As megacorporações estão jogando pesado para dominar os mercados. (2023) E isso não é uma conspiração de teoria barata — estamos falando de manipulação de preços com um impacto direto no seu bolso. Em vez de competirem entre si, essas gigantes têm um jeito sutil, mas mortal, de cortar a concorrência e coordenar seus movimentos para engordar os lucros. O consumidor? Esse paga o pato, com preços cada vez mais salgados, e acaba sustentando uma engrenagem bem azeitada que, muitas vezes, age à margem das leis.
O que o último relatório do Good Jobs First nos revela é de cair o queixo. Desde 2000, as corporações nos Estados Unidos desembolsaram quase 100 bilhões de dólares em multas e acordos judiciais. Esse valor estrondoso está atrelado a acusações de práticas anticompetitivas, como fixação de preços e outras manobras ilegais que ferem as leis de mercado e fazem as classes trabalhadoras arcar com o peso desse conluio de luxo.
O sistema, em teoria, deveria funcionar com a velha e boa lei da oferta e demanda. É a competição que, supostamente, dita os preços e garante que o consumidor escolha a melhor opção. Mas o relatório dá um puxão de orelha nessa teoria: os gigantes do mercado, ao invés de se enfrentarem no campo de batalha dos preços, estão frequentemente conspirando para manter o lucro lá em cima e os concorrentes bem longe. Essa conspiração abrange uma vasta gama de setores — de produtos do dia a dia, como alimentos e peças de automóveis, até os insumos mais complexos, como componentes eletrônicos e produtos químicos.
Indústrias como a financeira e farmacêutica, por exemplo, estão completamente mergulhadas nessas práticas. Bancos e empresas de cartões de crédito lideram o ranking das mais penalizadas. Entre elas, estão pesos-pesados como Visa, Deutsche Bank, Barclays e MasterCard, todas pagando multas bilionárias por ações anticompetitivas. Já o setor farmacêutico não fica atrás: algumas marcas de remédios estão envolvidas em esquemas para retardar a entrada de medicamentos genéricos, mantendo os preços dos produtos controlados artificialmente e longe do alcance das classes mais vulneráveis.
O relatório do Good Jobs First, liderado pelo diretor de pesquisa Philip Mattera, levanta uma questão crucial: enquanto deveriam estar competindo, grandes corporações muitas vezes se unem para manipular os preços. Isso, além de onerar os consumidores, é um combustível que alimenta a inflação.
Essas práticas de conluio não se limitam aos produtos — os trabalhadores também são afetados. Casos de fixação de salários são recorrentes, especialmente em setores como o processamento de alimentos, onde empregadores teriam entrado em acordo para definir um limite aos salários e impedir que trabalhadores migrassem de uma empresa para outra. Essa prática, que em nada difere de uma amarra invisível, acaba restringindo a mobilidade dos trabalhadores e achatando seus salários.
E se você acha que essas práticas anticompetitivas são um problema recente, fruto das últimas crises globais, está enganado. Desde a pandemia de COVID-19 até a crise de suprimentos desencadeada pela guerra na Ucrânia, as empresas não perderam tempo. Aumentaram os preços com uma justificativa vaga, muitas vezes desproporcional ao real aumento dos custos. A situação escancarou a fragilidade do sistema globalizado, que em vez de proteger o consumidor, acaba entregando o poder de preço para uns poucos privilegiados.
Nos Estados Unidos, alguns progressistas pressionam a administração Biden e o Congresso para endurecer a fiscalização das leis antitruste. As propostas vão desde impostos sobre lucros excessivos até controles temporários de preços. A ideia é evitar que o fardo da manipulação de preços caia exclusivamente sobre os consumidores e impedir que o monopólio se espalhe em uma economia que, em tese, deveria ser para todos.
Como conclui o relatório: quanto menos competição, mais fácil é para as empresas conspirarem. Quando o mercado é dominado por um punhado de empresas, os preços sobem, a desigualdade social aumenta e, pior, a democracia se enfraquece. Mexer nessa estrutura é mais do que uma questão econômica; é um passo em direção a uma sociedade mais justa e acessível para todos.