Você já percebeu que, não importa onde você procure notícias — seja no jornal local, na TV ou até mesmo nas redes sociais — tudo parece soar… bem parecido? Pois é, você não está ficando maluco. Existe um nome para isso: "a ilusão da escolha" . Embora tenhamos à disposição uma miríade de fontes de informação, a verdade é que quase 90% do conteúdo que consumimos vem de apenas seis grandes conglomerados midiáticos. E isso tem consequências sérias para nossa democracia.
A Grande Máquina por Trás das Telas
Imagine que, enquanto você navega pela internet, assiste ao seu programa favorito ou lê as últimas notícias, existe um pequeno grupo de executivos — cerca de 232 pessoas — decidindo o que milhões de americanos (e bilhões de pessoas ao redor do mundo) podem ou não saber. Sim, estamos falando de empresas como Comcast , Disney , AT&T , Sony , Fox e Paramount Global . Esses gigantes controlam praticamente tudo o que vemos, lemos e ouvimos.
Mas como chegamos aqui? Bem, essa história começa com um afrouxamento gradual das regulamentações sobre propriedade de mídia nos últimos 40 anos. Um marco importante foi a Lei de Telecomunicações de 1996 , assinada pelo então presidente Bill Clinton. Apesar de soar como algo técnico e inofensivo, essa legislação permitiu que grandes corporações expandissem ainda mais seu controle sobre os meios de comunicação, engolindo pequenas empresas locais e independentes.
E sabe o pior? 72% do público nem sabia que essa lei existia . Quer dizer, ninguém votou nela, ninguém pediu por ela. Ela simplesmente aconteceu, nos bastidores, longe dos olhos atentos dos cidadãos.
O Impacto Silencioso na Democracia
Agora pense: qual é o papel da mídia numa democracia saudável? Deveria ser um contrapeso ao poder, certo? Algo que informasse o público, expusesse corrupção e ajudasse a moldar uma sociedade justa. Mas quando poucas empresas controlam o que todo mundo consome, esse sistema entra em colapso. Em vez de servir aos interesses públicos, a mídia passa a priorizar os interesses corporativos. Isso significa menos cobertura de questões cruciais como mudanças climáticas, desigualdade social e abuso de poder — e muito mais espaço para histórias superficiais, fofocas e entretenimento descartável.
Como disse certa vez o juiz da Suprema Corte Louis D. Brandeis: "Podemos ter democracia neste país, ou podemos ter uma grande riqueza concentrada nas mãos de poucos, mas não podemos ter os dois."
Hoje, temos uma realidade alarmante: mais de 2.000 condados nos EUA (cerca de 63,6%) não possuem um único jornal diário . Nessas áreas chamadas de "desertos de notícias", a ausência de cobertura local resulta em menor participação eleitoral, menos candidatos políticos e, sim, mais corrupção. Sem acesso a informações confiáveis, as pessoas acabam recorrendo às redes sociais, onde fake news e algoritmos tendenciosos ditam o que elas devem pensar.
A Autocensura e os Conflitos de Interesse
Se você acha que a situação já está ruim, prepare-se para o próximo capítulo: conflitos de interesse. Imagine que você trabalha como repórter em um veículo pertencente à Disney (que também é dona da ABC). Agora imagine que você quer investigar práticas trabalhistas questionáveis da própria Disney. Você realmente acha que sua matéria seria publicada? Provavelmente não. Isso porque muitos jornalistas enfrentam pressões sutis — ou nem tão sutis assim — para evitar certos tópicos sensíveis.
Um estudo revelou que mais de 30% dos editores relataram sofrer algum tipo de pressão da alta administração ou do conselho de diretores . E adivinhe só? Quando essas pressões surgem, os jornalistas tendem a adotar uma postura mais complacente, evitando confrontar indivíduos ou organizações conectadas às suas empresas. É o que chamamos de autocensura : você simplesmente decide não tocar em determinado assunto para não arriscar seu emprego.
Outro problema grave são as diretorias interligadas . Por exemplo, membros do conselho de administração do The New York Times também ocupam posições em empresas como McDonald's, Nike e gigantes financeiras. Quando isso acontece, há um risco óbvio de que certas narrativas sejam moldadas para beneficiar essas conexões. Não é à toa que matérias importantes sobre questões ambientais, econômicas ou sociais frequentemente ficam enterradas.
O Que Podemos Fazer?
Reverter décadas de consolidação midiática não será fácil. As leis que permitem esse nível de concentração de poder estão profundamente enraizadas. No entanto, há esperança. Como consumidores de informação, temos o poder de escolher onde obtemos nossas notícias. Optar por veículos independentes e sem fins lucrativos pode fazer toda a diferença. Algumas sugestões incluem:
- Democracy Now!
- FAIR
- The Nation
- Truthout
Essas plataformas, embora menores, costumam oferecer análises mais críticas e diversificadas. Além disso, desenvolver habilidades de alfabetização midiática é fundamental. Aprender a identificar viés, checar fontes e questionar narrativas dominantes é o primeiro passo para escapar da bolha informativa.
Reflexão Final
A mídia deveria ser um farol de verdade e transparência, mas hoje ela muitas vezes funciona como um espelho distorcido da realidade. Quando apenas seis empresas detêm tanto poder, perdemos não apenas a diversidade de vozes, mas também a capacidade de entender o mundo de maneira equilibrada e crítica. Então, da próxima vez que você abrir seu feed de notícias, pergunte-se: quem está contando essa história? E, mais importante ainda, quem está pagando por ela?
Porque, no fim das contas, informação é poder — e o poder nunca deve estar nas mãos de poucos.