O vilarejo de Asuka, escondido entre as montanhas da antiga província de Nara, no Japão, guarda mistérios que remontam a mais de 1.500 anos. Pense em Asuka como um relicário do passado, uma terra onde as pedras sussurram segredos de eras antigas. Esse lugar é o berço do Período Kofun, uma era marcada por tumbas em forma de fechadura e misteriosas esculturas que deixam até os historiadores mais experientes coçando a cabeça.
A maior e mais intrigante dessas esculturas é o Masuda-no-iwafune — o “Navio de Pedra de Masuda.” Com 11 metros de comprimento, 8 de largura e 4,7 de altura, essa imensa rocha de granito pesa cerca de 800 toneladas e está estrategicamente posicionada no alto de uma colina. De longe, parece um navio esculpido para navegar os céus, talvez projetado por deuses em um momento de inspiração ou por uma civilização antiga que se perdeu no tempo. Seu topo é plano como um campo de batalha; há dois misteriosos buracos quadrados e uma linha em crista que parece uma trilha deixada por um dragão invisível.
Mas afinal, o que é o Masuda-no-iwafune? Para que ele serve? Essas são perguntas que continuam sem respostas definitivas. No entanto, várias teorias tentam explicar esse enigma.
Uma teoria sugere que o Masuda-no-iwafune poderia ter sido esculpido como uma homenagem à construção de um lago antigo, o Lago Masuda, que já existiu nas proximidades e agora é parte da cidade de Kashiwara. E se a pedra fosse, de fato, um tributo ancestral, uma espécie de "monumento flutuante" que celebra o casamento entre a natureza e a engenharia?
Outra hipótese sugere que poderia ser um antigo observatório astronômico. Os entalhes na crista do “navio” estariam alinhados com o pôr do sol em um dia específico — a “entrada da primavera” no calendário lunar, um evento importante para a agricultura japonesa.
Mas essa teoria divide opiniões, pois muitos estudiosos afirmam que o Japão antigo ainda não possuía uma tradição forte de observação astronômica. Seria a pedra então apenas uma lenda de agricultores e pescadores tentando entender os mistérios do céu?
Há também quem diga que o “navio” é uma tumba inacabada, talvez destinada a um membro da realeza. Mas, se fosse mesmo uma tumba, onde estão os restos mortais? E por que essa forma tão incomum, com buracos e uma superfície aplainada? Seria a escultura o projeto ambicioso de um arquiteto do passado, abandonado por falta de mão de obra ou recursos?
O intrigante é que o Masuda-no-iwafune não está sozinho. A cerca de 50 km dali, há o megálito Ishi-no-Hoden, na cidade de Takasago, outro bloco de pedra com semelhanças visíveis. Como o Masuda-no-iwafune, o Ishi-no-Hoden é uma rocha gigante com cristas nas laterais, porém sem buracos aparentes. Hoje, ele é um santuário dedicado ao deus xintoísta Oshiko Jinja, mas ninguém sabe exatamente quem o esculpiu ou por quê.
No fim das contas, o Masuda-no-iwafune permanece como uma esfinge em granito, desafiando nossas tentativas de compreensão. É como se o vilarejo de Asuka fosse um portal para outra dimensão — uma em que histórias não contadas e segredos velados são mantidos pelas próprias pedras, esperando por uma mente curiosa o suficiente para desvendar seu propósito.