Dogmas e Mistérios Espirituais

Word of Faith Fellowship: Os Segredos Obscuros por Trás do Culto

Word of Faith Fellowship: Os Segredos Obscuros por Trás do Culto

A história da Word of Faith Fellowship pode até começar como a de qualquer outra igreja protestante não denominacional, mas sua trajetória foi marcada por polêmicas, alegações de abuso e uma liderança que, até hoje, desperta temor e fascínio. Tudo começou em 1979, quando Jane e Sam Whaley transformaram uma antiga churrascaria em Spindale, Carolina do Norte, numa capela. O que parecia um simples ato de fé se desdobrou em uma rede que ultrapassa fronteiras, atingindo até o Brasil.

Jane Whaley: de professora a líder polêmica

Jane Whaley, uma ex-professora de matemática com uma presença marcante, assumiu a liderança do grupo, que cresceu de um punhado de fiéis para cerca de 750 membros. Com o passar do tempo, a igreja expandiu suas ramificações para países como Brasil, Gana, Suécia e Escócia, somando quase 2.000 seguidores. Apesar de não ter formação formal em ministério, Jane se mostrou uma oradora persuasiva, com uma personalidade que cativava e, ao mesmo tempo, assustava. Seu controle sobre a comunidade se estendeu a níveis que muitos considerariam extremos.

Curiosamente, a ligação de Jane com o Brasil começou nos anos 1980, quando o missionário John Martin fundou o Ministério Verbo Vivo, perto de Belo Horizonte, após conhecer os Whaleys. O movimento cresceu rapidamente, com igrejas surgindo em cidades como São Joaquim de Bicas e Betim.

Um culto ou apenas devoção?

O que torna a Word of Faith Fellowship um assunto tão delicado é a longa lista de regras e restrições. Aniversários, Páscoa e Natal? Proibidos. Assistir TV ou ir a restaurantes que servem álcool? Nem pensar. As regras tocam até a vida pessoal: membros só podem comprar casas ou carros com a permissão de Jane Whaley. E como se isso não bastasse, as crianças são controladas ao extremo, educadas exclusivamente pela igreja e impedidas de qualquer contato com a mídia. A frase "feliz, feliz, feliz, são os filhos cujo Deus é o Senhor" pode parecer uma celebração da fé, mas, para muitos, isso soa mais como uma máscara de felicidade imposta.

Se por um lado a igreja defende essas práticas como uma forma de pureza espiritual, ex-membros têm uma visão bem diferente. Muitos relatam abusos físicos e psicológicos, com algumas práticas chegando ao extremo. Há casos de “explosões” – sessões de oração intensa, onde membros são cercados e gritam em uníssono para expulsar demônios. Essa prática, segundo denúncias, muitas vezes era acompanhada de agressões físicas.

Em um episódio de Inside Edition de 1995, Jane e Sam Whaley negaram qualquer acusação de abuso. No entanto, relatos de ex-membros mostram uma realidade perturbadora. Crianças sendo espancadas, isoladas por meses e até adultos mantidos prisioneiros em prédios da igreja são apenas alguns dos casos que vieram à tona. É difícil não questionar se essas práticas estão mais próximas de um culto autoritário do que de uma comunidade religiosa.

Word of Faith Fellowship cotrole e abusos

Expansão internacional e alegações no Brasil

No Brasil, a influência de Jane Whaley não foi menos controversa. A igreja estabeleceu fortes conexões com o Ministério Verbo Vivo, e muitos membros brasileiros passaram a visitar Spindale com frequência. Em meio à pandemia de COVID-19, três membros da igreja no Brasil morreram, levantando questões sobre o impacto das atividades do grupo na disseminação do vírus. Embora a igreja tenha declarado estar em conformidade com as diretrizes de segurança, a comunidade local apontou o dedo para eles, culpando-os pela alta taxa de infecções.

A Word of Faith Fellowship (WFF), liderada por Jane Whaley em Spindale, na Carolina do Norte, também tem exercido uma influência significativa no Brasil. Essa ligação começou nos anos 1980, quando a igreja norte-americana começou a se expandir para o país. Hoje, a WFF tem um número expressivo de seguidores brasileiros, com várias congregações no estado de Minas Gerais, principalmente nas cidades de Franca e São Joaquim de Bicas.

A expansão da WFF no Brasil é amplamente facilitada por missionários brasileiros que foram enviados à sede da igreja nos EUA, onde passaram por um rígido treinamento doutrinário. Posteriormente, eles retornaram ao Brasil para liderar congregações locais, propagando os ensinamentos e as práticas controversas da WFF.

Assim como nos Estados Unidos, a igreja no Brasil também tem sido acusada de práticas abusivas. Investigações apontam que as mesmas técnicas de manipulação psicológica, controle rigoroso e até agressões físicas para "expulsar demônios" são replicadas nas congregações brasileiras. Além disso, membros brasileiros são incentivados a enviar dízimos e outras formas de contribuições financeiras diretamente para a sede nos Estados Unidos, o que fortalece ainda mais o poder da liderança de Jane Whaley sobre os seguidores.

O Brasil também desempenhou um papel crítico em outra polêmica envolvendo a WFF. Investigações revelaram que a igreja teria contrabandeado brasileiros para os EUA para trabalhar em condições de semi-escravidão. Muitos desses membros, que entraram no país com vistos de turista, foram forçados a trabalhar em negócios pertencentes a líderes da igreja, como empresas de construção, muitas vezes sem remuneração adequada. A promessa feita pela liderança era que esse trabalho fazia parte de um "serviço sagrado" e que traria "bênçãos espirituais" aos envolvidos.

Em 2018, a Associated Press divulgou uma série de reportagens investigativas que expuseram essas práticas, revelando o tráfico humano de brasileiros pela WFF para trabalho forçado nos EUA. Esses membros viviam sob controle extremo, sendo isolados da sociedade, e com medo de represálias da liderança se tentassem sair da igreja. Após a divulgação dessas denúncias, autoridades brasileiras e norte-americanas iniciaram investigações sobre o caso.

A influência da Word of Faith Fellowship no Brasil continua a ser motivo de grande preocupação, especialmente considerando o impacto psicológico, social e financeiro sobre seus seguidores. Embora a igreja mantenha um perfil relativamente discreto no Brasil, as investigações sobre práticas abusivas e tráfico de pessoas trazem à tona o alcance global da organização e seus métodos de controle sobre os fiéis.

Abusos e processos

A partir dos anos 90, a Word of Faith Fellowship enfrentou uma série de investigações e processos judiciais. De acusações de abuso infantil a agressões físicas em rituais de “purificação”, a lista de denúncias é longa e perturbadora. Um dos casos mais notórios foi o de Michael Lowry, que afirmou ter sido espancado e mantido prisioneiro para expulsar "demônios gays". Embora ele tenha inicialmente retratado suas alegações, mais tarde voltou a reafirmar os abusos sofridos.

Outra figura central nos relatos é Jamey Anderson, que descreveu sua infância dentro da igreja como um verdadeiro inferno. Segundo ele, as punições eram severas e envolviam isolamento, espancamentos e humilhações públicas. As memórias de Anderson são sombrias: ele conta que não pôde sequer comparecer ao funeral de seu avô, sendo excluído até mesmo do obituário.

Espancamentos violentos para expulsar demônios

A denúncia publicada por um jornal nacional, baseada em uma investigação da Associated Press, trouxe à tona relatos chocantes sobre a igreja Word of Faith Fellowship, localizada em Spindale, na Carolina do Norte. A igreja, liderada por Jane Whaley, tem sido alvo de acusações graves ao longo dos anos, mas essa nova revelação expôs detalhes perturbadores sobre suas práticas internas.

Segundo a matéria, a igreja foi descrita como um local onde membros são submetidos a espancamentos violentos, alegadamente como parte de rituais para "expulsar demônios". Essas práticas incluiriam não apenas adultos, mas crianças e até bebês. O objetivo seria "purificá-los" de influências demoníacas. Ex-membros da igreja relataram que esses espancamentos fazem parte de um processo de disciplina espiritual, no qual o "mau comportamento" ou qualquer resistência às regras impostas pela liderança da igreja são vistos como evidências de possessão demoníaca.

O que torna a situação mais alarmante é a suposta participação de líderes e membros da igreja nesses atos, muitas vezes em cerimônias coletivas. As "explosões", como são chamadas as sessões de oração fervorosa, envolvem os membros gritando orações em alta voz, cercando o indivíduo que supostamente está "possuído". Em alguns casos, essas explosões são acompanhadas de agressões físicas para "forçar" a saída do demônio.

A Word of Faith Fellowship já foi alvo de investigações e processos legais ao longo dos anos, mas muitas das denúncias não resultaram em condenações formais. O controle rígido sobre os membros, o isolamento social e o medo de represálias são alguns dos fatores que dificultam a denúncia e a responsabilização da liderança da igreja. As crianças, muitas delas educadas nas escolas da igreja, são criadas sob regras extremamente restritivas, sem acesso a mídia externa ou contato com o mundo exterior, o que torna ainda mais difícil que essas práticas venham à tona.

Apesar de negações constantes por parte de Whaley e dos advogados da igreja, que afirmam que os relatos são exagerados ou fabricados, as histórias de ex-membros continuam a surgir, trazendo à luz um padrão de controle psicológico, coerção e abuso físico dentro da igreja.

Essa nova denúncia reacende o debate sobre os limites da liberdade religiosa nos Estados Unidos, onde práticas religiosas podem, por vezes, entrar em choque com direitos humanos básicos e leis de proteção infantil. A Associated Press, através de investigações contínuas, tem desempenhado um papel crucial em expor as alegações e trazer à tona as histórias daqueles que foram afetados pelas práticas da Word of Faith Fellowship.

Um império de controle e silêncio

Word of Faith Fellowship processos e escandalos

Apesar das inúmeras acusações e investigações, a igreja de Jane Whaley conseguiu se manter intacta ao longo dos anos. Parte disso pode ser atribuída ao controle rigoroso que ela exerce sobre os membros. Outra razão pode estar na influência da igreja nas esferas políticas e jurídicas. Segundo relatos da Associated Press, até mesmo promotores locais tinham vínculos com a igreja, dificultando o andamento de investigações.

A Word of Faith Fellowship continua a operar, com Jane Whaley, agora com mais de 80 anos, ainda no comando. Mesmo com o passar do tempo e o acúmulo de denúncias, muitos ex-membros relatam que o medo de retaliação ainda os impede de falar. Afinal, quem ousa enfrentar um império religioso que transformou o controle e o silêncio em suas armas mais poderosas?

Reflexão final

A história da Word of Faith Fellowship é, sem dúvida, uma mistura de fé, poder e abuso. Para alguns, é um lugar de cura e transformação espiritual. Para outros, é um lugar de pesadelos. O que fica claro é que, apesar das investigações e denúncias, a igreja conseguiu sobreviver, se adaptando ao longo das décadas e mantendo seu controle sobre os fiéis. Enquanto isso, a pergunta que paira é: até quando?