"A mais profunda forma de desespero é escolher ser outro que não si mesmo." — Søren Kierkegaard. Já parou pra pensar que talvez você esteja andando num caminho que não é o seu? Que, por trás de um sucesso aparente, pode haver um vazio silencioso, como uma tempestade calma esperando para te alcançar? É isso que Kierkegaard, o filósofo dinamarquês do século XIX, tentava nos dizer há tanto tempo. E sabe o mais impressionante? Essa ideia ecoa em culturas distantes no tempo e espaço — como no clássico indiano Bhagavad Gita , que afirma:
"Mais vale cumprir o próprio dharma, ainda que de forma imperfeita, do que cumprir de maneira perfeita o dever de outrem."
Ou seja, melhor ser quem você é, mesmo com falhas, do que se encaixar perfeitamente numa vida que não é sua.
O Despertar de Uma Crise Interior
Nos dias de hoje, muitas pessoas vivem sob uma névoa de insatisfação. Têm empregos estáveis, relacionamentos aparentemente saudáveis, até viajam nas férias... mas algo falta. Elas acordam sem vontade de seguir em frente, sentem-se presas num roteiro escrito por outra pessoa. Essa sensação não é coincidência. É um sinal. Um grito interior pedindo: "Ei, espere! Isso aqui não é você!" Shelley Prevost, terapeuta do Lamp Post Group, listou cinco razões pelas quais tantas pessoas nunca descobrem seu verdadeiro propósito. E o pior? Muitas nem sequer percebem que estão perdidas. Vamos mergulhar fundo nesses motivos e entender como eles podem estar sabotando sua jornada pessoal. Prepare-se: esse texto pode mexer com você. Mas, às vezes, é exatamente disso que precisamos.
1. Você Vive de Fora Pra Dentro e Não de Dentro Pra Fora
Esta é a mãe de todas as causas. A raiz do problema. Desde criança somos ensinados a olhar para fora em busca de validação. Nossos pais, professores, amigos e até os influenciadores digitais ditam padrões de comportamento, carreira, aparência e até sonhos. E aí, sem perceber, entramos num jogo onde o objetivo é agradar todo mundo — exceto nós mesmos.
Como diz Shelley Prevost:
“Para ganhar a aprovação delas, você se dispõe a entrar dentro do compartimento. Para mantê-la, aprende a negar seguidamente quem você é.”
Soa familiar?
É como se estivéssemos vivendo dentro de uma Matrix emocional, onde a realidade externa define quem devemos ser. E quanto mais buscamos essa aceitação, mais nos distanciamos da nossa essência.
Carl Jung já alertava: "Quem olha pra fora, sonha; quem olha pra dentro, acorda."
Então, talvez a primeira coisa que você precise fazer é parar. Respirar. Olhar pra dentro. Escutar. De verdade.
2. Você Procura uma Carreira Antes de Ouvi-lo Chamado
Você lembra quando decidiu o que queria ser quando crescesse? Provavelmente foi por volta dos 15 ou 16 anos. Talvez tenha sido pressionado pelos pais, pela escola, pelo sistema. A sociedade criou uma receita de bolo chamada “sucesso”, e muitos de nós só fazem tentar segui-la, mesmo que ela não faça sentido.
Como bem observa o psiquiatra Claudio Naranjo:
“É normal não encontrar sentido na vida quando se está muito condicionado pelo mundo.”
E Alan Watts, sempre provocativo, questiona:
“E se o dinheiro não fosse a finalidade?”
Shelley Prevost ressalta que a sociedade reduziu o sucesso a uma lista de tarefas:
Terminar o colégio
Conseguir um parceiro(a)
Ter filhos
Trabalhar até se aposentar
Mas onde está o espaço para perguntar: "Estou feliz?"
E se a resposta for não, será que você tem coragem de mudar?
Parker Palmer, autor de Deixe Sua Vida Falar , defende que devemos deixar nossa própria existência nos guiar. Porque um chamado não é apenas uma escolha racional. É algo que vem do coração. Algo que pulsa, que chama, que não te deixa dormir em paz até você responder. Um chamado é apaixonado, compulsivo, incômodo. Começa com uma curiosidade e termina virando um destino. Mas poucos o ouvem — porque ele exige risco, esforço, mudança. E a maioria prefere a segurança de uma carreira predefinida.
3. Você Odeia o Silêncio
Silêncio é uma palavra que assusta. Para muitos, é sinônimo de solidão, angústia, insegurança. Mas será que é mesmo?
Na verdade, o silêncio é o único lugar onde podemos ouvir a voz que realmente importa: a nossa.
Como diz Shelley:
“Sem ele, você acaba acreditando que seu ego – e tudo que ele quer – é seu propósito.”
E aí, sem perceber, você começa a viver uma vida guiada por desejos superficiais — status, consumo, comparações — enquanto o que você realmente precisa fica abafado pela barulheira constante.
O silêncio cria espaço. Espaço para sentir, refletir, integrar. É nele que surgem as verdades mais profundas. É nele que encontramos paz ou, ao menos, o caminho para ela.
Se você vive fugindo do silêncio, talvez seja porque tem medo do que vai encontrar. Medo de perceber que está longe de quem realmente é.
Mas o silêncio não é inimigo. É aliado.
4. Você Não Gosta do Seu Lado Sombra
Todo mundo tem um lado obscuro. Um lado que guardamos a sete chaves, com medo de que alguém veja. Fraquezas, traumas, impulsos violentos, ciúmes excessivos, egoísmo... são coisas que preferimos ignorar.
Carl Jung chamou isso de sombra . E disse algo surpreendente:
“A parte de você que é a mais escura tem a maior quantidade de coisas para lhe ensinar sobre seu propósito.”
Aceitar sua sombra é parte fundamental do autoconhecimento. É reconhecer que você não é perfeito, e que isso está tudo bem. É entender que suas partes mais difíceis também têm sabedoria.
Shelley Prevost explica:
“Se descobrir seu propósito é realmente sobre autoconhecimento, sua escuridão lhe mostra onde você mais precisa crescer.”
Ela ainda diz que é das pessoas que você menos gosta que você tem mais a aprender sobre si mesmo. Pois nelas, muitas vezes, vemos refletidos nossos próprios aspectos rejeitados.
Ignorar a sombra é como cortar um braço e fingir que ele não faz falta. No fim, você só vai se sentir incompleto.
5. Você Ignora a Mente Inconsciente
Nossa cultura valoriza a razão, a lógica, o controle. Mas esquecemos que grande parte de quem somos opera no subterrâneo da mente consciente.
David Brooks, autor de The Social Animal , escreveu:
“A mente consciente escreve a autobiografia da nossa espécie.”
Mas Shelley Prevost discorda:
“Para descobrir nosso propósito, temos que estar confortáveis com nossa mente não-lógica.”
Isso significa aceitar emoções, intuições, sentimentos ambíguos. Significa tolerar a incerteza, permitir-se errar, sentir profundamente.
Planejar tudo com a cabeça não funciona. A alma não obedece a planilhas de Excel.
Por isso, muitos passam a vida inteira sem saber qual é seu verdadeiro propósito. Porque não deram espaço para o que não se vê.
E Se Dinheiro Não Existisse?
Alan Watts costumava brincar com essa pergunta em palestras e consultórios:
“O que você gostaria de fazer se dinheiro não existisse?”
É uma pergunta poderosa. Ela tira o véu das convenções sociais e revela o que realmente move o coração.
Quantos artistas se tornaram contadores? Quantos escritores viraram engenheiros? Quantos sonhadores foram obrigados a acordar cedo demais?
Watts dizia:
“Melhor ter uma vida pequena cheia do que você gosta do que uma longa vida vivida de forma miserável.”
E completava:
“Se você realmente gosta do que está fazendo, não importa o que seja, você pode eventualmente se tornar um mestre nisso.”
Então, talvez o primeiro passo para encontrar seu propósito seja simplesmente perguntar a si mesmo:
"O que eu desejo?"
Não o que seus pais querem, nem o que o mercado espera, nem o que a sociedade exige. Mas sim: o que você quer?
Conclusão: Volte Para Dentro
Encontrar seu propósito não é uma fórmula mágica. É um processo. Um caminho. Um retorno.
É ouvir a voz que fala baixinho, mesmo quando o mundo grita alto. É aceitar suas sombras, abraçar o silêncio, confiar na intuição, questionar a carreira, e, acima de tudo, voltar pra dentro.
Como diria Sri Ramana Maharshi:
“Investigue profundamente quem você é. É isso que vai te levar ao seu verdadeiro caminho.”
Sua vida tem sentido? Tem propósito?
Se não, talvez seja hora de parar de viver a vida de alguém e começar a viver a sua.
Perguntas Reflexivas para Você Começar Agora:
O que você faria se dinheiro não existisse?
Qual atividade te faz perder a noção do tempo?
Quem é você quando ninguém está olhando?
O que você tem medo de admitir sobre si mesmo?
Onde você vê mais resistência em sua vida? O que ela pode estar te ensinando?
Palavras-Finalistas
Se você chegou até aqui, provavelmente sentiu algo. Um clique. Uma centelha. Uma pontinha de dúvida salutar.
E é isso que importa. Porque encontrar seu propósito não é uma data no calendário. É um movimento contínuo, um despertar diário para quem você é de verdade.
Não adianta viver uma vida que parece boa. Precisa ser sua.
Lembre-se: a mais profunda forma de desespero é escolher ser outro que não si mesmo.
E você merece mais do que desespero.
Você merece autenticidade, propósito e, acima de tudo, liberdade.
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