Imagine isso: você acorda de manhã, pega o celular e começa a rolar pelas notícias. Parece que tem uma infinidade de fontes para escolher – jornais, blogs, canais no YouTube, podcasts... mas, na verdade, tudo o que você está consumindo provavelmente vem de apenas seis empresas. Isso mesmo: Comcast, Disney, AT&T, Sony, Fox e Paramount Global controlam cerca de 90% do conteúdo que chega até você . E se isso não te dá um calafrio, talvez deva.
Aqui está a real: estamos vivendo em um mundo onde a mídia, que deveria ser um farol de informação imparcial, foi transformada em uma máquina de interesses corporativos. Não é mais sobre informar ou educar; é sobre moldar narrativas, influenciar opiniões e, claro, encher os bolsos de quem já tem muito. E essa história não começou ontem. Ela vem sendo construída há décadas, com leis e regulamentações cuidadosamente desenhadas para beneficiar os gigantes da mídia enquanto sufocam vozes independentes.
A Máquina da Mídia: Como Chegamos Aqui?
Vamos voltar um pouco no tempo. Nos anos 1940, a FCC (Comissão Federal de Comunicações) implementou regras rígidas para evitar que uma única empresa dominasse o mercado de comunicação. Mas nos anos 80, sob a administração de Ronald Reagan, começaram as grandes mudanças. As restrições à propriedade de estações de rádio e TV foram afrouxadas, abrindo caminho para fusões massivas.
O golpe final veio em 1996 , quando o então presidente Bill Clinton assinou a Lei de Telecomunicações . Essa lei permitiu que as grandes corporações expandissem ainda mais seu controle por meio de aquisições e fusões. O mais assustador? 72% do público nem sabia que essa lei existia , e ninguém votou nela. Resultado? Pequenas estações locais começaram a desaparecer como neve ao sol, engolidas pelos gigantes.
Hoje, essas seis empresas têm orçamentos maiores que o PIB de alguns países. Em 2021, elas acumularam mais de US$ 478 bilhões em receita – mais do que Finlândia e Ucrânia juntas! E o que isso significa para nós, meros consumidores de notícias? Significa que nossa visão do mundo está sendo filtrada por cerca de 232 executivos . Sim, só isso.
A Ilusão da Escolha
Você já reparou que, independentemente de onde você consome notícias, muitas vezes parece que está lendo ou assistindo a mesma coisa? Isso tem um nome: "ilusão da escolha" . Temos milhares de plataformas, mas a maioria delas repete o mesmo conteúdo porque todas pertencem às mesmas mãos.
Por exemplo, lembra daquele vídeo viral em que vários âncoras de diferentes estações de TV repetiam exatamente o mesmo discurso sobre "fake news"? Todos eles trabalhavam para a Sinclair Broadcast Group , uma das maiores redes de TV dos EUA. É como se fosse um script pronto, distribuído para todos os seus funcionários. Isso não é coincidência – é estratégia.
Conflitos de Interesse e Censura Estrutural
Mas o problema vai além da falta de diversidade de conteúdo. Quando você começa a investigar quem está no comando dessas empresas, descobre conexões preocupantes. Por exemplo, membros do conselho de administração do The New York Times também estão no conselho de empresas como McDonald's, Nike e Pfizer. Já imaginou como isso pode influenciar as matérias publicadas?
Estudos mostram que mais de 30% dos editores relatam pressão para mudar suas abordagens quando cobrem empresas conectadas aos seus conselhos. Eles tendem a adotar uma postura mais "relaxada" e evitam histórias que possam prejudicar os interesses financeiros de suas organizações. Em outras palavras, a autocensura é real.
Além disso, há o fenômeno das "diretorias interligadas" , onde membros de conselhos de administração de empresas de mídia também ocupam posições em outras indústrias. Um estudo revelou que jornais americanos de capital aberto estão interligados por 1.276 conexões com 530 organizações , incluindo anunciantes, instituições financeiras e até entidades governamentais. Isso cria conflitos de interesse que raramente são divulgados ao público.
O Declínio das Notícias Locais
Enquanto os gigantes da mídia crescem, as notícias locais estão morrendo. Mais de 2.000 condados nos EUA (63,6%) não têm um jornal diário. Essas áreas são chamadas de "desertos de notícias" , e o impacto é devastador: menos candidatos a prefeito, menor participação eleitoral e mais corrupção no governo local.
Sem acesso a informações confiáveis, as pessoas recorrem às redes sociais, onde algoritmos priorizam conteúdo sensacionalista e polarizador. É um ciclo vicioso que beneficia apenas as grandes corporações.
O Papel das Big Techs
E não podemos ignorar o papel das grandes empresas de tecnologia, como Google, Facebook e YouTube, que controlam grande parte do tráfego online. Elas têm o poder de censurar, desmonetizar ou remover completamente conteúdos de veículos independentes. Durante a pandemia de COVID-19, por exemplo, especialistas independentes em saúde foram consistentemente ignorados pela mídia corporativa, que preferiu dar espaço a figuras do governo.
A Esperança Está em Nós
Tudo isso pode parecer desanimador, mas ainda há esperança. Existem alternativas. Organizações como Democracy Now!, ProPublica, The Intercept e MintPress News continuam lutando contra a maré, produzindo jornalismo independente e sem fins lucrativos. Apoiar essas iniciativas é crucial para garantir que tenhamos acesso a informações verdadeiramente diversas e confiáveis.
Como disse Jim Morrison, "quem controla a mídia controla a mente" . Então, a pergunta que fica é: quem você quer deixar no controle da sua mente?
Reflexão Final
Este artigo não é apenas um alerta – é um convite à ação. Informe-se, questione, busque fontes alternativas. Não deixe que sua visão do mundo seja moldada por interesses corporativos. Afinal, como disse o juiz Louis D. Brandeis: "Podemos ter democracia neste país, ou podemos ter uma grande riqueza concentrada nas mãos de poucos, mas não podemos ter os dois."
Escolha conscientemente onde obtém suas informações. Porque, no fim das contas, o poder está nas suas mãos – ou melhor, na sua mente.