Você realmente escolhe o que veste ou está apenas repetindo ordens de um ditador fashion anônimo? (2025) Vamos falar sério por um minuto — ou por uns bons 10. Já parou pra pensar que, quando você entra em uma loja e compra aquela camisa “must-have da temporada”, pode estar, sem querer, assinando um contrato com o sistema? Um pacto silencioso de obediência às regras de alguém que você nem conhece, cujo rosto talvez nunca veja e que, provavelmente, não se importa com sua opinião?
Parece loucura, mas é exatamente isso que acontece. A moda, especialmente a moda de temporada , funciona como um vírus silencioso que se espalha pelo mundo inteiro, contaminando cabeças, carteiras e closets. E o pior? A maioria das pessoas nem percebe que foi infectada.
Mas afinal… o que diabos é "estar na moda"?
É como se, todo ano, uma entidade misteriosa chamada “O Mercado” resolvesse mandar uma carta para todos os habitantes do planeta dizendo:
“Caro ser humano, em 2025, você vai usar calça flare, botas cano alto, blazer oversized e pintar as unhas de vinil preto fosco. Não há consulta popular. Não haverá votação. É assim que será.”
E o mais bizarro? As pessoas saem às ruas vestidas igualzinho, sorrindo, tirando selfies, postando stories e se achando incríveis por terem seguido as instruções de um inimigo invisível. Se isso fosse um filme de terror, diríamos que estamos no início do apocalipse zumbi. Só que aqui, em vez de morderem seu pescoço, eles mordem sua conta bancária e seu senso crítico.
Moda: Uma religião sem deus
A gente até brinca, mas a moda funciona como uma religião moderna. Tem seus profetas (designers renomados), templos (shoppings centers), rituais (lançamentos de coleção) e fiéis (você e eu). O problema é que ninguém pergunta ao fiel se ele concorda com o dogma da vez.
Quer um exemplo real? Vamos voltar ao passado recente:
Em 2013, era pecado mortal sair de casa com short acima do joelho.
Em 2017, o short hot pants virou símbolo de liberdade e empoderamento.
Em 2022, o short micro virou trend global. Hoje, em 2025, ele já começa a cair de moda de novo.
Entendeu a lógica? Não tem lógica nenhuma. É como se cada estação do ano trouxesse consigo um novo manual de comportamento visual, escrito por uma junta de editores de revista, influenciadores e marqueteiros que decidem unilateralmente o que é bonito, desejável e aceitável. E a gente, coitado, só segue o fluxo, achando que está fazendo uma escolha consciente.
Quem lucra com tudo isso?
A resposta é simples: quem fabrica a moda. Marcas de roupas, redes de fast fashion, estilistas, agências de marketing e plataformas digitais criam esse ciclo infinito de consumo. Cada nova estação traz novas “necessidades” que antes nem existiam. Um casaco vermelho que você comprou no ano passado agora parece ridículo porque a cor da vez é o bege acinzentado. Seu cabelo ondulado virou “ultrapassado” e agora precisa ser naturalmente bagunçado. Você, que adorava tênis chunky, agora é visto como alguém “sem noção” por não seguir a tendência dos sapatos minimalistas. Tudo isso é estratégia. Tudo isso é programação. E o resultado? Gastos desnecessários, armários cheios de roupas mal usadas e uma identidade pessoal diluída em meio a tendências efêmeras.
Somos clones fashion disfarçados de indivíduos?
Faz tempo que a moda deixou de ser sobre estilo e virou uma máquina de produzir cópias humanas. Quantas vezes você viu alguém usando uma roupa idêntica à de outra pessoa e pensou: “Uau, ela tem o mesmo gosto que eu!”? Na verdade, não é coincidência. É algoritmo. É feed de Instagram. É publicidade direcionada. É propaganda subliminar. É cultura de massa. É manipulação suave e constante. E a ironia maior ainda é que muitas dessas pessoas juram que estão expressando individualidade.
“Ah, eu uso essa marca porque me representa.”
“Eu curto essa estética porque combina com minha personalidade.”
“Eu sigo esses looks porque são práticos e confortáveis.”
Mas, na verdade, elas estão vestindo o que um grupo restrito de pessoas decidiu que seria vendável na próxima estação. E o pior? Nem sequer ganham nada com isso.
A beleza que muda toda semana
Outro absurdo da moda é essa ideia de que algo pode ser lindo hoje e feio amanhã. Lembra do jeans rasgado? Há alguns anos, era sinônimo de rebeldia, estilo e atitude. Hoje, é considerado cafona por muitos. Lembra do cropped top? Foi símbolo de liberdade feminina. Agora? Alguns dizem que é ultrapassado. Lembra do batom vermelho? Já foi ícone de glamour. Depois, de velório. Depois, de empowerment. Agora? Volta e meia some do radar. Essa mudança constante nos padrões de beleza e estilo mostra que a moda não tem compromisso com a verdade. Ela é volúvel, caprichosa, manipuladora. E, principalmente, ela mente descaradamente sobre o que é bonito. Porque beleza, de verdade, não muda todo trimestre. Beleza é subjetiva, pessoal, única. A moda tenta domesticar isso. Transformar sentimento em produto. E transformar você em cliente.
Por dentro das engrenagens: Como a moda é feita
Vamos mergulhar um pouco nas entranhas da indústria da moda, pra entender como esse circo anda. Todo ano, grandes eventos como Paris Fashion Week, São Paulo Fashion Week e New York Fashion Week apresentam as tendências para as próximas temporadas. Essas tendências são definidas por um pequeno grupo de designers, editores de moda e executivos de marcas. Esse grupo decide cores, texturas, recortes, modelagens e até sentimentos. Sim, até sentimentos. Porque a moda também vende emoções. “Nesta primavera, vamos apostar no frescor e na leveza.” Traduzindo: tons pastéis, tecidos fluídos e shapes soltinhos. Daí, essas informações são digeridas pela imprensa, replicadas pelos influenciadores e jogadas no feed de bilhões de pessoas. E aí, como num passe de mágica, todo mundo começa a vestir a mesma coisa. É um ciclo bem montado. Tão bem montado que quase ninguém questiona.
Mas... e a cabeça de quem segue?
Aqui está o ponto mais delicado: o impacto mental e emocional dessa ditadura fashion. Pessoas começam a associar valor próprio à aparência. Começam a sentir vergonha de roupas antigas, de estilos antigos, de gostos antigos. Acabam perdendo contato com suas preferências reais e começam a viver em função da aprovação social. Tem gente que, literalmente, sofre por não estar “na vibe da galera”. Tem adolescente que se sente excluído por não usar o tênis certo. Tem adulto que se sente velho por não saber o que é “cottagecore” ou “goblin mode”. A moda se tornou uma forma de exclusão, de julgamento e, muitas vezes, de violência simbólica.
Mas então, devemos parar de nos vestir?
Claro que não. Vestir-se é parte da nossa natureza. Roupas protegem, aquecem, cobrem e expressam. O problema não é se vestir, é seguir modas sem pensar. É comprar por compulsão. É trocar de guarda-roupa inteiro a cada três meses. É se sentir inferior por não estar dentro do padrão imposto. A solução não é abandonar a moda, é repensá-la .
Alternativas: Como se vestir com propósito
Felizmente, existe um movimento crescente de pessoas buscando um jeito mais autêntico, sustentável e consciente de se vestir.
Surgiram termos como:
Slow fashion : consumir menos e melhor, priorizando qualidade e durabilidade.
Vintage & brechós : resgatar peças do passado, dando nova vida ao que já existe.
Minimalismo fashion : ter menos roupas, mas mais significativas.
Moda ética e sustentável : apoiar marcas transparentes, que respeitam o meio ambiente e os trabalhadores.
Essas alternativas permitem que você se vista com liberdade, sem depender das ordens de um guru fashion que vive em Milão e nem sequer sabe que você existe.
Conclusão: Você é dono da sua imagem ou escravo de uma etiqueta?
Pense comigo: qual é o objetivo de se vestir? É se sentir bem? É se expressar? É se proteger? É atrair olhares? É causar impressão? Ok. Agora pergunte-se: quantas das suas roupas foram compradas com base nessas razões? Ou quantas delas entraram no seu armário só porque “todo mundo estava usando”? Se a segunda resposta for mais frequente, talvez esteja na hora de dar uma pausa. Repensar. Revisitar suas escolhas. Desconstruir algumas certezas.
Porque ser livre não significa não se importar com o que veste. Ser livre é escolher, conscientemente, o que te representa — e não seguir ordens de um ditador fashion que vive num castelo digital e nunca vai aparecer na sua frente. A moda pode ser divertida, pode ser inspiradora, pode ser arte. Mas ela não deveria ser uma prisão. Nem uma ditadura. Nem um cárcere de identidade. Afinal, você é um ser único. Não um manequim ambulante.
Perguntas para refletir:
Você realmente gosta do que veste?
Suas roupas representam quem você é ou quem o mercado quer que você seja?
Você compra por necessidade ou por pressão social?
O que você perderia se parasse de seguir tendências?
Dica final: Cuide do seu guarda-roupa como cuida da sua mente
Assim como alimentamos nossos pensamentos com conteúdo positivo e reflexivo, devemos alimentar nosso visual com escolhas que façam sentido. Que tragam conforto, segurança e autenticidade. Não tenha medo de sair do script. De usar aquilo que ama, mesmo que esteja fora da moda. Porque a moda passa. O estilo permanece. E você, meu amigo ou minha amiga, é muito mais do que uma etiqueta.