A Maldição dos 35: Por que a Idade Fecha Portas na China

A Maldição dos 35: Por que a Idade Fecha Portas na China

Você já ouviu falar na “maldição dos 35”? Esse termo intrigante está gerando debates acalorados na China, onde a idade, especialmente para quem já passou dos 35 anos, pode determinar o fim de uma carreira antes mesmo de chegar ao auge. Mais do que um simples número, esse limite funciona como uma barreira silenciosa, mas devastadora, que afeta milhões de trabalhadores qualificados, especialmente mulheres.

Quando a experiência vira “peso”

Imagine dedicar mais de uma década a uma profissão, acumulando conhecimento e habilidades, e de repente se deparar com portas fechadas só porque seu RG denuncia que você passou dos 35. Foi exatamente isso que aconteceu com Han, uma designer de interfaces de 34 anos, em Pequim. Apesar de sua sólida experiência, ela se viu descartada por recrutadores que preferiam candidatos mais jovens.

Desempregada, Han teve que se reinventar, aceitando trabalhos temporários, como motorista de entregas – onde ganhava apenas 20 yuans por dia – ou guia de compras, uma tentativa que terminou com uma apendicite por esforço excessivo. Ela resume sua angústia em uma frase: “Parece que é difícil manter o básico do dia a dia”.
O peso da idade nas oportunidades

A “maldição dos 35” não é apenas uma expressão das redes sociais. Ela está explícita em vagas de emprego, em anúncios que rejeitam candidatos acima dessa idade, até mesmo para cargos públicos. Essa regra não escrita coloca trabalhadores em uma corrida contra o tempo. Aos olhos de muitos empregadores, quem não alcançou um cargo de gestão até essa idade é visto como incapaz ou improdutivo.

Curiosamente, essa discriminação ultrapassa os escritórios. Em junho de 2023, um viajante relatou que albergues em Pequim rejeitavam clientes acima de 35 anos. Até um templo taoista causou polêmica ao anunciar que buscava novos monges com idade abaixo desse limite.

Mulheres na linha de frente da desigualdade

Para as mulheres, a situação é ainda mais crítica. Elas enfrentam um duplo preconceito: além da idade, muitas empresas temem custos relacionados à licença-maternidade. Liu, ex-gerente de projetos, foi demitida após retornar de sua licença. “Eles acham que somos um peso. Substituem você por alguém mais barato e jovem”, desabafou.

E o preconceito não para aí. Algumas empresas expõem seus funcionários a situações humilhantes, como pedir que levantem as mãos em reuniões se tiverem mais de 30 anos, reforçando um ambiente tóxico e excludente.

Uma cultura que prioriza o jovem e barato

Parte dessa mentalidade vem da chamada “cultura 996”, comum no setor de tecnologia chinês, que exige que os funcionários trabalhem das 9h às 21h, seis dias por semana. Essa rotina exaustiva favorece os mais jovens, enquanto os trabalhadores mais experientes são descartados como peças gastas de um maquinário.

Além disso, contratar recém-formados sai mais barato, ainda que esses profissionais não tenham a mesma bagagem técnica ou prática. Como resultado, talentos como Tao Chen, formado em filosofia pela prestigiada Universidade de Sichuan, acabam marginalizados. Aos 38 anos, ele já tentou ser jornalista, empresário e, por último, motorista de entregas – sem sucesso.

Soluções existem, mas são lentas

Apesar do problema ser amplamente reconhecido, a solução ainda parece distante. O governo chinês propôs políticas de incentivo para trabalhadores mais velhos e a flexibilização de limites etários em concursos públicos, mas as mudanças são tímidas.

A reforma jurídica é outro desafio. Embora a legislação chinesa proíba discriminação com base em etnia, gênero e religião, a idade não está incluída. E mesmo onde há proteção, como no caso de licença-maternidade, a aplicação das leis é frágil, incentivando práticas discriminatórias.

Reflexão: é possível escapar da “maldição”?

A história de Liu, que agora tenta ser criadora de conteúdo, revela o desejo de escapar de um sistema que parece engolir seus trabalhadores. Mas, para muitos, isso não é uma opção viável. Afinal, como competir em um mercado que vê a experiência como um fardo e a juventude como moeda de troca?

A “maldição dos 35” simboliza mais do que um limite etário. É um reflexo de como a sociedade moderna encara o trabalho: descartável e rápido, como tudo no mundo atual. Será que essa mentalidade pode mudar? Ou os talentos maduros continuarão a ser vistos como peças fora do lugar?

Deixe seu comentário! Queremos saber o que você acha dessa realidade e como ela pode ser enfrentada. Afinal, todos nós enfrentamos o passar do tempo – e as consequências que ele traz.