Microplásticos no Corpo Humano: o Inimigo Silencioso que Pode Estar Mais Próximo do Que Você Imagina. Já parou pra pensar que, enquanto você lê essa linha, pequenas partículas invisíveis podem estar circulando dentro de você? Não estamos falando de bactérias ou vírus — não dessa vez. Estamos falando de algo tão comum e ao mesmo tempo tão assustador quanto plástico... microscópico.
Isso mesmo: microplásticos , aqueles fragmentos minúsculos de materiais sintéticos, estão cada vez mais presentes em nosso corpo, e os danos que causam começam a ser desvendados por estudos científicos. E a notícia não é boa.
O que são microplásticos, afinal?
Microplásticos são partículas de plástico com menos de 5 mm de diâmetro. Alguns são produzidos intencionalmente para uso em cosméticos, esfoliantes ou produtos industriais (chamados de microplásticos primários ), mas a maioria surge da degradação de plásticos maiores — como garrafas pet, embalagens e roupas sintéticas — sob a ação do sol, vento, água e tempo (microplásticos secundários). São tão pequenos que muitas vezes passam despercebidos. Mas, justamente por isso, eles conseguem se espalhar por todo lugar: oceanos, rios, solo, ar... e sim, até mesmo dentro do nosso organismo.
Como essas partículas entram no nosso corpo?
A resposta é simples: por todos os lados. Você pode estar respirando microplásticos agora mesmo. Sim, o ar que entra pelos seus pulmões também carrega partículas quase invisíveis, especialmente em ambientes urbanos. Além disso:
Água engarrafada e torneira : estudos já encontraram microplásticos na água potável, tanto em embalagens plásticas quanto em redes de distribuição.
Alimentos embalados : plástico em contato direto com comida libera resíduos, principalmente quando aquecido.
Sal de cozinha e frutos do mar : um estudo revelou que o sal comercializado no Brasil contém quantidades preocupantes de microplásticos.
Roupas sintéticas : fibras microscópicas são liberadas durante a lavagem e chegam aos alimentos via cadeia aquática.
É como se estivéssemos cercados por uma névoa invisível, feita de plástico.
Uma visita indesejada: o que acontece quando essas partículas entram no corpo humano
Até pouco tempo atrás, achava-se que os microplásticos eram eliminados sem grandes consequências. Hoje, sabemos que não é bem assim. Pesquisas recentes mostram que essas partículas conseguem atravessar barreiras biológicas antes consideradas seguras. Elas podem migrar do sistema digestivo para o sangue, atingir órgãos como o fígado, rins e até o cérebro. Quando os microplásticos entram no organismo, eles não ficam quietos num cantinho esperando serem eliminados — muito pelo contrário. Essas partículas têm uma habilidade assustadora: migram . Estudos mostram que elas conseguem atravessar a barreira hematoencefálica (que protege o cérebro), a placenta e até mesmo chegar ao sistema linfático. Uma pesquisa da Universidade de Utrecht, na Holanda, revelou que partículas de até 5 micrômetros podem se espalhar por todo o corpo em questão de horas, como verdadeiros turistas indesejáveis fazendo um tour completo pelo seu interior.
E aqui entra outro detalhe preocupante: os microplásticos são como ímãs para toxinas . Por sua natureza química, essas partículas atraem e absorvem substâncias nocivas presentes no ambiente, como pesticidas, metais pesados e dioxinas. Ao invés de apenas estarem ali passivamente, elas carregam esse “coquetel tóxico” para dentro das células humanas. É como se você comesse uma semente que, ao invés de germinar, trouxesse junto um pequeno baú de venenos prontos para agir.
Mas o problema não é só químico — também é físico. Partículas maiores, mesmo microscópicas, podem causar danos mecânicos às células. Pesquisas indicam que alguns tipos de microplásticos, especialmente os com bordas irregulares, raspam e lesionam o revestimento interno do intestino , causando inflamação localizada. Isso pode levar à chamada "síndrome do intestino permeável", condição associada a alergias, intolerâncias alimentares e até doenças autoimunes. Ou seja, o plástico pode estar por trás de reações corporais que antes eram atribuídas a outros fatores.
E tem mais: sabe aquela sensação de cansaço inexplicável ou aquela irritação constante na pele? Pode ser que os microplásticos estejam envolvidos. Estudos recentes sugerem que a presença prolongada dessas partículas no organismo está ligada ao aumento de radicais livres , moléculas instáveis que danificam as células e aceleram o envelhecimento celular. Em outras palavras, o plástico que você nem vê pode estar fazendo você se sentir mais velho(a) por dentro — e ninguém quer isso, certo?
E o pior?
Elas trazem companhia: substâncias tóxicas, corantes, plastificantes como o bisfenol A (BPA) e outros componentes usados na fabricação do plástico. Esses elementos têm potencial para causar inflamações crônicas, alterações hormonais, danos ao DNA e até aumentar o risco de câncer.
Consequências reais e dados alarmantes
Em 2023, um estudo publicado na revista Nature Communications detectou microplásticos em amostras de tecido cerebral humano. Isso nunca tinha sido feito antes — e o resultado foi inquietante: partículas de polietileno, polipropileno e outras variantes estavam ali, alojadas no cérebro de pessoas vivas. Outro dado chocante veio da Sociedade Brasileira de Medicina Ambiental: estima-se que uma pessoa ingere, sem querer, cerca de uma colher de chá de plástico por semana . Em escala anual, isso equivale ao peso de um cartão de crédito.
Uma das descobertas mais chocantes dos últimos anos foi a detecção de microplásticos na corrente sanguínea humana. Um estudo realizado por pesquisadores da Universidade Médica de Amsterdã, publicado no início de 2024, analisou amostras de sangue de mais de 200 voluntários saudáveis e encontrou partículas plásticas em mais de 85% dos participantes . Entre os tipos mais comuns identificados estavam o polipropileno , usado em embalagens de alimentos, e o polietileno tereftalato (PET) , comum em garrafas plásticas. Essa descoberta abriu um alerta global: se o plástico já está circulando no sangue, ele pode estar alcançando praticamente qualquer órgão do corpo.
E isso não é tudo. Pesquisas recentes sugerem que os microplásticos podem interferir diretamente no sistema imunológico . Estudos laboratoriais mostraram que, quando expostos a essas partículas, os macrófagos — células responsáveis por engolir agentes estranhos — começam a funcionar de forma desordenada. Em vez de combater ameaças, eles entram em estado de hiperatividade ou simplesmente param de agir. Isso pode deixar o corpo mais vulnerável a infecções e doenças crônicas, como se o próprio sistema de defesa estivesse perdendo o foco e atacando o inimigo errado.
Outro dado impressionante vem do mundo dos esportes. Uma análise feita com atletas profissionais revelou níveis 30% mais altos de microplásticos no organismo em comparação com pessoas sedentárias. A explicação? Atletas tendem a respirar mais profundamente e por mais tempo em ambientes abertos, onde partículas de pneus, tecidos sintéticos e poluição plástica estão suspensas no ar. Além disso, muitos usam suplementos armazenados em embalagens plásticas, aumentando ainda mais a exposição. Ou seja, até mesmo quem cuida da saúde pode estar, sem querer, alimentando o problema.
E para completar esse cenário preocupante, uma pesquisa brasileira conduzida pela Fiocruz apontou que microplásticos são capazes de alterar o microbioma intestinal , aquele conjunto de bactérias boas que vivem no nosso intestino e são fundamentais para o equilíbrio do corpo. Com menos diversidade bacteriana, o organismo fica mais suscetível a distúrbios digestivos, depressão e até problemas metabólicos como diabetes tipo 2. É como se essas partículas estivessem mexendo no "cérebro do intestino", bagunçando desde nossa digestão até nosso humor.
E as consequências não param por aí:
Inflamação celular : partículas microplásticas podem desencadear respostas inflamatórias que, com o tempo, levam a doenças degenerativas.
Impacto no sistema endócrino : disruptores hormonais associados aos plásticos interferem no funcionamento do sistema hormonal, prejudicando desde o desenvolvimento infantil até a fertilidade.
Problemas cardiovasculares : pesquisas sugerem que partículas no sangue podem se acumular nas artérias, contribuindo para doenças cardíacas.
Estresse oxidativo : o acúmulo de toxinas está ligado ao envelhecimento precoce das células e aumento de riscos de mutações genéticas.
Crianças e grávidas: os grupos mais vulneráveis
Um dos aspectos mais trágicos dessa história é que os microplásticos afetam de forma mais grave crianças pequenas e mulheres grávidas. Em bebês, há estudos que mostram a presença dessas partículas no leite materno, inclusive em amostras coletadas em diferentes países. E em fetos? Um estudo italiano encontrou microplásticos na placenta, indicando que essas partículas conseguem ultrapassar a barreira entre mãe e filho. Isso significa que o plástico pode estar influenciando o desenvolvimento neurológico e imunológico desde o útero. E os efeitos a longo prazo ainda são incertos.
A exposição aos microplásticos começa cedo — muito cedo. Um estudo publicado em 2023 pela revista Environmental Science & Technology revelou que bebês alimentados com mamadeiras de plástico podem ingerir milhões de partículas microplásticas por dia, especialmente quando a água quente é usada para preparar o leite. Só para você ter ideia, pesquisadores estimaram que um bebê pode consumir até 4 milhões de partículas microplásticas por mês apenas por meio da alimentação. E isso sem contar outras fontes como brinquedos plásticos, roupas sintéticas ou até mesmo o ar dentro de casa.
Mas o impacto não se limita à infância — ele pode começar ainda antes do nascimento. Pesquisas recentes detectaram microplásticos em amostras de placenta humana, cordão umbilical e até no líquido amniótico. Um estudo realizado na Itália, em 2021, analisou seis placentas saudáveis e encontrou partículas plásticas em todas elas, localizadas principalmente em áreas relacionadas à troca de nutrientes entre mãe e feto. Isso levanta uma pergunta inquietante: será que estamos nascendo já contaminados? A resposta, infelizmente, parece ser sim.
E as mães que amamentam também não estão imunes. Em 2022, cientistas italianos encontraram microplásticos em amostras de leite materno coletadas de mulheres saudáveis. As partículas identificadas eram de polipropileno, polietileno e PET — materiais comuns em embalagens de alimentos, garrafas e tecidos. O que isso significa? Que o primeiro alimento do bebê, considerado por muitos como o “ouro líquido” da nutrição infantil, pode estar carregando substâncias nocivas que sequer imaginávamos há alguns anos.
Além disso, há uma preocupação crescente quanto ao impacto dessas partículas no desenvolvimento neurológico das crianças. Estudos em animais mostram que a exposição pré-natal a certos componentes químicos dos plásticos, como bisfenóis e ftalatos, está associada a alterações no comportamento, déficit de atenção e até problemas cognitivos a longo prazo. Embora a pesquisa em humanos ainda esteja em andamento, os sinais são claros: o plástico pode estar moldando não só o corpo das futuras gerações, mas também suas mentes.
O que dizem os especialistas?
“Estamos lidando com uma emergência silenciosa”, alerta a Dra. Carla Mendes, toxicologista ambiental da USP. “O problema é que os efeitos dos microplásticos são cumulativos. É como beber um copo d’água contaminado todos os dias: no começo, nada parece acontecer. Mas, com o tempo, o impacto é devastador.” Segundo ela, os microplásticos atuam como verdadeiros "cavalos de Tróia" dentro do corpo. Carregam toxinas e facilitam a entrada de agentes nocivos em nossas células, sem que sequer percebamos.
A preocupação dos especialistas não é apenas com a quantidade de microplásticos no corpo humano, mas também com o tempo que eles permanecem dentro de nós. O toxicologista Dr. Guilherme Ramos, da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), explica que “o problema é que muitos plásticos são biologicamente inertes para o nosso corpo, ou seja, ele não consegue digeri-los ou eliminá-los facilmente”. Isso significa que algumas partículas podem ficar alojadas por meses ou até anos, liberando substâncias tóxicas aos poucos — como um inquilino indesejado que se recusa a sair.
Outro dado revelador veio de uma pesquisa conduzida pela Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (ENSP/Fiocruz), que analiou amostras de sangue de mulheres grávidas no Brasil. Os resultados foram surpreendentes: 92% das participantes tinham níveis detectáveis de microplásticos no organismo, e em alguns casos, essas partículas estavam associadas a disruptores endócrinos como o bisfenol S, usado como substituto do BPA. “Essa exposição pode estar afetando tanto a mãe quanto o bebê de formas ainda pouco compreendidas”, alertou a Dra. Ana Paula Souza, coordenadora do estudo.
Além disso, neurocientistas têm chamado atenção para os possíveis impactos no cérebro. Em entrevista ao jornal O Globo , o neurologista Dr. Luiz Fernando Teixeira destacou que “estudos em modelos animais mostram que partículas microplásticas podem causar alterações no comportamento e na memória”. Ele ressaltou que, embora ainda não haja conclusões definitivas sobre humanos, o fato de essas partículas estarem chegando ao cérebro já é um sinal de alerta máximo. “Se continuarmos ignorando isso, podemos estar diante de uma nova crise de saúde pública nos próximos anos.”
Especialistas também estão começando a investigar uma ligação entre microplásticos e doenças autoimunes. A imunologista Dra. Camila Ferreira, da USP, explicou que “quando o corpo identifica partículas estranhas que não consegue eliminar, ele pode iniciar reações inflamatórias constantes, às vezes atacando tecidos próprios por engano”. Essa resposta equivocada do sistema imunológico pode estar contribuindo para o aumento de doenças como lúpus, artrite reumatoide e tireoidite de Hashimoto. “É como se o corpo estivesse travando uma guerra interna sem saber contra quem está lutando”, disse ela em palestra no Congresso Brasileiro de Imunologia.
E o futuro? O que podemos esperar?
Se não houver uma mudança urgente na forma como produzimos e descartamos plásticos, estima-se que até 2050 haverá mais plástico nos oceanos do que peixes , em termos de peso. Essa projeção, feita pela Fundação Ellen MacArthur, mostra um futuro sombrio onde os microplásticos continuarão se multiplicando no ambiente — e consequentemente dentro de nós. E o pior é que, ao contrário de muitos poluentes, o plástico não desaparece : ele apenas se fragmenta, virando partículas cada vez menores, mas nunca deixando de existir.
Cientistas já começam a falar em uma nova era geológica: o Antropoceno plástico . A ideia é que os resquícios de plástico estão tão presentes no solo, no gelo e nos sedimentos marinhos que futuros arqueólogos poderão identificar nossa época pelas camadas de plástico fossilizado. Isso significa que o impacto dos microplásticos vai além da saúde humana — ele está literalmente escrevendo nosso legado na história da Terra, como um testemunho silencioso da nossa relação desenfreada com o consumo.
Além disso, pesquisadores estão começando a estudar o que chamam de “carga plástica total” — ou seja, a soma de todos os tipos de plásticos e seus derivados acumulados no corpo humano ao longo da vida. Um estudo recente da Universidade de Exeter, no Reino Unido, sugere que essa carga pode variar drasticamente entre pessoas, dependendo do estilo de vida. Pessoas que vivem em grandes centros urbanos, por exemplo, têm níveis significativamente maiores de microplásticos no sangue do que aquelas em áreas rurais ou isoladas. Isso indica que, no futuro, talvez passemos a medir a exposição ao plástico como fazemos com o colesterol ou a glicose no sangue.
E não para por aí. Cientistas também estão investigando o possível impacto dos microplásticos na evolução biológica das espécies , incluindo a nossa. Alguns especialistas já cogitam que, com tantas partículas estranhas circulando dentro de nós, o corpo humano pode começar a desenvolver mecanismos adaptativos — talvez até mutações celulares para lidar com esse novo tipo de invasor. É algo ainda especulativo, mas não tão improvável assim. Afinal, quem diria há 100 anos que viveríamos rodeados por um material sintético que hoje carregamos dentro de nós?
Mas nem tudo está perdido.
O que você pode fazer hoje para reduzir sua exposição?
Felizmente, pequenas ações individuais podem ter um grande impacto. Aqui vão algumas sugestões práticas:
Reduza o consumo de plásticos descartáveis , especialmente para alimentos e bebidas.
Evite esquentar comida em recipientes plásticos — prefira vidro ou cerâmica.
Use filtros de água certificados para remover impurezas, incluindo microplásticos.
Prefira roupas naturais (algodão, linho, lã) para diminuir a liberação de fibras sintéticas.
Escolha produtos de limpeza e beleza sem microesferas plásticas.
Mantenha sua casa limpa com aspirador e pano úmido , já que o pó doméstico é uma fonte importante de microplásticos.
E, claro, compartilhe esse conhecimento . Quanto mais gente souber, mais pressão vamos exercer sobre governos e empresas para mudarem suas práticas.
Um apelo final: é hora de agir
O problema dos microplásticos no organismo humano não é só científico. É ético. É político. É pessoal. Não estamos falando de uma ameaça distante ou futura. Estamos falando de algo que já está dentro de nós , que respiramos, comemos e bebemos sem saber. E talvez, daqui alguns anos, olhemos para trás e nos perguntemos: como deixamos chegar até aqui? Mas ainda há tempo. Tempo para repensar, recusar, substituir e transformar. Porque o seu corpo não é um lixo. E definitivamente, não deveria ser usado como depósito de plástico.