CAR-T: A Esperança de Cura do Câncer e o Preço que Ninguém Pode Pagar

CAR-T: A Esperança de Cura do Câncer e o Preço que Ninguém Pode Pagar

Em 2018, o cenário da Big Pharma segue como um lembrete amargo de por que tantos têm uma relação de desconfiança com as grandes corporações americanas. Ela se tornou o símbolo perfeito de como a ganância pode superar tudo, até mesmo a vida humana. Afinal, como confiar em um sistema que prioriza lucros exorbitantes enquanto pacientes morrem por não poderem pagar por tratamentos que poderiam salvá-los?

É um dilema cruel, mas que continua se desenrolando diante de nossos olhos. Ezekiel Emanuel, presidente do departamento de ética médica e política de saúde da Universidade da Pensilvânia, trouxe à tona um exemplo pungente dessa realidade em um artigo no Wall Street Journal. Ele apontou que milhares de pacientes com câncer poderiam ser curados – sim, curados – mas não serão. E o motivo? O custo proibitivo dos medicamentos.

Emanuel compartilhou um sonho que é comum entre os oncologistas: curar o câncer. Algo que antes parecia um sonho distante agora está mais perto do que nunca, graças aos avanços na imunoterapia celular. De acordo com ele, a cura para o câncer não é mais um devaneio, mas uma possibilidade real. O problema? O preço de tal tratamento é tão alto que o sistema de saúde simplesmente não consegue bancar.

Esse avanço, chamado CAR-T, envolve a remoção e reengenharia das células imunológicas do próprio paciente. Essas células são modificadas geneticamente para atacar uma proteína específica nas células cancerosas, poupando as células saudáveis – algo que tratamentos tradicionais como a quimioterapia não conseguem fazer. Parece uma história tirada de um filme de ficção científica, mas é a realidade atual da medicina. Existem mais de 400 ensaios clínicos em andamento utilizando o CAR-T, e os resultados são promissores: dois terços das crianças com leucemia aguda e um terço dos adultos com linfoma e leucemia parecem estar curados.

No entanto, essa esperança tem um preço – e que preço! O tratamento CAR-T custa entre US$ 373 mil e US$ 475 mil por paciente. Se somarmos os custos hospitalares e médicos, o valor pode chegar a impressionantes US$ 800 mil. Emanuel destaca que, se apenas 250 mil pacientes fossem tratados com essa terapia, isso representaria um impacto de US$ 93 bilhões nos custos anuais de saúde dos EUA. Isso se traduz em cerca de US$ 500 a mais por americano em um sistema que já está sobrecarregado.

As grandes farmacêuticas, como Novartis e Gilead Sciences, justificam esses preços altos citando os enormes custos de pesquisa e desenvolvimento. De acordo com a Novartis, o desenvolvimento do CAR-T custou cerca de US$ 1 bilhão. Mas Emanuel argumenta que, com apenas 2.700 pacientes tratados, a empresa já recuperaria seu investimento. E, em 10 anos, essa mesma empresa poderia embolsar impressionantes US$ 8,5 bilhões.

Essa não é uma exceção no mundo da Big Pharma, que parece sempre encontrar maneiras de explorar os vulneráveis. Lembra do caso da EpiPen? O preço desse medicamento saltou de US$ 55 para mais de US$ 600 de um dia para o outro, sem qualquer justificativa plausível, exceto o lucro desenfreado.

Recentemente, a Big Pharma tentou inserir uma "pegadinha" em um projeto de lei destinado a resolver a crise de opioides nos EUA – uma crise, vale dizer, que muitos apontam como criada pela própria indústria farmacêutica. Esse projeto de lei visava oferecer descontos em medicamentos para idosos que caem no temido "buraco de rosca" do Medicare Parte D, o que economizaria cerca de US$ 11 bilhões. Mas as empresas farmacêuticas acharam que deveriam abocanhar parte dessa economia, propondo uma emenda que reduziria os descontos.

Essa manobra foi denunciada por entidades como a AARP e pela senadora Tina Smith, de Minnesota, que se manifestaram contra a tentativa. E, mais uma vez, a ganância da Big Pharma foi exposta. Parece que, para essas empresas, não há limites para o quanto podem ganhar, mesmo que isso custe a vida de alguns pacientes.

A ironia amarga é que, enquanto a ciência avança a passos largos, oferecendo novas e incríveis possibilidades de cura, a barreira dos preços continua a se erguer como uma muralha intransponível. O avanço tecnológico, que deveria ser motivo de celebração, acaba sendo uma sentença de morte para muitos que simplesmente não têm como arcar com os custos de sua própria sobrevivência. O que era para ser uma revolução na medicina, por vezes, se transforma em um campo de batalha onde o dinheiro vale mais que a vida.

Sim, o progresso está aí, mas será que todos terão a chance de usufruí-lo? Ou estaremos condenados a ver as promessas de cura desaparecerem diante da realidade fria e implacável do capitalismo selvagem que domina a indústria farmacêutica? Essa é a pergunta que fica no ar, como uma sombra pairando sobre as cabeças daqueles que mais precisam de esperança.