China em 1960: O Horror do Grande Salto Adiante e a Fome

China em 1960: O Horror do Grande Salto Adiante e a Fome

China em 1960: A Tragédia do Grande Salto Adiante e o Horror da Revolução Cultural. Imagine, por um momento, uma terra onde o chão deveria estar coberto de grãos dourados, mas está enterrado sob cinzas e corpos. Onde famílias se veem forçadas a escolher entre morrer de fome ou cometer atos que desafiam qualquer concepção de humanidade. Parece cena de filme apocalíptico, não é? Mas essa foi a realidade vivida pela China nos anos 1960, durante dois dos capítulos mais sombrios da história moderna: o Grande Salto Adiante e a Revolução Cultural .

Neste artigo, vamos mergulhar fundo nessa tragédia, explorando os bastidores dessas políticas catastróficas, seus impactos devastadores e as marcas indeléveis que deixaram na sociedade chinesa. Prepare-se para uma viagem ao coração da dor humana, da ambição política e das lições que ainda ecoam até hoje.

A Ascensão de Mao Tsé-Tung: Um Sonho Feito Pesadelo

Tudo começa com um homem — Mao Tsé-Tung (ou Mao Zedong, como é mais conhecido atualmente). Nascido em 26 de dezembro de 1893, em uma família de agricultores modestos no sul da China, Mao sempre foi um sonhador. Enquanto ajudava seus pais no campo, sua mente vagava pelas páginas de livros de ciência, filosofia e política. Ele queria algo maior. Algo grandioso.

Influenciado por Marx e Lenin, Mao viu no comunismo a solução perfeita para os problemas da China. Na época, o país era uma colcha de retalhos de miséria, exploração e instabilidade. Camponeses viviam em condições desumanas, enquanto elites e estrangeiros controlavam os recursos. Para Mao, só havia um caminho: revolução.

Ele começou como um jovem soldado na Revolução Xinhai de 1911, que derrubou a última dinastia imperial chinesa. Mais tarde, trabalhou como assistente de biblioteca na Universidade de Pequim, onde conheceu outros intelectuais sedentos por mudança. Foi lá que ele abraçou o comunismo e se juntou ao Partido Comunista Chinês (PCC), fundado em 1921.

Mas o caminho até o poder não foi fácil. Guerras civis, invasões japonesas e derrotas quase fatais marcaram sua trajetória. A Longa Marcha de 1934, por exemplo, foi um verdadeiro inferno sobre rodas — literalmente. Cerca de 12.000 km percorridos em condições extremas, com milhares de mortos pelo caminho. No entanto, Mao saiu fortalecido, consolidando sua posição como líder supremo do PCC.

Finalmente, em 1º de outubro de 1949, ele proclamou a República Popular da China. Era o início de uma nova era. Ou, pelo menos, assim parecia.

O Grande Salto Adiante: Quando o Sonho Virou Pesadelo

Com o poder nas mãos, Mao tinha uma visão clara: transformar a China em uma superpotência global. Inspirado pelo sucesso industrial dos Estados Unidos e da União Soviética, ele lançou, em 1958, o Grande Salto Adiante . O objetivo? Industrializar e coletivizar o país em tempo recorde.

Só que, como diz o ditado, "o diabo mora nos detalhes".

Mao ordenou a criação de comunas populares, onde tudo — desde terras até utensílios domésticos — pertencia ao coletivo. Propriedades privadas foram abolidas, e milhões de pessoas foram mobilizadas para cumprir metas impossíveis de produção de aço e alimentos.

As vilas rurais, que mal tinham acesso a tecnologia, foram forçadas a construir fornalhas improvisadas nos quintais. Árvores foram cortadas para alimentar o fogo, enquanto ferramentas agrícolas eram derretidas para produzir aço de baixa qualidade.

Mas o pior estava por vir.

Os líderes locais, temendo represálias, inflavam os números da produção nos relatórios enviados a Pequim. Convencido de que a China estava prosperando, Mao ordenou a exportação de grãos para a União Soviética. Enquanto isso, dentro do país, a população morria de fome.

Famílias desesperadas recorriam a medidas extremas: cascas de árvores, grama, flores misturadas com barro. Em casos ainda mais chocantes, houve relatos de canibalismo. Sim, você leu certo. Pais matavam e comiam seus próprios filhos. Irmãos se voltavam uns contra os outros.

E a chamada "Campanha dos Pardais"? Uma ideia absurda que saiu pela culatra. Mao ordenou o extermínio dos pardais, convencido de que eles prejudicavam as colheitas. O resultado? Uma explosão de gafanhotos e lagartas que devastaram ainda mais as plantações.

Entre 1958 e 1962, estima-se que entre 30 e 45 milhões de pessoas morreram. Isso mesmo, milhões. Não por guerra, mas por fome. Por decisões políticas equivocadas.

Vilarejo fome mao

A Revolução Cultural: Terror Sob o Manto da Ideologia

Se o Grande Salto Adiante foi um fracasso retumbante, a Revolução Cultural , iniciada em 1966, foi uma tragédia anunciada.

Mao, enfraquecido politicamente após o desastre anterior, decidiu reafirmar seu poder eliminando qualquer vestígio de oposição. Ele mobilizou a juventude chinesa — os Guardas Vermelhos — para perseguir, prender e executar supostos inimigos do regime. Intelectuais, professores, artistas e até membros do próprio partido foram acusados de "traidores" e enviados para campos de reeducação.

Escolas e universidades foram fechadas. Livros foram queimados. Templos e monumentos históricos foram destruídos. Tudo o que representava a "velha China" precisava ser erradicado.

O culto à personalidade de Mao atingiu proporções surreais. Ele era retratado como um semideus, infalível e onipotente. Sua imagem estava em todos os lugares: cartazes, jornais, murais. Até mesmo crianças aprendiam a venerá-lo como uma figura divina.

Enquanto isso, o país mergulhava em caos. Famílias foram divididas, vidas foram arruinadas, e o progresso econômico e social foi jogado no lixo.

Conclusão: Lições de um Passado Doloroso

Hoje, décadas depois, a China tenta apagar esses episódios de sua memória oficial. Mas as cicatrizes permanecem. O Grande Salto Adiante e a Revolução Cultural são lembrados como dois dos maiores desastres humanitários da história.

Mao Tsé-Tung deixou um legado ambíguo. Por um lado, ele unificou a China e promoveu avanços sociais significativos. Por outro, suas políticas resultaram em milhões de mortes e devastação irreparável.

Essa história nos ensina uma lição importante: o poder absoluto corrompe absolutamente. E quando ideologias são impostas à força, ignorando a realidade e a dignidade humana, o resultado só pode ser tragédia.

Então, da próxima vez que você ouvir falar sobre a China moderna, lembre-se de onde ela veio. Lembre-se das cinzas e dos corpos. E nunca subestime o custo humano das grandes ambições.

Curiosidade: Sabia que Mao escreveu poemas durante sua vida? Apesar de toda a destruição que causou, ele era considerado um poeta talentoso. Ironia, não é mesmo?