O alimento e a bebida servem para a construção e a manutenção do corpo físico, e dessa forma nosso corpo físico incorpora, em grande parte, as características físicas do alimento. Já vimos que a filosofia Shânkia hindu ensina que o Universo material é constituído não por subpartículas, mas por três filamentos ou cordões (gunas). Enquanto as três gunas (tamas, rajas e sattva) existem em equilíbrio, a matéria existe em seu estado de latência, primordial e não manifestada. Mas quando há um desequilíbrio de um deles, a matéria se manifesta. Então todas as coisas manifestadas possuem a qualidade de uma dessas gunas. Sabe-se hoje que toda a matéria é uma forma condensada de energia vibratória (Cf. no Capítulo I). Com os alimentos não poderia ser diferente. Eles vibram e essas vibrações ...
interferem no funcionamento do corpo como um todo, físico, emocional, mental e espiritual. Da qualidade de vibração eletromagnética natural da comida, e não da sua quantidade de calorias, sais minerais, vitaminas, gorduras, proteínas e carboidratos, é que depende a verdadeira nutrição que recebemos quando a ingerimos. Assim, para a filosofia Shânkia, os alimentos existem em três grandes categorias: alimentos Tamásicos, Rajásicos e Sáttvicos.
Alimentos Tamásicos são aqueles que estimulam a inércia e a apatia, estando relacionados com a confusão, a ignorância e o erro. São exemplos de alimentos Tamásicos a carne, os ovos, a cebola, cebolinha e alho, os cogumelos e os fungos, as drogas (lícitas ou ilícitas) e a comida fermentada ou estragada. Os Rajásicos produzem atividade e estão relacionados com as paixões, os desejos, as dores e inquietudes da vida. São exemplos de alimentos Rajásicos as bebidas com cafeína (café, chá e chocolate), e as ervas e temperos em excesso.
Já os Sáttvicos produzem harmonia e ritmo, pois estão relacionados com a bondade, a pureza, a lucidez, a verdade, a realidade e o equilíbrio. Essa última categoria alimentar é a de escolha, quando se quer buscar o autoconhecimento e a purificação do ser. Frutas, nozes, legumes, leguminosas, verduras, cereais integrais, leite e derivados, e a água, são alimentos que induzem ao equilíbrio.
Em geral, os alimentos integrais, basicamente grãos e cereais que não passaram por nenhum processo de refino (como a retirada de cascas e películas protetoras), conservam a energia vital por mais tempo que a farinha deles, principalmente se tiverem sido cultivados de forma orgânica. À medida que envelhecem perdem a sua vibração original da mesma forma que alimentos excessivamente cozidos. Do mesmo modo, as vitaminas e os sais minerais sintéticos não suprem o organismo de energia vital.
Mas a pureza de vida não é conseguida isoladamente com uma mudança alimentar. Outras condições são necessárias. A purificação do ser não envolve apenas a purificação das emoções e dos pensamentos, antes sim, a purificação desses depende da purificação do corpo físico. Tem-se que inserir em nosso corpo físico, combinações de matéria mais refinada que facultem ao nosso corpo responder, mais facilmente, às vibrações mais elevadas, e não responder às inferiores. Assim, ingerindo alimentos mais refinados, estamos transformando nossas células nervosas em receptores, por ressonância, de energias mais refinadas. É através do sistema nervoso do corpo físico que nossos corpos sutis operam (Cf. no capítulo anterior).
Mas essa purificação do corpo físico, não é suficiente para habilitar nosso ser a responder aos nossos corpos sutis. Para habilitar-nos a essa tarefa, a sensibilização de nosso sistema nervoso é imprescindível. Tornar nosso corpo sensível e responsivo às ordens do “Eu superior” depende de um trabalho diário de sensibilização dele. Para se tirar uma boa música de um violão é necessário um bom material e de uma tensão ideal nas cordas, ou seja, devemos afinar nosso sistema nervoso com as esferas sutis da existência. Isso se faz pela meditação/contemplação, descrita mais adiante, que desperta a Kundalini e vivifica nossos Chakras etéricos, aliada a um fervoroso poder da vontade, que direciona todas as energias de nosso eu inferior em direção ao “Eu superior”.
Para os hindus, os alimentos sólidos e líquidos seriam necessários, ao corpo físico, para a formação, reparação e manutenção dos tecidos, produção de calor e algumas outras finalidades, mas não para manter a vida. Três outros tipos de alimentos também são necessários para a nossa nutrição: ar, luz e vibrações (som). Ou seja, nos nutrimos de terra (alimentos sólidos), água (alimentos líquidos), ar (respiração), fogo (luz solar) e éter (vibrações cósmicas), os cinco elementos da matéria. Segundo a filosofia taoísta, o corpo físico humano necessita de energia para gerar calor em três aquecedores internos, situados na parte baixa do abdome, no plexo solar e na região anterior do tórax 36:26.
A energia do aquecedor inferior é fixa e já somos gerados com ela. É a energia (Ch’i) primordial, a Essência ou Kundalini. Utilizada no corpo físico desde a fase de embrião até a velhice, nos processos de desenvolvimento do corpo, sexualidade e de reprodução (orgasmo), quando essa energia chega ao fim o corpo físico “morre”. Quanto mais for economizada, maior será a longevidade do corpo físico e a energia circulante nos Chakras etéricos 36:24.
A energia do aquecedor intermediário vem através da alimentação e digestão. Uma dieta inadequada leva a uma desagregação das nossas faculdades instintivas e intuitivas, que são a nossa proteção espiritual. Essa proteção espiritual se encontra em nosso Hara (Cf. no capítulo anterior em “A INTENÇÃO E A DIMENSÃO HÁRICA”). Já a energia do aquecedor superior vem do ar respirado. Essa energia extraída do ar é utilizada para a oxigenação do organismo, nossa movimentação, intenção e poder da vontade. Com ela se sente que podemos mudar o mundo (ou nossa percepção dele), dando-nos força à meditação.
Devemos fazer da alimentação um ato de louvor ao Incognoscível, a Fonte, louvor ao nosso templo corpóreo, através de uma boa alimentação, e louvor àqueles que contribuíram para que o alimento chegasse até nós. Todo alimento é uma manifestação do Todo e deveria ser integrado ao nosso corpo como um ritual: agradecer, contemplar, saborear.
Do alimento originam-se todos os seres que, nascidos, crescem graças ao alimento. Todos os seres são nutridos pelo alimento e, quando morrem, o alimento nutre-se deles 39:169. Por isso vários povos têm cerimônias sagradas para purificar seus alimentos (como os índios, os judeus, etc.), principalmente a carne animal. Todo ser vivo precisa se alimentar de outros seres vivos para sobreviver, contudo deveríamos, como as formas mais conscientes do planeta Terra que somos, sacrificar formas de vida menos conscientes para serem nosso alimento.
“Tanto quanto possível, os itens de alimentação devem ser selecionados entre aqueles em que o desenvolvimento da consciência é comparativamente pequeno, isto é, se houver vegetais disponíveis os animais não devem ser sacrificados” 91:80.
Sri Sri A’nandamu’rti (1.921-1.990)
Cereais integrais, saladas, vegetais e frutas frescas da época e raízes e tubérculos no inverno. Sempre que possível cozinhe ou asse esses alimentos no vapor ou ingira-os crus. Dê preferência aos orgânicos e evite os industrializados. Se for comer carne, dê preferência a peixe fresco ou carnes magras (peito de frango ou peru), animais que têm menor consciência e terror quando são abatidos. A energia do terror altera a constituição bioquímica, hormonal e energética da carne.
Comer somente quando se estiver com fome, beber sempre que estiver com sede, estar consciente da nossa respiração, mastigar bem e lentamente a comida, com poucos líquidos, livre de fortes emoções ou pensamentos (que deprimem o terceiro Chakra, fechando-o), sentado e relaxado, seriam recomendações para uma refeição sagrada. Comer nas mesmas horas, e sempre acompanhado com outras pessoas, comer pouco e parar de comer antes de se sentir saciado, evitar comer entre as refeições e nada que for sólido após as 20 horas, e beber muita água entre uma refeição e outra, seriam recomendações básicas para uma boa saúde alimentar.
Existe um costume bastante esquecido da sociedade moderna, que é o de silenciar, ou orar, antes de iniciar uma refeição. Esse ato, junto com a imposição das mãos sobre os alimentos, aumenta o valor energético vital do alimento. Agradecer mentalmente a toda a cadeia de pessoas, animais e vegetais que possibilitaram a presença daquele alimento na mesa, assim como agradecer ao Incognoscível, pela simples existência da vida. Uma dieta equilibrada deveria conter, diariamente, cerca de um litro de laticínios, óleo de granola ou girassol, mamão (com cerca de seis sementes por dia), ameixa, passas, folhas, arroz integral, uma banana e um tomate. Diariamente alternar a soja com o feijão e a lentilha. Ingerir cerca de dois litros de água por dia (Cf. adiante), tomar muito chá e suco de acerola ou caju.
Estamos imersos numa teia de inter-relações e o funcionamento correto de nosso corpo necessita de um perfeito equilíbrio com a Natureza que nos cerca, um equilíbrio interno consigo mesmo e com inúmeras outras formas de vida que nos habitam o sistema digestivo.
Fonte: http://www.orion.med.br