Tudo é uma questão de querer. Em meio à agitação das grandes cidades, também é possível relaxar, se concentrar para elevar nosso espírito e ajudar na construção da paz. Nem sempre é possível viajar para um lugar calmo, onde o mar ou o campo ofereçam ar puro e um horizonte a perder de vista. Em meio à natureza, é sempre mais fácil esquecer as preocupações e recuperar a sensação de bem-estar. Já para quem vive nas grandes cidades, enfrenta o trânsito e a poluição, cuida da família, estuda ou batalha de segunda a sexta, embarcar rumo à paz interior é uma questão de treino. Para isso, fundamental é aprender a se livrar da ansiedade. Não daquela ansiedade gostosa, que acontece às vésperas de algum acontecimento importante ou da chegada de uma pessoa querida. Na dose certa, a ansiedade pode nos levar adiante, rumo à conquista de mais conforto, bem-estar e sucesso: ela desperta a curiosidade, estimula a busca do que é novo e desconhecido. O problema é que muitas pessoas, preocupadas em fazer tudo certo, tornam-se ...
perfeccionistas e, querendo controlar tudo a sua volta, acabam embaralhando idéias e tarefas, enlouquecendo quem está por perto.
A ansiedade mexe diretamente com a respiração, o que prejudica a entrada e a saída do ar e provoca a sensação de coração apertado. Para evitar essa angústia, pare e respire fundo, ou melhor, expire e inspire profundamente algumas vezes, afastando assim o pessimismo e permitindo que o bom da vida volte a tomar conta de você.
Aprenda a pensar positivo
Imagine sua casa atulhada de móveis velhos e dois caminhões à porta: o da mudança precisa levar a velharia, para que o outro descarregue os móveis novos. Com a mente acontece a mesma coisa: se não a esvaziamos dos pensamentos que a aturdem, não sobra espaço para a nova decoração. É preciso limpar a casa, desobstruir os canais que impedem o silêncio da mente, para escutar nossa voz interior, o que pode trazer as respostas para uma existência plena e feliz.
A paz vem com o vazio da mente. E, até chegar a esse estágio, há um árduo caminho a percorrer. Nesse entretempo, esqueça pensamentos do tipo "não vai dar certo", "não sou bom o bastante para fazer isso" e "não tenho jeito para esse trabalho". Mude sua maneira de pensar: "Eu sei fazer isso muito bem", "ninguém melhor que eu para essa função" e "com certeza vai acontecer o melhor" são idéias não só alentadoras mas também capazes de gerar boas oportunidades.
Estudos científicos demonstram que, ao imaginarmos situações prazerosas e recuperarmos boas lembranças, estimulamos não só nossa capacidade de pensar com mais clareza, mas inclusive o hormônio do rejuvenescimento. Portanto, acalme sua mente com imagens tranqüilizadoras, conforme recomenda a médica psiquiatra mineira Sofia Bauer. Ela, que é autora do livro Síndrome do Pânico (ed. Caminhos Editorial) e se especializou no tratamento de pacientes ansiosos, ensina: "Tirar um minuto por dia para respirar, ouvir boa música, fazer uma pausa para o café, com uma boa conversa, são saídas rápidas que fazem a diferença".
Sofia sugere: "Imagine algo muito bom que você já viveu - um beijo na boca, um abraço, o gosto de um doce - e reviva a sensação de prazer envolvendo o corpo todo". Outra imagem recomendada por ela, muito usada por quem está se iniciando na meditação, é pensar que você está sob uma cachoeira refrescante e cristalina. "Imagine a água percorrendo todo seu corpo e renovando suas células", ensina.
Concentração é mais que atenção
Muitos imaginam que concentração e atenção são uma coisa só. Não é verdade. Você pode estar atento a tudo e a todos sem estar concentrado em coisa alguma. Na meditação, precisamos nos concentrar. Só dessa forma não nos deixamos envolver pelos pensamentos e sentimentos. Concentre-se em uma imagem mental ou em algo que está a sua volta sempre que queira meditar. Tornar essa prática uma rotina em sua vida é algo que leva tempo e muita perseverança. Se é esse seu objetivo, a concentração pode ajudar muito. Você pode, por exemplo, concentrar-se simplesmente na própria respiração ou, se preferir, na repetição de uma palavra ou um mantra, como o "ma-ra-na-tá" ("Vinde, ó Senhor", em aramaico, a língua falada por Cristo).
Quem não está acostumado estranha: a calma, que abre espaço para a compreensão, só é atingida quando adquirimos uma consciência maior sobre o funcionamento da mente. Porque é ela que não nos deixa em paz. Desatenta, corre atrás de lembranças, se deixa envolver por um som, um perfume... Enfim, precisamos domá-la se queremos meditar. Como se faz isso? Na base do treino.
De início, deixe que os pensamentos fluam, sem tentar retê-los. Mas faça isso dando atenção aos seus mecanismos mentais. Como o desportista que precisa de exercícios para melhorar sua performance, a mente humana também se beneficia com a prática deles. Antes de dormir, repasse mentalmente como foi o dia. Lembre-se de cada ato, da reação que teve diante de alguma atitude sua ou do próximo, rememore o que foi capaz de mudar seu estado de espírito, o que provocou sua tristeza ou o deixou alegre. Adquirir esse comportamento desperta nossa atenção e, dessa forma, vamos nos preparando gradativamente para meditar. Prestar atenção na respiração é outra forma de concentrar a mente e funciona como uma meditação. Sempre que possa, sente-se num local tranqüilo, feche os olhos e concentre-se no inspirar-e-expirar. Faça isso uma ou duas vezes por dia, respirando atentamente três vezes, dando uma pausa, e começando a prestar atenção outra vez. Aos poucos, procure aumentar o número de respirações entre as pausas. A prática regular desse exercício, passados os dois meses, dará não só mais facilidade para se concentrar na respiração como em todas as outras coisas. Você terá adquirido assim a percepção do momento presente, se livrando da pressão dos pensamentos que geram ansiedade e nos impedem de viver em paz.
Quanto mais cedo, melhor
Cada um tem seu ritmo, mas o ideal é exercitar a mente logo ao acordar. Nessa hora, nos primeiros instantes do dia, estamos naturalmente em contato com nosso interior, mais sensíveis aos sons, à luz e à energia emitida por objetos e imagens. Comece se espreguiçando e vá bocejando, para ativar a circulação do sangue e acordar a alma. Então, já desperto, mas ainda em seu quarto, sente-se na cama, estique as pernas e a coluna e comece o exercício. Concentrar-se e mentalizar fatos positivos para sua família, sua vida amorosa e profissional é outra boa forma de ativar a mente.
Entrando em alfa
Você já ouviu dizer que alguém está em alfa. Em geral, isso é dito para definir quem parece viver no mundo da Lua. Estar em alfa é sinônimo de relaxar com os olhos fechados. Alfa é o primeiro estado mental descrito pelo psiquiatra alemão Hans Berger, quando ele começou a utilizar o EEG (eletroencefalograma). Se você relaxa de olhos fechados, não pensa em nada e nem faz nenhum esforço mental, seu EEG revela que o cérebro, nessas condições, produz ondas de atividade elétrica com uma freqüência de 10 a 15 ondas por segundo. Se abrir os olhos e se concentrar em alguma coisa, as ondas alfa desaparecem, dando lugar às ondas beta e gama, cuja freqüência é de 20 a 40 por segundo. Com treino e persistência, você determina se entra em alfa, via meditação, ou se continua no corre-corre diário, que provoca estresse. Na primeira opção, siga os budistas. Em um lugar tranqüilo, pense: "Assim como eu quero ser feliz e evitar o sofrimento, outros também querem a felicidade". Nessa hora, lembre-se dos que vivem a seu redor e, quando sentir a sensação de que todos são iguais, concentre-se nesse sentimento. Quanto mais fixar essa imagem na mente, mais calmo e mais tranqüilo você será.
Texto: Marilda Varejão
http://bonsfluidos.abril.com.br/hotsite/meditacao/04.shtml