Torre de Londres, um lugar que já viu reinos nascerem e caírem, guardando segredos de um passado tumultuado. E, no coração dessa fortaleza, encontramos seus inusitados moradores: os corvos. Embora não se saiba exatamente quando esses pássaros, frequentemente associados a maus presságios, começaram a fazer parte da Torre, sua presença é cercada de histórias fascinantes.
Corvos de Rei, Não de Mau Agouro
Diferente do que a maioria pensa, na Torre de Londres, os corvos são tratados como verdadeiros nobres. Eles têm seus próprios criados e recebem refeições dignas de um banquete, com alimentos frescos adquiridos no famoso mercado Smithfield. A saúde e o bem-estar dessas aves são cuidados com atenção, e à noite, elas se acomodam em um viveiro aconchegante, localizado no gramado sul da Torre Branca. Cada um dos sete corvos tem um nome especial: Hardey, Thor, Odin, Gwyllum, Cedric, Hugine e Munin. A lenda diz que o destino da Torre e até mesmo da Grã-Bretanha depende da permanência deles ali. Se os corvos se afastarem, a Coroa estará em perigo. Olha só que responsabilidade!
Uma História de Mais de 900 Anos
A Torre de Londres não é apenas um lar para os corvos; ela própria é um monumento histórico. Construída por William, o Conquistador, em 1066, essa fortaleza passou por várias mudanças ao longo dos séculos, sendo usada como palácio real, fortaleza, arsenal, prisão e até local de execuções. Durante esses mais de novecentos anos, muitos acontecimentos marcaram suas paredes, como o trágico destino da rainha Lady Gray, executada em 1554. Relatos dizem que um corvo foi visto picando os olhos de sua cabeça decapitada — um lembrete sombrio da brutalidade do passado.
A Origem dos Corvos na Torre
A presença dos corvos na Torre remonta ao reinado de Carlos II, entre 1660 e 1685. O rei, preocupado com a interferência dos pássaros nas observações do astrônomo real, John Flamsteed, chegou a cogitar exterminá-los. Contudo, um aviso sobre a possível queda da Torre e um grande desastre no reino fez Carlos II mudar de ideia. Ele decretou que, ao menos, seis corvos deveriam ser mantidos na fortaleza a todo momento. Segundo o historiador Geoff Parnell, acredita-se que esses pássaros começaram a se estabelecer na Torre a partir do século XIX, possivelmente trazidos como animais de estimação pelos funcionários.
O Ravenmaster e o Cuidado dos Corvos
A lenda dos corvos é levada a sério. Para garantir que eles não deixem a Torre, uma de suas asas é cortada, uma prática feita pelo Ravenmaster, que é o responsável por esses seres enigmáticos. Não se preocupe, essa ação não machuca as aves; pelo contrário, é uma medida para evitar que voem muito longe. Mesmo assim, já houve fugas, como a de Grog, um corvo que passou mais de duas décadas na Torre antes de escapar em 1981.
Durante o dia, os corvos têm liberdade para explorar os arredores, mas à noite, eles retornam ao viveiro, onde são alimentados com um cardápio de frutas frescas, queijo, ovos cozidos e carne fresca. Um dos corvos mais antigos, chamado Jim Crow, viveu impressionantes 44 anos antes de falecer em 1928.
Corvos com Personalidade
A vida na Torre de Londres nem sempre é pacífica. Às vezes, um corvo pode se comportar de forma indesejada, como aconteceu com George, que se destacou por atacar e destruir antenas de TV em 1986. Como consequência, ele foi removido do cargo e enviado para o Zoológico das Montanhas de Welsh. Curiosamente, havia nove corvos na Torre, mas em 2016, após a modernização do viveiro, o número foi reduzido, especialmente após dois corvos serem mortos por uma raposa.
Conclusão: Guardiões de um Legado
Os corvos da Torre de Londres são mais do que simples pássaros; são parte de um legado que une história, lenda e curiosidade. Suas histórias e comportamentos intrigantes nos lembram que, mesmo nas sombras das torres, há sempre um toque de magia — e talvez, um pouco de ironia. Assim, enquanto a Torre continua a contar sua rica história, os corvos permanecem como guardiões, voando por entre os ecos do passado, mantendo vivos os mitos que cercam esse lugar tão emblemático.