Lago Nicarágua: Entre Vulcões e Tubarões de Água Doce - Uma Jornada Única

lagnica2O Lago Nicarágua, conhecido também como Lago Cocibolca ou Mar Dulce, constitui uma extensão de 8.624 km² localizada na Nicarágua. Destaca-se como o maior lago da América Central e o segundo maior da América Latina, ligeiramente menor que o Titicaca. Apresentando uma altitude de 32 metros, o lago atinge uma profundidade máxima de 26 metros. Uma peculiaridade única deste local é a presença de uma espécie de tubarão adaptado à água doce, que acessa o lago pelo Rio San Juan, superando corredeiras e uma elevação de 32 metros em relação ao nível do mar.

Inicialmente, acreditava-se que essa espécie era exclusiva desse habitat, uma descoberta surpreendente em 1877, levando o governo nicaraguense a emitir uma edição especial de selos com a imagem do tubarão, simbolizando a identidade nacional. Essa concepção perdurou por um século até que, em 1976, pesquisadores identificaram a presença de uma espécie comum em mares tropicais e subtropicais, conhecida como Carcharhinus leucas ou tubarão-cabeça-chata.

Em 2014, há 500 anos, os espanhóis ficaram maravilhados ao testemunhar um cavalo saciando a sede nas águas de um vasto espelho d'água azul, ao qual deram o nome de "mar doce". Atualmente, o Grande Lago da Nicarágua, o maior da América Central, enfrenta ameaças decorrentes do desenvolvimento predatório. Emergem de suas águas agitadas dois imponentes vulcões, ilhas de vegetação exuberante com vestígios pré-colombianos, um arquipélago e 400 ilhotas dispersas, diante da cidade colonial de Granada, resultantes de uma erupção vulcânica ocorrida há 20 mil anos.

Denominada a "terra de lagos e vulcões", a Nicarágua pulsa com o Cocibolca, nome indígena para um espelho d'água de 8.264 km², do qual surge Ometepe, a maior ilha lacustre do planeta, adornada pelos vulcões Concepción e Madera. Norman Ramos, guia de turismo em Ometepe, expressa a importância do lago em sua vida, relembrando tempos em que a água era utilizada para diversas atividades cotidianas. No entanto, ele lamenta que a poluição, despejo diário de sedimentos e resíduos químicos, além do projeto de construção de um canal, ameacem a sobrevivência do Lago Cocibolca, habitat de 40 espécies de peixes, incluindo o raro peixe-serra e o quase extinto tubarão "Carcharhinus leucas".

José Álvarez, originário de Zapatera, compartilha suas lembranças de infância, quando o lago era abundante em peixes. Ele destaca as mudanças ocorridas devido à descarga de poluentes, lamentando a perda desse cenário nostálgico. O Cocibolca, o segundo maior lago da América Latina após o Titicaca, desempenhou um papel crucial na história da Nicarágua, servindo como uma rota fluvial para o Caribe durante a colônia espanhola e despertando o interesse de potências estrangeiras no século XIX para a construção de uma via interoceânica. Essa obsessão persiste, com o governo concedendo à China os direitos para construir um canal de US$ 40 bilhões e explorar a região por 100 anos.

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Conforme o cientista Jaime Incer, apesar de intransponível, a rota potencial, com extensão de 286 km, tem seu início no Caribe e atravessa cordilheiras e o Cocibolca até alcançar o Pacífico. Incer, que paradoxalmente desempenha o papel de assessor ambiental do governo, alerta sobre a necessidade de remover milhões de toneladas de sedimentos, resultando na perda irreversível do lago e em consideráveis impactos ambientais. Alguns questionam a viabilidade do projeto, programado para iniciar no final de 2014. Para as autoridades, essa empreitada representa a solução para a pobreza que atinge 45% da população nicaraguense, composta por seis milhões de habitantes. Salvador Montenegro, diretor do Centro de Pesquisas em Recursos Aquáticos, destaca que "nem por toda a riqueza do mundo" deveríamos comprometer o lago.

As águas refrescantes do lago, que formam ondulações quando o vento sopra, também desempenham um papel importante no setor turístico. Anualmente, milhares de visitantes chegam a Granada, localizada 50 km a sudeste de Manágua, atraídos pelas ilhas em miniatura. Nestas, encontram espaço apenas para residências de veraneio, restaurantes para saborear um "guapote" fresco com cerveja, amendoeiras com redes e locais de descanso para aves, como garças e gaivotas. Andrés Delgadillo, de 47 anos, proprietário de um pequeno restaurante em uma das ilhotas, destaca a importância do turismo para seu sustento. Ele ressalta a necessidade de preservar o lago, considerando-o uma dádiva divina.

O lago, que deságua no Caribe pelo rio San Juan, com um volume de 1.000 metros cúbicos de água por segundo, é classificado como um recurso "estratégico". Tem a capacidade de fornecer água para todo o país, destinada ao consumo e à irrigação de cultivos, além de abastecer boa parte da América Central, conforme Montenegro explicou à AFP. O Grande Lago da Nicarágua é mencionado pelos ambientalistas como o "ouro líquido". Para habitantes como Norman, José e Andrés, é considerado seu "sustento", sua "existência" – uma dádiva dos céus ou da natureza, representando a maior riqueza que a Nicarágua já teve e terá.

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