Imagine um cenário onde o planeta Terra é como uma festa exclusiva, mas o convite só foi enviado para poucos. É assim que cientistas veem a relação entre o estilo de vida dos países ricos e os recursos naturais do planeta. Se todos adotassem o mesmo modelo de desenvolvimento dos países do chamado "Primeiro Mundo", seria como se precisássemos de quatro Terras para dar conta de tudo. O problema? Temos só uma. E o que isso significa?
Os países mais poderosos estão se alimentando dos recursos dos mais vulneráveis, enquanto estes parecem não se importar, conformados com o papel que lhes foi atribuído. Por que não há revolta? Seria uma falta de vontade ou de consciência? Na verdade, a maioria das pessoas mal percebe que estão presas a uma narrativa cuidadosamente arquitetada. Somos bombardeados diariamente por uma enxurrada de informações que nos faz acreditar que o consumismo desenfreado é o caminho certo. Não importa se você nasceu em uma comunidade com poucas oportunidades – segundo esse discurso, se trabalhar duro, fizer algumas dívidas, pagar as prestações religiosamente, você também poderá atingir o tão sonhado patamar de vida dos ricos e famosos.
O que pouca gente percebe é que essa promessa de sucesso tem um preço. Não é por acaso que, enquanto muitos trabalham incessantemente para alcançar esse padrão de vida, um pequeno grupo enriquece ainda mais. A desigualdade, que tantos dizem combater, é, na verdade, a base que sustenta esse sistema. Como Gandhi sabiamente apontou, há recursos suficientes para todos, mas não para a ganância de poucos. E essa mesma ganância continua a alimentar um ciclo de injustiça que impede que a verdadeira paz e igualdade floresçam.
Somos ensinados desde cedo a consumir. Desde o momento em que damos nossos primeiros passos, somos cercados por um turbilhão de estímulos que nos empurram para o consumo incessante. Em vez de questionarmos esse modelo, o adotamos como um objetivo de vida. Queremos o que os ricos têm, seguimos o que a mídia nos dita e desejamos desesperadamente fazer parte desse clube exclusivo de consumidores privilegiados.
Os shoppings, com seus ares condicionados e vitrines brilhantes, são os novos templos modernos. Lá, adoramos o deus Mercado, que nos promete felicidade em troca do cartão de crédito. E o que ele nos entrega? Novos desejos, novas necessidades, coisas que nem sabíamos que precisávamos até que, ao sairmos da loja, percebemos que já ficaram obsoletas. O consumismo se tornou uma corrida interminável, na qual somos incansavelmente motivados a acumular bens materiais, como se isso fosse a chave para a felicidade.
Mas a verdade é que fomos enganados. A posse de bens não nos traz a felicidade que tanto buscamos. Na realidade, estamos nos medindo não pelo que somos, mas pelo que temos. O marketing nos convence de que merecemos tudo o que desejamos, mesmo que não precisemos. O limite natural seria a falta de dinheiro, mas com o crédito fácil e prestações infinitas, isso se torna apenas um obstáculo temporário. Acabamos presos em um ciclo de endividamento que nos escraviza. Trabalhamos cada vez mais, sacrificando nosso tempo e nossa saúde, apenas para pagar essas dívidas e adquirir mais "coisas" que muitas vezes não são nem necessárias.
No meio dessa correria, o tempo – que deveria ser nosso bem mais precioso – escorre por entre os dedos. Dedicamos a maior parte dele ao trabalho, enquanto mal sobra tempo para nós mesmos ou para aqueles que amamos. A vida vai passando, e estamos tão ocupados que nem percebemos o quanto estamos perdendo. O lazer, a arte, o esporte, as amizades, tudo isso é deixado de lado em nome do trabalho. Nossos dias se transformaram em uma corrida interminável atrás de metas inalcançáveis, e as pessoas estão cada vez mais solitárias, tentando preencher o vazio com ainda mais consumo.
E enquanto alguns perdem sua liberdade, outros perdem a vida. O desemprego, uma das maiores tragédias dessa sociedade de consumo, é um dos principais motivos de suicídio. Quem não consegue ganhar dinheiro se sente como um peso, desvalorizado. E o que é pior, mesmo aqueles que têm tudo – riqueza, posses, status – descobrem que a tão prometida felicidade não vem com o pacote. A depressão e a solidão afetam todos, independentemente do saldo bancário. E nesse cenário, a própria vida humana perde valor. Afinal, só o que tem preço interessa.
A verdade é que vivemos em uma sociedade doente. Um lugar onde jovens de classe alta, que têm todas as oportunidades à disposição, não conseguem enxergar o erro em queimar mendigos, agredir prostitutas ou matar seus próprios pais por dinheiro. Esses comportamentos chocantes são apenas o sintoma de um problema maior: uma sociedade que não quer reconhecer sua doença, que está tão imersa no consumo que nem vê o que está acontecendo ao seu redor.
O papel de educar as crianças, que deveria ser dos pais, foi terceirizado para professores, empregadas domésticas e, mais recentemente, para a televisão e os videogames. Muitos pais compensam a ausência com presentes e dinheiro, acreditando que isso resolverá o problema. Mas o que acontece é o oposto: crianças estão crescendo com valores distorcidos, acreditando que o consumo é a resposta para todos os problemas.
E assim seguimos, cada vez mais presos a um modelo de consumo inalcançável, que só serve para manter os pobres mais pobres e os ricos mais ricos. Trabalharemos a vida inteira, sem descanso, para sustentar esse ciclo, enquanto o planeta se esgota e nossas relações pessoais se destroem. O que restará quando tudo estiver consumido? Talvez, quando olharmos ao redor e não vermos mais nada, seja tarde demais para perceber que a verdadeira riqueza não estava nas coisas que acumulamos, mas nas conexões que perdemos.
REFERENCIAS: youtube, wikipédia, el pais, g1, vida cotidiana