Inovações e Descobertas

Pele de tilápia: a nova promessa no tratamento de queimaduras, criada no Brasil

tilquei topo21/05/2017, por Marina Felix - Desenvolvido no Ceará, o curativo já foi testado em mais de 60 pacientes e promete ser uma alternativa mais barata e eficaz do que o método tradicional. A pele de tilápia é a nova promessa no tratamento de queimaduras. Desenvolvida no Ceará, a alternativa promete ser melhor e mais barata em relação à terapia tradicional utilizada no Brasil. O tratamento das queimaduras pelo Sistema Único de Saúde (SUS), na maioria dos serviços de queimados, é feito com pomada e curativos ...

feitos com gaze, que são trocados a cada dois ou três dias, conforme a gravidade da ferida. Segundo Fábio Carramaschi, cirurgião plástico do Hospital Albert Einstein, de São Paulo, a forma tradicional utilizada atualmente envolve o uso de pomada de sulfadiazina de prata, que possui função antimicrobiana.

Enquanto isso, em países como Argentina, Chile e Uruguai, o tratamento é feito com pele humana ou pele animal.

Segundo o cirurgião plástico Marcelo Borges, coordenador do SOS Queimaduras e Feridas do Hospital São Marcos, em Recife, idealizador do projeto, o tratamento tradicional é relativamente caro, justamente por conta da quantidade de material utilizado e das frequentes trocas de curativos, que também causam dor e desconforto ao paciente, o que gera a necessidade de administrar analgésicos e anestésicos, aumenta o trabalho da equipe e, consequentemente, os custos.

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“Uma das coisas mais importantes do curativo com tilápia é que na queimadura superficial, a de segundo grau, ela fica até o final da cicatrização, algo em torno de dez dias, sem precisar trocar diariamente”, explica o coordenador.

Como funciona: aplicação do curativo

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As tilápias são retiradas do açude Castanhão, em Jaguaribara, maior reservatório de água doce do Ceará, localizado a 260 quilômetros de Fortaleza. “As peles são lavadas no local de retirada com água corrente pela própria equipe, colocadas em caixas isotérmicas e levadas para o Banco de Pele na Universidade Federal do Ceará”, explica Edmar Maciel, cirurgião plástico coordenador da fase clínica em andamento no Instituto José Frota (IJF).

Depois de passarem pela esterilização inicial, são enviadas para São Paulo, ao Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen) da Universidade de São Paulo (USP), onde passam por uma radioesterilização, procedimento que elimina possíveis vírus e garante a segurança do produto. Quando voltam para o banco de pele do estudo, após cerca de 20 dias, as peles são refrigeradas, e podem ser utilizadas em até dois anos. “A pele da tilápia, quando colocada, adere-se à pele ‘tamponando’ a ferida. Ela causa um verdadeiro ‘plastrão’”, explica Maciel. Com isso ela evita a contaminação do meio externo e que o paciente perca líquido e proteínas, causando desidratação e prejudicando a cicatrização.

De acordo com o médico, o resultado tem sido bastante positivo. “Até o momento não observamos nenhuma contraindicação. O que estamos estudando são ajustes de pele, formas de colocação, melhor maneira de dar maior conforto ao paciente”, salienta. Atualmente, o tratamento está disponível apenas para feridos por queimaduras do Instituto José Frota (IJF), em Fortaleza e já foi testado em mais de 60 pacientes.

Processo de Limpeza

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Técnicos de laboratório da UFC trataram a pele do peixe com vários agentes esterilizantes e a enviaram a São Paulo, para passar por uma irradiação que mata qualquer vírus antes de a pele ser embalada e refrigerada. Uma vez limpa e tratada, essa pele pode durar até dois anos, dizem os pesquisadores. E o tratamento remove qualquer cheiro de peixe. Em ensaios clínicos, a terapia alternativa foi utilizada em 56 pacientes para tratar queimaduras de segundo e terceiro graus. Uma dessas pessoas foi o mecânico Antonio Janio, que queimou seu braço quando um cilindro de gás de solda vazou, conta que o tratamento da pele da tilapia foi mais eficaz do que bandagens que precisam ser trocadas a cada dois dias.

Oportunidade no descarte

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Borges, conta que tudo começou quando leu uma reportagem no Jornal do Commercio, de Pernambuco, que mostrava que apenas 1% da pele da tilápia utilizada no artesanato era reaproveitada na confecção de bolsas e sapatos. Os outros 99% eram descartados.

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Em função da situação dos bancos de pele brasileiros, que estão com estoques reduzidos, Borges viu no descarte uma oportunidade e decidiu estudar a pele do animal para o tratamento de queimaduras. Durante dois anos o cirurgião tentou iniciar a pesquisa em seu estado, sem sucesso. Então, em 2014, ele teve a oportunidade de levá-la para Fortaleza e finalmente iniciar os estudos.

Peixe do Nilo

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A tilápia, ou peixe do rio Nilo, chegou ao Brasil em 1971, no Ceará, e rapidamente se disseminou pelos outros estados e países vizinhos. “A tilápia é produzida em cativeiro e temos inúmeras pisciculturas no nordeste, principalmente na Bahia, em Pernambuco e no Ceará”, conta Maciel, que, junto de sua equipe, estudou a piscicultura do peixe.

Na primeira etapa do estudo, entre fases de laboratório e testes em animais, a análise da pele revelou que a tilápia contém uma grande quantidade de colágeno tipo 1 – duas vezes superior ao da pele humana – acelerando o processo de cicatrização. Além disso, a pele tem alto grau de resistência à quebra e elevado grau de umidade, características ideais para um curativo.

Outra vantagem é que os animais aquáticos têm menor risco de transmissão de doenças que os terrestres, comumente utilizados em outros países, como nos Estados Unidos e Europa. “A pele de animal mais usada é a pele de porco. O Brasil nunca teve uma pele animal registrada pela Anvisa, nem disponibilizada no Ministério da Saúde para tratamento. O Brasil está atrasado no tratamento local com pele quase 50 anos”, salienta Maciel.

Toda a pesquisa foi desenvolvida no Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento em Medicamentos (NPDM), da Universidade Federal do Ceará, sob a coordenação do pesquisador Odorico Moraes, financiada por um convênio entre o Instituto de Apoio ao Queimado, organização não governamental, e pela Enel, empresa distribuidora de energia elétrica no Ceará.

Queimaduras

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De acordo com o Ministério da Saúde, um milhão de pessoas sofrem queimaduras por ano no Brasil e a maior parte delas é de baixa renda. Entre os principais acidentes estão os ‘escaldamentos’ – feridas causadas pelo contato com líquidos ou vapores quentes – muitas vezes relacionado a acidentes de trabalho e à violência doméstica. No entanto, em todo o país há apenas 46 centros especializados.

De acordo com as diretrizes da Organização Mundial de Saúde (OMS), é recomendado um banco de pele para cada município com mais de 500.000 habitantes, mas não é o que acontece. Existem apenas quatro unidades: São Paulo, Porto Alegre, Curitiba e Recife, que atualmente se encontra desativado.

“Está fechado há três anos. Os outros três que ficam em Porto Alegre, São Paulo e Curitiba suprem apenas 1% da necessidade. Não temos pele para tratar queimados”, conta Edmar Maciel. Como em todo tipo de doação, a falta de informação, ainda é o principal problema quando se trata das doações de pele homóloga – ou seja, pele humana.

Para Carramaschi, cirurgião plástico do Hospital Albert Einstein, em São Paulo, a linha da tilápia é muito bacana e poderia ser “uma alternativa, uma forma barata de produzir algo que não dependa de um banco de doações”.

Registro na Anvisa

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Em 2016, a pesquisa foi premiada no Congresso Brasileiro de Queimaduras, na Bahia, e no Congresso Brasileiro de Cirurgia Plástica, em Fortaleza, pelo seu pioneirismo e criatividade. O prefeito de Fortaleza na época, Roberto Cláudio, visitou o centro de queimados com o objetivo de conhecer os resultados da pesquisa. Sua impressão com os resultados obtidos, o fez retornar em janeiro deste ano acompanhado do governador do Ceará, Camilo Santana, e do Ministro da Saúde, Ricardo Barros.

Em abril deste ano, começará a última etapa do estudo, segundo Maciel, para registro do tratamento, conforme exigência da Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa). A pele de tilápia será testada em 120 pacientes, incluindo crianças – que, de acordo com dados do Ministério da Saúde, representam quase metade das ocorrências de acidentes por queimaduras. “Em maio, realizaremos o primeiro estudo multicêntrico – em outros locais –, que serão em outros três hospitais de Goiás, sob coordenação do médico Nelson Piccolo”, conta Maciel.

 

Curativo de pele de tilápia é usado em 30 pacientes queimados no Ceará

 

11/11/2016, por Verônica Prado - Curativo biológico tem vantagens em relação ao tratamento usual. Pesquisa inédita é desenvolvida em hospital e universidade desde 2014. Trinta pacientes do Centro de Queimados do Instituto Dr. José Frota (IJF), em Fortaleza, recebem tratamento inédito: um curativo biológico desenvolvido a partir da pele do peixe tilápia como alternativa no tratamento de lesões das queimaduras. O estudo, desenvolvido por pesquisadores do Ceará, Pernambuco e Goiás, oferece inúmeras vantagens frente ao tratamento tradicional, de acordo com o cirurgião plástico coordenador da pesquisa, Edmar Maciel.

"Na rede pública do Brasil, o tratamento de queimaduras é feito com uma pomada ou creme a base de sulfadiazina de prata, que é um antimicrobiano. Essa pomada só age por 24 horas e a cada 24 horas tem que ser removida, num processo de limpeza da área com sabão apropriado e um curativo. Isso causa dor ao paciente que tem de tomar anestesia ou analgésicos, interferindo no processo de cicatrização", explica o médico.

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"O que a pele faz, e isso não é específico da pele da pele da tilápia - outras peles como a humana, como a pele do cão, do porco - é aderir ao leito da ferida. Grudando, faz um tamponamento do leito e, com isso, evita a contaminação de fora para dentro da ferida. Isso evita que o paciente perca líquidos (plasma e proteína) e, com isso, não espolie o paciente. Aí sim, diminui a troca de curativos, a dor e o trabalho da equipe - que não tem que fazer limpeza e curativos diariamente - e, consequentemente, os custos do tratamento", ressalta.

Segundo o médico, na Europa e Estados Unidos o tratamento de queimados já é feito com pele homóloga (humana) ou heteróloga (animal). Mas o desenvolvimento de um curativo biológico com base em animais aquáticos é inédito no mundo e já se encontra na segunda fase clínica, com testes em seres humanos, no tratamento de pacientes do Núcleo de Queimados do IJF. A pesquisa vem sendo realizada há mais de dois anos, no Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento de Medicamentos (NPDM) da Universidade Federal do Ceará (UFC).

De acordo com os pesquisadores, logo nas primeiras etapas do estudo, a utilização clínica do pele da tilápia mostrou-se promissora, tendo em vista as semelhanças do material com a pele humana, como grau de umidade, alta qualidade de colágeno e resistência. Testes em animais terrestres também descartaram possíveis riscos de contaminação com a nova técnica.

Anvisa

Foram onze etapas até a pesquisa ser apresentada à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), do Ministério da Saúde, em dezembro de 2015. A primeira etapa clínica da pesquisa, iniciada em humanos sadios para estudar se a pele de tilápia causava alergia ou sensibilidade, teve excelentes resultados, segudo os pesquisadores. Após aprovação do Comitê de Ética e Pesquisa da Anvisa, o estudo em humanos queimados foi iniciado no IJF no segundo semestre deste ano. Dos trinta pacientes com queimaduras de 2º grau que aceitaram receber o novo tratamento, 23 já tiveram alta hospitalar. Até o final de 2016, outros 30 deverão ser submetidos ao tratamento com o curativo biológico.

Fonte: http://veja.abril.com.br
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           http://g1.globo.com