Kuwait, 03 de junho de 1992 – Imagina estar em um cenário onde o medo e o desespero tomam conta de tudo. Essa era a realidade dos kuwaitianos durante a invasão iraquiana. Mas uma história em particular despertou a indignação do mundo: a chocante acusação de que soldados iraquianos invadiram um hospital, retiraram bebês de incubadoras e os deixaram para morrer no chão frio. Isso realmente aconteceu? Ou foi uma jogada estratégica no campo da propaganda?
Entre os horrores reais – tortura, execuções, saques – essa história tomou forma quase como um símbolo do sofrimento kuwaitiano. A imagem dos pequenos corpos no chão congelado, vulneráveis e desamparados, gerou uma onda de comoção e raiva internacional. Na época, ninguém ousava questionar a história. Quem, em meio a tanto sofrimento, duvidaria?
Foi durante uma conferência de imprensa que o Xeque Salim al Salim al Sabah, então ministro das Relações Exteriores do Kuwait, reviveu essa narrativa, como se fosse um marco do sofrimento kuwaitiano. Mas a história não parou por aí. Poucos meses após a invasão, uma jovem kuwaitiana de apenas 15 anos – Nayirah – testemunhou sobre o incidente diante do Congresso dos Estados Unidos, emocionando a todos com sua descrição. O detalhe que ninguém conhecia era que ela era filha do embaixador kuwaitiano nos EUA, o xeque Saud al Nasser al Sabah.
Com o tempo, porém, surgiram perguntas. Organizações como a Anistia Internacional e o Middle East Watch investigaram o caso e levantaram dúvidas. Será que as forças iraquianas realmente retiraram os bebês das incubadoras? Os relatórios dessas organizações indicavam o contrário, sugerindo que a história poderia ter sido um exagero. Em um mundo onde a verdade e a propaganda se entrelaçam como fios numa tapeçaria, essa história parecia ser mais uma peça cuidadosamente costurada para influenciar a opinião pública internacional contra o Iraque.
Nos bastidores dessa trama, uma poderosa empresa de relações públicas americana, a Hill & Knowlton, foi contratada pelo grupo Citizens for a Free Kuwait, uma organização lobista financiada pelo governo kuwaitiano exilado. A missão deles? Engajar o mundo na causa kuwaitiana, enfatizando as atrocidades e pintando o regime de Saddam Hussein como o vilão absoluto. E a história das incubadoras encaixava-se perfeitamente nesse objetivo.
Ainda assim, as dúvidas cresceram, e a verdade tornou-se algo tão nebuloso quanto o próprio deserto ao entardecer. A revelação da identidade de Nayirah e o envolvimento de empresas de investigação privadas reacenderam as chamas da controvérsia. Por fim, até mesmo o Departamento de Estado dos EUA defendeu o relato da jovem, com o enviado americano ao Kuwait, Edward W. Gnehm Jr., reafirmando que recém-nascidos teriam morrido quando os iraquianos desativaram os sistemas de suporte de vida.
Realidade ou ficção? Essa história, até hoje, suscita debates. O que fica claro é que a ocupação iraquiana marcou profundamente o povo kuwaitiano, deixando cicatrizes que nem o tempo consegue apagar. A verdade absoluta sobre o incidente das incubadoras talvez nunca seja revelada, mas ela permanece um símbolo sombrio de uma época em que as atrocidades reais e imaginárias se misturaram para moldar a história de um povo.