O personagem de Ernesto "Che" Guevara é envolto em uma névoa de controvérsia que poucos realmente se dedicaram a desmistificar. Embora sua imagem icônica, eternizada por camisetas e cartazes, tenha se transformado em símbolo de rebeldia, muitos sequer conhecem sua história. A maioria não leu nada sobre o verdadeiro homem por trás do mito; não conhece suas ações, as causas que defendeu e o preço que seus ideais revolucionários cobraram. Ele é reverenciado, sim, mas também é odiado. Vamos explorar as razões.
Para alguns, Che foi um defensor dos oprimidos, um símbolo de resistência contra a hegemonia dos EUA. Mas, para outros, é difícil ignorar o lado mais sombrio de sua trajetória. Ele é acusado de ter sido um líder implacável, que pessoalmente autorizou execuções de opositores em nome da causa revolucionária. Essa face de Che ainda gera controvérsia, alimentada por relatos e biografias, como a de John Lee Anderson. Em 1995, Anderson revelou o local de descanso final de Che na Bolívia, um segredo guardado por décadas. Sua biografia também apresenta o registro frio de seu último interrogatório, expondo um homem que, até seus últimos momentos, manteve-se fiel ao discurso de luta armada.
Mas não é só no campo de batalha ou nas prisões de Havana que encontramos o legado de Che. Em Cuba, ele continua a ser homenageado como quase uma figura sagrada. Crianças recitam em coro: "Pioneiros pelo comunismo, seremos como Che!" Seu mausoléu em Santa Clara recebe milhares de visitantes todos os anos, muitos vindos de outros países. Para alguns, ele é um herói; para outros, um tirano. A realidade é que o impacto de Che Guevara ultrapassa o simples debate entre o bem e o mal.
Che era um homem complexo. Ele lutou para construir uma nova ordem, mas isso veio com um custo. Em seus anos como líder revolucionário, Che demonstrou uma brutalidade que nem todos estão dispostos a aceitar. A famosa expressão "paredón" — o paredão de fuzilamento — ecoa como um símbolo sombrio de sua intolerância para com aqueles que considerava inimigos da revolução. E não se tratava de opositores armados; entre suas vítimas estavam jovens, religiosos e até agricultores, todos condenados sob julgamentos sumários.
Curiosamente, essa figura contraditória, que no auge da Guerra Fria proclamava a glória da União Soviética e apoiava movimentos como a Revolução Cultural de Mao Tsé Tung, é hoje um ícone capitalista. A foto de Che, tirada por Alberto Korda, estampa produtos de todos os tipos: jarros, camisetas, chaveiros, até calças jeans. É irônico pensar que ele, que desprezava o capitalismo, seja usado para vender produtos pelo mundo.
Muitos dos episódios mais cruéis de sua carreira são lembrados em relatos de seus contemporâneos e ex-companheiros de guerrilha. Jaime Costa Vasquez, um antigo comandante do Exército Revolucionário Cubano, afirma que Che tinha como lema "Na dúvida, mate". Marcelo Fernandez Sayas, ex-revolucionário e jornalista, também relembra como Che ordenava execuções a sangue frio, inclusive de camponeses que haviam se alistado ao Exército de Batista para escapar do desemprego. Até o sacerdote Javier Arzuaga, que prestava assistência espiritual aos condenados em La Cabaña, conta que Che presidia as execuções com frieza.
Che Guevara também ficou encarregado da economia cubana e foi nomeado presidente do Banco Central. Mas seu conhecimento sobre o assunto era escasso. As consequências de sua administração ressoam até hoje: enquanto proclamava um futuro de prosperidade e igualdade, o povo cubano amargava escassez e trabalho forçado. Seus "domingos de trabalho voluntário", que supostamente incentivavam o compromisso com a revolução, logo se transformaram em obrigação, ameaças e chantagens.
A biografia de Che, repleta de contradições, levanta uma pergunta intrigante: por que ele ainda é tão idolatrado? Talvez, seja pela paixão com que defendia suas ideias, mesmo que isso tenha implicado em erros catastróficos. Em seus discursos inflamados, ele acreditava que estava "moldando o novo homem". Mas a realidade é que esse "novo homem" nunca veio a existir, e o rastro de sangue e autoritarismo deixou uma marca difícil de ignorar.
“Inimigos da revolução”, as execuções em La Cabaña
As execuções na prisão de La Cabaña, em Havana, Cuba, são um dos capítulos mais sombrios da história de Ernesto "Che" Guevara. Após a Revolução Cubana de 1959, Che foi designado para comandar essa fortaleza-prisão, que rapidamente se tornou um centro de repressão política e execução sumária contra aqueles que o regime de Fidel Castro considerava “inimigos da revolução”. O período de Che à frente de La Cabaña ficou marcado por um número elevado de execuções, que se tornaram um símbolo da brutalidade do regime recém-instalado.
Quando os revolucionários tomaram Havana em janeiro de 1959, Che Guevara foi encarregado de dirigir a prisão de La Cabaña. A fortaleza, construída no século XVIII, foi transformada por Che em um centro de julgamentos e execuções, onde as regras do processo legal comum eram completamente ignoradas. La Cabaña tornou-se um tribunal improvisado, onde as sentenças já eram conhecidas antes mesmo de os julgamentos começarem.
O processo para os prisioneiros era simples e mortal: as pessoas eram capturadas, acusadas de serem espiões, simpatizantes do antigo regime de Fulgencio Batista, ou de outras supostas atividades contrarrevolucionárias. Depois, eram submetidas a julgamentos-relâmpago em que a defesa era quase inexistente. Em muitos casos, os prisioneiros eram sentenciados à morte em menos de um dia, sem a oportunidade de apresentar qualquer tipo de defesa ou evidência que pudesse refutar as acusações.
Che Guevara, como comandante da prisão, tinha a última palavra sobre quem viveria e quem morreria. Em seus discursos, ele justificava essas execuções como parte necessária da "justiça revolucionária", afirmando que elas eram uma ferramenta essencial para eliminar qualquer ameaça ao novo regime. Segundo relatos, ele ordenava execuções diárias e mantinha um controle rigoroso sobre os procedimentos, observando algumas das execuções diretamente de sua janela no escritório da prisão.
Estima-se que, sob o comando de Che, entre 1959 e 1963, centenas de pessoas foram executadas em La Cabaña, embora o número exato ainda seja debatido devido à falta de registros oficiais e à censura da época. No entanto, testemunhas e estudiosos concordam que a cifra é elevada. Testemunhas oculares, como o padre basco Iñaki de Aspiazu, que oferecia a extrema-unção aos condenados, afirmam que Che ordenou pessoalmente centenas de execuções. Um dos números mais aceitos, fornecido pelo ex-promotor cubano Jose Vilasuso, é de cerca de 400 execuções somente nos primeiros meses de 1959.
Luis Ortega, um jornalista cubano que conheceu Che desde a década de 1950, relatou em seu livro "Yo Soy El Che!" que cerca de 1.892 pessoas foram executadas sob suas ordens. Outro número frequentemente citado é o de 700 execuções, segundo o próprio padre Iñaki de Aspiazu, apenas durante o período em que Che comandou La Cabaña. O jornalista norte-americano Edwin Tetlow, que cobriu os acontecimentos em Havana, descreveu a atmosfera de terror que permeava o local, onde as execuções aconteciam quase diariamente e os disparos dos pelotões de fuzilamento eram um som constante nas noites de Havana.
Che Guevara justificava as execuções em nome da luta revolucionária e da necessidade de erradicar qualquer ameaça ao regime de Fidel Castro. Ele não via necessidade de provas formais para condenar alguém à morte. Em um episódio notório de 1959, ele declarou a um oficial do sistema judicial cubano: “Eu não preciso de provas para executar um homem. Eu só preciso saber que é necessário”. Essa frase resume bem a mentalidade que ele adotou em La Cabaña: um desprezo total pelos procedimentos legais e pela vida daqueles que se opunham, ou que ele acreditava serem uma ameaça ao regime.
Durante um discurso na ONU, em dezembro de 1964, ele não demonstrou qualquer remorso pelo que havia feito. Pelo contrário, ele declarou: “Executamos e continuaremos a executar enquanto for necessário!”. Essa postura pública foi recebida com aplausos por alguns setores, mas causou horror entre aqueles que conheciam de perto o que significava estar nas mãos do sistema repressivo cubano.
A maneira como as execuções eram realizadas em La Cabaña adiciona mais uma camada de brutalidade a essa história. Os condenados eram muitas vezes amarrados e vendados antes de serem levados para o pelotão de fuzilamento. Muitas vezes, as execuções ocorriam no meio da noite, para que o impacto psicológico sobre os prisioneiros fosse ainda maior. Alguns relatos descrevem cenas em que Che assistia pessoalmente às execuções, às vezes até participando dos disparos. Existem testemunhas que afirmam ter visto Che disparar o “tiro de misericórdia”, a bala que garantia a morte do prisioneiro, caso os disparos iniciais não fossem letais.
Essas execuções em massa não visavam apenas eliminar fisicamente os opositores, mas também servir como um aviso e uma demonstração de força para a população cubana. O medo gerado por esses atos de terror ajudou a consolidar o poder do regime, silenciando qualquer tentativa de oposição. La Cabaña tornou-se um símbolo da repressão e do medo na nova Cuba revolucionária, e Che Guevara era o rosto desse terror.
As execuções em La Cabaña deixaram marcas profundas nas famílias das vítimas e em toda a comunidade cubana. Muitos ex-prisioneiros políticos que conseguiram fugir de Cuba se estabeleceram em cidades como Miami e Nova Jersey, nos Estados Unidos, onde continuaram a denunciar a repressão brutal do regime cubano e a participação direta de Che nesses crimes. Para eles, a figura de Che Guevara não é de um herói revolucionário, mas de um carniceiro, um homem que não hesitou em eliminar qualquer um que considerasse uma ameaça ao novo regime.
Hoje, em Cuba, a história das execuções em La Cabaña é pouco discutida, e os eventos foram apagados da narrativa oficial. A memória desses anos sangrentos ainda é viva nas comunidades de exilados, que relembram as perdas e os traumas daqueles que enfrentaram a repressão de Che. A imagem de Che Guevara como um idealista romântico contrasta fortemente com os relatos de suas ações em La Cabaña, revelando um lado obscuro que muitos preferem ignorar ou relativizar.
Esses fatos mostram que, para além da iconografia de rebeldia, Che foi um homem que usou a violência de maneira sistemática e impiedosa para impor sua visão de mundo. A brutalidade das execuções em La Cabaña é um lembrete sombrio de como a ideologia, quando guiada pelo fanatismo, pode se transformar em um instrumento de opressão e morte.
“Executamos e continuaremos a executar enquanto for necessário!”
Em 9 de dezembro de 1964, durante um discurso inflamado na Assembleia Geral da ONU, Che não hesitou em declarar: “Executamos e continuaremos a executar enquanto for necessário!” Essa frase provocou aplausos da plateia, mas o que muitos não sabiam era o impacto dessa política brutal em milhares de cubanos. Segundo o renomado "Livro Negro do Comunismo", mais de 14.000 pessoas foram executadas em Cuba até o fim da década de 1960. O mesmo Che que liderou revoltas contra a opressão passou a ser o rosto de uma repressão implacável, que não poupou sequer os opositores mais jovens e desarmados.
Che não era apenas um comandante da revolução cubana; ele também se tornou o braço executor de uma política de perseguição que silenciou vozes e eliminou a dissidência com violência. Estima-se que ele tenha pessoalmente ordenado centenas de execuções durante seu comando na prisão de La Cabaña. Um ex-promotor dos julgamentos, Jose Vilasuso, estima que Che tenha promulgado mais de 400 sentenças de morte em seus primeiros meses na prisão. Em seus próprios escritos, Che descrevia a execução de prisioneiros como um processo transformador. “Querido pai, descobri que realmente gosto de matar”, ele escreveu, uma frase que revela um lado sombrio que muitas vezes é ignorado nas histórias contadas sobre ele.
“Não preciso de provas para executar um homem. Apenas sei que é necessário”
Desde o início de sua atuação na revolução cubana, Che se destacou pela severidade e pela falta de escrúpulos ao eliminar opositores. Durante seu comando na prisão de La Cabaña, ele se tornou o principal executor do novo regime cubano, ordenando centenas de execuções sumárias. Relatos apontam que Che via o fuzilamento como um meio legítimo e necessário para consolidar a revolução e aniquilar qualquer ameaça ideológica. Testemunhas e ex-prisioneiros políticos que sobreviveram a La Cabaña contam que ele participava diretamente das execuções e, segundo algumas fontes, até se deleitava com o processo, mostrando um fascínio incomum pela violência.
Che não considerava necessário um julgamento formal ou provas. Em um episódio de 1959, ele foi claro: “Não preciso de provas para executar um homem. Apenas sei que é necessário”. Ele via na justiça revolucionária uma desculpa para eliminar opositores rapidamente, sem nenhum processo justo. Esse fervor, justificado pela luta ideológica, acabou alimentando um culto de personalidade que fez de Che um símbolo para parte da juventude ocidental, mas deixou um rastro de sangue e repressão para a população cubana.
Estudiosos do "Livro Negro do Comunismo" estimam que, só em Cuba, o regime realizou mais de 14.000 execuções em seus primeiros anos, sendo Che uma das figuras centrais desse sistema repressivo. Em comparação, a ONU condenou Slobodan Milosevic por genocídio na Bósnia por causa de aproximadamente 8.000 mortes. A mesma ONU que mais tarde aclamaria Che aplaudiu-o em seu discurso de 1964, quando ele proclamou orgulhosamente: “Executamos e continuaremos a executar enquanto for necessário!”. Esse momento foi emblemático, demonstrando a hipocrisia do órgão que condenou líderes genocidas, mas celebrou abertamente um homem que usava a execução como política de governo.
“É criminoso pensar como indivíduos!”
Che via o individualismo como um obstáculo à criação de uma sociedade comunista e totalitária. Ele defendia abertamente a ideia de que a juventude cubana deveria ser “disciplinada” e obedecer cegamente às ordens do governo, sem questionar. Em 1961, em um de seus discursos mais famosos, Che proclamou: "O individualismo deve desaparecer! A juventude deve aprender a agir e pensar como uma massa única.” Essa aversão ao individualismo resultou em uma das políticas mais repressivas do governo cubano, que perseguiu qualquer forma de expressão considerada “burguesa” ou “imperialista”, inclusive manifestações artísticas e culturais que não seguiam a cartilha do regime. Jovens que ousavam adotar o estilo rock'n'roll, considerado "decadente", eram presos e enviados para os campos de concentração da UMAP, onde eram forçados a trabalhos pesados e submetidos a tratamentos desumanos.
A propaganda do terror
A propaganda do terror, um dos elementos centrais na política de Che Guevara, foi um instrumento poderoso para consolidar o poder revolucionário em Cuba e garantir o controle absoluto da população. Che não apenas acreditava na força das armas, mas também via o medo e a intimidação como ferramentas essenciais para manter a ordem e eliminar a oposição. Essa estratégia de propaganda revolucionária se estendia para todos os aspectos da vida em Cuba, desde a educação e a mídia até o sistema judicial e a cultura.
Desde o início, Che via o terror como um meio de controlar psicologicamente a população e silenciar qualquer forma de resistência. A campanha de execuções em La Cabaña foi um exemplo claro dessa tática, com julgamentos sumários e fuzilamentos em massa projetados para espalhar medo entre os civis e coibir possíveis manifestações de descontentamento. Che era ciente do efeito que a violência explícita tinha sobre as pessoas e usava essa brutalidade para consolidar sua posição como líder revolucionário. Ele sabia que a execução pública de opositores não só eliminava as ameaças diretas, mas também enviava uma mensagem poderosa para todos os cubanos: a dissidência não seria tolerada.
A propaganda do terror funcionava também para reafirmar a posição do regime como a única fonte de autoridade e justiça. A narrativa oficial promovida por Che retratava os opositores como “traidores” e “inimigos do povo”, justificando as execuções como um dever patriótico e revolucionário. Esse discurso não deixava espaço para questionamentos, e qualquer um que se opusesse à revolução era visto como um traidor da pátria, merecedor de punição severa.
Che sabia que um inimigo definido e visível era essencial para manter a unidade e o apoio ao regime, então ele criou a figura do “inimigo da revolução”, uma designação que podia ser aplicada a qualquer pessoa que se opusesse ao regime. Muitos dos executados em La Cabaña foram acusados de serem “espiões”, “imperialistas” ou “agentes da CIA”, rótulos que justificavam as penas de morte. Essa demonização dos opositores facilitava a aceitação popular das ações brutais do regime e minava a empatia ou simpatia que a população pudesse sentir por eles. O governo de Che e Fidel conseguiu que os cubanos vissem esses opositores como ameaças à segurança nacional, o que permitiu que os crimes cometidos contra eles fossem vistos não como atos de violência injustificada, mas como um serviço em prol da pátria.
Che Guevara também acreditava no poder dos meios de comunicação para moldar a consciência pública. Sob seu comando e orientação ideológica, a mídia cubana foi transformada em uma ferramenta de doutrinação. A liberdade de imprensa foi abolida, e jornais, estações de rádio e publicações culturais foram colocados sob estrito controle do Estado. O regime utilizava esses veículos para glorificar os ideais revolucionários e propagar a narrativa de Che como um defensor dos pobres e inimigo dos imperialistas.
Filmes, peças de teatro e literatura também foram adaptados para refletir a doutrina revolucionária. O governo patrocinava produções artísticas que promoviam a ideologia comunista e demonizavam o “capitalismo imperialista”. A mídia estatal transformou Che Guevara e Fidel Castro em heróis da revolução, retratando-os como salvadores do povo cubano, enquanto qualquer pessoa que desafiasse essa imagem era rapidamente silenciada. Essa propaganda cultural consolidou o culto de personalidade em torno de Che, ajudando a apagar de sua imagem pública os atos de crueldade e violência que ele cometia em nome da revolução.
Che Guevara via as crianças e jovens como moldáveis e essenciais para a sobrevivência do regime revolucionário. Em seus discursos, ele deixava claro que a juventude cubana deveria ser educada dentro dos ideais comunistas, de forma a eliminar qualquer vestígio de pensamento crítico ou oposição. As escolas passaram a ensinar a história de Cuba a partir de uma perspectiva revolucionária, exaltando os feitos de Che e Fidel e condenando o passado capitalista do país como opressor e injusto.
Che pregava que os jovens deveriam ser obedientes, leais e submissos aos interesses do Estado, rejeitando qualquer forma de individualismo. A educação cubana passou a ser uma extensão da propaganda revolucionária, onde o ensino servia, em última instância, para doutrinar a população desde a infância e garantir a lealdade ao regime. Crianças eram ensinadas a denunciar pais ou parentes que demonstrassem “atitudes contra-revolucionárias”, promovendo uma atmosfera de vigilância mútua.
Che ordenava que prisioneiros e suspeitos de atividades contra-revolucionárias fossem interrogados e presos à noite, pois, segundo ele, “a resistência de um homem é sempre menor à noite”. Essa prática servia não apenas para intimidar diretamente os prisioneiros, mas também para criar um ambiente de medo constante na população. As visitas noturnas da polícia do Estado, que invadia casas de opositores e os levava para interrogatórios e prisões, se tornaram comuns, de modo que todos viviam em alerta, sabendo que poderiam ser a próxima vítima do regime. Essas táticas de terror psicológico faziam parte do sistema repressivo de Che, projetado para garantir que ninguém ousasse desafiar a autoridade do governo.
Os campos de trabalho da UMAP (Unidades Militares de Ajuda à Produção) foram outra ferramenta de propaganda do terror. Estes campos, estabelecidos sob o comando de Che e outros líderes revolucionários, serviam como locais para punir aqueles que eram considerados “deviantes” da ideologia do regime. Neles, prisioneiros políticos, homossexuais, religiosos e jovens com comportamentos considerados “burgueses” eram forçados a realizar trabalhos pesados, sob péssimas condições, com a justificativa de que estavam sendo “reeducados” para servir à revolução.
Os campos da UMAP funcionavam como um meio de quebrar a vontade dos opositores e humilhar os que se recusavam a se submeter à ideologia imposta. Che defendia essas práticas de forma aberta, pois acreditava que a força era necessária para transformar as pessoas e adequá-las ao ideal revolucionário. A doutrina de Che não tolerava a liberdade individual e usava a propaganda para justificar a repressão aos que não se encaixavam no padrão esperado pelo regime.
Talvez o aspecto mais irônico e efetivo da propaganda revolucionária de Che tenha sido a construção de sua própria imagem como herói e idealista. Mesmo enquanto praticava a repressão implacável, ele cultivou cuidadosamente uma imagem de líder justo e defensor dos pobres. A famosa foto de Che, tirada por Alberto Korda, se tornou um ícone de resistência para muitos jovens ao redor do mundo, mas o que ela representa está distante da realidade. Che sabia que as aparências e a imagem pública eram poderosas e se beneficiou desse culto de personalidade, que ainda hoje obscurece seus crimes e as atrocidades cometidas em nome da revolução.
A propaganda de Che foi tão eficaz que sua imagem permanece até hoje como um símbolo para movimentos revolucionários, mesmo que muitos de seus seguidores atuais desconheçam sua história de violência e repressão. Essa propaganda não só ajudou a consolidar o poder de Fidel e Che em Cuba, mas também construiu um mito duradouro. Essa versão idealizada de Che continua a ser exaltada, enquanto o lado brutal de sua história é frequentemente ignorado ou negado.
A propaganda do terror implementada por Che Guevara foi uma estratégia calculada para reprimir, controlar e doutrinar a sociedade cubana. Ela demonstrou que Che não apenas acreditava na força das armas, mas também entendia o poder do medo e da manipulação. Esse sistema de propaganda deixou um legado sombrio em Cuba e uma distorção histórica que ainda persiste, imortalizando um homem que usou a violência e a repressão para alcançar seus objetivos e que, ironicamente, ainda é visto como um símbolo de liberdade e justiça por muitos ao redor do mundo.
Doutrinação das Crianças e Jovens como Estratégia de Longo Prazo
Che Guevara via as crianças e jovens como elementos-chave para a construção e manutenção da sociedade socialista que ele e Fidel Castro desejavam implementar em Cuba. Ele entendia que a doutrinação ideológica desde cedo seria crucial para consolidar o poder revolucionário a longo prazo, eliminando qualquer forma de pensamento crítico ou oposição. Para Che, o controle sobre as mentes dos jovens significava assegurar a sobrevivência do regime, transformando as novas gerações em seguidores leais, subservientes e ideologicamente alinhados ao governo. Abaixo, vamos examinar a visão de Che sobre o tema da doutrinação infantil e juvenil e as políticas implementadas em Cuba para concretizar essa visão.
Che Guevara acreditava que o individualismo era uma ameaça à revolução e ao socialismo. Em seu discurso famoso de 1961, ele declarou: “O individualismo deve desaparecer!”. Para ele, a juventude cubana precisava ser moldada para pensar e agir como uma “massa única”, sem espaço para questionamentos, criatividade ou expressões de individualidade. Esse pensamento era um reflexo direto da doutrina comunista stalinista que Che tanto admirava, onde a individualidade era vista como um “desvio burguês” que enfraquecia a lealdade ao coletivo.
Para Che, os jovens deveriam ser “moldados” para aceitar cegamente as ordens do governo e dedicar suas vidas aos interesses do Estado. Isso significava que qualquer tipo de comportamento independente, questionador ou que mostrasse uma visão diferente da ideologia revolucionária era rapidamente reprimido. Ele acreditava que a doutrinação seria capaz de criar uma geração que considerasse natural abdicar de sua própria identidade para se submeter ao controle estatal.
Che defendia que o sistema educacional cubano fosse completamente reformulado para doutrinar crianças e adolescentes na ideologia marxista-leninista. A escola cubana se tornou uma extensão do Estado, onde não apenas matérias acadêmicas eram ensinadas, mas principalmente uma visão de mundo focada na devoção ao socialismo e à revolução. Desde as séries iniciais, os estudantes eram incentivados a idolatrar figuras revolucionárias como Che e Fidel Castro, enquanto o capitalismo e o imperialismo eram demonizados como sistemas opressores e desumanos.
O currículo escolar passou a incluir matérias que ensinavam os ideais revolucionários, exaltavam o governo cubano e demonizavam os Estados Unidos e qualquer país considerado “imperialista”. O objetivo era claro: moldar as crianças e jovens para que vissem a revolução como a única solução viável e justa para a sociedade. A história era ensinada sob uma ótica marxista, distorcendo os fatos para glorificar a revolução cubana e criar um sentimento de devoção inquestionável entre os jovens.
Che também incentivava que os jovens denunciassem familiares ou amigos que demonstrassem comportamentos “contrarrevolucionários”. Essa prática era inspirada no modelo soviético, onde filhos eram incentivados a denunciar os próprios pais por qualquer atitude que fosse vista como crítica ao governo. Em Cuba, essa prática se tornou comum, e muitos jovens eram doutrinados para vigiar as próprias famílias e reportar qualquer sinal de “desvio” ideológico.
Isso criou uma cultura de vigilância constante, onde ninguém se sentia seguro, nem mesmo dentro de casa. A atmosfera de medo e suspeita foi fortalecida pela propaganda do governo, que retratava os “inimigos da revolução” como traidores do povo, justificando as denúncias como um ato de patriotismo. Dessa forma, a doutrinação não apenas moldava as crianças para serem leais ao governo, mas também incentivava a desconfiança e a ruptura dos laços familiares e comunitários.
Para os jovens que resistiam à doutrinação ou que apresentavam comportamentos considerados “inadequados” pelo regime, Che e os líderes cubanos implementaram campos de trabalho forçado conhecidos como Unidades Militares de Ajuda à Produção (UMAP). Esses campos foram criados para reeducar jovens “deviantes”, como homossexuais, religiosos, roqueiros e aqueles que adotavam modas ou comportamentos “burgueses”.
Nos campos da UMAP, os jovens eram submetidos a condições desumanas, realizando trabalhos forçados e passando por sessões de “reeducação ideológica” para eliminar seus “desvios” e conformá-los ao ideal revolucionário. Os campos da UMAP são um exemplo extremo de como Che via a juventude: não como indivíduos livres para desenvolverem suas próprias ideias e valores, mas como peças de um sistema que precisavam ser moldadas e, se necessário, corrigidas à força.
Che Guevara entendia que os jovens precisavam de heróis para seguir, e ele e Fidel Castro se apresentavam como esses modelos. Desde cedo, as crianças cubanas eram ensinadas a idolatrar Che como um “mártir da revolução”, alguém que deu a vida em prol do povo. Esse culto à personalidade era parte da doutrinação, pois estabelecia Che e outros líderes revolucionários como figuras intocáveis, acima de qualquer questionamento.
A juventude era incentivada a ver esses líderes como heróis supremos, criando uma lealdade cega e emocional. Ao invés de oferecer educação sobre temas diversos, o governo cubano apresentava Che e Fidel como modelos de perfeição, engajamento e sacrifício, tornando-os ícones indiscutíveis. Isso ajudava a consolidar o controle do governo sobre os jovens, que não tinham acesso a nenhuma outra visão ou crítica.
Além do currículo escolar, Che incentivava que os jovens fossem envolvidos em atividades extracurriculares, como trabalho comunitário e eventos de mobilização para ajudar na construção da “nova sociedade socialista”. Essas atividades incluíam campanhas de alfabetização, limpeza de ruas, colheita agrícola e até trabalhos forçados, onde os jovens eram ensinados a ver o trabalho físico em prol do Estado como um dever patriótico e revolucionário.
Essas atividades extracurriculares não eram opcionais; a participação era fortemente incentivada e, muitas vezes, obrigatória. A ideia era ensinar aos jovens o valor do “trabalho revolucionário” e torná-los dependentes do sistema, onde cada ação era monitorada e cada atitude questionada. Esses projetos também reforçavam a submissão ao Estado, ensinando aos jovens que o governo era a fonte de tudo, incluindo sua formação e desenvolvimento pessoal.
A doutrinação intensa, incentivada por Che e continuada pelo regime cubano, deixou profundas marcas psicológicas e sociais nos jovens cubanos. As gerações criadas sob esse sistema cresceram em um ambiente onde o pensamento crítico era visto como uma ameaça, a liberdade de expressão era suprimida, e qualquer demonstração de individualidade podia levar a punições severas. Os jovens foram ensinados a aceitar a autoridade do governo sem questionar, a ver a revolução como uma causa sagrada e a demonizar qualquer ideia que não estivesse alinhada com a ideologia oficial.
Essa doutrinação criou uma sociedade onde a população foi condicionada a não questionar o regime e a considerar a revolução como o único caminho viável. As consequências são visíveis até hoje, com uma cultura cubana ainda marcada pela censura, pela repressão à oposição e pela falta de alternativas ideológicas.
A doutrinação de crianças e jovens incluiu o uso extensivo da propaganda visual e midiática. Cartazes, livros didáticos, programas de rádio e televisão exaltavam a revolução, apresentando Che e Fidel como heróis que libertaram o povo cubano. Essa propaganda era projetada para influenciar as crianças desde muito jovens, fazendo com que associassem a felicidade e o bem-estar à lealdade ao governo. As crianças e adolescentes eram cercados por uma narrativa constante de que o socialismo cubano era o único caminho para a prosperidade e a igualdade, enquanto qualquer sistema alternativo era pintado como explorador e desumano.
A doutrinação de crianças e jovens em Cuba foi uma das estratégias centrais de Che Guevara para consolidar a revolução cubana e assegurar a continuidade do regime. Ele via os jovens não como indivíduos com liberdade de escolha e pensamento, mas como peças a serem moldadas para servir ao Estado. A educação foi transformada em um sistema de doutrinação que eliminava o individualismo e promovia uma obediência cega à autoridade. Che entendia que a revolução só sobreviveria se as novas gerações fossem treinadas para acreditar e aceitar incondicionalmente a ideologia socialista, e sua visão para a juventude cubana era de completa submissão ao regime.
A consequência desse sistema foi a criação de gerações inteiras que cresceram sem ter acesso a perspectivas diversas e que foram forçadas a renunciar ao pensamento crítico. A doutrinação de crianças e jovens exemplifica a visão totalitária de Che Guevara, onde a liberdade individual era sacrificada em nome de um ideal coletivo imposto pelo Estado, criando uma sociedade controlada e silenciada.
Hipocrisia e luxo pessoal de um verme "revolucionário"
Apesar de projetar a imagem de um líder austero e defensor dos pobres e oprimidos, Che Guevara desfrutava de um estilo de vida repleto de privilégios e conforto — uma hipocrisia gritante para alguém que pregava o sacrifício pessoal e a renúncia aos bens materiais. Em contraste com seu discurso público, Che rapidamente se adaptou a um estilo de vida luxuoso, ignorando o sacrifício que impunha ao povo cubano enquanto vivia em mansões, aproveitava bens confiscados e desfrutava dos melhores recursos disponíveis.
Logo após a vitória da revolução, Che Guevara se instalou em uma das mansões mais luxuosas de Havana, localizada em um bairro nobre. Esta mansão havia pertencido a um empresário que fugiu do país com medo das represálias do novo regime. Che, que publicamente condenava os capitalistas e a classe abastada, não teve problemas em se mudar para esta propriedade confiscada e aproveitar o conforto de uma vida que ele alegava desprezar. Essa mansão oferecia todas as comodidades que eram um luxo inalcançável para a maioria dos cubanos: jardins espaçosos, uma equipe de serviço, áreas de lazer e segurança privada.
Che chegou a transformar essa mansão em uma espécie de sede de suas operações, usando-a como um ponto de encontro para figuras políticas, militares e aliadas estrangeiras, mas sempre desfrutando dos luxos que ela proporcionava. Ao mesmo tempo, ele mantinha o discurso de um revolucionário despojado, alguém que “sacrificava” sua vida pelo bem do povo, enquanto vivia sob condições completamente diferentes daquelas às quais submetia os cidadãos comuns.
Che justificava as expropriações e confiscos como um meio de distribuir a riqueza do país de forma mais justa. No entanto, enquanto os cubanos viam suas propriedades e bens sendo tomados pelo Estado, ele próprio se aproveitava dos itens confiscados para seu benefício pessoal. Roupas, móveis, veículos e até mesmo alimentos de alta qualidade que eram confiscados das classes abastadas frequentemente iam parar nas mãos dos líderes do regime, incluindo Che. Esse uso dos bens confiscados permitiu a Che viver com privilégios que os cidadãos comuns só podiam imaginar, especialmente em uma Cuba onde os recursos foram ficando cada vez mais escassos à medida que o tempo passava.
Em contraste, o governo promovia uma campanha de austeridade para a população, pregando que todos deveriam fazer sacrifícios e renunciar aos bens “burgueses” em nome da revolução. Mas, para Che e a elite revolucionária, o conforto e o luxo estavam disponíveis, representando uma completa contradição entre o que ele pregava e o que ele praticava.
Como alguém que sofria de asma crônica, Che necessitava de cuidados médicos regulares. Enquanto a população cubana começava a sofrer com a falta de medicamentos e a precarização dos serviços de saúde, Che sempre teve acesso aos melhores médicos e ao melhor tratamento disponível. Ele era acompanhado por uma equipe médica dedicada, que estava disponível para atendê-lo a qualquer momento, e nunca precisou enfrentar a escassez de medicamentos que afetava a população cubana.
Esse acesso exclusivo à saúde contrastava fortemente com o discurso de Che sobre a necessidade de sacrifício e igualdade para todos. A maioria dos cubanos, incluindo aqueles que sofriam de doenças crônicas como ele, enfrentava dificuldades para obter medicamentos e tratamentos, enquanto Che se beneficiava de uma estrutura de atendimento personalizada, garantindo que ele não fosse afetado pela situação de precariedade que ajudou a criar.
Che Guevara viajava constantemente para outros países em missões diplomáticas e revolucionárias, sempre em condições privilegiadas. Ele visitava lugares como Moscou, Pequim e outras capitais do bloco comunista, onde era tratado como uma celebridade e hospedado em hotéis de alto padrão. Além disso, essas viagens incluíam festas, banquetes e recepções luxuosas em sua homenagem, sempre com o melhor que esses lugares podiam oferecer.
Apesar de criticar o “luxo burguês”, Che não demonstrava nenhuma restrição em aproveitar essas ocasiões de pompa e conforto. Enquanto os cubanos eram cada vez mais encorajados a abraçar a vida simples e a abrir mão de bens materiais, ele desfrutava do que havia de melhor em cada país que visitava, revelando mais uma vez a hipocrisia entre sua vida pessoal e sua ideologia pública.
O governo cubano promovia intensamente a imagem de Che como um líder austero, alguém que vivia apenas com o essencial e que estava disposto a se sacrificar em prol da causa. Esta imagem era cuidadosamente construída pela propaganda oficial, que frequentemente o mostrava em trajes militares simples, com um semblante sério e preocupado com o futuro da revolução. No entanto, a realidade era bem diferente: essa austeridade era, na maior parte do tempo, uma fachada, usada para fortalecer o culto à personalidade de Che e criar uma figura heroica que inspirasse o povo.
A construção de sua imagem era uma estratégia de propaganda eficaz, mas era essencialmente falsa. Em privado, Che não praticava o que pregava e se beneficiava da elite que comandava. Esse culto à imagem de Che como líder austero e despojado é um dos exemplos mais claros de como ele usou a propaganda para mascarar sua hipocrisia, criando uma persona pública que escondia seus verdadeiros privilégios e luxos.
Mesmo com sua retórica anti-imperialista e crítica ao capitalismo, Che continuava a ter acesso a produtos importados, especialmente da Europa. Enquanto os cubanos enfrentavam severas restrições e racionamento, ele e outros líderes revolucionários tinham acesso a bens de consumo exclusivos, que incluíam desde roupas de grife até alimentos e bebidas de alta qualidade. Muitos desses produtos eram provenientes de países capitalistas, aqueles mesmos que Che dizia combater com veemência.
Essa contradição entre sua retórica anti-imperialista e o uso de produtos importados representa uma hipocrisia fundamental em sua vida pessoal. A população era encorajada a rejeitar a influência estrangeira e os produtos “burgueses”, enquanto ele usufruía deles de maneira privada, tirando proveito das conveniências que o capitalismo oferecia.
No geral, o estilo de vida de Che Guevara o distanciava da realidade da população cubana. Enquanto pregava o sacrifício e a renúncia aos bens materiais, ele vivia uma vida muito confortável e protegida, ignorando o sofrimento que suas políticas e ações impunham ao povo. O povo cubano enfrentava escassez, racionamento e repressão, enquanto Che desfrutava de privilégios, conforto e uma segurança pessoal que não era acessível ao cidadão comum.
Esse afastamento da realidade permitiu que Che continuasse a promover suas políticas extremas, sem sofrer diretamente as consequências delas. Ele podia criticar o “capitalismo burguês” e a “decadência imperialista” enquanto vivia cercado de todos os confortos que esses mesmos sistemas ofereciam. Essa desconexão com a vida real dos cubanos é uma das razões pelas quais sua imagem como líder austero e abnegado é tão incoerente quando analisada de forma mais aprofundada.
A Ambição Nuclear
Um dos episódios mais alarmantes da história de Che foi seu envolvimento na crise dos mísseis de 1962. Esse foi o momento em que o planeta esteve mais próximo de um confronto nuclear entre os Estados Unidos e a União Soviética. Fidel Castro e Che, aliados estratégicos dos soviéticos, aceitaram prontamente a instalação de mísseis nucleares em Cuba, com o objetivo de estabelecer uma barreira contra os Estados Unidos e avançar a revolução socialista.
Mas, diferentemente de Khrushchev, que eventualmente aceitou um acordo para evitar o confronto direto com os EUA, Che Guevara era favorável a um ataque nuclear, mesmo que significasse a destruição de Cuba. Em uma entrevista concedida ao jornal britânico Daily Worker, Che afirmou que, se tivesse o controle dos mísseis, não hesitaria em lançá-los contra os Estados Unidos, mesmo sabendo das consequências catastróficas que isso traria. Ele acreditava que tal ataque poderia provocar uma reação global a favor do socialismo, mesmo que, nas suas próprias palavras, isso custasse “milhões de vítimas atômicas”.
A disposição de Che para sacrificar milhões em nome de uma causa revolucionária é uma das razões pelas quais ele é lembrado por muitos como uma figura perigosa e fanática. Seu desejo pelo “ódio eficaz” e sua visão de que “o individualismo deve desaparecer” pintam a imagem de um homem disposto a sacrificar vidas em massa para alcançar um futuro idealizado e totalitário.
O glamur de um genocida carnineiro
Curiosamente, o glamour que a figura de Che ganhou nas últimas décadas é quase uma ironia. Ele aparece ao lado de figuras como Madre Teresa e Rosa Parks na lista de "Heróis e Ícones do Século" da revista Time, enquanto seu legado real conta outra história. Celebridades como Johnny Depp e Mike Tyson exibem seu rosto em camisetas e acessórios, muitas vezes sem saber que, em uma Cuba governada pelo próprio Che, qualquer forma de rebeldia era reprimida com severidade. A liberdade artística que seus fãs celebram hoje teria sido considerada um “desvio burguês” por ele.
Na verdade, a imagem de Che como revolucionário rebelde é em grande parte fruto da associação com Fidel Castro, que soube manipular a mídia mundial e criar um mito em torno do argentino. Sem essa associação, Che talvez tivesse passado a vida como um nômade sem rumo. Seu fervor pela revolução não era movido apenas por ideais, mas também por um desejo quase obsessivo por violência. Ele ansiava por criar “um novo homem” e acreditava que, para atingir esse objetivo, tudo era permitido, inclusive o sacrifício de “milhões de vítimas atômicas”.
O fim apropriado de um covarde sanguinário
No fim das contas, a ironia do destino foi brutal com Che. Ele, que sempre desprezou o valor da vida humana em prol do “progresso revolucionário”, acabou sua própria vida implorando por misericórdia. Em 1967, capturado na Bolívia, ele disse a seus capturadores: “Não atirem! Sou Che! Valho mais vivo do que morto!” Suas últimas palavras contrastam amargamente com o heroísmo que ele exigia de seus seguidores. Enquanto eles lutavam até a última bala, Che se rendeu sem resistência, provando que o mito é muitas vezes mais forte que o homem.
Che Guevara é uma figura complexa e contraditória, mas as evidências de sua crueldade, sua ânsia por poder e sua disposição para sacrificar milhões em uma guerra nuclear sugerem uma personalidade extremamente perigosa. Para aqueles que ainda o veem como um herói, vale a pena refletir sobre o impacto de suas ações e sobre o verdadeiro legado que ele deixou: uma Cuba empobrecida, uma história de repressão e um mundo que quase pagou o preço de sua ambição nuclear.