As mulheres dedicadas a musica, chamadas de Shemayet, podiam também servir as divindades masculinas e também transformar-se em escribas. Mas era a mulher a encarregada de tocar o sistro, cujo som acalmava as divindades e permitia que a mente do homem descansasse. As sacerdotisas dedicadas a Hathor, divindade que representa a sexualidade feminina, o amor, a musica, a dança, e cujas festividades eram de embriagues, origem das festas dedicadas a Baco, tinham outras funções sociais. Elas traziam a fertilidade e ensinavam as artes do amor aos homens que iam casar, para que aprendessem a dar prazer a futura mulher.
Aproveitando a extensão da Ilha de Philae, dedicada desde tempos remotos ao culto de Isis, a força feminina geradora da espiritualidade na consciência do homem, veremos como a mulher ocupava um lugar privilegiado na hierarquizada sociedade egípcia. O universo egípcio estava fundamentado na dualidade, no masculino e no feminino, iguais entre si, responsáveis por gerar a ordem em meio ao caos, responsáveis por tornar o mundo cada vez mais perfeito para depois conservá-lo eternamente. Os sacerdotes do Olho de Horus ensinaram ao seu povo que o Deus único, o que está em todas as partes, tem uma parte masculina, a sabedoria com a informação absoluta, e uma parte feminina, a substância homogênea com o amor infinito.
Nos muros de Kom Ombo ficaram registradas as festividades anuais que se realizavam em todos os templos do Egito, as procissões rituais que levavam as imagens simbólicas pelo rio, de um templo a outro, enquanto o povo, com colares de flores, cantava e dançava. Em seguida, encontramos o corredor das escadas que conduziam ao terraço do templo, num esquema semelhante aos templos de Edfu e Dendera; uma escada em caracol de um lado, e a escada reta rente ao muro, do outro. Dali, chega-se a antecâmara dos dois santuários que tem de cada lado um salão onde eram guardadas as barcas de ouro de Sobek e Horus, usadas pelos sacerdotes para movimentar as imagens simbólicas durantes as procissões das festividades.
Os egípcios entendiam que a realidade era manifesta por um único Deus, através de suas forças criadoras fundamentais, as divindades a que chamavam de Neters, o mundo físico era dirigido pelo faraó que representava o nível de consciência alcançada pelo homem durante o seu reinado. O faraó era a encarnação do KA-real, um único espírito que evoluía reencarnando de faraó em faraó, isso o transformava em uma divindade intermediária entre o homem e Deus encarregado de conservar e aperfeiçoar a ordem no mundo físico egípcio. Seu universo espiritual ...