2023 - A mosca-soldado-negra apresenta larva com alto teor proteico que pode ser empregada na fabricação de massas e salsichas. Pesquisadores desenvolveram alimentos adequados para consumo humano. No entanto, falta regulamentação para sua comercialização. Estamos no ano de 2026, onde o mundo está coberto de gelo, e a sobrevivência é possível apenas dentro de um trem que viaja constantemente, gerando eletricidade através de seu movimento. A sociedade está estratificada em diferentes castas, organizadas em vagões.
Na dianteira do trem, há uma elite que possui acesso pleno a alimentos e água, enquanto na parte traseira estão os trabalhadores clandestinos, que se alimentam exclusivamente de uma barra proteica feita a partir de insetos triturados. Essa narrativa faz eco ao enredo do filme/série "Expresso do Amanhã", conhecido como "Snowpiercer" em inglês. Embora seja uma obra de ficção, reflete aspectos da realidade atual.
O enredo retrata uma crise alimentar global após uma catástrofe climática, onde o consumo de insetos se torna uma solução para a sobrevivência, especialmente para os estratos mais pobres da sociedade. Essa situação guarda semelhanças com os desafios enfrentados em 2023, onde aproximadamente 2,3 bilhões de pessoas sofrem com a insegurança alimentar grave ou moderada, incapazes de obter nutrientes suficientes tanto em qualidade quanto em quantidade.
A deficiência de proteínas é um dos principais problemas, e é aqui que os insetos entram em cena. Diversas pesquisas, incluindo uma realizada na Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos (FZEA) da USP, exploram o potencial dos insetos como fonte de alimento. Uma dessas pesquisas se concentra na mosca-soldado-negra (Hermetia illucens), reconhecida por sua riqueza em nutrientes.
Essas larvas são uma fonte significativa de proteína, com teores que podem chegar a até 50%, além de conterem quantidades substanciais de lipídios (32%), aminoácidos e compostos bioativos. Embora ainda não estejam disponíveis comercialmente, estudos demonstram o potencial das larvas de mosca-soldado-negra na produção de alimentos para consumo humano.
A utilização de insetos na alimentação não é uma prática nova, especialmente em algumas regiões da Ásia, onde insetos como grilos e larvas são consumidos regularmente. No entanto, no Brasil, essa prática ainda está em estágio de pesquisa. As larvas de mosca-soldado-negra são particularmente promissoras devido à sua alta concentração de nutrientes e à sua adequação para processamento em farinhas proteicas.
O processo de produção envolve a trituração das larvas em laboratório para obter uma farinha rica em proteínas, que pode ser utilizada na produção de diversos alimentos, incluindo pães, massas e biscoitos. Além disso, essa farinha pode ser empregada na fabricação de salsichas, substituindo parte da carne convencional.
A produção de larvas de mosca-soldado-negra é considerada mais sustentável do que a produção de carne bovina, exigindo menos recursos hídricos e gerando menor emissão de gases de efeito estufa. Além disso, o processo de produção aproveita resíduos alimentares, contribuindo para a redução do desperdício e para a eficiência dos sistemas alimentares.
O plantio pode ser realizado em espaços reduzidos. "A farinha desengordurada não tem sabor nem cheiro; quando incorporada à salsicha, não deixa nenhum gosto residual no produto final. Uma avaliação sensorial foi conduzida no produto, e os resultados foram bastante satisfatórios, indicando uma boa aceitação pelos avaliadores. A farinha possui altos teores de fibras, aminoácidos essenciais, minerais e é altamente digerível em comparação com as proteínas de bovinos e suínos", explica Vanessa.
Ela também destaca que esses produtos têm potencial comercial: "Eles serão enriquecidos com nutrientes, o que aumenta seu valor econômico, já que hoje as pessoas procuram por alimentos que promovam a saúde e sejam ecologicamente sustentáveis. Os produtos feitos com farinha de insetos serão altamente nutritivos, e o óleo está sendo estudado para uso em cosméticos". Para que a inclusão de insetos na alimentação se torne realidade, ainda há etapas a serem cumpridas no Brasil.
"As autoridades responsáveis relatam não ter recebido nenhum pedido de aprovação até o momento, mas o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) começou a regulamentar o uso de insetos na alimentação animal neste ano, abrindo caminho para futuros pedidos relacionados à alimentação humana. A regulamentação de um novo produto requer uma investigação meticulosa, passando por várias análises físico-químicas e microbiológicas até a aprovação final. Isso é necessário para garantir que o alimento seja seguro e não represente riscos para os consumidores", conclui Vanessa.
De acordo com a ONU, a população global deverá alcançar 9,7 bilhões de pessoas até 2050, com um aumento de 68% na demanda por proteína animal. Por que não considerar os insetos como uma alternativa? Embora possa parecer desagradável, você realmente sabe o que está presente na salsicha que consome diariamente? E em que condições os animais são criados, abatidos e processados para fazer parte desse alimento?
REFERENCIAS: YOUTUBE
O TEMPO
CNN BRASIL
FOLHA PE