A criançada e os adolescentes estão em uma encruzilhada perigosa quando se trata de saúde bucal e peso, e tudo isso graças a um vilão comum: as bebidas isotônicas. Uma pesquisa realizada no Reino Unido, pela Universidade de Cardiff, lançou um alerta importante. Segundo o estudo, 68% das crianças entre 12 e 14 anos relataram consumir essas bebidas semanalmente. Esse número não só acende uma luz vermelha, mas quase grita "perigo", já que o consumo constante de isotônicos, carregados de açúcar, está diretamente ligado ao aumento do risco de obesidade e problemas dentários.
Curiosamente, muitos pais nem se dão conta de que esses produtos não são exatamente amigos dos seus filhos. A ideia geral que se tem é que isotônicos são só um tipo mais moderno de "suco" para repor energias, certo? Bem, não é bem assim. Na realidade, esses produtos foram criados pensando em atletas — e não em crianças que estão de olho no videogame ou rolando pelo sofá. A Associação Britânica de Refrigerantes até tenta defender que essas bebidas têm seu lugar após "atividade física vigorosa", mas o problema é que a maioria das crianças não está nem perto de usar esses produtos para isso.
A pesquisa, que entrevistou 160 estudantes de quatro escolas do sul do País de Gales, traz uma série de fatos interessantes. Para começar, a maioria dos jovens é atraída pelo sabor doce e pelo preço acessível das bebidas. É quase como se os isotônicos sussurrassem docemente para as crianças: "venham, eu sou refrescante e barato". E quem consegue resistir a essa tentação? Mas aqui está o ponto de virada: metade dos entrevistados admitiu consumir isotônicos não por causa de algum benefício atlético, mas por puro "status social". Sim, essas bebidas se tornaram quase um símbolo de "estilo de vida" entre os adolescentes. O lado triste disso é que apenas 18% realmente usavam os isotônicos como uma ajuda para melhorar o desempenho em esportes.
E não para por aí. Outro dado que deixa qualquer um de cabelo em pé é que um quarto dessas crianças comprou isotônicos em parques e áreas de lazer, fora do ambiente esportivo. Estamos falando de um produto pensado para maratonistas, mas sendo vendido como refrigerante em parquinhos.
A pesquisadora Maria Morgan, uma especialista em saúde pública com foco na odontologia, deixou bem claro que estamos lidando com um grande mal-entendido. "O propósito das bebidas isotônicas está sendo totalmente deturpado. As crianças em idade escolar estão sendo atraídas por essas bebidas altamente açucaradas, o que aumenta o risco de cáries, desgaste do esmalte dentário e obesidade", alerta Morgan. Ela, juntamente com outros especialistas, defende uma regulamentação mais rígida na publicidade dessas bebidas, principalmente para o público infantil. Afinal, como a Faculdade de Esporte e Medicina do Exercício destaca, esses produtos são voltados para atletas sérios, e não para o consumo cotidiano das crianças.
Para reforçar esse ponto, Russ Ladwa, da Associação Dental Britânica, faz uma crítica contundente: "Promover bebidas esportivas como uma escolha saudável para o público em geral, especialmente para os jovens, é irresponsável". E isso não é só uma opinião isolada. Até mesmo Gavin Partington, da Associação Britânica de Refrigerantes, reconhece que essas bebidas foram desenvolvidas para momentos específicos de reidratação após atividades físicas intensas, e que precisam ser consumidas com moderação. Ele ainda mencionou que as empresas estão comprometidas em não fazer publicidade desses produtos para menores de 16 anos — ao menos na internet.
Agora, vamos ser sinceros: não seria mais fácil apenas oferecer água para as crianças? Afinal, até o velho e bom H2O consegue fazer o trabalho muito bem, sem precisar de aditivos açucarados e pH baixo que detonam com os dentes. O problema é que a água, coitada, não tem o apelo de marketing que essas bebidas têm. A ironia está aí: estamos criando uma geração que prefere um "refresco disfarçado de saúde" em vez daquilo que, de fato, vai garantir que fiquem hidratados e saudáveis.
Então, da próxima vez que seu filho pedir aquele isotônico "cheio de energia", vale a pena pensar duas vezes. Como diria aquele velho ditado: "nem tudo que reluz é ouro", ou melhor, nem tudo que é doce é bom.