A incrível Trégua de Natal na I Guerra Mundial

tregue1Há 102 anos algo que parecia impossível ocorreu: soldados britânicos e alemães, que lutavam na I Guerra Mundial, foram tomados pelo espírito natalino e depuseram armas. Pouco a pouco foram se aventurando na famosa “terra de ninguém” entre as trincheiras, e trocaram alimentos, presentes, entoaram cantos natalinos, chegando ao ponto de se sentirem confortáveis até mesmo para jogar futebol. A língua não era uma barreira para a confraternização, como escreveu o fuzileiro Graham Williams, da 1ª Brigada de Fuzileiros de Londres: “Começamos a cantar O Come, All Ye Faithful e imediatamente os alemães se uniram cantando o mesmo hino em suas palavras latinas, Adeste Fideles. Que coisa extraordinária – duas nações inimigas entoando o mesmo cântico no meio da guerra”. Estima-se que durante os seis dias da Trégua de Natal, que se espalhou por todo o Front Ocidental, cerca de 100 mil soldados deixaram de lutar.

Preocupados, os comandantes das tropas agiram para evitar que no ano seguinte a trégua ocorresse de novo, deslocando os combatentes de suas posições originais, e punindo qualquer tipo de comportamento amistoso entre soldados “inimigos”. A história da Trégua de Natal é o exemplo perfeito de como nós não fomos feitos para odiar todos àqueles que não pertencem a nossa tribo, mas sim para amar com todas as forças a liberdade dos outros.

O Contexto

Durante os primeiros meses da Primeira Guerra Mundial, as tropas alemãs atacaram a França através do território belga. As tropas foram repelidas de Paris pelos franceses e britânicos na Batalha do Marne, no início de setembro de 1914. Os alemães se refugiaram então no vale do Aisne, onde permaneceram em posição defensiva. Na batalha posterior - a batalha do Aisne -, as forças aliadas não foram capazes de avançar através da linha alemã e a luta rapidamente chegou a um impasse: nenhum dos lados estava disposto a ceder terreno e ambos começaram a construir sistemas fortificados de trincheiras. Ao norte, à direita do exército alemão, não havia uma linha de frente definida, e ambos os lados tentaram rapidamente usar essa brecha para se flanquearem uma à outra.

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Durante a corrida para o mar que se seguiu, os dois lados se enfrentaram repetidamente, cada um tentando avançar à frente do outro. Depois de vários meses de luta, durante os quais as forças britânicas foram retiradas do Aisne e enviadas para o norte em Flandres, o flanco norte estava em um impasse semelhante. Em novembro, havia uma linha de frente contínua, desde o mar do norte até a fronteira suíça, a qual era ocupada em ambos os lados pelos exércitos preparados em posições defensivas.

Aproximação ao Natal

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Diversas iniciativas de paz foram incitadas dias antes do Natal de 1914. A Carta Aberta de Natal foi uma mensagem pública de paz dirigida "às Mulheres da Alemanha e da Áustria", assinada por um grupo de 101 mulheres sufragistas britânicas ao final de 1914, data em que se aproximava o primeiro Natal da Primeira Guerra Mundial. O Papa Bento XV, em 7 de dezembro de 1914, aludira a uma trégua oficial entre os governos em guerra, pedindo "que as armas possam cair em silêncio, ao menos na noite em que os anjos cantam". O apelo foi recusado pelas autoridades.

Natal de 1914

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O historiador americano Stanley Weintraub calculou em, aproximadamente, cem mil soldados de ambos os lados, aderindo em algum momento às tréguas de natal de 1914. Embora não houvesse nenhuma trégua oficial, soldados britânicos e alemães estavam envolvidos em cessar-fogos da frente ocidental. A trégua começou na véspera de Natal, 24 de dezembro de 1914, quando as tropas alemãs decoraram o entorno de suas trincheiras na região de Ypres, Bélgica, havendo várias tréguas não oficiais esparsas que perduraram, por até seis dias. Mas esta trégua não oficial não atingiu a todos os soldados localizados no Front ocidental, sendo que houve vários locais em que a batalha sangrenta prosseguiu normalmente durante o dia de Natal.

Os alemães colocaram velas nas trincheiras e decoraram árvores de Natal, continuando em seguida a celebração ao cantar canções de Natal. Os britânicos responderam cantando as suas próprias canções. Houve casos em que alemães e ingleses começaram, de suas próprias trincheiras, a cantar unidos os mesmos cânticos natalinos, ainda que em suas próprias línguas e versões como escreveu o fuzileiro Graham Williams, da 1ª Brigada de Fuzileiros de Londres: “Começamos a cantar O Come, All Ye Faithful e imediatamente os alemães se uniram cantando o mesmo hino em suas palavras latinas, Adeste Fideles. Que coisa extraordinária – duas nações inimigas entoando o mesmo cântico no meio da guerra”.

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Os dois lados continuaram gritando saudações de Natal um para o outro, até que começaram a surgir convites e iniciativas de ambos os lados para uma trégua e até um encontro pacífico, como, por exemplo, o descrito anos depois pelo capitão alemão Josef Sewald, do 17º Regimento Bávaro: “Gritei para os nossos inimigos que não queríamos atirar e que faríamos uma trégua de Natal. Disse que eu viria do meu lado e que poderíamos conversar entre nós. A princípio, houve silêncio, voltei a gritar e um inglês gritou, "Parem os tiros!” Aí um deles saiu das trincheiras e eu fiz o mesmo, e nos aproximamos e trocamos um aperto de mãos – um tanto cautelosos!” Pouco depois, começaram a se fazer travessias através da Terra de Ninguém, onde eram trocados alguns presentes, como tabaco, alimentos, álcool, ou recordações como botões e chapéus. A artilharia nesta região permaneceu em silêncio.

Na manhã de Natal, uma Missa bilíngue foi rezada por um padre escocês e um seminarista alemão selou o momento de ecumênica harmonia, “um espetáculo extraordinário”, deslumbrou-se o tenente Arthur Pelham Burn, do 6º Regimento dos Highlanders. “Os alemães alinhados de um lado, os britânicos de outro, os oficiais à frente, todos de cabeça descoberta.” É sabido foi realizada, ao menos, uma partida de futebol amistosa envolvendo soldados franceses, alemães e ingleses, em Saint-Yves, durante o dia de Natal. A trégua também permitiu que os soldados mortos recentemente pudessem ser trazidos de volta para suas linhas para poderem ser enterrados. Foram realizados vários funerais em conjunto. A confraternização teve alguns riscos; alguns soldados foram mortos pelas forças da oposição. Em muitos setores, a trégua durou apenas até a noite de Natal, mas em outras continuou até ao Dia de Ano Novo.

Bruce Bairnsfather, que serviu durante a guerra, escreveu:

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“Eu não perderia aquele único e estranho dia de Natal por nada deste mundo... encontrei um oficial alemão, um tenente penso eu, e sendo um colecionador, disse a ele que havia gostado de alguns de seus botões. Eu trouxe meu cortador de arame, retirei um par de botões e coloquei-os no bolso. Então eu lhe dei dois dos meus em troca... depois reparei num dos meus artilheiros, que era cabeleireiro amador na vida civil, a cortar o cabelo bastante longo de um boche dócil, que estava pacientemente ajoelhado no chão, enquanto a máquina de corte deslizava em volta de seu pescoço. ”
O general Sir Horace Smith-Dorrien, comandante do II Corpo britânico, revoltou-se ao saber o que estava acontecendo e emitiu ordens estritas proibindo a comunicação amigável com as tropas adversárias alemãs. Adolf Hitler, um jovem cabo do 16ª Reserva bávara de Infantaria, estava entre os oponentes da trégua, tendo desabafado à respeito que: “Essas coisas não deviam acontecer em tempo de guerra. Os alemães perderam todo o senso de honra?”.

Um dos mais inusitados acontecimentos da Primeira Guerra Mundial

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Que a Primeira Guerra Mundial, ou “A Grande Guerra”, travada entre os anos de 1914 e 1918, inaugurou um tipo de guerra absolutamente destrutivo e mortal nós já sabemos, haja vista os milhões de mortos por ela produzidos que não encontram par em guerras que a antecederam. Todavia, há alguns detalhes dessa guerra que passam despercebidos do grande público. Um deles refere-se à chamada “Trégua de Natal”, ocorrida nas trincheiras próximas à cidade de Ypres, na Bélgica, em 24 e 25 de 1914, entre soldados alemães e os seus rivais ingleses e franceses.

Antes do Natal de 1914, a guerra já havia chegado à Bélgica e, em especial, à região de Ypres, que foi palco da primeira fase, em novembro, de uma batalha longuíssima e que prosseguiria em 1915. Tanto as tropas do exército imperial alemão quanto as tropas britânicas e francesas haviam marcado suas posições por meio de trincheiras cavadas nas cercanias de Ypres. Os ataques eram variados e consistiam em bombardeios, tiros com rifles de assalto e tentativas de avanço territorial. Durante os dias de novembro em que a batalha transcorreu, essa era a rotina dos combatentes. Entretanto, no mês de dezembro, o que era impensável ocorreu.

Como ocorreu a trégua de Natal?

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O inverno intensificou-se ainda mais na região, e os soldados retrocederam para suas posições e praticamente não mais empreendiam combate. Às vésperas do Natal, foi possível observar, de uma trincheira para outra (que ficavam à distância de algumas dezenas de metros umas das outras), alguns soldados em clima festivo, fumando, bebendo e comendo sem se importar de serem vistos pelos inimigos. Essa postura, inicialmente isolada, contaminou todos os presentes no conflito daquela região, desde os oficiais de alta patente até o soldados rasos. Por fim, soldados passaram a sair das trincheiras, atravessar a zona de fogo (conhecida como “terra de ninguém”), chegar até a trincheira inimiga para desejar feliz Natal aos rivais e, eventualmente, trocar comida e charutos.

 

Fonte: https://www.studentsforliberty.org
           https://pt.wikipedia.org
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