Somente dezesseis quilômetros separavam a tropa dos soldados do outro lado da ilha. O exército de ocupação japonesa na costa da ilha Ramree, Birmânia, tinha uma meta relativamente próxima, mas no meio um pântano que deviam atravessar, e que resultaria uma armadilha da natureza tão trágica como a própria guerra. Ilha Ramree, é uma ilha situada na costa do Estado de Rakhine, na Birmânia. A área da ilha é de cerca de 1350 km² e o principal centro populoso é Ramree, mas o que chama a atenção na ilha são os centros populacionais e sim seus pântanos. Durante a Segunda Guerra Mundial ocorreu um confronto entre tropas aliadas liderados pelos ingleses e japonesas no local, a Batalha ficou conhecida como "A batalha de Ramree". Foi travada durante janeiro e fevereiro de 1945, como parte do avanço do Décimo Quarto Exército britânico 1944-1945 na ilha, com o intuito de acabar com o domínio japonês no local.. A batalha começou com a Operação ...
Matador, um assalto anfíbio para capturar o porto estratégico de Kyaukpyu ao sul de Akyab.
Em Ramree a guarnição japonesa continuava com sua resistência heroica. Mas quando os aliados flanquearam os redutos japoneses, os quase mil defensores tiveram que abandonar suas bases e recuaram para dentro dos pântanos inamistosos ao redor da ilha.
A rota de fuga obrigou os japoneses a atravessarem 16 quilômetros de manguezais, seu intuito era se juntarem com outro batalhão japonês que ficava mais ao sul, nas extremidades da ilha, mas infelizmente eles não contavam com a lama profunda, bem como as doenças tropicais e seu maior algoz, o crocodilo de água salgada com cerca de 5 metros de comprimento. Crocodilos esses que infestavam os pântanos da ilha.
Repetidas vezes os oficiais aliados solicitaram a rendição dos soldados japoneses, mas eles acabavam sempre ignorados. Os aliados mantiveram o cerco, enquanto que dentro dos pântanos os soldados japoneses que recuavam morriam, vitimas, principalmente, dos crocodilos.O naturalista Bruce Stanley Wright (que participou da batalha), incluiu em seu livro "Wildlife Sketches, Near and Far", alguns relatos assustadores da carnificina que os soldados fugitivos enfrentaram.
O naturalista Bruce Stanley Wright descreveu o cenário em seu livro "Wildlife Sketches Near and Far" de 1962:
Aquela noite foi horrível para as tropas que estavam posicionadas na borda do pântano e ouviram tudo. Alguns homens tiveram de ser dispensados da patrulha por não suportar os gritos que vinham lá de dentro. Os crocodilos atraídos pelo som da batalha e pelo cheiro de sangue convergiram aos milhares para o interior da ilha usando os mananciais rasos para se esconder e atacar de surpresa. O ataque do crocodilo de água salgada é rápido e certeiro, o animal se move com precisão, saindo da água apenas o suficiente para alcançar seu alvo e mordê-lo com presas afiadas capazes de triturar ossos como se fossem gravetos. Os crocodilos se concentraram nos feridos e naqueles muito extenuados ou aterrorizados para correr. O crocodilo de água salgada tem uma particularidade tenebrosa: ele continua atacando mesmo que tenha obtido carne suficiente para se fartar. Ele costuma afundar suas vítimas na água em tocas alagadas onde acumulam um estoque de carne. Os soldados que conseguiram correr foram perseguidos na escuridão, tendo que fugir através da lama que impedia sua retirada. Mesmo os que conseguiram subir em árvores não estavam à salvo. Os crocodilos aguardavam pacientemente até que a fome os obrigasse a descer e muitos preferiram acabar com o horror colocando uma bala na cabeça. O som dos disparos e gritos foram se tornando mais raros a medida que os homens morriam, mas por vezes era possível ouvir o som das mandíbulas se fechando e os urros de dor. O som de milhares de crocodilos massacrando mil homens é algo raramente ouvido na Terra e não deve ser algo agradável. Quando amanheceu, urubus e abutres sobrevoavam o pântano, ansiosos para limpar aquilo que os crocodilos haviam deixado. Dos cerca de 1000 soldados japoneses que entraram no pântano de Ramree, apenas 20 foram encontrados com vida."
stima-se que 500 soldados japoneses conseguiram atravessar os pântanos com vida. Uma vez finalizados os disparos e a resistência, os aliados adentraram a zona do pântano e resgataram somente 20 sobreviventes. O Guinness Book of World Records (livro dos Recordes) listou essa tragédia como o "O maior desastre sofrido por humanos, causado por animais".
O pavoroso incidente na Ilha de Ramree ganhou uma aura quase lendária entre os veteranos da Guerra no Pacífico, ao lado do relato similar do naufrágio do USS Indianápolis que custou a vida de centenas de marinheiros, vítimas do ataque furioso de tubarões. Hoje, a Ilha de Ramree continua muito semelhante como era em 1945. Um lugar selvagem e inóspito, cuja quietude costuma ser enganosa. Os crocodilos de água salgada continuam vivendo nesse pântano, e talvez, os fantasmas dos soldados feitos em pedaços ainda vaguem sem destino através de seus charcos lamacentos.
Fonte: Mdig e O Calafrio
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