Como está a situação da saúde da população hoje? - Victor Sorrentino: O que eu observo muito no Brasil é que a comunidade médica não está conseguindo ajudar as pessoas, porque é tão complicado e tão caro aprender a fazer as coisas certas, que as pessoas não estão fazendo, e quem está fazendo não consegue uma melhora na qualidade de vida. Foram criados muitos mitos e paradigmas na medicina que não estão sendo esclarecidos. E eu não entendo o porquê, já que a informação existe, ela só não chega aos médicos. Um estudo feito nos Estados Unidos mostrou que uma nova descoberta medicinal, quando é aprovada como um conceito real, leva cerca de 17 anos para que chegue até o conhecimento do médico. Agora imagina até chegar à pessoa?
Isso acontece porque só quem bate na porta dos médicos são os representantes comerciais da indústria farmacêutica. Então, se não for às custas de remédio, medicação e drogas, a novidade científica não chega no médico e nem na pessoa. E quando chega, 17 anos depois, infelizmente já está obsoleta. As pessoas não estão conseguindo aproveitar a quantidade de ciência que está sendo produzida.
Como uma cidade inteligente lida com a saúde da sua população?
VS: Eu acredito que de forma muito prática. Basta vontade das pessoas. É um efeito dominó, porque à medida que as pessoas sabem, elas desenvolvem vontade de mudar seus hábitos (talvez nem por elas, mas pensando nas gerações futuras). Educar as crianças, fazer com que elas tenham facilidade para as coisas boas e dificuldade para as coisas ruins é o básico que pode ser feito.
Uma cidade inteligente não pode deixar que um colégio venda refrigerante. Mas tem que ter vontade, não pode permitir que se compre mais facilmente um refrigerante, um suco de caixinha ou um salgadinho. Os pais já não têm mais tempo de ficar com a criança como faziam antes. Não adianta educar em casa e chegar no colégio e os professores não repassarem isso. Eu não sou um idealista, essas são coisas simples de serem feitas. Só basta um mínimo de esforço, porque a saúde da população está cada vez mais comprometida e as pessoas estão ficando cada vez mais doentes.
As boas práticas e bons hábitos de saúde estão negligenciados?
VS: Completamente, e não é só negligência. Parece que não há vontade de fazer isso. Eu não sou adepto de teorias da conspiração, mas não podemos ser tão iludidos ao ponto de não tentarmos ultrapassar as barreiras que são impostas aos médicos desde a universidade. Existe uma cadeia de pessoas sendo beneficiadas com a indústria da doença. É a mesma coisa da indústria da ignorância – para o governo é interessante que a população seja ignorante para continuar votando nas mesmas pessoas. Na medicina é a mesma coisa, existe corrupção muito clara dentro da saúde.
Graças a Deus estamos regredindo um pouco, porque, no passado, as drogas eram medicações. Hipócrates, que foi o pai da medicina, pregava isso, “que seu remédio seja seu alimento e que seu alimento seja seu remédio”. O problema é tão grave que nenhuma faculdade de medicina dá mais de uma ou duas aulas sobre alimentos. A preocupação da medicina é ensinar qual remédio usar frente a qual doença. Se a pessoa não conseguir perguntar sobre uma doença, o médico não sabe como ajudá-la. A nutrição também, durante muitos anos, só se preocupou em engordar e emagrecer.
A ideia não é essa, é prevenção. E até a palavra “prevenção” na medicina está virada ao avesso, porque não se previne nada na medicina. Se você pensar, por exemplo, em câncer de mama, a pessoa vai fazer mamografia. Isso é prevenção? De maneira nenhuma! Aquilo é detecção precoce. Se a pessoa estiver com câncer, já está. Agora existem alimentos que fazem com que aconteça uma prevenção, é uma área em que a medicina já avançou muito chamada nutrigenômica, uma ciência que explica o que o alimento é capaz de fazer dentro da pessoa, que diferencia uma da outra e faz uma apresentar uma doença e a outra não.
Quais são as principais tendências com relação à saúde preventiva e longevidade da população?
VS: O mais novo e eficiente é o cruzamento entre a nutrigenômica, que vai expressar um gene bom e mutilar um gene ruim, e a modulação hormonal bioidêntica, que trabalha com a otimização hormonal. Hoje em dia, ninguém mais é refém da sua genética. Eu não tenho que viver uma vida inteira sofrendo por deficiência de “x” hormônios só porque tive o azar de nascer com menos níveis deles no sangue. Eu posso otimizar essa situação. Eu também não preciso deixar uma pessoa em menopausa ou andropausa e achar que isso é normal do envelhecimento.
Pensar que a pessoa pode envelhecer e ficar sem hormônio é a mesma coisa de pensar que ela pode envelhecer e ficar sem remédio de pressão, colesterol ou diabetes. Isso tudo é normal, já que não fomos feitos pra viver tantos anos assim, mas se estamos evoluindo, temos que acompanhar essa evolução dando melhores condições de vida para as pessoas.
O que essas ciências podem fazer pela saúde das pessoas?
VS: É alarmante as pessoas não terem acesso a esses números, mas 90% das doenças atreladas a esse processo de envelhecimento são absolutamente evitáveis. São doenças cardiovasculares, cânceres, doenças degenerativas, como Alzheimer, e muitas outras. Claro que um dia todos nós morreremos, mas morrer ficando 15% da sua vida incapacitado em uma cadeira de rodas, ou sem lembrar da família, é uma coisa que eu não gostaria para mim. E isso é evitável.
Como essa medicina é aplicada?
VS: Nos Estados Unidos essa ciência foi denominada anti-aging, ou antienvelhecimento, mas isso já existe ha muitos anos. Na antiga China existiam os Médicos de Pés Descalços que eram pagos para proteger as pessoas. Se alguém de quem ele cuidava ficava doente, era falha dele. Hoje, médico só serve para doente. Nós temos essa cultura de só ir no médico se estiver doente, “se não estou, não vou”.
Eu acho que a tradução no Brasil foi feita de maneira muito errada, porque antienvelhecimento remete à pele não envelhecer, ou à pessoa viver jovem a vida toda, e não é isso. É uma ciência de medicina real, preventiva ativa. Fazer algo para não acontecer o pior para mim em casa, todos os dias, e não somente fazer exames. É o médico ser treinado para tratar a saúde, e não como ocorre hoje, onde ele é treinado para tratar a doença. E aí é um problema, porque as pessoas não ficam doentes de um dia para o outro, elas vão ficando lentamente.
Quais os hábitos mais relevantes dentro do conceito de anti-aging?
VS: Uma das coisas mais importantes, e que infelizmente está ligada ao médico, é a parte hormonal. E nós temos que nos dar conta de que as crianças precisam, desde cedo, começar a fazer check-up. Não quer dizer que ela terá que tomar medicação, longe disso, mas temos que saber como está funcionando o corpo dessa pessoa no ápice da sua juventude. Porque, as vezes, nem no ápice ela esta funcionando como deveria, tal é o problema nutricional que estamos sofrendo hoje. A outra parte, e que depende sim da pessoa, é a alimentação, é descobrir quais alimentos fazem bem para cada pessoa e incentivar essas hábitos desde crianças.
Quais as vantagens de se investir nisso (além do óbvio, que é evitar que as pessoas adoeçam)?
VS: Quando a gente trata a saúde, geralmente tem planos A, B, C, D, etc. No momento que existe uma doença, não existe mais plano B, tem que ser o A, tem que resolver aquele problema. Mas, muitas vezes, um plano A devasta uma família inteira, pode acabar com o patrimônio, com a estrutura emocional. Então só tem vantagens, o ônus é igual ao investimento. Quanto mais eu investir em minha saúde, menos doenças eu vou ter, menos vou onerar minha família.
Hoje em dia ter um velho em uma família é um problema, porque são bombas-relógio, a qualquer momento podem ter um problema e quando isso acontece, vem um atrás do outro. E não precisava ser assim. Estatisticamente, 85% dos gastos públicos com saúde são feitos nos dois últimos anos de vida. E se a gente pegasse esse investimento todo e aplicasse ao longo da vida da pessoa? O quanto ela não poderia produzir até mesmo para sua cidade? É uma mudança que, pra mim, é difícil para as pessoas de hoje, mas fazer isso com as crianças só depende dos pais.
O que é a Medicina do Futuro?
VS: É a mesma coisa do anti-aging, basicamente, é a medicina da longevidade. E isso assusta muito os médicos, porque afronta a indústria da doença. Na medida em que a pessoa não fica doente, ela não precisa ir ao médico da doença, então os médicos vão ter que começar a pesquisar uma nova forma de entender seus pacientes, que é entender a saúde. Aí os conflitos começam a acontecer, porque todo o mundo precisa de dinheiro, e tem médicos que vivem da indústria da doença. Se a pessoa não ficar doente, ele perde o paciente.
Ela é conhecida como a medicina do futuro porque faz um entendimento completamente diferente do que existe nas faculdades de medicina hoje. Um aluno hoje no terceiro ano de faculdade já está com 50% do seu conhecimento obsoleto. Ele vai se formar já com conhecimentos atrasados, vai ter que dispor de mais tempo e dinheiro para poder rever tudo que ele já estudou, e não vai fazer isso, o que é compreensível. Ele vai ter que trabalhar.
Já a medicina anti-aging está sempre se reciclando. Não existe uma especialidade. São médicos de várias áreas se comprometendo a pensar na pessoa como um todo. Isso remete ao passado, porque são médicos que não estão pensando na sub-especialização, e ao futuro, porque ninguém pensava que existiria um meio de fazer com que a gente, de fato, retarde o relógio biológico e viva mais tempo e melhor.
Apesar de ser a Medicina do Futuro, ela tem muitas características da cultura oriental, que é milenar e já provou ser extremamente benéfica para as pessoas, correto?
VS: Sim, para ser a Medicina do Futuro, ela precisa entender o passado, pescar o que tem de bom em cada momento médico da história e juntar isso a um conhecimento mais evoluído. O povo oriental é muito mais evoluído em termos de entendimento do corpo, do que o ocidental. O ocidental não entende o corpo, ele entende de remédio, e aproveita as tecnologias, “agora tem o exame X”, “agora tem o remédio tal”.
A gente deveria aprender muito com os orientais. A medicina moderna resolveu esquecer completamente o conhecimento adquirido nos últimos 5 mil anos, como a medicina chinesa, a ayurvédica, a dos índios. Eu não sou naturalista e tenho que aprender a usar medicações quando forem necessárias, mas eles vivem muito bem sem isso, eles sabem como resolver cada problema com alguma coisa da natureza. Eles são muito sábios, e a gente adotou uma cultura americana que só está fazendo mal à nossa saúde.
Eu, inclusive, li uma notícia recentemente de que até 2030, 42% dos americanos estarão obesos… Se não for mais, né? Hoje em dia estamos atingindo certos índices que só imaginávamos atingir 40 anos na frente. E só tende a piorar, porque o estilo de vida moderno é só facilidade. Eu vou lá e como uma comida congelada, não faço suco natural, porque tomo um da caixinha, refrigerantes e salgados eu tenho na minha mão.
Quais são as ferramentas que podem ser usadas para conscientizar e mudar esses hábitos da população?
VS: Teríamos que contar com ajudas extras. Eu vejo essas campanhas governamentais de saúde e acho-as muito pobres. Não basta você falar para as pessoas irem ao posto de saúde, usarem preservativos, terem cuidado com o alimento tal. Não está funcionando. Para a geração adulta, infelizmente se tem pouco a fazer, porque temos que contar com a colaboração das pessoas, e elas são muito acomodadas.
Eu tenho esperança na geração futura, nas crianças que já estão com a saúde devastada por nossa causa. No momento em que a gente atingir o colégio, quando a escolinha tiver uma cultura de saúde, provavelmente eles levarão à frente isso. Mas só falar que faz mal não adianta, até porque os médicos não estão atualizados e toda hora vão para a televisão falar besteiras, com informações desencontradas.
Qual o papel da informação nesse contexto?
VS: É fundamental, mas primeiro tem que haver uma informação correta. Não adianta só falar que refrigerante faz mal, você tem que mostrar o porquê, dizer o que tem dentro dele, fazer a pessoa ficar com raiva daquilo ali e sentir medo, porque é isso que eu sinto como médico. Falar que faz mal ou que engorda não basta, a pessoa continua usando. Temos que colocar isso de uma maneira bem compreensível, mostrar qual é o veneno que tem ali. Agora não adianta um só médico falar. Imagina todos saindo da faculdade falando isso, o impacto que causaria na saúde da população?
O médico não sabe por que uma coisa faz mal, e por isso não vai passar a informação. Imagina esse monte de gente enchendo o saco toda hora, “isso aqui não”, “aquilo ali não”, mas nem eles fazem o que pregam. Lembrando que a base está nas crianças. Porque as pessoas não são obrigadas a nada e é difícil mudar, mas as crianças podemos obrigar. Se obrigamos elas a irem ao colégio, então vamos obrigá-las a comer as escolhas saudáveis.
Quais os piores alimentos para a saúde?
VS: O pior é o refrigerante light, mas o leite de vaca também está entre os piores. É difícil dizer o que tem de leite de vaca ali dentro, porque hoje aquilo é veneno, possui uma quantidade imensa de hormônio de vaca prenha. Já foram identificados mais de 56 hormônios, incluindo o do crescimento. Isso sem contar os pesticidas, agrotóxicos, antibióticos. Não ache que se a vaca ficar doente o produtor vai tirar ela de produção, ele vai é dar antibiótico para que ela continue dando leite. E isso justifica o crescimento da nossa resistência a certos remédios.
Outro problema é o cálcio desse leite, que possui uma concentração muito alta e tem provocado diversos problemas, inclusive a osteoporose, por incrível que pareça. Em países como a China e o Japão, onde não existe o consumo de leite de vaca, os níveis de infarto e osteoporose são muito mais baixos.
Além disso, têm os produtos à base de soja, aspartame, ciclamato monossódico, frutoses (com exceção do que vem junto com a fruta), gorduras trans, óleos hidrogenados, biscoitos industrializados, molhos prontos, glúten.
E o que comer para não ficar doente?
VS: Frutas (de preferência orgânicas), peixes, ovo, leites de coco, amêndoa e arroz, açúcar mascavo, adoçante stevia, óleo de coco, muita água, verduras e vegetais.
Fonte: http://www.drbayma.com