Velho Oeste... Cenário de poeira, botas de couro desgastadas e silêncios que falam mais que palavras. Em 2015, o diretor Jon Cassar trouxe à tona um faroeste carregado de emoções cruas e dilemas morais com "Forsaken". E, olha só, quem lidera o elenco são Kiefer Sutherland e seu pai, Donald Sutherland. Nada como um filme onde a tensão na tela espelha uma relação de vida real entre pai e filho, não é?
A história se desenrola em 1872, na pequena e fictícia Fowler, no estado de Wyoming. John Henry Clayton, interpretado por Kiefer, é aquele típico anti-herói que já vimos tantas vezes em filmes do gênero: um pistoleiro aposentado, com cicatrizes não só no corpo, mas principalmente na alma. Ele volta à sua terra natal após anos de silêncio, na esperança de encontrar algum tipo de paz – e quem sabe até remendar os laços com seu velho pai, o Reverendo Clayton (Donald Sutherland), um homem rígido e religioso que nunca engoliu o caminho sombrio escolhido pelo filho.
O clima já começa tenso. Pai e filho sob o mesmo teto, trocando olhares pesados e palavras cheias de não-ditos. Mas se você acha que esse reencontro familiar seria o único problema de John Henry, pode esquecer. Fowler está tomada por uma gangue violenta liderada por James McCurdy (interpretado pelo sempre brilhante Brian Cox), um homem que praticamente exala o cheiro de pólvora e perigo.
Logo, a cidade se vê à beira do caos. A presença de McCurdy e seus capangas é uma ameaça constante para os cidadãos que tentam levar a vida em paz. E John Henry, apesar de todo o seu desejo de abandonar o passado violento, sente o peso de uma pergunta que o assombra: vale a pena ficar em silêncio enquanto o lugar que ele ainda considera "casa" desmorona?
O que torna "Forsaken" tão envolvente não é apenas a promessa de tiroteios e duelos ao pôr do sol – embora, convenhamos, isso faça parte do charme. O coração da trama está nos dilemas internos dos personagens. John Henry está numa luta consigo mesmo, tentando reconciliar seu desejo de redenção com a necessidade de proteger quem ele ama. O simbolismo aqui é claro: o revólver que ele tenta manter longe de suas mãos representa muito mais que uma arma; é um passado que insiste em não ficar enterrado.
A relação entre John Henry e seu pai é um ponto alto do filme. Não é só o drama pessoal de uma família dilacerada por escolhas erradas, mas também um reflexo das tensões do próprio período histórico. O Velho Oeste sempre foi um cenário perfeito para explorar o embate entre violência e moralidade, e aqui isso é levado a outro nível. O Reverendo Clayton, por exemplo, acredita piamente no poder da redenção pela fé, enquanto John Henry sabe que às vezes, no Oeste selvagem, a sobrevivência depende de algo bem mais terreno – como o aço de um revólver.
Mas talvez o ponto mais intrigante de "Forsaken" seja o modo como ele aborda o tema do arrependimento. Quantos de nós não carregamos fantasmas do passado? John Henry carrega o peso de uma vida de violência e escolhas erradas, e sua tentativa de encontrar paz é algo que ressoa com qualquer um que já tenha tentado reescrever sua própria história. A ironia, no entanto, é cruel: quanto mais ele tenta se afastar do seu antigo "eu", mais ele é puxado de volta por forças além de seu controle.
Além da trama central, há alguns detalhes curiosos que valem a pena mencionar. Por exemplo, este é o primeiro filme onde Kiefer e Donald Sutherland dividem a tela em papéis de pai e filho, trazendo uma camada extra de autenticidade à relação tensa entre seus personagens. E se você é fã de westerns, vai perceber que "Forsaken" tem uma pegada nostálgica, ecoando os grandes clássicos do gênero, mas com uma profundidade emocional que às vezes falta nos faroestes mais tradicionais.
A direção de Jon Cassar, conhecido pelo trabalho na série 24 horas, equilibra bem o ritmo do filme, dosando os momentos de introspecção com cenas de ação bem coreografadas. E claro, as paisagens vastas e desoladas do Wyoming servem como um pano de fundo perfeito para o drama humano que se desenrola.
No final das contas, "Forsaken" é mais do que um filme sobre brigas de rua e disparos de pistola. É uma reflexão sobre o que significa realmente mudar. Será que é possível deixar o passado para trás? Ou, como John Henry descobre, às vezes é preciso enfrentar seus próprios demônios – e, quem sabe, fazer as pazes com eles.