Apple e Google na Mira: Mortes em Minas de Cobalto

Apple e Google na Mira: Mortes em Minas de Cobalto

Imagine que o brilho de seu smartphone ou o conforto de seu carro elétrico pode esconder uma história sombria de dor, exploração e desigualdade. Pois é exatamente isso que um processo legal histórico, movido em 2019 nos Estados Unidos, está tentando expor. Gigantes da tecnologia como Apple, Google, Dell, Microsoft e Tesla foram acusadas de se beneficiarem de condições de trabalho desumanas na mineração de cobalto, um mineral essencial para baterias recarregáveis.

O Cenário Sombrio do Cobalto na RDC

A República Democrática do Congo (RDC), rica em recursos naturais, é também uma das regiões mais pobres e instáveis do mundo. Mais de 60% do cobalto mundial é extraído lá, muitas vezes em condições que desafiam qualquer conceito de dignidade humana. O mineral, indispensável para a eletrônica moderna, é frequentemente escavado por crianças, em túneis apertados e perigosos, usando ferramentas rudimentares. Em troca, recebem menos de US$ 2 por dia.

Para algumas famílias, a necessidade é tão extrema que o risco parece ser a única opção. Histórias como a de Jane Doe 1, que perdeu o sobrinho em um desabamento enquanto ele cavava à procura de cobalto, ou de John Doe 1, que ficou paralisado após um acidente semelhante, colocam uma face humana na tragédia.

As Acusações Contra as Empresas

O processo, liderado pela organização International Rights Advocates, alega que essas empresas não só sabiam das práticas abusivas em suas cadeias de suprimentos, mas também lucraram com elas. Documentos judiciais apontam que Apple, Google, Dell, Microsoft e Tesla trabalharam com fornecedores como a britânica Glencore e a chinesa Huayou Cobalt, cujas operações estão associadas ao uso de mão de obra infantil em condições arriscadas.

Uma das acusações mais graves é que essas empresas poderiam, mas não agiram para prevenir o trabalho forçado de crianças em minas. E o impacto disso é devastador. Famílias relatam a morte ou a invalidez de seus filhos sem qualquer compensação ou suporte.

O Que as Empresas Dizem?

As empresas envolvidas negam qualquer envolvimento direto e destacam seus esforços para garantir uma cadeia de suprimentos ética. A Apple, por exemplo, afirmou que lidera o setor em iniciativas de rastreamento de cobalto e que remove fornecedores que não atendem aos seus padrões. A Glencore declarou que não tolera trabalho infantil e que suas operações não envolvem mineração artesanal. Já a Dell e outras empresas também ressaltaram seu compromisso com os direitos humanos e com a investigação de práticas irregulares.

No entanto, para os ativistas e as famílias afetadas, essas palavras soam vazias. Afinal, a realidade nas minas parece estar longe dos relatórios corporativos.

A Demanda por Tecnologia e o Preço Humano

Com a demanda por dispositivos eletrônicos e veículos elétricos disparando, a pressão para extrair cobalto nunca foi tão grande. Nos últimos cinco anos, o consumo global desse mineral triplicou e deve dobrar novamente em um futuro próximo. Mas a que custo?

Cada vez que um smartphone vibra ou um carro elétrico acelera, é difícil não pensar nas mãos pequenas e calejadas que tornam isso possível. Esse processo legal é uma tentativa de dar voz àqueles que, até agora, eram invisíveis na cadeia global de produção.

Reflexão Final: Podemos Fazer Diferente?

A pergunta que fica é: é possível equilibrar avanço tecnológico e responsabilidade social? Talvez a resposta esteja em exigir mais transparência e ética das empresas que dominam o mercado. Afinal, tecnologia é sobre avanço, mas que avanço é esse se custa infâncias perdidas e sonhos destruídos?