Inovações e Descobertas

Os argumentos contra as usinas nucleares no Brasil - Parte 1

energia_nuclear_nao5Por Heitor Scalambrini Costa (em 13/03/2011) - Os atuais padrões de produção e consumo de energia estão apoiados nas fontes fósseis (petróleo, gás natural e carvão mineral), o que gera emissões de poluentes locais, gases de efeito estufa e põem em risco o suprimento a longo prazo do planeta, por serem finitas.

É preciso mudar esses padrões, incentivar a economia de energia e estimular o uso das energias renováveis (solar, eólica e biomassa). Nesse sentido, o Brasil apresenta uma condição bastante favorável em relação ao resto do mundo. Não existe uma fonte de energia que só tenha vantagens. Não há energia sem controvérsia, mas a nuclear, pelo poder destruidor que tem qualquer vazamento de radiação, não deve ser utilizada para produzir eletricidade, ao menos em nosso país, onde existem tantas outras opções. Fica evidenciado que, desde 2005, a indústria nuclear intensificou seu agressivo lobby em diversos países da região, com forte influência nos setores legislativos e da política energética, tentando impor a implantação de usinas, sob o falso argumento de que a energia nuclear é uma fonte “limpa”, segura e contribui para combater o aquecimento global.

Com a retomada discutível e equivocada do Programa Nuclear Brasileiro, reiniciando as obras de construção de Angra 3, e os planos do Ministério de Minas e Energia de instalar no Nordeste usinas nucleares – a região do Brasil com maior potencial eólico e solar -, nada mais atual que discutir as razões contrárias a instalação de usinas nucleares no território nacional.

A opção nuclear para geração de energia elétrica no Brasil e no Nordeste, em particular, não permite resolver os atuais problemas energéticos, e contribuirá para com outros problemas sem solução à vista.

A seguir são apresentadas, sucintamente, as razões para rejeitar as usinas nucleares, vistas sob os seguintes aspectos:

- segurança energética,
- econômico,
- ambiental,
- social,
- riscos,
- proliferação e militarização nuclear,
- sustentabilidade energética,
- democracia.


Segurança energética

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A segurança energética é um fator prioritário para o país e aumentará com a diversificação da matriz energética. Do ponto de vista da produção de energia, segundo a Empresa de Planejamento Energético-EPE, o país tem folga no abastecimento, podendo suprir as necessidades de energia elétrica, com as atuais taxas previstas de crescimento, por mais 5 anos. Portanto é puro oportunismo, criar uma relação direta entre os atuais apagões, que tem ocorrido freqüentemente no país todo, com a necessidade da instalação de usinas nucleares para evitá-los. Como que se os atuais apagões fossem decorrentes do desabastecimento, e novamente repetiríamos 2001/2002. Os defensores desta tecnologia associam enganosamente a instalação das novas usinas nucleares como solução aos apagões, que são ocorrências recorrentes do próprio modelo mercantilista empregado no país.

O fundamento principal para a construção de novas usinas de geração é de que existe uma previsão de crescimento da economia (sem que se questione a natureza do crescimento) e de que, em função disso, há necessidade de se ofertar mais energia para atender a esta demanda, construindo novas usinas.

Projeções do consumo futuro de energia dependem do tipo de desenvolvimento e crescimento econômico que o país terá. Existem vários questionamentos sobre os cálculos oficiais que apontam para taxas extremamente elevadas de expansão do parque elétrico brasileiro para atender a uma pretensa demanda. O que essa previsão esconde é o fato de praticamente 30% da energia elétrica ofertada pelo país é consumida por seis setores industriais: cimento, siderurgia, produção de alumínio, química, o ramo da metalurgia que trabalha com ferro e papel/celulose – 30% somente para seis setores. São exatamente eles que puxam o consumo da energia elétrica para cima, os chamados setores eletro-intensivos. Precisamos urgentemente discutir: energia para que? E para quem?

Temos de fugir dessa idéia míope de discutir qual a melhor fonte. A melhor fonte de energia é aquela que não é consumida. Não consumir energia significa ter uma política de aumento da eficiência energética, situação da qual estamos muito longe ainda. Os resultados oficiais apresentados nesta área são pífios.

No Brasil, o consumo de energia per capita ainda é pequeno e é indispensável que o consumo de energia cresça para promover o desenvolvimento sustentável. No entanto, nada impede que o uso de tecnologias modernas e eficientes sejam introduzidas logo no início do processo de desenvolvimento sustentável, acelerando com isso o uso de tecnologias eficientes (aquecimento solar da água, eletricidade solar, geradores eólicos, geração distribuída,…). Contrapondo assim ao pensamento de que, para haver desenvolvimento, é preciso que ocorram impactos ambientais, devido a geração, transporte e uso da energia.

A conservação de eletricidade reduz o consumo e posterga a necessidade de investimentos em expansão da capacidade instalada, sem comprometer a qualidade dos serviços prestados aos usuários finais. A eficiência energética é, sem dúvida, a maneira mais efetiva de ao mesmo tempo reduzir os custos e os impactos ambientais locais e globais, suportando assim, conjuntamente com as fontes solar, eólica e biomassa; a segurança energética do país.


Aspectos econômicos

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Do ponto de vista econômico, o custo de uma central nuclear é enorme, da ordem de R$ 10 bilhões. Geralmente este valor está aquém dos valores finais da obra. Nas planilhas de custos é subestimado (até não levado em conta) os custos de armazenamento dos resíduos, da desmontagem da central após sua vida útil e limpeza de locais contaminados, o reforço da linha elétrica para distribuição, e os serviços de fiscalização e segurança, entre outros. O chamado descomissionamento, representa o custo de desmontagem definitiva e descontaminação das instalações das usinas nucleares após o encerramento das suas operações. É preciso que se tenham garantias absolutas de que esse trabalho será levado a cabo com seriedade, e que as instalações e resíduos das usinas não serão simplesmente abandonados contaminados após o seu fechamento.

Como exemplo do que estamos falando, centrais nucleares que estão sendo planejadas atualmente na Finlândia, já estão custando o dobro do estimado antes do começo da obra. Já nos Estados Unidos, as usinas implantadas entre 1966 e 1986 tiveram, em média, custos 200% acima do previsto.

A história do nuclear mostra que esta sempre foi e continua a ser, mesmo com a nova geração de reatores, uma indústria altamente dependente de subsídios públicos. Isto significa que quem vai pagar a conta da imensa irresponsabilidade de se implantar estas usinas em nosso país, será a população de maneira geral, e em particular os consumidores, que pagarão tarifas cada vez mais caras.

Desde 2005, um dos mais conceituados centros tecnológicos do mundo, o Massachusetts Institute of Technology, tem assegurado que a energia nuclear não é competitiva sem subsídios. À mesma conclusão chegaram estudos publicados pelos jornais The New York Times e The Financial Times. Outro estudo ainda, publicado pela National Geographic Brasil (agosto 2005) aponta na mesma direção. E mais recentemente a revista britânica New Scientist listou argumentos que desfavorecem a energia nuclear: não sobrevive sem subsídios, os custos para pesquisa e desenvolvimento são altíssimos e também são insuportáveis os custos da disposição do lixo nuclear e do descomissionamento dos reatores, assim como a segurança nas usinas.

Para os brasileiros o maior impacto da instalação de usinas nucleares será nas tarifas. De 2001 a 2010, o aumento acumulado das tarifas de energia chegou a 186%, enquanto no mesmo período o IPCA (índice oficial de inflação do governo) acumulou 86%, segundo a Associação Brasileira dos Grandes Consumidores de Energia Elétrica (Abrace). E projeta que até 2014, o preço da energia subirá mais de 30%. Pagamos uma das mais altas tarifas do mundo, e com tendência de aumento. Sem nenhuma dúvida pode-se afirmar que o uso da eletricidade nuclear irá contribuir ainda mais para a elevação das tarifas de energia elétrica no Brasil.

Para aqueles que afirmam que o Brasil deve manter-se aberto para todas as possibilidades de aproveitamento na geração e oferta de energia elétrica, a médio e longo prazo, o desvio de recursos públicos para a opção nuclear será um verdadeiro obstáculo ao estabelecimento de políticas de incentivo e promoção de energias renováveis no país. O incentivo garantido às usinas nucleares deveria ser direcionado a outras fontes de geração de energia, muito mais seguras e limpas, como a eólica, solar e a biomassa.

O governo brasileiro mostra mais uma vez que está disposto a bancar a construção de grandes empreendimentos contraditórios e de resultados duvidosos, contrariando interesses divergentes que não tem sido considerado e nem incorporado no processo de negociação e decisão.

No caso de Angra III a estimativa de custos da obra, que era de R$ 7,2 bilhões em 2008, pulou para R$ 10,4 bilhões até o final de 2010, de acordo com a Eletronuclear. Isso sem contar os R$ 1,5 bilhão já empregado na construção e os US$ 20 milhões gastos anualmente para a manutenção dos equipamentos adquiridos há mais de 20 anos. Desde 2008, o custo de instalação por kW de Angra 3 subiu 44%, de R$ 5.330/kW para R$ 7.700/kW. Os gastos em usinas nucleares são um sumidouro de recursos públicos, e quem pagará por esta insanidade será o povo brasileiro.

PARTE 2