A gigante Johnson & Johnson está novamente (setembro/2024) no centro de um furacão jurídico. Desta vez, sua subsidiária, a Red River Talc LLC, deu um passo audacioso: entrou com pedido de falência, buscando dar fim aos intermináveis processos que associam seu famoso talco a casos de câncer. É a terceira vez que a J&J tenta essa manobra, recorrendo ao famigerado Capítulo 11 da legislação americana, algo equivalente à recuperação judicial no Brasil. Mas, por que tanto barulho em torno de um simples talco?
O talco: de ícone a vilão?
Durante décadas, o talco da Johnson & Johnson foi sinônimo de cuidado, presente nas casas de milhões de famílias. Porém, nos últimos anos, o que antes era visto como um símbolo de pureza e confiança passou a ser alvo de polêmicas. Alegações surgiram ligando o talco ao desenvolvimento de câncer, especialmente em mulheres, devido à possível contaminação com amianto, uma substância altamente cancerígena.
Essa reviravolta trouxe não só prejuízos financeiros, mas uma mancha difícil de remover na reputação da gigante farmacêutica. A imagem de “marca amiga das famílias” se desfez rapidamente à medida que mais de 62 mil ações judiciais foram acumulando. Imagine o impacto! A J&J passou a ser vista, não como a salvadora da saúde, mas como uma possível causadora de doenças graves.
O Capítulo 11: saída ou escapismo?
Entrar com um pedido de falência pode parecer contraintuitivo para uma empresa tão poderosa e financeiramente sólida como a Johnson & Johnson. Afinal, não estamos falando de uma empresa à beira do colapso financeiro. No entanto, o Capítulo 11 oferece uma brecha jurídica tentadora: permite que as empresas enfrentem os litígios de forma centralizada e limitada, evitando o desgaste e a incerteza de processos individuais espalhados por todo o país. A J&J já tentou essa estratégia duas vezes antes, sem sucesso. Desta vez, apoiada por um acordo de US$ 8 bilhões, ela espera resolver todas as pendências de uma vez por todas. Mas será que vai funcionar?
As tentativas anteriores: erros e acertos
Para entender melhor a situação, vale recapitular as tentativas anteriores da J&J. Em 2021, a empresa entrou com seu primeiro pedido de falência em Charlotte, na Carolina do Norte. Depois, em 2022, veio a segunda tentativa, desta vez em Trenton, New Jersey. Agora, o cenário se desenrola em Houston, onde um novo pedido foi feito em 20 de setembro de 2024. Essas manobras, no entanto, não conseguiram livrar a empresa dos milhares de processos. Será que a terceira vez será a decisiva? Ou estamos apenas diante de mais um capítulo de uma saga jurídica interminável?
As apostas bilionárias
O valor em jogo é impressionante: US$ 8 bilhões! Esse é o montante que a J&J está disposta a pagar para compensar as alegações de que seu talco causou câncer. No entanto, enquanto muitos reclamantes apoiam o plano, há uma resistência considerável por parte de outros, que veem nessa estratégia uma forma de minimizar a gravidade da situação e reduzir as indenizações. É uma batalha de titãs, onde a verdade, muitas vezes, parece perdida no meio de argumentos legais e estratégias corporativas.
O que está em jogo para a Johnson & Johnson?
Além dos bilhões de dólares, o que está em jogo para a J&J é sua reputação. Um erro de cálculo pode custar caro, não apenas financeiramente, mas em termos de confiança do consumidor. A empresa insiste que seus produtos são seguros e aponta para os advogados "inescrupulosos" como os principais culpados por alimentar essa onda de processos. Mas será que essa estratégia de defesa ressoará bem junto ao público?
Se a J&J conseguir aprovar seu plano no tribunal de falências, poderá, finalmente, encerrar todas as ações judiciais pendentes e futuras relacionadas ao talco. Contudo, o resultado desse caso terá repercussões não apenas para a empresa, mas para toda a indústria de cosméticos. Afinal, quem poderia imaginar que algo tão cotidiano quanto um talco de bebê poderia se transformar em um símbolo de um embate jurídico tão feroz?
Curiosidades sobre o amianto e o talco
Você sabia que o amianto já foi amplamente utilizado na indústria de construção por suas propriedades de resistência ao fogo e isolamento? No entanto, a partir da década de 1970, descobriu-se que a exposição prolongada ao amianto podia causar sérios problemas de saúde, como o câncer de pulmão e a asbestose. Hoje, o uso de amianto é proibido em muitos países, mas, surpreendentemente, ainda é permitido em alguns setores.
Quanto ao talco, embora seja uma substância natural, ele é frequentemente encontrado próximo a depósitos de amianto, o que aumenta o risco de contaminação. Esse fato curioso ajuda a explicar por que o talco da J&J, que antes era um produto tão comum e inofensivo, acabou se tornando o foco de tantas disputas judiciais.
O que esperar daqui pra frente?
A história ainda está longe de terminar. O tribunal de Houston vai decidir se o plano da Johnson & Johnson será aceito ou não. O que podemos ter certeza é que este é um daqueles casos que marcam a história corporativa. Uma coisa é certa: as próximas páginas desse enredo jurídico serão intensas, e o desfecho pode mudar a forma como as grandes empresas lidam com litígios no futuro.
Enquanto isso, a J&J continua sua batalha nos bastidores dos tribunais, na esperança de que este seja o último capítulo de uma novela que ninguém imaginava que um dia seria escrita.
REFERÊNCIAS: youtube, cnn brasil, bbc