2023 - Dentre os restos mortais recentemente descobertos em uma caverna neandertal na França, destaca-se um quadril com semelhanças ao de um bebê humano contemporâneo. Esta descoberta, mencionada em um artigo científico divulgado na revista Scientific Reports na última sexta-feira (4), causou surpresa entre os pesquisadores. Contudo, ao observar discrepâncias entre o fóssil e neonatos mais recentes, os autores do estudo propuseram que a criança pode pertencer a uma linhagem primitiva previamente desconhecida do Homo sapiens.

Conforme enfatizado pelo portal IFLScience, a caverna Grotte du Renne representa um dos sítios paleolíticos mais intrigantes da Europa, uma vez que se acredita que tenha sido habitada durante a transição em que os humanos modernos começaram a substituir os neandertais. Isso se deve à descoberta, dentro da caverna, de um grande número de ferramentas de pedra representativas do complexo tecnocultural Chatelperronense, que surgiu nesse período.

Os especialistas têm opiniões divergentes sobre qual espécie iniciou essa indústria, com alguns defendendo que os neandertais a desenvolveram independentemente, outros afirmando que foi resultado de ações de humanos anatomicamente modernos (AMH) e um terceiro grupo especulando que ambos os hominídeos podem ter colaborado nesse processo. Curiosamente, até o momento, apenas restos de neandertais haviam sido encontrados na camada Chatelperronense da Grotte du Renne, embora fósseis de humanos modernos tenham sido observados em outras cavernas associadas a esses artefatos.

O osso em questão não se assemelha nem aos dos bebês neandertais nem aos dos neonatos contemporâneos.

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Perspectiva lateral (do lado esquerdo) e medial (do lado direito) do seguinte: (a) osso ilíaco direito (refletido à esquerda) recentemente descoberto, (b) osso ilíaco esquerdo de um indivíduo neandertal em estágio perinatal e (c) osso ilíaco esquerdo de um recém-nascido humano moderno.

Ao comparar o quadril recém-descoberto com os de dois bebês neandertais previamente escavados e com os de 32 bebês humanos recentemente falecidos, os autores do estudo destacam que a forma difere significativamente do padrão neandertal, estando mais alinhada com a morfologia do AMH.

Entretanto, o fóssil também está ligeiramente fora da variação observada nos bebês humanos modernos, apresentando uma "espinha ilíaca posterior-superior orientada mais lateralmente".

Os pesquisadores sugerem que isso se deve ao fato de o espécime pertencer a uma linhagem humana moderna com morfologia ligeiramente diferente dos humanos atuais. Observando que essa linhagem nunca foi registrada anteriormente, os pesquisadores indicam que o bebê provavelmente era um membro das populações de AMH que coexistiram com os últimos neandertais durante a transição do Paleolítico Médio para o Superior, entre 41 mil e 45 mil anos atrás.

Além disso, a presença desses antigos humanos modernos na Grotte du Renne sugere que eles podem ter coexistido com os neandertais na época em que a indústria Chatelperronense surgiu. Isso, por sua vez, sugere que o desenvolvimento dessa indústria pode ter resultado de processos de difusão cultural ou aculturação, com possível mistura populacional entre os dois grupos. Em outras palavras, os neandertais podem ter aprimorado suas tecnologias após observar seus vizinhos humanos modernos, resultando em uma indústria híbrida que dominou partes da Europa até o desaparecimento dos últimos neandertais.

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