Decifradoras de Códigos: O Juramento Que Nunca Quebraram

Decifradoras de Códigos: O Juramento Que Nunca Quebraram

Diversas mulheres que desempenharam o papel de decifradoras de códigos utilizados pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial optam por não divulgar o conteúdo das mensagens decifradas, mesmo décadas após o término do conflito. Essas mulheres levam consigo para o além segredos e informações que, nos dias de hoje, poderiam contribuir para uma compreensão mais aprofundada do conflito, resultando em diversas especulações.

Algum tempo atrás, deparei-me com um comentário em um fórum no Reddit relacionado a esse tema. Recordo-me de um usuário que, em uma publicação abordando os crimes cometidos pelos nazistas, afirmou que muitos dos segredos da Segunda Guerra Mundial estavam se perdendo com os espiões britânicos que atuaram durante o conflito. Esses espiões, segundo o comentário, recusavam-se a compartilhar tais segredos com historiadores contemporâneos, o que, conforme a observação, prejudicava uma visão mais detalhada do conflito.

Na época, não dei muita atenção ao comentário, principalmente porque o restante da argumentação sugeria que muitas das atrocidades cometidas pelos nazistas eram fabricações dos aliados para difamar o regime de Hitler, uma teoria que considero um tanto quanto inverossímil. Recentemente, deparei-me com uma reportagem da BBC abordando exatamente esses segredos de guerra que as decifradoras da Segunda Guerra Mundial se recusam a revelar. A matéria apresenta entrevistas e reflexões sobre o assunto, as quais julguei serem interessantes, motivando-me a compartilhar o tema com meus amigos e amigas.

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As mulheres que desempenharam a função de decifradoras de códigos durante a Segunda Guerra Mundial mantêm uma postura de reserva em relação aos segredos de seu trabalho, comprometendo-se a guardar essas informações até o fim de suas vidas. Margaret Wilson, de 95 anos, por exemplo, foi treinada para comunicação via rádio antes de ser transferida para Bletchley Park, na Inglaterra, em 1942, onde monitorava as transmissões alemãs.

"É tudo o que posso dizer. Um segredo é um segredo", afirmou à BBC. Mesmo reconhecendo a importância do trabalho realizado na época, ela persiste em não revelar a história completa. Apesar dos apelos de investigadores e familiares, Wilson afirma: "Ninguém mais falou, então eu também não falarei."

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Aos 19 anos, quando se juntou à Força Aérea Auxiliar de Mulheres, Margaret Wilson foi solicitada a assinar o Ato de Segredos Oficiais, comprometendo-se a manter segredo pelo resto da vida diante de um juiz de paz. Só então foi informada de que seria enviada para um lugar chamado Bletchley Park, do qual nunca havia ouvido falar.

Recentemente, a Baronesa Trumpington, colega de Wilson, faleceu aos 96 anos. Fluente em francês e alemão, Trumpington também trabalhou em Bletchley Park aos 18 anos durante a Segunda Guerra Mundial, tornando-se posteriormente uma política conservadora inglesa. Ela compartilhou em vida que as mulheres receberam a visita do então primeiro-ministro do Reino Unido, Winston Churchill, que as reconheceu como as responsáveis pelos sucessos, mas as instou a manterem o silêncio.

Trumpington levou consigo esse segredo até a morte, e até o momento, nenhuma das mulheres que trabalharam em Bletchley Park durante a Segunda Guerra quebrou o juramento de sigilo.

Sem repouso

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Bletchley Park está situado a uma distância de 75 quilômetros de Londres, no noroeste da metrópole britânica. Este local desempenhou a função de uma instalação militar confidencial, onde eram realizados os trabalhos de decifração de códigos alemães durante a Segunda Guerra Mundial.

Foi nesse ambiente que, com a colaboração de indivíduos como Margaret Wilson e a Baronesa Trumpington, o matemático Alan Turing conduziu a criptoanálise das máquinas alemãs Enigma e Lorenz, desempenhando um papel crucial na derrota dos nazistas em diversos confrontos decisivos e, evidentemente, no triunfo dos aliados.

As primeiras impressões de Wilson sobre o lugar não foram positivas.

Ela relata que chegava para trabalhar em um veículo com vidros escurecidos "desagradáveis", e o sargento responsável era um "indivíduo desagradável".

Operando de uma cabana de madeira, Wilson integrava uma equipe pequena que monitorava e registrava transmissões de rádio alemãs 24 horas por dia.

A atenção estava voltada para pontos e sequências das mensagens em código Morse, que precisavam ser identificadas em meio à confusão de outros ruídos e vozes das transmissões.

"Fazíamos isso diariamente, sem interrupção, ao longo de oito horas. E não trocávamos uma palavra entre nós - nem mesmo um 'sim' ou 'não', ou 'como você está'... nada."

"Quando precisava ir ao banheiro, era necessário erguer a mão e o sargento continuava sua tarefa." Isso ocorria, segundo ela, principalmente à noite, quando lutava para se manter acordada.

Sem esclarecimentos

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Nenhuma orientação lhes foi fornecida sobre o trabalho, mas gradualmente as mulheres começaram a compreender os detalhes.

"As mensagens importantes chegavam em grupos de cinco letras, e isso era transmitido rapidamente. Isso é tudo o que posso dizer", relata.

Wilson encerrou suas atividades em 1946, mas permaneceu fiel ao seu compromisso de manter o sigilo. Ela não compartilhou informações sobre o trabalho nem mesmo com seu esposo ou filhos.

Em 2013, quando aqueles que trabalharam em Bletchley receberam reconhecimentos oficiais, parte da história veio à tona. Foi nesse momento que Wilson retornou a Bletchley, agora transformado em museu. "Em questão de minutos, me vi cercada por pessoas influentes", relata.

"Eles diziam: 'Margaret, agora você pode nos contar tudo' e eu respondia: 'Vocês não são aqueles que juraram manter o sigilo, nem quem ouviu que jamais deveria revelar o segredo até o fim de seus dias'.

"O juiz me alertou: 'Vão tentar fazer com que você fale, vão dizer que está tudo bem falar, mas nunca diga nada'. Para mim, essa é a última palavra."