Por Que o Sistema de Saúde Americano Custa Tão Caro e Não Funciona?

Por Que o Sistema de Saúde Americano Custa Tão Caro e Não Funciona?

Recentemente, o New York Times publicou um obituário dedicado ao Dr. Howard Hiatt, um nome que talvez você ainda não conheça, mas que lutou incansavelmente contra as desigualdades nos cuidados de saúde nos EUA. Hiatt era um visionário, alguém que enxergava além do caos e da ganância que assolam o sistema de saúde americano. E sabe o que é mais curioso?

Ele começou sua carreira desvendando os mistérios da biologia celular, trabalhando ao lado de vencedores do Prêmio Nobel. Mas, por ironia do destino, sua verdadeira batalha foi fora dos laboratórios.

Em seus 93 anos de vida, Hiatt viu e viveu de tudo. Ele foi reitor da Escola de Saúde Pública de Harvard, escreveu o famoso livro "A saúde da América em equilíbrio: escolha ou oportunidade?" e, há mais de 50 anos, já alertava sobre a necessidade de um sistema de saúde universal. Mas seus alertas, assim como os de muitos reformadores antes e depois dele, foram deixados de lado. Os interesses financeiros falaram mais alto.

A Proposta de Hiatt: Universalidade ou Ganância?

Hiatt defendia algo simples e eficaz: um sistema de saúde gerido pelo governo, inspirado em modelos bem-sucedidos como os da Grã-Bretanha, Canadá e até China. Parece utópico? Talvez. Mas Hiatt acreditava que esse era o caminho para impedir o que ele chamava de “medicina de duas classes”, onde os ricos recebem tratamentos caros e os pobres ficam com o básico — quando têm sorte.

Ele chegou a dar uma entrevista onde soltou a frase que ainda ecoa hoje: "É o dinheiro que impulsiona o sistema, não o bem-estar das pessoas." Triste, mas verdadeiro, não é? E mesmo após tantas décadas, parece que pouca coisa mudou. Enquanto isso, o sistema de saúde americano se tornou um dos mais caros do mundo, e paradoxalmente, com resultados bem abaixo da média quando comparado a outros países desenvolvidos.

Dinheiro em Primeiro Lugar: O Lado Sombrio da Saúde

Se a luta de Hiatt foi árdua, é porque o sistema que ele tentou mudar é enraizado na ganância. Só para ter uma ideia, os gastos com saúde nos EUA chegaram a impressionantes US$ 4,5 trilhões em 2022, uma média de quase US$ 13.500 por pessoa. Para efeitos de comparação, o custo por pessoa em outros países desenvolvidos é menos da metade disso — e, veja só, muitos desses países têm resultados de saúde muito melhores.

Agora, prepare-se: em 1962, os custos com saúde representavam apenas 5% do Produto Nacional Bruto dos EUA. Em 2022? Bateram 17%. E é só ladeira abaixo. Alguns economistas chegam a dizer que o aumento dos custos de saúde é um dos principais vilões da inflação no país.

Dr. Howard Hiatt

Mas onde está o problema, afinal? Não é apenas a tecnologia de ponta, os procedimentos inovadores ou os remédios caros. O verdadeiro vilão são as seguradoras privadas. Elas não só embolsam uma fatia generosa dos custos de saúde, como também trabalham para manter o status quo. Uma investigação recente do New York Times revelou o impacto de ferramentas como o Data iSight, financiado por capital privado, que ajudou seguradoras a cortar reembolsos e, adivinhe, transferir custos para os pacientes. Isso mesmo: a conta, no final, é nossa.

Hiatt e a Luta que Continua

Ainda que as reformas do governo Obama, com a Lei de Cuidados Acessíveis, tenham sido um passo na direção certa, elas ainda estão longe do ideal que Hiatt sonhava. O sistema atual deixa milhões de pessoas desamparadas. O senador Bernie Sanders quase chegou lá com o plano "Medicare-for-All", uma tentativa de expandir o Medicare para toda a população. Mas, como você já deve imaginar, o projeto está paralisado no Congresso.

Enquanto isso, as seguradoras continuam a lucrar. E o que é mais assustador: elas encontram maneiras de aumentar ainda mais seus ganhos, muitas vezes com ferramentas tecnológicas avançadas que, em vez de beneficiar o paciente, o deixam com a conta. Um exemplo disso é o MultiPlan, uma ferramenta que limita reembolsos fora da rede e joga a bomba nas mãos do paciente. É praticamente um esquema arquitetado para extrair o máximo possível da população, sem qualquer pudor.

O Legado de Hiatt: Uma Solução Simples, Ignorada por Décadas

Hiatt, ao longo de sua vida, viu seu sonho de um sistema universal ser atropelado pela ganância corporativa. E o pior é que ele nos avisou. Hiatt sabia que o verdadeiro remédio para o sistema de saúde americano era simples: um sistema universal, que tratasse todos com dignidade e acessibilidade. Um sistema onde a vida humana viesse antes do lucro.

No final das contas, a história de Hiatt é a história de alguém que lutou contra um gigante — o gigante da ganância. Ele foi um dos primeiros a perceber que a saúde não deveria ser um privilégio, mas um direito. E sua luta, embora ignorada por tantos anos, continua mais relevante do que nunca.

Fonte: https://captimes.com/