Por que a Indústria Farmacêutica Quer que Você Acredite que Está Doente

Por que a Indústria Farmacêutica Quer que Você Acredite que Está Doente

Já parou pra pensar como a gente vive rodeado de soluções milagrosas pra problemas que nem sabíamos que tínhamos? Parece até coisa de filme de conspiração, mas não é bem isso. Há cerca de três décadas, Henry Gadsden, então diretor da gigante farmacêutica Merck, revelou à revista Fortune um desejo que soava até inusitado: ele queria que sua empresa fosse como a Wrigley, a famosa marca de chicletes. Mas a lógica dele era simples — se pudesse vender medicamentos pra pessoas saudáveis, as vendas seriam infinitas! Um mercado sem fim. Louco, né?

Hoje, o que era um sonho distante de Gadsden virou a realidade do nosso cotidiano. As maiores empresas farmacêuticas do mundo miram direto nas pessoas que, supostamente, estão bem. Qualquer desconforto, qualquer incômodo mínimo do dia a dia, é rapidamente rotulado como uma "síndrome". E, claro, exige tratamento — um tratamento caríssimo.

A Fórmula do Lucro: Criação de Síndromes

Dores de cabeça? Síndrome de tensão. Estresse no trabalho? Transtorno de ansiedade. Timidez? Transtorno de ansiedade social. E por aí vai. Parece até que estamos em um filme de ficção científica onde cada comportamento humano comum se transforma em uma doença nova. E sabe o que é mais curioso? A indústria farmacêutica não esconde isso. Pelo contrário, ela investe pesado para que aceitemos que esses "problemas" fazem parte de quem somos. É assim que transformam vidas saudáveis em um ciclo sem fim de consultas médicas e prescrições.

Nos EUA, o coração desse sistema, a indústria movimenta cifras astronômicas — quase 50% do mercado mundial de medicamentos. As despesas com saúde disparam enquanto novas doenças "nascem" das pranchetas de marketing. Vince Parry, um gênio do marketing, explicou numa matéria como eles redefinem doenças ou até criam condições do zero. Ele cita como exemplos a disfunção erétil e a síndrome disfórica pré-menstrual — esta última, segundo alguns pesquisadores, nem sequer existe!

Médicos ou Marqueteiros?

O que mais choca é como os próprios médicos acabam envolvidos nessa roda. Empresas como a de Parry reúnem especialistas para discutir novas ideias de doenças e, assim, criar um "novo jeito de pensar" sobre o que é saúde. Essa mentalidade gera uma explosão de prescrições, onde remédios como Prozac e Viagra não só tratam doenças reais, mas moldam a percepção pública de saúde. O remédio, antes uma necessidade, agora vira um produto de prateleira.

Mas calma, isso não significa que todos os médicos estão agindo de má-fé. Muitas vezes, eles são apenas parte de um sistema gigantesco e lucrativo, onde a definição do que é "normal" muda de acordo com os interesses da indústria. De acordo com um relatório de Business Insight, essa capacidade de "criar novos mercados" representa bilhões em vendas. Ou seja, quanto mais doenças se criarem, mais dinheiro entra no caixa.

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A Linha Tênue Entre Saúde e Doença

Sabe aquela sensação de que estamos todos doentes? Pois é, essa é a mágica do marketing farmacêutico. Aumentar o campo de definição do que é patologia garante que mais gente se sinta doente e, por consequência, precise de tratamento. E com isso, as vendas de pílulas e cápsulas disparam. Nos EUA, 90% dos idosos são diagnosticados com hipertensão arterial. Metade das mulheres americanas, com "disfunção sexual feminina". Mais de 40 milhões de pessoas têm o colesterol considerado alto.

Claro, todo esse cenário é alimentado pelo medo. E nada vende mais do que o medo. A mídia, sedenta por manchetes, faz seu papel. Afinal, dizer que algo é "grave, mas tratável" gera audiência. E, no fim, o remédio vira a salvação.

A Pílula Amarga: Quando o Tratamento Piora a Doença

Aqui entra o grande paradoxo: muitos dos medicamentos que deveriam ser soluções acabam criando novos problemas. Os famosos tratamentos de reposição hormonal, por exemplo, aumentam o risco de ataques cardíacos em mulheres. Antidepressivos podem amplificar os pensamentos suicidas entre jovens. Um remédio amplamente usado para reduzir o colesterol chegou a ser retirado do mercado após causar mortes. Isso sem contar os casos mais bizarros, como o de um medicamento para tratar problemas intestinais que acabou constipando pacientes até a morte.

E o que dizer das agências reguladoras? Muitas vezes, elas parecem mais interessadas em proteger os lucros das farmacêuticas do que a saúde pública. Essa é a ironia de um sistema onde o que deveria curar pode, na verdade, ser o maior perigo.

O Medo Como Produto

No final dos anos 1990, a regulamentação das propagandas de medicamentos foi flexibilizada nos EUA, permitindo que o marketing farmacêutico atingisse um novo nível. A partir daí, a publicidade de remédios se tornou onipresente, bombardeando o público com uma média de 10 ou mais anúncios por dia. Agora, o lobby farmacêutico busca implementar essa desregulamentação em outras partes do mundo.

Esse bombardeio de informação cria uma cultura doente, onde cada sensação desconfortável vira um motivo de preocupação e, claro, de tratamento. Como dizia Ivan Illich, um pensador crítico do sistema médico, estamos vivendo a "medicalização da vida". Isso mina nossa capacidade de lidar com a realidade do sofrimento, da morte e do simples fato de que não somos máquinas perfeitas.

Conclusão: Quem Ganha com Isso?

O jogo é claro: quanto mais alienados nos sentimos, mais consumimos. A indústria farmacêutica se aproveita das fragilidades humanas, da busca pela perfeição e do medo da doença para vender cada vez mais. No entanto, a solução não está em tomar mais remédios, mas em questionar esse sistema que nos faz acreditar que a saúde é algo que podemos comprar em uma prateleira.

REFERENCIAS: youtube, wikipédia, big pharma, realidades fantásticas, e se?