Já pensou que seu bebê pode estar aprendendo a falar antes mesmo de nascer? Pois é, parece coisa de filme de ficção científica, mas a ciência tem mostrado que isso é mais real do que imaginamos. Em 2024, um estudo surpreendente publicado na revista Frontiers in Human Neuroscience trouxe novas descobertas sobre como os bebês que escutam mais de um idioma no útero têm uma capacidade auditiva diferente da dos bebês que ouvem apenas um idioma durante a gestação.
Imagina só: enquanto alguns bebês estão sintonizados apenas aos sons de um idioma específico, como o português, os pequenos que têm a sorte de ouvir duas línguas simultaneamente, desde antes de nascerem, acabam desenvolvendo uma sensibilidade auditiva mais ampla, captando nuances de diferentes tons e sons de maneira mais eficaz. Essa habilidade pode ser um diferencial enorme quando começam a aprender a falar.
O que isso realmente significa?
Pesquisas já sugeriam há décadas que bebês começam a aprender a falar ainda no útero, especialmente no último trimestre da gravidez. Os recém-nascidos demonstram uma clara preferência pela voz de suas mães em comparação a outras vozes e até reconhecem histórias que ouviram enquanto estavam sendo gestados! Fascinante, né? No entanto, até agora, poucas pesquisas haviam se aprofundado no impacto do bilinguismo nas mães durante a gravidez. E foi isso que o novo estudo abordou.
Em uma pesquisa realizada por cientistas da Universidade de Barcelona, na Espanha, com 131 bebês com idades entre 1 e 3 dias, os pesquisadores descobriram uma diferença marcante entre aqueles que estavam expostos a apenas um idioma e os que ouviram dois idiomas enquanto estavam no útero.
O curioso mundo dos sons no útero
Sabia que os sons que o bebê ouve no útero não são iguais aos que ouvimos do lado de fora? Sons mais graves, como as vogais, são transmitidos com maior clareza pelo líquido amniótico, enquanto os sons mais agudos são distorcidos. No estudo, os cientistas usaram sons de fala, como a vogal “/a/” (como em “pato”) e a vogal “/o/” (como em “bolo”), para avaliar as respostas cerebrais dos bebês logo após o nascimento. Utilizando eletrodos na testa dos recém-nascidos, os pesquisadores mediram o que chamam de “resposta de seguimento de frequência” (FFR), um indicativo de como o cérebro dos bebês responde aos sons.
A descoberta? Os bebês monolíngues (aqueles que ouviram apenas um idioma) demonstraram uma sensibilidade maior a um som específico que era comum à sua língua materna. Já os bebês bilíngues? Esses estavam mais abertos a uma gama maior de sons, sem uma preferência tão definida por um tom específico.
O que isso revela sobre o aprendizado de línguas?
Essas descobertas mostram que o cérebro dos bebês começa a ser moldado pela exposição à linguagem muito antes do nascimento. Bebês expostos a dois idiomas no útero parecem estar “treinados” para captar uma maior diversidade de sons, como se seus cérebros estivessem preparados para o desafio de aprender duas línguas desde cedo. Porém, isso não significa que eles vão necessariamente aprender a falar duas línguas mais rápido ou melhor do que os monolíngues. O período sensível para a aprendizagem de idiomas dura muito tempo após o nascimento, e a exposição ao ambiente linguístico após o parto ainda desempenha um papel crucial nesse processo.
Devo me preocupar se sou monolíngue?
A boa notícia é que, se você é monolíngue, não precisa se preocupar! Os pesquisadores foram enfáticos em afirmar que o bilinguismo no útero não é um pré-requisito para criar pequenos poliglotas. Na verdade, o impacto mais significativo vem da exposição que o bebê terá às línguas após o nascimento. E, claro, as interações, conversas e estímulos pós-natais são fundamentais para o desenvolvimento da linguagem.
Fatos curiosos sobre o bilinguismo infantil
Os bebês reconhecem vozes familiares: Estudos mostram que, ao nascer, os bebês já preferem a voz da mãe em relação a outras vozes, demonstrando que os pequenos já estão sintonizados com quem os cerca desde o útero.
Memória fetal é real: Bebês podem se lembrar de músicas ou histórias que ouviram repetidamente enquanto estavam no útero, mostrando uma capacidade impressionante de retenção de memória mesmo antes de nascerem.
O cérebro bilíngue é mais flexível: Pesquisas apontam que crianças bilíngues desenvolvem maior flexibilidade cognitiva, o que pode ajudá-las em habilidades como a resolução de problemas e a capacidade de adaptação.
O futuro da pesquisa sobre bilinguismo
Os cientistas ainda estão longe de entender completamente como a exposição a dois idiomas no útero impacta o desenvolvimento linguístico a longo prazo. Futuras investigações sobre como o bilinguismo influencia o processamento auditivo e a aprendizagem de sons nos primeiros anos de vida devem trazer mais luz para essa questão. Mas uma coisa é certa: nossos bebês são incríveis aprendizes, começando a jornada da linguagem muito antes do que imaginamos. Sejam eles bilíngues ou não, o importante é garantir que tenham um ambiente rico em estímulos, cheio de carinho, conversas e, claro, muitas histórias!