Vacinas e Máscaras: Como Alguns Encheram os Bolsos na Crise

Vacinas e Máscaras: Como Alguns Encheram os Bolsos na Crise

Você já parou para pensar em como uma crise global pode ser, ao mesmo tempo, devastadora para milhões de pessoas e incrivelmente lucrativa para poucos? Pois é. Enquanto o mundo inteiro se debatia contra um inimigo invisível — o coronavírus —, alguns setores da economia não apenas sobreviveram à pandemia, como também prosperaram de maneira quase indecente. E ninguém saiu mais fortalecido do que os bilionários da indústria farmacêutica.

Um relatório chocante da ONG Oxfam, intitulado Lucrando com a Dor , trouxe à tona números que fazem qualquer pessoa parar para refletir: enquanto um milhão de pessoas era empurrado para a pobreza extrema a cada 33 horas em 2022, novos bilionários surgiam a cada 30 horas durante a pandemia. Parece até ironia do destino, né? Mas não foi coincidência. Foi estratégia, oportunismo e, claro, muito dinheiro público transformado em fortunas privadas.

A Pandemia dos Bilionários: Como Funciona Esse “Negócio”?

Imagine isso: você está em casa, preocupado com sua saúde, com seus familiares, com as contas que não param de chegar. Enquanto isso, lá no topo da pirâmide, algumas empresas estão lucrando horrores com exatamente aquilo que deveria proteger você: vacinas, testes, máscaras e medicamentos.

Segundo o estudo da Oxfam, a riqueza combinada dos bilionários globais chegou a US$ 12,7 trilhões em 2022, representando nada menos que 13,9% do PIB mundial. Isso mesmo: quase 14% de toda a riqueza gerada no planeta está concentrada nas mãos de apenas 2.668 pessoas. Para piorar, 573 desses bilionários surgiram entre 2020 e 2022 — muitos deles diretamente ligados à indústria farmacêutica.

E aqui vai uma curiosidade: sabe quanto as gigantes farmacêuticas lucram por segundo só com vacinas contra a Covid-19? Mais de US$ 1.000! Sim, você leu certo. Enquanto você lê essa frase, essas empresas já embolsaram milhares de dólares.

Mas calma, tem mais. Muitas dessas vacinas custaram bilhões em subsídios públicos para serem desenvolvidas. Ou seja, foi o seu dinheiro, o meu dinheiro, o dinheiro de todos nós que financiou essas pesquisas. No entanto, quando chegou a hora de distribuir os lucros, eles ficaram guardados nos cofres das corporações e nas contas bancárias de seus CEOs.

Os Novos Magnatas da Saúde Global

Vamos falar de quem são esses caras (e mulheres) que enriqueceram às custas da pandemia. São nomes que talvez você nunca tenha ouvido, mas que agora ocupam lugares de destaque na lista dos mais ricos do mundo.

Stéphane Bancel: O Homem por Trás da Moderna

Com um patrimônio líquido estimado em US$ 4,3 bilhões, Stéphane Bancel, CEO da Moderna, é um dos rostos mais emblemáticos dessa história. Sua empresa recebeu cerca de US$ 10 bilhões do governo dos EUA para desenvolver sua vacina contra a Covid-19. Hoje, a margem de lucro bruta da Moderna é de 70%. Isso significa que, para cada dólar que entra, 70 centavos vão direto para o bolso da empresa.

Mas espere aí: tem algo errado nessa conta, né? Afinal, foi o dinheiro público que bancou boa parte da pesquisa. E agora, quem paga pelo produto final? Nós, novamente.

Uğur Şahin e a Parceria com a Pfizer

Outro nome que merece atenção é Uğur Şahin, CEO da BioNTech, parceira da Pfizer na produção da primeira vacina autorizada pela FDA. Com um patrimônio de US$ 4 bilhões, Şahin é um exemplo clássico de como a ciência pode se tornar um negócio extremamente rentável.

A vacina Pfizer/BioNTech, por exemplo, tem uma margem de lucro bruta estimada em 43%. Em 2021, a Pfizer pagou US$ 8,7 bilhões em dividendos aos seus acionistas. E sabe qual foi a fatia destinada aos países de baixa renda? Quase nada. Apesar de ser a maior vendedora de vacinas no mundo, a Pfizer entregou uma quantidade desproporcionalmente pequena de doses para nações pobres.

Li Jianquan: O Rei das Máscaras

Se tem uma coisa que todo mundo precisou durante a pandemia, foram máscaras. E quem mais lucrou com isso foi Li Jianquan, dono da Winner Medical, com um patrimônio de US$ 6,8 bilhões. Ele construiu seu império vendendo máscaras, macacões e aventais de proteção para profissionais de saúde.

Ou seja, enquanto médicos e enfermeiras arriscavam suas vidas nas linhas de frente, Li Jianquan acumulava fortuna. Não é à toa que o relatório da Oxfam chama esse fenômeno de "lucrar com a dor".

Os Números Que Gritam Por Justiça

Mas vamos além dos nomes e olhar para os números. Segundo a Oxfam, os bilionários da indústria farmacêutica lucraram tanto que poderiam pagar uma taxa temporária de 90% sobre seus ganhos excedentes durante a pandemia sem perder o sono. Essa medida, sugerida pela entidade, ajudaria a mitigar os impactos econômicos da crise e reduzir a desigualdade global.

Por outro lado, a falta de acesso a vacinas e tratamentos em países de baixa renda continua sendo um problema grave. Enquanto nações ricas garantiram doses suficientes para imunizar suas populações várias vezes, muitos países africanos ainda lutam para vacinar sequer 10% de seus habitantes.

E aí vem a pergunta que não quer calar: será que o sistema atual realmente funciona? Ou será que estamos diante de um modelo que prioriza o lucro em detrimento da vida?

O Que Podemos Fazer?

Não dá para negar que a pandemia expôs falhas profundas no sistema econômico global. A concentração de riqueza nas mãos de poucos enquanto milhões sofrem é, no mínimo, antiético.

A Oxfam sugere algumas medidas urgentes:

  1. Tributação de grandes fortunas : Impostos progressivos e taxas temporárias sobre lucros excedentes poderiam redistribuir parte dessa riqueza.
  2. Quebra de patentes : Permitir que vacinas e medicamentos sejam produzidos de forma genérica reduziria drasticamente os custos e aumentaria o acesso global.
  3. Transparência nos subsídios públicos : As empresas que recebem dinheiro dos governos para desenvolver tecnologias devem ser obrigadas a compartilhar os lucros com a sociedade.

Conclusão: A Escolha É Nossa

A pandemia de Covid-19 foi um divisor de águas. Ela mostrou o melhor e o pior da humanidade. De um lado, vimos solidariedade, ciência e esperança. Do outro, ganância, desigualdade e exploração.

Agora, cabe a nós decidir que tipo de mundo queremos construir. Um onde poucos acumulam riquezas enquanto bilhões lutam para sobreviver? Ou um onde a saúde e o bem-estar de todos sejam prioridades reais?

Enquanto isso, os bilionários da indústria farmacêutica continuam contando seus zeros. E nós? Continuamos contando os dias até que a justiça social deixe de ser apenas um sonho distante.

Finalizando com uma Reflexão: Será que um dia veremos um mundo onde o sucesso de uns não depende do sofrimento de outros? Talvez sim, talvez não. Mas uma coisa é certa: enquanto houver vozes dispostas a questionar o status quo, ainda há esperança.