões. Inicialmente, os primeiros cadáveres eram transportados em caixões de madeira e sepultados além da praia, onde as condições permitiam enterros apropriados. No entanto, à medida que o número de mortos aumentava nas Prisões Flutuantes, o espaço tornou-se escasso e não havia mais espaço para acomodar os corpos. Como resultado, eles passaram a ser depositados em solo arenoso onde a profundidade era insuficiente para enterros adequados. Além disso, faltavam caixões, então os mortos eram simplesmente envolvidos em tecidos, enrolados em esteiras ou depositados em caixas improvisadas.

Gradualmente, a Ilha dos Homens Mortos passou a merecer o seu sinistro nome. Os cadáveres se acumulavam em valas comuns rasas, e bastava uma tempestade mais intensa para que fossem deslocados e lançados ao mar. Não era incomum que os prisioneiros tivessem a desagradável visão de cadáveres flutuando logo abaixo de suas celas. Em determinados momentos, as praias ficavam repletas de corpos inchados e em estado de decomposição, amontoados na lama da areia. Durante a noite, a gordura dos corpos adquiria uma aparência fosforescente, fazendo com que os restos mortais brilhassem com uma luz fantasmagórica. Gaivotas, caranguejos e outras criaturas marinhas se saciavam com a carne dos infortunados, disputando os restos mortais com bicadas e arranhões.

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O mau cheiro era tão intenso que os habitantes da vila de pescadores de Queensborough, localizada no extremo oposto do estuário, sofriam constantemente com náuseas. A situação piorou significativamente quando as péssimas condições de higiene na Prisão deram origem a uma epidemia de cólera, resultando na morte de centenas de prisioneiros. Como resultado, o já precário sistema de sepultamento na Ilha entrou em colapso completo. Durante um período, os cadáveres foram amarrados a pesos e lançados no mar, e houve considerações sobre a possibilidade de incinerar os falecidos. No entanto, as autoridades finalmente decidiram encerrar aquele espetáculo grotesco. A solução encontrada não era a mais satisfatória, uma vez que envolvia deportar um número crescente de apenados. A Austrália, a possessão mais distante do Império Britânico, tornou-se o destino comum para a maioria desses indivíduos. Os Navios Prisionais na região de Kent foram desativados, e a frota de embarcações prisionais foi gradualmente desmantelada nessa área. No entanto, ao longo da história, várias outras embarcações foram utilizadas para confinamento, incluindo o período até meados do século XX, particularmente durante o auge da Segunda Guerra Mundial, quando a Inglaterra recorreu à conversão de navios em prisões. Mas o que aconteceu com a Ilha dos Homens Mortos?

 

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Basicamente, a Ilha dos Homens Mortos permaneceu imutável, sendo uma testemunha silenciosa de tempos cruéis. Os corpos abandonados naquela extensão de terra nunca foram retirados, e muitos deles ainda estão no mesmo local onde foram depositados sem qualquer cerimônia há mais de 200 anos. Por um período, a história ficou esquecida, mas recentemente ela ressurgiu para confrontar as pessoas. As mudanças nas marés e um processo de erosão cada vez mais acelerado resultaram no lançamento ao mar de mais de 200 corpos, em sua maioria restos mortais, que flutuaram da Ilha de Sheppey até as praias do outro lado do estuário. Essa visão chocou os habitantes locais e fez com que as pessoas refletissem sobre esse sombrio capítulo de sua história.

Acima de tudo, havia o temor de que os cadáveres, muitos deles pertencentes a indivíduos que faleceram de doenças infecciosas, pudessem espalhar enfermidades que haviam sido controladas há séculos. Muitos curiosos que desconheciam a história de Sheppey também dirigiram-se à ilha movidos pela sua curiosidade mórbida. Lá, encontraram dezenas de valas rasas, caixões, algas e ossadas parcialmente enterradas que emergiam diretamente da lama. Como um dos visitantes descreveu: "Era como um jardim de ossos espalhados por toda parte, tornando difícil caminhar sem pisar em algum fragmento."

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As autoridades britânicas optaram por restringir o acesso à região e estabeleceram uma zona delimitada, impedindo a entrada de pessoas não autorizadas. Apenas arqueólogos e historiadores obtiveram autorização para realizar escavações no local em busca de vestígios históricos. Existem planos para a exumação e catalogação das ossadas, bem como a construção de um memorial no Centro da Ilha, onde os restos seriam posteriormente transferidos, no entanto, até o momento, nenhuma dessas ações foi efetivada. Não existe um consenso quanto ao número exato de corpos ainda presentes na Ilha dos Homens Mortos, mas há quem acredite que possam ser mais de quatro mil.

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