Você já reparou como está cada vez mais comum ouvir aquela frase: "Fulano foi morar fora"? Pois é, o número de brasileiros vivendo no exterior explodiu. Em 2012, eram cerca de 1,9 milhão, mas hoje (2021) já são mais de 4,2 milhões espalhados pelo mundo. Um salto de 122%! A cada dia, mais e mais brasileiros olham para fora e veem o gramado do vizinho muito mais verde. Esse movimento, que começou timidamente, se transformou na maior onda migratória da história do país.
Por Que Estamos Saindo?
A resposta não é simples, mas podemos dizer que é uma combinação de fatores econômicos, sociais e políticos. O Brasil sempre foi um país que acolheu imigrantes — portugueses, italianos, japoneses — mas, agora, a maré virou, e somos nós que estamos partindo. E não é só uma questão de "ganhar mais dinheiro lá fora". Para muitos, é uma questão de sobrevivência, segurança, dignidade.
Segundo o professor Pedro Brites, da Fundação Getúlio Vargas, o que estamos vendo é inédito: "É a maior diáspora da história brasileira". Se antes éramos um país de chegada, agora somos um país de partida. As pessoas não enxergam mais o Brasil como um lugar onde é possível prosperar. A promessa do "país do futuro" parece ter sido apenas um conto do passado.
As Razões da Grande Fuga
Vamos combinar que o Brasil não tem facilitado a vida de ninguém nos últimos anos. A economia, que já não ia bem, levou uma pancada atrás da outra. A falta de empregos, principalmente em áreas como engenharia, tecnologia e pesquisa, empurra até os mais qualificados para o exterior. Muitos profissionais, cansados de esperar por um milagre, resolveram buscar oportunidades em outras terras.
Mas não é só o bolso que dói. A instabilidade política é outro empurrãozinho para quem está na dúvida se fica ou se vai. Desde o impeachment de Dilma Rousseff, passando pelas eleições de 2018 e todos os escândalos que vieram depois, a sensação é de um país em constante turbulência. E isso pesa. O Brasil virou uma montanha-russa sem cinto de segurança.
E claro, não dá para ignorar a violência urbana. Quem não conhece alguém que já foi assaltado, ou até pior? Esse medo constante é uma das razões pelas quais muitos optam por viver em lugares onde dá para andar na rua sem estar olhando para trás o tempo todo. Nos Estados Unidos, Canadá e Europa, por exemplo, a qualidade de vida é uma promessa tentadora para aqueles que buscam paz.
Jovens Sem Esperança, País Sem Futuro
Os jovens estão no centro dessa debandada. Uma pesquisa do Datafolha em 2018 mostrou que, se pudessem, 70 milhões de brasileiros maiores de 16 anos iriam embora do país. Pensa só: isso é quase um terço da população! E entre os jovens de 15 a 29 anos, esse desejo é ainda maior — 47% querem sair, segundo a FGV. Não é difícil entender o motivo: desemprego, falta de oportunidades, educação precária, e um mercado de trabalho que não oferece perspectivas.
Para o sociólogo Rogério Baptistini Mendes, do Mackenzie, o êxodo de jovens é um sinal de que o Brasil está falhando com sua própria juventude. "Estamos exportando nossos talentos. E o pior é que esses jovens não se iludem mais com o discurso do 'país do futuro'. Sem emprego, sem renda, sem perspectiva, sair passa a ser a única solução", diz ele.
O Impacto na Economia e na Sociedade
Essa saída em massa não é só um drama pessoal; é um problema econômico grave. Estamos perdendo mão de obra qualificada, talentos que poderiam ajudar a reerguer o país. A gente sempre ouve falar que são os jovens que movem a economia, que trazem inovação e energia. Mas, se todos estão indo embora, quem vai construir o futuro?
O mercado de trabalho, que já vinha se precarizando, só piora. De 2014 a 2022, perdemos quase 3 milhões de empregos formais. Ao mesmo tempo, o número de trabalhadores sem registro ou autônomos cresceu assustadoramente. Enquanto isso, a violência aumenta — só em 2022, foram registrados mais de 47 mil homicídios, o que dá mais de 130 mortes por dia. Não é à toa que tantos brasileiros olham para fora e sonham com uma vida mais segura.
E Agora, Brasil?
O que fica claro é que o Brasil está num ponto de inflexão. Ou encontramos uma maneira de reter nossos talentos e oferecer um futuro digno para os que ficam, ou corremos o risco de ver nosso país se transformar em um lugar de partida, onde a esperança virou mercadoria de exportação.
Nos próximos dias, a DW Brasil contará as histórias de brasileiros que se aventuraram em outros países, enfrentando desafios, mas também encontrando novas oportunidades. No final das contas, o que todos eles buscam é simples: uma vida melhor. E a grande ironia é que, enquanto muitos estrangeiros ainda veem o Brasil como a terra do carnaval e das belezas naturais, para muitos de nós, ele se tornou apenas um ponto de partida.
Afinal, quem não quer um pouco de paz, segurança e oportunidade, né? Se o Brasil não pode oferecer isso, outros lugares estão mais do que prontos para abrir suas portas. E assim seguimos, com malas nas mãos e o coração apertado, na eterna busca pelo "futuro" que tanto nos prometeram, mas que nunca chegou.