A verdade por trás do impacto da tecnologia no pensamento crítico

A verdade por trás do impacto da tecnologia no pensamento crítico

Imagine-se nos anos 80 ou 90: cabelos volumosos, cores neon e jeans desbotados dominavam a moda. Para fazer uma pesquisa escolar sobre as regiões do Brasil ou a Revolução Industrial, era preciso folhear volumes pesados de enciclopédias, buscar referências manualmente e, muitas vezes, lidar com informações limitadas ou desatualizadas.

Encontrar uma nova loja ou lanchonete? Dependíamos da boa vontade de estranhos na rua ou de orientações em postos de combustível. Obter informações demandava tempo, paciência e interação humana.

Hoje, com GPS e aplicativos de mapas, tudo está a um toque na tela. A internet, que mal engatinhava naquela época, agora nos mergulha em uma enxurrada de informações, conectando-nos instantaneamente ao mundo. Carregamos computadores no bolso, acessando qualquer dado na palma da mão. Mas será que, ao consumir tanto e refletir tão pouco, estamos realmente nos tornando mais inteligentes?

Pesquisadores e neurocientistas alertam para o "emburrecimento" da população. Estamos perdendo a capacidade de pensar profundamente, analisar criticamente e nos relacionar de maneira significativa. A sobrecarga de informações nos deixa ansiosos, desatentos e incapazes de nos concentrar em uma única tarefa por mais de alguns minutos. Um estudo da Microsoft aponta que nossa capacidade de atenção caiu de 12 para 8 segundos na última década, menor que a de um peixinho dourado. Além disso, pesquisas publicadas na Frontiers in Psychology mostram que a exposição constante a estímulos digitais cria um padrão de pensamento rápido, mas raso, focado na resposta imediata em vez da reflexão. Nosso cérebro, diante do excesso de dados, busca atalhos, deixando de lado o pensamento analítico e crítico.

Vivemos na era da conexão, mas, ironicamente, estamos cada vez mais desconectados. Michel Desmurget, em seu livro A Fábrica de Cretinos Digitais, destaca como a superficialidade se tornou regra e como a perda de habilidades e da capacidade crítica é uma consequência inevitável de nossa forma de vida. Não se trata de rejeitar a tecnologia, mas de refletir sobre como a utilizamos. Infelizmente, ela é frequentemente empregada para entretenimento em vez de aprendizado ou desenvolvimento pessoal. Passamos horas consumindo conteúdos superficiais, promovendo comportamentos como ansiedade, agressividade e redução da empatia.

Resgatar velhos hábitos pode ser uma resposta para equilibrar a balança. Ler um livro, preparar refeições em família, jantar juntos, passear ao ar livre ou brincar com jogos de tabuleiro são formas simples de reconectar pessoas. Além disso, é fundamental adotar um uso consciente da tecnologia, evitando compartilhar informações sem verificar a fonte, refletindo antes de reagir e priorizando diálogos construtivos.

Se, nas décadas de 1980 e 1990, buscávamos conhecimento com esforço, hoje precisamos ensinar a filtrar, refletir e questionar a imensa quantidade de dados disponíveis. Interações verdadeiras, diálogos profundos e momentos de presença são cruciais para o desenvolvimento humano. O emburrecimento coletivo não é inevitável, mas requer um esforço consciente para evitá-lo. O desafio está em equilibrar a tecnologia com práticas que promovam pensamento crítico e conexão genuína. Assim, podemos construir um futuro onde a inteligência, a criatividade e a reflexão ainda tenham espaço em meio à avalanche de informações digitais.