Imagine uma empresa centenária, sinônimo de confiança e cuidado familiar, enfrentando um dos momentos mais desafiadores de sua história. Pois bem, é exatamente esse o cenário que a Johnson & Johnson (J&J) está vivendo. Nesta terça-feira (18), a companhia divulgou os resultados financeiros do primeiro trimestre de 2023. Apesar de números positivos no papel, o mercado reagiu com desconfiança – e não é para menos.
As ações da J&J caíram 2,49% na Bolsa de Nova York, reflexo de um fantasma que insiste em rondar a gigante farmacêutica: o litígio envolvendo o talco cosmético. Desde 2020, a empresa enfrenta acusações devastadoras de que seu famoso talco estaria relacionado ao desenvolvimento de câncer de útero, devido à presença de amianto, um composto altamente cancerígeno. O caso já impactou milhares de consumidores, jogando luz sobre questões de segurança que, para muitos, eram inimagináveis em uma marca desse porte.
Uma estratégia ousada para evitar o colapso
No mesmo dia do balanço, a J&J anunciou um movimento controverso: um novo pedido de recuperação judicial para sua subsidiária LTL Management. Criada exclusivamente para lidar com as ações judiciais, a empresa busca destravar US$ 8,9 bilhões – sim, bilhões – para encerrar de vez os acordos com as vítimas. Esse valor é quase sete vezes maior do que o proposto em 2021, um claro sinal da dimensão do problema.
Curiosamente, a J&J mantém firme sua postura de que o talco é seguro e não contém componentes carcinogênicos. Em entrevista à CNBC, o CFO da companhia afirmou que as alegações têm "pouca base científica". Ainda assim, a gigante decidiu descontinuar a venda do talco no ano passado, substituindo a fórmula por uma à base de amido de milho. Coincidência? Talvez não.
Resultados financeiros: a luz no fim do túnel?
Apesar do cenário turbulento, os números do trimestre mostram que a J&J ainda sabe como entregar resultados. A receita líquida foi de US$ 24,75 bilhões, superando expectativas, enquanto o lucro por ação chegou a US$ 2,68. A empresa também revisou para cima sua previsão de vendas para o ano, agora estimada em US$ 98,9 bilhões.
O destaque ficou por conta da linha farmacêutica, que gerou US$ 13,4 bilhões em receita – um crescimento de mais de 4% em relação ao ano anterior. Grande parte desse sucesso se deve às vendas robustas de medicamentos como Darzalex e Stelara. Porém, nem tudo são flores: a exclusividade da patente da Stelara expira ainda este ano, o que pode representar um desafio futuro para a empresa.
Por trás dos números, uma lição valiosa
O caso da J&J vai muito além de balanços financeiros e ações judiciais. Ele expõe um ponto crucial sobre confiança no mercado: marcas poderosas também podem falhar. A ironia é gritante – um produto projetado para cuidar acabou sendo acusado de causar danos irreparáveis.
O desfecho dessa história ainda é incerto. O litígio, que parecia estar perto do fim, volta a ganhar força, e a confiança dos consumidores continua a ser testada. Será que a Johnson & Johnson conseguirá virar a página e recuperar o brilho de outrora? Só o tempo dirá.
Enquanto isso, uma coisa é certa: esse episódio serve de alerta para empresas e consumidores. Afinal, quando o assunto é saúde, não há margem para erro. E você, confia cegamente nas marcas que escolhe? Fica aí a reflexão.