Vidas Extraordinárias

Black Mary: A História da Mulher Mais Forte do Oeste

Black Mary: A História da Mulher Mais Forte do Oeste

Imagine uma época em que as probabilidades estavam contra você simplesmente por ser mulher, e ainda mais por ser negra. Agora, pense em alguém que não apenas superou essas barreiras, mas conquistou o respeito de uma cidade inteira. Esse foi o caso de Mary Fields, conhecida carinhosamente como "Black Mary", uma figura que, apesar de seu temperamento forte e estilo de vida incomum, tornou-se um ícone na pequena comunidade pioneira de Cascade, Montana.

O Começo de Uma Lenda

Nascida em 1832, no Tennessee, Mary começou a vida como escrava. Após a Guerra Civil, quando a liberdade finalmente chegou, ela não hesitou em buscar sua independência. Inicialmente, Mary trabalhou no famoso barco a vapor Robert E. Lee, onde testemunhou a lendária corrida contra o Natchez em 1870. Esse episódio é digno de filme! Mary se lembrava dos tripulantes jogando de tudo na caldeira – até presunto! – para aumentar a pressão e vencer a corrida.

De Escrava a Heroína do Oeste

Mary Fields pioneira

Em 1885, o destino levou Mary para Cascade, uma pequena cidade no coração do território de Montana. Lá, ela foi chamada por uma amiga de longa data, Madre Amadeus, para ajudar no convento de São Pedro. E foi assim que começou a lenda de uma mulher que, ao invés de se adequar ao esperado para sua época e gênero, vestia roupas masculinas, usava botas, carregava um revólver na cintura e fumava charutos, sem se importar com o que pensavam dela. A história de Mary é cheia de episódios que demonstram sua coragem e determinação. Um deles envolve uma noite gelada em que sua carroça virou e uma matilha de lobos a cercou. Enquanto muitos teriam entrado em pânico, Mary simplesmente pegou sua arma e guardou os suprimentos do convento até o amanhecer, protegendo não apenas sua própria vida, mas também a sobrevivência das freiras.

Uma Mulher de Aço e Carisma

Com cerca de 90 kg e 1,80m de altura, Mary não era alguém que se intimidava facilmente. Ela tinha uma aposta recorrente de que podia derrubar qualquer homem com um soco, e, honestamente, ninguém ousava duvidar. Inclusive, ela era a única mulher respeitável da cidade autorizada a beber nos bares locais, algo que nem os homens brancos tinham de maneira tão desimpedida. Curiosamente, apesar desse privilégio, ela nunca bebia em excesso. Mas não pense que Mary era apenas força bruta. Ela tinha um coração enorme. No dia do seu aniversário, a escola local fechava em sua homenagem, e Mary aproveitava para distribuir doces e guloseimas para as crianças. Ela também cuidava de muitos dos pequenos da cidade, cobrando modestos US$ 1,50 por hora, e frequentemente gastava esse dinheiro comprando presentes para eles.

Mary Fields forte

A Mulher Que Desafiou o Oeste

Em uma época em que mulheres e, especialmente, mulheres negras, tinham pouquíssima liberdade, Mary Fields desfrutava de mais autonomia do que a maioria dos homens brancos. Ela comandava uma rota de correio, uma das poucas mulheres no país a fazer isso, e não havia clima ou desafio que a impedisse de cumprir suas entregas. Quando o bispo local decidiu que os modos “selvagens” de Mary eram inadequados para o convento, ela simplesmente encontrou outra maneira de continuar ajudando. Mãe Amadeus garantiu para ela uma nova posição: a rota do correio entre Cascade e o convento. E assim, Mary seguiu em frente, levando cartas e suprimentos por oito anos, até sua aposentadoria.

Uma Vida de Glórias e Desafios

Mary era uma força da natureza. Quando sua lavanderia pegou fogo em 1912, os habitantes de Cascade se uniram para construir uma nova casa para ela. E, apesar de ter se aposentado, ela nunca parou de contribuir para a comunidade, seja com seus famosos buquês para os jogadores de beisebol locais ou com sua mão firme para quem ousasse criticá-los! É curioso que até grandes nomes, como o artista Charles Russell e o ator Gary Cooper, tenham cruzado o caminho de Mary e se lembrassem dela com tanto carinho. Cooper, que a conheceu quando criança, mais tarde escreveu sobre ela em um artigo para a revista Ebony, recordando a figura formidável e generosa que ela era.

O Fim de Uma Jornada Extraordinária

Mary Fields tumulo

Mary sabia que sua hora estava chegando em 1914. Sem querer ser um peso para os amigos, tentou se afastar em silêncio para morrer sozinha. Mas as crianças que tanto cuidara a encontraram, e ela foi levada para o hospital em Great Falls, onde passou seus últimos dias. Quando faleceu, foi enterrada em um pequeno cemitério perto da estrada que tantas vezes percorreu em vida.

Mary Fields, a mulher que viveu com mais liberdade do que muitos ousariam sonhar, permanece uma lenda. Sua história não é apenas sobre uma mulher forte e determinada, mas sobre alguém que, contra todas as probabilidades, conquistou o respeito, o carinho e a devoção de uma cidade inteira.