A Simbologia Mística dos Contos de Fadas

contos3“Sabe qual o problema desse mundo? Todos querem soluções mágicas para seus problemas, mas todos se recusam a acreditar em magia.” — Once Upon a Time. Os contos de fadas possuem os ingredientes místicos: A eterna luta do bem contra o mal, um desafio, uma luta, um caminho, uma travessia. Representação fantasiosa e mitológica como fadas, duendes, dragões, bruxas, animais de poder, seres de outros mundos, dimensões paralelas. Principalmente a magia. Tem a luta das sete virtudes contra os setes pecados capitais: Castidade x Luxúria, Generosidade x Avareza, Temperança x Gula, Diligência x Preguiça. Paciência x Ira. Caridade x Inveja. Humildade x Soberba. Tem sentimentos antagônicos em duelos, amor contra ódio, o próprio amor briga dentro de si, o amor puro, contra o amor egoísta. Os valores éticos, os valores espirituais, ...

contra a imoralidade, o materialismo. Todos esses ingredientes bastam para gerar uma leitura simbólica oculta. Para quem os contos de fadas são produzidos? Somente para as crianças, diria um afoito! Não! As crianças acreditam na magia, os adultos percebem a racionalidade. Nos Contos de Fadas, há sempre dois mundos: O da normalidade costumeira. Para convencer o racional o lógico. O da magia, do desconhecido, do maravilhoso. O surpreendente, esse é o mundo interior.

Dessa forma, temos:

Mundo Consciente – representado pela normalidade.
Mundo Inconsciente – representado pelo maravilhoso, a magia, o desconhecido.

Os Protagonistas

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O Herói/Vilão – São os que participam da ação. Geralmente os Heróis são pobres, jovens, fracos, desajeitados (quase sempre o filho mais jovem é quem vai solucionar os problemas através das tarefas a ele impostas, sendo chamado de Parvo ou Simplório). Os Heróis não têm características definidas, podendo ser bons, tristes, maus, felizes, bonitos, feios. Vão representar nos Contos, assim como nos Mitos, o “Rito Iniciático”, o neófito, o aluno, o principio do caminho da iniciação.

O Vilão é forte, vigoroso, imperioso, mas anseia mais poder, pois é mortal, finito, representa a materialidade, o corpo e o seu processo de deterioramento. O Herói e o Vilão dentro do esoterismo são duas forças dentro de si mesmo. A Cara e a Coroa, o Positivo e o Negativo, o Bem e o Mal, o Espírito e a Matéria, a Luz e a Escuridão. A Consciência e a Inconsciência. O Despertar e o Sono.

É esta busca que Carl Jung chama de individuação, a busca do si mesmo, do self, tão importante para a sobrevivência na vida adulta. O Self , é o Si mesmo e representa a Totalidade da Psique. Ele emerge da Consciência Individualizada do Ego a medida que o indivíduo cresce. Por isso, Jung chamou Rito de Passagem esta mudança de uma idade para a outra concluída pela individuação e maturidade na vida adulta. A cada fase o ser humano vai buscando esse si mesmo até ter o seu self definido pela totalidade da sua psique.

O verdadeiro processo de individualização, ou a Harmonização do Consciente com o nosso centro interior (núcleo psíquico) ou self, começa exigindo um certo sofrimento, principalmente na fase da adolescência que são grandes as transformações e é sempre aí que aparece o Herói dos Contos e Mitos buscando o seu si mesmo, através de tarefas impostas a ele e nem sempre fáceis de cumprir.

O Esoterismo nos Contos

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Segundo a pesquisadora Ana Paula Montandon, os Contos de Fadas tradicionais foram transmitidos oralmente por várias diferentes culturas, e foram compilados e publicados pela primeira vez pelos Irmãos Grimm em 1786. Dizem que eles saíam pelo interior da Alemanha e outros países da Europa, perguntando sobre pessoas que sabiam e contavam histórias para crianças. Diz-se que uma certa vez, descobriram uma senhora, já bem velhinha, que sabia muitos contos infantis antigos, e aceitou contar-lhes todos, contanto que os mesmos a visitassem todas as tardes para um chá. E assim foi feito. A cada tarde a senhora contava aos Irmãos Grimm, que anotavam palavra por palavra, muitas das histórias que hoje lemos aos nossos filhos.

Hoje se sabe que todos estes contos tradicionais baseiam-se em mitos mais antigos ainda, e possuem uma interpretação profunda, que representa o próprio caminhar da humanidade, a própria existência humana. Os vilões, as bruxas e criaturas do mal, por exemplo, representam as dificuldades e percalços que temos que enfrentar ao longo de nossa vida.

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As fadas-madrinhas, os gênios e outros personagens que sempre ajudam os heróis são os próprios poderes latentes do homem e a própria natureza, que põem-se em marcha, despertados pela vontade e coragem destes heróis diante dos problemas. O “e foram felizes para sempre” não é uma visão míope e boba do amor romântico, mas a descrição do momento em que o homem vence seus próprios defeitos e apossa-se do que tem de mais puro e belo: sua alma – Ascenção.

Pensando bem, os Contos de Fadas não deveriam ser lidos só pelas crianças, mas, principalmente por nós, adultos. Seria uma forma de nos lembrar que, sim, vale a pena ser honesto, fazer o bem, ajudar, embora tudo a nossa volta dê a impressão de que seja exatamente o oposto.

Fonte: Antroposofy