Já parou para pensar no que aconteceu depois que a Segunda Guerra Mundial terminou? Quando largamos os livros escolares ou assistimos ao último documentário sobre Auschwitz, parece que tudo se resolveu ali, não é? Os heróis venceram, os nazistas foram derrotados e, com isso, veio a paz. Mas e se te dissermos que muitas dessas histórias — as de pessoas como você e eu — têm capítulos escondidos? Capítulos sombrios, onde criminosos de guerra nazistas encontraram refúgio em terras americanas, recebendo benefícios do governo enquanto o mundo fingia esquecer suas atrocidades.
Parece surreal, né? Pois é exatamente isso que uma investigação bombástica da Associated Press revelou em 2016: entre 1962 e 2015, mais de US$ 20 milhões foram pagos a ex-nazistas que viviam nos Estados Unidos e em outros países. E pior ainda: o Departamento de Justiça usava esses pagamentos como moeda de troca para persuadir pelo menos 28 supostos criminosos de guerra a saírem voluntariamente do país. Sim, você leu certo: eles eram incentivados a ir embora, mas podiam continuar recebendo dinheiro enquanto estavam longe.
Como algo assim foi possível?
É aqui que entramos em um território nebuloso, cheio de brechas legais e decisões questionáveis. A história começa em 1945, quando o Terceiro Reich desmoronou e milhares de nazistas fugiram da Europa para escapar da justiça. Alguns se infiltraram nos EUA sob falsos pretextos, apresentando documentos forjados e contando histórias inventadas. Outros, no entanto, tiveram ajuda direta — sim, você ouviu bem. Agências de inteligência americanas, ansiosas por informações durante a Guerra Fria, recrutaram ex-membros do regime nazista como espiões e informantes.
Mas o que aconteceu depois? Esses indivíduos começaram a envelhecer, e muitos se aposentaram... recebendo benefícios da Previdência Social americana! Isso mesmo: aquele dinheiro que deveria sustentar idosos e trabalhadores honestos estava indo para pessoas como Martin Bartesch, guarda de Mauthausen; Jakob Denzinger, membro da Unidade da Cabeça da Morte; e Arthur Rudolph, arqueólogo nazista envolvido em experimentos humanos.
E sabe o que torna tudo ainda mais absurdo? Até 2014, quando a Lei "Sem Segurança Social para os Nazistas" foi aprovada, esses pagamentos continuavam rolando sem maiores complicações. Foram necessários quase 70 anos para que alguém finalmente dissesse: “Espere aí, isso tá errado!”
Os números chocam, mas o contexto choca ainda mais
De acordo com os dados divulgados pela AP, a Administração da Segurança Social (SSA) pagou mais de US$ 20,2 milhões a 133 pessoas ligadas ao Terceiro Reich. Entre 1962 e janeiro de 2015, esses valores foram transferidos regularmente, sem nenhum escrutínio público até recentemente. Em 1999, por exemplo, cerca de US$ 1,5 milhão já havia sido enviado a 28 pessoas que deixaram os EUA voluntariamente, garantindo seus benefícios enquanto seguiam para outros países.
Mas por que o Departamento de Justiça permitiu isso? A resposta é simples e cruel: pragmatismo. Quando um criminoso de guerra era identificado, o governo tinha duas opções: deportá-lo à força ou oferecer um acordo. Se escolhessem a deportação, os custos legais e diplomáticos seriam enormes. Então, optaram pela saída mais fácil: dar dinheiro para que eles fossem embora por conta própria. Um “adeus amigável”, digamos assim.
Os nomes por trás das cifras
Não são apenas números frios na tela. Por trás de cada cheque, há rostos e histórias. Veja alguns exemplos:
- Martin Bartesch : Guarda responsável por supervisionar prisioneiros no campo de concentração de Mauthausen, onde centenas de milhares morreram de fome, trabalho forçado e execuções.
- Jakob Denzinger : Membro da temida Unidade da Cabeça da Morte, conhecida por sua brutalidade nas operações de extermínio.
- Arthur Rudolph : Engenheiro nazista que trabalhou em projetos militares e médicos controversos, incluindo testes em prisioneiros judeus.
Esses nomes foram divulgados pela BBC após meses de pressão pública. Antes disso, o governo americano mantinha tudo sob sigilo, negando acesso aos registros originais. Parece que quanto mais tempo passava, mais difícil ficava enfrentar a verdade.
Por que isso importa hoje?
Você pode estar pensando: “Isso aconteceu há décadas. O que muda agora?” Bem, amigo, aqui vai o ponto principal: estamos falando de responsabilidade. De lembrar que, enquanto tentávamos construir um mundo melhor, cometemos erros terríveis. Permitir que criminosos de guerra recebessem benefícios públicos é um desses erros. E, infelizmente, não é o único.
Eric Lichtblau, repórter do New York Times , descobriu arquivos impressionantes mostrando que legisladores americanos chegaram a bloquear vistos para sobreviventes judeus após a guerra, usando justificativas absurdas como “eles não têm ética de trabalho”. Em contrapartida, milhares de nazistas e colaboradores entraram no país, muitos com apoio oficial de agências de inteligência.
Hoje, os últimos criminosos de guerra nazistas estão envelhecendo e morrendo naturalmente. Mas isso não significa que devemos esquecer. Pelo contrário, precisamos usar essas histórias como lições. Queremos viver em um mundo onde o passado é encarado de frente, com transparência e justiça. Ou preferimos varrer tudo para debaixo do tapete e torcer para que ninguém perceba?
Uma reflexão final
Imagine este cenário: um homem de 90 anos, sentado em sua casa em Buenos Aires ou Berlim, recebendo um cheque mensal do governo americano. Ele sabe que, décadas atrás, ajudou a cometer crimes inimagináveis. Mas lá está ele, confortável, graças a um acordo conveniente feito em nome da eficiência burocrática. Não dá um nó na garganta?
Essa história não é só sobre dinheiro. É sobre memória, moralidade e o peso do silêncio. É sobre perguntar: quem somos nós, como sociedade, quando permitimos que algo assim aconteça? E será que aprendemos alguma coisa desde então?
Se você chegou até aqui, provavelmente concorda que essas questões merecem ser discutidas. Então, compartilhe esse texto. Comente. Faça perguntas. Porque, afinal, a única maneira de evitar que o passado se repita é confrontá-lo de peito aberto.